Índice de Capítulo

    Giovan, o guarda novato da Casa Farreira, se viu no meio de uma tempestade de eventos inesperados. Ele sabia que, apesar de serem apenas barões em um pequeno reino, os Farreira não eram o que pareciam ser.

    “Senhorita Kiril Farreira é uma renomada feiticeira do Principado de Cezar, e Lorde Airen Farreira é um mestre espadachim… mesmo tendo pouco mais de vinte anos…”

    No entanto, Giovan nunca havia compreendido o que isso realmente significava. Afinal, como poderia, quando só ouvira falar dessas figuras lendárias por meio de rumores?

    Mas quando Airen Farreira retornou para casa um tempo atrás e demonstrou sua força na aula especial, Giovan, o guarda, não conseguiu conter as lágrimas.

    — O que está acontecendo?

    — Eles vão duelar?

    — Vamos ver as habilidades da Senhorita Lindsay?

    — Nunca imaginei que presenciaria algo assim!

    O que se desenrolou foi igualmente chocante. Ouvindo os cavaleiros e seus superiores murmurarem de excitação, Giovan deu um passo para trás para dar espaço a eles. Embora tenha sido impressionante ver o jovem lorde Farreira mostrar sua verdadeira capacidade duas semanas atrás, era ainda mais surpreendente ver até onde iam suas amizades.

    Ou melhor, isso era ainda mais inacreditável.

    “Airen Farreira é tão grandioso a ponto de Illia Lindsay, a prodígio da espada que se tornou a mestre espadachim mais jovem da história, e Brett Lloyd, o gênio de Gaveirra que talvez tenha mais influência do que o próprio rei do Reino Heyle, virem até aqui só para vê-lo?”

    Woooosh!

    — Hã…

    — A aura…

    A multidão murmurou ao ver o jovem lorde Lloyd invocar a aura azul de sua espada. Não havia dúvida de que aquela aura não era forçada pelo espadachim experiente. De fato, qualquer um podia dizer que aquela Aura da Espada estava completa e estável.

    Todos, incluindo Marcus e Giovan, olharam em choque. Brett, no entanto, manteve-se tão composto como sempre.

    Com uma postura elegante, ele convidou:

    — Vamos dar tudo de nós?

    — Desde quando…? — Illia perguntou.

    — Apenas há alguns meses. O que me diz? Isso te motiva a dar tudo de si?

    — Sim…

    Illia assentiu. Um momento atrás, ela havia se arrependido de ter invocado sua Aura da Espada. Estava irritada e confusa, e não deveria ter feito isso diante de um especialista. Afinal, como poderia duelar com uma Aura da Espada?

    No entanto, se seu oponente também fosse um mestre espadachim, a história era outra. Ela poderia empunhar sua Aura da Espada e lutar com tudo.

    “Sim. Posso ir com mais força… sem problemas”, disse a si mesma, com um aceno de cabeça.

    Embora tivesse recuperado a compostura, ela ainda não gostava nem um pouco de Brett.

    A multidão engoliu em seco diante de seu olhar frio, sua postura gélida e sua lâmina prateada, afiada como o vento do inverno. Brett, no entanto, continuava impassível.

    — Devo começar? — ele sugeriu.

    — Tudo bem — respondeu Illia.

    Bem… na verdade, Brett estava um pouco animado. Enfrentar sua velha amiga, alguém que ele queria superar, fazia seu sangue ferver. O espadachim de cabelos azuis avançou enquanto lembrava dos seus dias de aprendiz.

    Crack.

    Boom!

    O chão do campo de treinamento rachou quando Brett avançou e desferiu um golpe rápido. A espada de Illia desceu com facilidade para bloquear seu ataque no meio.

    Clang!

    Pat!

    Tadada!

    Illia deu um passo para trás, enquanto Brett recuou três. Ele estava em desvantagem, e sabia disso. Embora tentasse encontrar tempo para se recuperar, sua oponente não lhe daria essa chance. Senhorita Lindsay se aproximou imediatamente, sua espada envolta pelo vento.

    Infelizmente, a multidão reunida no campo de treinamento não era tão perspicaz. Afinal, eram apenas soldados de um barão de um pequeno reino, não guerreiros de um continente poderoso. Ainda assim, todos conseguiram reconhecer o que a prodígio de Adan acabara de invocar.

    A Espada do Céu!

    A paixão de todos se acendeu ao ver a técnica de espada mais renomada do continente diante de seus olhos.

    Boom!

    Boom!

    Crack! Boom!

    — Ugh, ah… — Brett gemeu de dor quando a poderosa espada de Illia caiu sobre ele sem piedade, como um tufão.

