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    O Reino Heyle, localizado no continente central, era um pequeno país, sem se destacar em nada quando comparado não apenas aos países mais fortes, mas também a muitos outros do continente. A razão pela qual um reino com riqueza insignificante, poder militar limitado e um território com menos influência do que uma renomada Academia de Esgrima do oeste conseguiu se manter firme por mais de 300 anos era devido aos seus aliados.

    Sonan, Colon, Bisau e Heyle eram fracos demais para enfrentar o caos sozinhos. No entanto, tais dificuldades fortaleceram seus laços. Quando Heyle sofria uma injustiça, Sonan se levantava em seu nome. Quando Colon estava sob ameaça, Bisau enviava seu exército.

    Os outros países achavam difícil provocar os quatro reinos que permaneciam unidos como irmãos. Assim, essas pequenas nações do continente central conseguiram sobreviver. Agora, mesmo em tempos de paz, realizavam banquetes para manter seu vínculo histórico.

    Mas…

    “Isso é tudo passado”, pensou o Duque Kyle Murdoc do Reino Bisau.

    De fato. O laço entre os quatro reinos já não existia mais. Quando o Reino Sagrado Arvilius declarou que, ‘O Caos convocou diabos’, todo o continente foi forçado a assinar um tratado de paz indefinido.

    Claro, o duque não queria insultar as intenções do reino sagrado. Afinal, o tratado sagrado assinado há 150 anos realmente tornou o mundo um lugar mais pacífico. Os diabos que frequentemente assolavam o mundo nos tempos antigos não apareciam mais.

    No entanto, livres da ameaça externa, os quatro reinos não conseguiram manter sua antiga aliança. Queriam superar uns aos outros. Queriam se elevar acima de seus antigos amigos e aliados. Queriam se libertar da humilhação e dos insultos.

    De fato, foi por isso que Kyle Murdoc veio até o Reino Runetell.

    “Ainda assim, casar Sua Alteza, a Princesa, com a Casa Slick é um pouco… Não, preciso parar de pensar nisso”, pensou o Duque de Bisau, balançando a cabeça.

    O acordo já estava além de seu controle. Além disso, não era de todo ruim.

    Iphrain Slick era um grande mago do Reino Mágico de Runetell, um dos dois países mais poderosos do continente. Também era o segundo no comando da Casa Slick, uma das três casas mais prestigiadas de magos. Se um homem tão poderoso, mais influente do que alguns reis, não fosse o príncipe consorte, um duque de um pequeno reino como ele jamais ousaria vir pedir ajuda.

    A verdade era clara.

    — Whew — suspirou Kyle Murdoc ao se olhar no espelho para se certificar de que suas roupas estavam impecáveis e seu sorriso, perfeito.

    Um momento depois, alguém da Casa Slick se aproximou e disse:

    — Vamos.

    — Sim, vamos — respondeu Kyle.

    Então, seguiu o servo, que estava tão inexpressivo quanto uma boneca, pelo longo, longo corredor. Ofegante e enxugando o suor, finalmente chegou diante da porta.

    Sorrindo apesar da inquietação interior, o Duque de Bisau entrou.

    No centro da sala estranhamente ampla estava Iphrain Slick, o Grande Mago.

    — Você veio — ele saudou.

    — Sim. Kyle Murdoc de Bisau saúda Iphrain Slick, o Grande Mago de Runetell — respondeu Kyle.

    — Não precisa ser tão formal. Por que não se senta? — sugeriu Iphrain, seu rosto inexpressivo apesar do tom amigável.

    O duque não se importou, no entanto. Tinha outras preocupações, embora não deixasse seus sentimentos transparecerem. Forçando-se a ignorar as mulheres semivestidas e seminuas ao redor, Kyle Murdoc se sentou.

    O jantar começou. No entanto, apesar das iguarias, do vinho caro e das mulheres chocantemente belas, tudo o que o duque normalmente adorava, ele queria ir embora o mais rápido possível.

    Infelizmente, não podia fazer isso. Precisava esperar o momento certo para humildemente pedir ajuda. Claro, sob nenhuma circunstância poderia irritar o mago.

    Mas antes que o duque pudesse seguir seu plano, o mago falou primeiro.

    — Ouvi dizer que há um mestre espadachim no Reino Heyle — ele começou.

    — Hã? Ah, sim, senhor — respondeu o duque.

    — Também ouvi dizer que ele é jovem. Deve ser uma grande pressão para vocês. O banquete deste ano acontece no Reino Heyle, não é?

    — Sim, de fato.

    — Suponho que seja por isso que você está aqui. Vai precisar de apoio. O talento de Bisau não será suficiente, afinal.

    — Certo. Já faz um tempo desde que saí — disse Iphrain.

    — Perdão? — perguntou Kyle, surpreso com as palavras do mago.

    Ele podia entender o mago ter falado primeiro. Afinal, a Casa Slick certamente já estava ciente da situação por meio de sua rede de informações.

    De fato, o duque planejava pedir ajuda à família para trazer alguns magos habilidosos ao banquete e mostrar o poder de Bisau para os outros três reinos, além de exibir sua ligação com Runetell.

    Mas…

    “O próprio Iphrain está indo a esse evento trivial…?”, pensou o duque, incrédulo.

    Para ser honesto, isso era mais do que ele esperava. Não queria soar ingrato, já que estava pedindo ajuda, mas preferia que Iphrain Slick não assumisse esse papel.

    Infelizmente, ele não tinha escolha.

    — Você acabou de me questionar? — perguntou Iphrain.

    — Me desculpe. Falei fora de hora.

    — Isso pode acontecer às vezes. Eu entendo.

    — Obrigado.

    — De nada.

    — Hm, a carne está um pouco dura.

    Perguntas e conversas triviais continuaram. Mas esse curto período foi suficiente para encharcar as roupas do duque de suor, como se estivesse debaixo de uma tempestade. No entanto, mesmo enquanto o suor de sua testa pingava em sua camisa, ele não ousou se mexer, focando-se em manter o sorriso.

    — Vejo você no banquete — disse Iphrain, por fim.

    — Sim, senhor. Estou honrado por sua benevolência — respondeu Kyle.

    Cerca de meia hora depois, a refeição finalmente terminou. Mas Iphrain Slick não deixou a sala. A mão fria e serpentina do velho mago envolveu uma das mulheres. A postura dela se quebrou enquanto gemidos abafados enchiam o ambiente.

    Apesar da perturbação, o duque não olhou para trás nem uma vez. Demonstrando respeito pela última vez, saiu silenciosamente da sala e deixou a residência de Iphrain.

    — Phew — suspirou pesadamente, sentindo-se ainda mais sombrio após ver a ex-princesa. O Duque de Bisau então subiu em sua carruagem, com o semblante carregado.


    — Meu pai, minha irmã e eu decidimos ir todos juntos — disse Airen.

    — Obrigado. Muito obrigado! — respondeu o capitão.

    — Como já disse antes… você poderia falar comigo de maneira mais casual — murmurou Airen.

    — Ah, certo. Obrigado, Mestre da Espada Farreira! Muito obrigado!

    O Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo estava radiante, embora ainda se sentisse estranho ao se dirigir a Airen de forma menos formal. Mas quem poderia culpá-lo? Ele havia vindo sob um pseudônimo, temendo que Airen recusasse o pedido do rei, tão poderoso quanto fosse.

    Airen, no entanto, concordou prontamente.

    “Afinal, ele é o grande rei que enviou os melhores cavaleiros do reino assim que soube da aparição de um diabo”, pensou.

    Airen não era tão cruel a ponto de recusar um pedido tão simples quanto comparecer a um banquete vindo de um rei como aquele. Claro, ele sentia um pouco de pressão.

    “Suponho que não será um evento casual de forma alguma…”

    O Airen Farreira de dezesseis anos, que nada sabia sobre relações humanas e política, já não existia mais, embora ainda estivesse longe de ser experiente. No entanto, ele entendia muito bem o significado daquele banquete e o que sua presença representava. Ele se destacaria, enquanto os outros reinos tentariam competir.

    Certamente haveria aqueles que tentariam humilhar seu reino e sua família, assim como aconteceu no banquete das seis famílias do sul, logo após seu retorno da Academia de Esgrima Krono.

    Mas…

    — Vou pensar nisso depois — murmurou Airen, interrompendo sua linha de pensamento.

    Embora aquela não fosse uma viagem despreocupada, ele tinha outras preocupações: cuidar de seus entes queridos.

    “Mestre Lindsay, a Condessa, Sir Bill Stanton e Illia…”

    Airen recordou várias pessoas enquanto se dirigia à forja de Vulcanus. Cada uma delas era preciosa para ele, e de alguma forma, ele lhes devia algo.

    “Talvez eu não consiga visitá-los com o banquete dos quatro reinos se aproximando… mas ao menos deveria enviar-lhes alguns presentes”, pensou.

    E para Illia… ele também escreveria uma carta.

    Por sorte, Lulu decidiu não ir. Agora, ele poderia pedir à gata para entregar os presentes.

    Embora tenha se perguntado brevemente o que estava acontecendo, todas as suas dúvidas desapareceram assim que chegou à forja.

    — O que foi? Precisa de alguma coisa? Uma espada? — Vulcanus estava suando e martelando quando notou Airen.

    — Como soube…? — perguntou Airen.

    — Forjo espadas minha vida inteira. Um simples olhar me diz tudo. Mas você é um sujeito engraçado. Demorou mais de dez meses para vir buscar a espada que eu disse que daria de graça. E agora está aqui pedindo uma espada? Isso é para um presente?

    — Sim, senhor…

    — Hah. Não acredito. Então você não usará a espada de Vulcanus, o grande ferreiro, para si mesmo, mas a dará para outra pessoa? Isso fere o meu orgulho.

    — Me desculpe… mas não posso dar a eles nada inferior às suas espadas, Lorde Vulcanus. Eles são muito importantes para mim.

    — Hm, eu pagarei adequadamente, então…

    — Bah, não há necessidade. Sou rico o suficiente.

    — Então…

    — Eu disse que está tudo bem! Apenas me siga e escolha, certo? — resmungou Vulcanus, irritado.

    Por mais contrariado que parecesse, Vulcanus acreditava que já havia recebido mais do que o suficiente de Airen. Então, ele estava mais do que feliz em atender ao pedido do espadachim.

    Airen, infelizmente, não sabia como Vulcanus se sentia. Ele se perguntava, nervoso, se Vulcanus simplesmente lhe jogaria algumas espadas medíocres.

    Claro, esse não era o caso. Assim que Airen viu o suporte de armas no depósito, ele não pôde evitar ficar parado, boquiaberto.

    “Essas não são medíocres”, pensou.

    De fato, elas eram mais do que incríveis. Finalmente fechando a boca com um seco engolir, pegou uma espada de tamanho razoável que parecia adequada para Joshua Lindsay. Então, sentiu o peso dela.

    A espada não ficava atrás de forma alguma, mesmo quando comparada às outras espadas de Vulcanus que ele já havia experimentado.

    — Tentar forjar uma espada para você refinou minhas habilidades, sabe. Espadas que antes eu conseguia fazer apenas raramente agora saem com facilidade — explicou Vulcanus.

    — Mas não vou me acomodar, a propósito. Meu objetivo é igualar sua espada dourada encantada. Até que eu crie algo ainda maior, bem, algo que a supere em pelo menos um aspecto, não me darei por satisfeito — declarou Vulcanus.

    Mas enquanto o ferreiro lhe assegurava que aquelas espadas seriam presentes adequados, Airen não pensava em sua própria honra diante do Conde Lindsay ou de Bill Stanton, mas sim em Illia Lindsay. Imaginando sua amada, ele falou.

    — Há uma espadachim que conheço — começou.

    — Hmm? — Vulcanus ergueu uma sobrancelha.

    — Ela é habilidosa, talentosa e inspiradora, como o vento fresco. Tenho certeza de que ela também poderia lhe servir de inspiração.

    — E daí?

    — Por acaso… poderia forjar uma espada para ela?

    — As espadas aqui são excelentes… mas eu quero dar a ela algo maior. Algo que ela valorize.

    “Bom, eu certamente sei quem é essa pessoa”, pensou Vulcanus.

    De fato, ele já ouvira Kiril e Lulu falarem sobre ela. Essa espadachim devia ser a prodígio da Casa Lindsay, Illia Lindsay.

    O ferreiro também pôde perceber como Airen se sentia em relação a ela. Sem dúvida, Airen tinha os olhos de alguém apaixonado.

    “Não é nada mal.”

    Vulcanus sorriu. Embora ninguém soubesse o que o futuro reservava, os dois formariam um casal fantástico.

    “Se Airen Farreira, uma fonte infinita de inspiração, e Illia Lindsay, que Airen garantiu ser capaz de evocar inspiração, ficassem juntos…”

    Se tudo corresse bem, o filho deles seria incrivelmente talentoso! Imagine quanta inspiração essa criança traria para Vulcanus!

    “Se eu considerar isso, devo dar o meu melhor…”, pensou Vulcanus.

    Imaginando um futuro promissor apesar de ser apenas um observador, ele finalmente respondeu:

    — Certo. Farei o meu melhor.

    — Oh! Muito obrigado! — exclamou Airen.

    — Mas agora não é o momento. Para uma espada tão importante, quero ver a usuária antes de começar. Traga-a aqui.

    — Perdão?

    — Minha forja e eu não podemos nos mover, então você terá que trazê-la até mim.

    — Por quê? Não pode trazê-la? — perguntou Vulcanus.

    — Posso — respondeu Airen Farreira com seriedade.

    — Certo. Falaremos então — disse o ferreiro anão com um sorriso, sua paixão ardendo intensamente.

    O coração do espadachim também queimava mais forte do que nunca.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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