    Mesmo rangendo os dentes, ele não conseguiu conter seus gemidos. Irritado, contra-atacou com um golpe.

    Woosh!

    Slash!

    No entanto, foi inútil. Sua adversária esquivou-se levemente, como uma brisa, antes de se aproximar novamente como um vento prestes a se transformar em tempestade. Em meio ao turbilhão de ataques, Brett não gemeu… mas riu.

    — He, hehehe…

    Crash!

    — Ugh! Ah, argh!

    Doía. Mas o que mais doía não eram apenas suas palmas ardendo a cada bloqueio, e sim a constatação de que ainda tinha um longo caminho a percorrer.

    Ainda assim, ele podia suportar. Afinal, o que Brett Lloyd conquistou aos quatorze anos não foi talento nem potencial, mas sim um coração que o guiaria por seu próprio caminho, independentemente do vento que soprasse contra ele.

    Se fosse uma brisa ou um furacão, não importava.

    “Eu sigo meu próprio caminho”, disse Brett a si mesmo com firmeza, enquanto liberava energia e brandia sua espada.

    Bam!

    Boom, boom, boom!

    Barreiras internas pareciam se romper conforme a energia explodia, criando um enorme tsunami.

    Pela primeira vez, Illia pareceu surpresa. Mas foi só isso.

    Crash!

    Ela não recuou. Embora pudesse ter desviado com facilidade, escolheu enfrentar o ataque, e venceu. A onda se despedaçou, deixando seu mestre vulnerável, enquanto sua consciência o abandonava.

    Ao ver Brett Lloyd, seu amigo, desmaiado ao longe, Illia Lindsay pegou algo e entregou a Marcus.

    — O que é isso? — ele perguntou.

    — Uma poção, feita especialmente pela minha família. Será bastante eficaz. Por favor, use isso para cuidar de Brett — explicou ela.

    — Oh! Entendido. Vocês dois! Sigam-me!

    — Sim, senhor…

    Foi então que o espadachim de cabelos azuis se sentou de repente, para o choque de todos, fazendo Marcus e os soldados darem um salto para trás.

    Os olhos do jovem lorde ardiam intensamente. No entanto, não estavam voltados para os inocentes ao seu redor. Encontrando Illia, aquela que o derrotara, ele ficou em silêncio.

    Finalmente, ele falou:

    — Ouvi dizer que Airen não está aqui no momento…

    — Você vai ficar até ele voltar, certo?

    — Por que quer saber…?

    — Isso é uma pergunta tão estranha? Não é. Só estou falando sobre um amigo que veio ver outro amigo, assim como eu. Só perguntei porque pensei em ficar um pouco mais para nos encontrarmos todos. Faz tempo… Ei, o que foi? Por que está me encarando assim…

    — Cale a boca.

    — Certo.

    Plop.

    Com isso, Brett Lloyd caiu para trás e não se levantou. Marcus e os soldados moveram cautelosamente o agora completamente inconsciente Brett para a sala de recuperação.

    — Lulu… — murmurou Illia.

    — Sim, Illia? — respondeu a gata.

    — Quando Airen volta?

    — Hã… Eu não sei.

    — Entendo.

    Illia Lindsay assentiu melancolicamente. Agora, queria ver Airen ainda mais.


    Alguns dias antes de Illia Lindsay e Brett Lloyd chegarem à propriedade Farreira, Airen Farreira e sua comitiva ainda viajavam lentamente em direção à capital. O cronograma era bem flexível, já que tinham bastante tempo até o banquete. Acima de tudo, os Farreira queriam aproveitar a viagem, pois era a primeira vez que viajavam juntos como família.

    — Pai! Parece que há algo acontecendo nessa vila. Devemos dar uma olhada? — sugeriu Kiril.

    — Ora, vamos! Como poderíamos nos desviar quando estamos aqui para representar Sua Majestade… — protestou o Barão Farreira.

    — Está tudo bem. Temos tempo de sobra. Acredito que o senhor pode aproveitar um pouco a viagem. Ouvi falar do festival na Vila Ramkam. Parece bastante animado, apesar de seu pequeno porte. Também fiquei curioso — disse o capitão.

    — Vamos, pai — disse Airen.

    — Hmm… Vamos, então?

    O Barão Harun Farreira era sério, sincero e, às vezes, um tanto rígido. No entanto, nem ele poderia perder a oportunidade de estar com seu filho e sua filha.

    Sentindo-se feliz e orgulhoso como pai pela primeira vez em vinte anos, ele sentiu os olhos marejarem ao se lembrar de sua esposa em casa.

    “Da próxima vez, vou trazer Amelia…”

    Sentindo-se um pouco nostálgico, ele olhou para seus filhos com carinho. Airen e Kiril sorriram brilhantemente em resposta. O Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo também sorriu suavemente.

    — Pai, que tal pegarmos algumas bebidas…?

    As atividades da família não se limitavam ao dia. Todas as noites, Airen procurava o pai com algo em mãos. Kiril também se infiltrava sorrateiramente. Sempre perspicaz, Oswaldo Odone se afastava, sabendo que havia pouco tempo desde que a família recuperara sua felicidade.

    “Não posso me intrometer como um estranho. Talvez devesse sair para beber com os soldados”, pensou.

    Os soldados, por sua vez, passavam todas as noites em tensão… embora isso não fosse grande coisa.

    No dia anterior à chegada da comitiva ao palácio real, todos decidiram atender ao desejo infantil de Kiril de acampar juntos e montaram tudo no campo. Embora fosse bem menos confortável do que ficar em uma vila ou cidade, todos estavam felizes com a atmosfera, ou melhor, quase todos.

    Airen Farreira, a figura central do grupo, estava imerso em pensamentos sombrios sobre o banquete.

    “Recentemente, só estive cercado por pessoas incrivelmente gentis…”

    De fato. Illia Lindsay, por quem ele se apaixonou, Brett Lloyd, Judith e Khubaru, que ele não via há um ano, eram todos boas pessoas. E Lulu… nem precisava mencionar.

    Além dos amigos, havia muitos outros, como Ian, Quincy Meyers, Joshua Lindsay, Khun, Ignet, Karakhum e Tarakhan, que o guiaram, ajudaram e ensinaram. Sem eles, ele não estaria onde estava agora.

    “Mas as pessoas que encontrarei no banquete serão diferentes.”

    Airen se lembrou das famílias do sul, especialmente da Casa do Visconde Gairon. Os emissários dos quatro reinos provavelmente seriam semelhantes. Afinal, seria ingênuo esperar conforto em um lugar dominado pela inveja e pela política.

    Para seu alívio, o capitão dos cavaleiros se aproximou para consolá-lo.

    — Algo está incomodando você? — perguntou.

    — Oh, uh… Sim — admitiu Airen.

    — Pode me contar. Talvez eu não seja um grande espadachim como você, mas tenho anos de experiência.

    — Talvez eu devesse.

    Airen não era mais quem era antes. Não apenas suas habilidades com a espada haviam melhorado, mas também havia desenvolvido a coragem de não carregar o fardo sozinho. A conversa iniciada pela pergunta de Oswaldo Odone se estendeu pela noite fresca de outono.

    Logo, o capitão riu suavemente.

    — Acho que você não precisa se preocupar — disse.

    — Você acha? — perguntou Airen.

    — Claro. Para ser sincero, com seus méritos e conexões, os outros não terão escolha senão respeitá-lo.

    — Oh…

    — E não estou falando apenas disso. O que importa é que você é uma pessoa sincera e justa.

    O Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo sorriu. Ele realmente acreditava nisso.

    Nos dias que passou na propriedade Farreira e na viagem até a capital, percebeu que Airen Farreira era mais do que um espadachim talentoso. Ele possuía uma filosofia própria.

    “Ele está em uma posição que ninguém pode menosprezar. E também tem um coração que surpreende a todos”, refletiu o capitão.

    Então, quem ousaria maltratar alguém como Airen Farreira, que possuía essas duas qualidades?

    — Isso mesmo. Meu irmão merece respeito! — concordou Kiril animadamente. O Barão Farreira também sorriu e assentiu.

    E, embora não falassem, os outros membros da comitiva concordaram. De fato, Airen era impecável aos olhos deles.

    Airen sorriu sem jeito, incapaz de protestar, mas também sem querer se vangloriar, não que se importasse tanto com isso.

    — Estou um pouco cansado. Acho que devo ir dormir primeiro — ele disse, por fim.

    Embora fosse óbvio que um mestre espadachim não se cansaria tão rápido, ninguém apontou isso.

    A comitiva adormeceu em meio à atmosfera pacífica e despertou revigorada para seguir em direção ao palácio real. Todos estavam sorrindo.

    Mas então…

    — Isso é… — murmurou o Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo gravemente ao notar uma enorme carruagem passando pelos portões, ou melhor, um palanquim carregado por sessenta e quatro pessoas.

    O meio de transporte menos mágico e mais primitivo, que exalava a autoridade da nobreza, ostentava o emblema da Casa Slick.

    Oswaldo encarou o brasão com preocupação.

    “Não pode ser… o Reino Runetell…?”

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota