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    — O que… está acontecendo…? — murmurou o Rei de Heyle tristemente, observando de longe o grande mago e o mestre espadachim.

    A princípio, ele não conseguia acreditar no que ouvira. Um duelo? Um duelo contra o grande mago de Runetell? Independente das chances de Airen, esse evento precisava ser evitado a todo custo, considerando as possíveis consequências. Infelizmente, o jovem mestre espadachim não recuou. E, a julgar pelas palavras de Iphrain Slick, devia ter sido ele quem sugeriu o duelo primeiro.

    — Está acabado… Está tudo acabado, não importa se ele vencer ou não. Como vamos lidar com a ira do Reino Runetell…? — gemeu o rei.

    — Por favor, acalme-se, Vossa Majestade. Não creio que Runetell seria tão impulsivo a ponto de se envolver em um duelo trivial assim — disse Oswaldo.

    — Sir Oswaldo.

    — Sim, Vossa Majestade?

    — Seria muito vergonhoso se chorássemos aqui…?

    — Por favor, não faça isso…

    Sniff…

    Enquanto observava seu rei se lamentar, o Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo também sentiu seu próprio semblante se tornar sombrio. Ele também queria chorar. Por mais rude que Iphrain fosse, não queria que a situação chegasse a esse ponto. Acreditava que conseguiriam superar isso se apenas suportassem a petulância do velho por alguns dias, contanto que mantivessem o temperamento explosivo de Kiril Farreira sob controle. Nunca imaginou que seria Airen Farreira quem iniciaria a confusão.

    — O que você acha, Hill? Por que acha que o Mestre Farreira agiu assim? — perguntou ao seu Capitão Tenente.

    — Hm… — Hill Burnett, o Capitão Tenente da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo, gemeu, igualmente incapaz de compreender a situação.

    Ele se lembrou de Airen Farreira de dois anos atrás.

    “Naquela época, ele já era excepcional. Mas não era assim. Agora, ele estava…?”, pensou ele.

    ‘Resoluto?’ Não seria a palavra certa. Afinal, Airen já era bastante firme antes. Uma palavra mais precisa seria…

    “Deveria dizer que ele se tornou mais confiável…?”, pensou Hill.

    Claro, ele não sabia o porquê. Embora já tivesse derrotado um demônio ao lado dele, nunca fora tão próximo de Airen. Considerando tudo que pode ter mudado nesses dois anos, era seguro dizer que Airen se tornara uma pessoa completamente diferente. Mas, por ora…

    — Vamos apenas observar… — murmurou.

    — Hmm. Parece que você tem certa confiança nele — comentou o rei.

    — Sei que ele não começaria algo que não pudesse terminar, pelo menos.

    — Ainda assim…

    — Acho que não podemos fazer nada além de torcer por ele agora. Devemos deixar nossas preocupações e perguntas de lado… e apenas esperar que o nosso lado vença.

    — Nosso lado… Isso mesmo. Ele está do nosso lado! Não podemos nos sentir derrotados quando nosso súdito está se esforçando pelo reino! — exclamou o rei, erguendo o olhar.

    De fato. O que estava feito, estava feito. Se não pudessem consertar sua relação com Iphrain Slick, deveriam ao menos vencer o duelo. Precisavam torcer por Airen. Precisavam incentivá-lo para que ele pudesse dar o seu melhor.

    Pensando que deveria fazer algo por seu lado como rei, ele endireitou a postura e declarou:

    — O orgulho de Heyle! A estrela de Heyle! Vá, Sir Airen Farreira, o Mestre Espadachim!

    A rainha suspirou ao ouvir o rei torcer de maneira modesta, para ser justa, de forma bem discreta. Mas não havia por que sentir vergonha, pois nem mesmo Sonan ou Colon ousavam torcer em voz alta, apesar de quererem ver o jovem mestre espadachim colocar Slick em seu devido lugar.

    Por outro lado, as pessoas rapidamente começaram a especular sobre o possível desfecho do duelo.

    — Iphrain Slick vai vencer… certo?

    — Certo. Um espadachim pode ter vantagem em um combate um contra um, mas isso só vale se estiver no mesmo nível que o mago.

    — Faz apenas um ano desde que ele se tornou um mestre. Claro que ele vai perder…

    — Mas a Casa Slick não é mais forte na teoria do que na prática?

    — Hm. Isso é verdade. Ele veio para um banquete, não para um duelo. Então não deve estar carregando todas as suas ferramentas mágicas…

    — Acho que o Mestre Farreira tem alguma chance. Ele não está enfrentando um mago de batalha como Perry Martinez, afinal.

    “Seus tolos…”, pensou o Duque Kyle Murdoc de Bisau ao ouvir os murmúrios. Ele entendia de onde vinham tais opiniões.

    O povo comum acreditava que, em termos de poder, os grandes magos ficavam atrás de Perry Martinez, o mago de batalha, que, por sua vez, era superado pelos três chefes de Runetell. Para eles, um grande mago comum teria dificuldades contra um novo mestre espadachim.

    Mas isso não era verdade. Os magos de Runetell eram poderosos além da imaginação de qualquer um. Durante os 150 anos de ausência dos diabos, a magia de Runetell cresceu exponencialmente.

    Eles descobririam isso em breve, pensou o duque com um suspiro frustrado.

    Com sua razão torcendo por Iphrain Slick e seu coração torcendo por Airen Farreira, ele ergueu o olhar quando o duelo começou.


    — Está pronto? — perguntou Iphrain.

    — Sim, estou — respondeu Airen.

    — Está satisfeito com tudo? O local, a distância… Considerando as diferenças entre um espadachim e um mago, talvez tenha algumas reclamações…

    — Não tenho objeções.

    “Esse desgraçado insolente!”, pensou Iphrain furioso. Suas veias saltaram diante da atitude indiferente do mestre espadachim.

    De onde vinha tamanha confiança? Do fato de que espadachins tinham vantagem contra magos em combates um contra um? De um excesso de confiança em suas próprias habilidades? Ou talvez da falta de experiência contra magos?

    “Ele definitivamente não tem experiência contra magos. E provavelmente também é arrogante.”

    O velho mago bufou. De fato, ele podia ver o que estava acontecendo. Esse jovem havia se tornado um mestre espadachim no início dos vinte anos. Até mesmo o renomado Diretor Ian e Julius Hule, do reino sagrado, tornaram-se mestres apenas aos vinte e cinco e vinte e seis anos, respectivamente. Então, é claro que esse bastardo estaria orgulhoso.

    Por outro lado, embora fosse um grande mago reconhecido pela casa real de Runetell, Iphrain nunca fez nada para impulsionar sua reputação pelo continente. Além disso, não trouxera nenhum aparato mágico que o ajudasse a moldar a mana em feitiços. Naturalmente, o espadachim se sentiria confiante. Aqueles que acreditavam na vitória de Airen Farreira apontavam para o fato de que Iphrain Slick não usava nenhum artefato. Que tolos.

    “Eles não sabem que estou armado até os dentes agora?”, pensou ele.

    De fato, Iphrain Slick prezava muito pela própria segurança. Como a maioria dos magos de Runetell, era extremamente desconfiado. Por isso, sempre se preparava ao máximo, mesmo ao visitar um reino pequeno como Heyle. O fato de ter escolhido seu palanquim era prova disso. No palanquim estavam gravados inúmeros círculos mágicos que lhe forneciam suporte.

    “Esse bastardo claramente não sabe nada sobre magos.”

    A vitória já estava praticamente garantida, mas a situação só melhorou quando Airen não se moveu do lugar após o início do duelo. Segurando firmemente sua grande espada de feitiçaria, ele lançou um olhar afiado a Iphrain, talvez com a intenção de focar na defesa por não conhecer bem seu oponente.

    “Vou mostrar a ele o quão perigoso é dar tempo a um mago…”, pensou Iphrain com um sorriso de escárnio, enquanto elevava sua mana discretamente.

    Woooosh!

    A mana se concentrou nos círculos mágicos do palanquim e moldou-se em feitiços. O processo se repetiu rapidamente até que Iphrain tivesse dezenas de magias preparadas. Mas não eram feitiços elementais ou físicos. Na verdade, Iphrain lançara feitiços psicológicos, que incapacitaria seu oponente de forma sutil e certeira. Embora não fosse um espetáculo para a plateia, garantiria sua vitória.

    Iphrain Slick sorriu de orelha a orelha, os olhos e os lábios se franzindo de maneira sinistra.

    Um momento depois…

    Boom!

    — Hã?

    O sorriso do grande mago da Casa Slick se desfez à medida que a situação se inverteu.

    Clang!

    Pisando com força no chão, Airen destruiu o feitiço. Continuou avançando, passo após passo, até ficar cara a cara com o velho mago. Foi só então que Iphrain percebeu a gravidade da situação. Movendo as mãos freneticamente, sua mente trabalhava desesperadamente para entender o que estava acontecendo.

    “Como? Como ele quebrou os feitiços?”

    Infelizmente, Airen não era o único que sabia pouco sobre seu oponente. Iphrain Slick fora negligente. Ele ignorou muitos, muitos detalhes. Mas os três maiores erros de sua avaliação foram os seguintes:

    Primeiro, Airen Farreira não era um mestre espadachim inexperiente. A última vez que mostrara suas habilidades foi em uma luta de campeões na Terra da Provação, mais de um ano atrás. Desde então, ele crescera exponencialmente.

    Segundo, deixando suas habilidades de lado, Airen possuía uma resiliência inimaginável — como deveria ter. Quando empunhou a grande espada de fogo, unindo seu eu do passado e do presente, sua mente tornou-se forte o suficiente para resistir até mesmo à espada de um diabo ancestral. Os ataques psicológicos de um grande mago não poderiam afetá-lo.

    Mas, mais crucial ainda…

    Woosh!

    Terceiro, magos não eram os únicos que se beneficiavam de mais tempo. Esse, na verdade, era o fator decisivo que determinaria o desfecho do duelo.

    Crash!

    A lâmina de Airen Farreira desceu, seu brilho dourado atravessando a poeira com um esplendor ainda maior do que quando foi reconhecido por Khun, um dos três maiores espadachins do continente, ou quando impressionou Quincy Meyers, o ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos, ou quando forçou Joshua Lindsay, o descendente do grande herói, a usar seu golpe mais poderoso.

    Todos assistiam, boquiabertos. O Rei de Heyle, que torcia discretamente, o Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo, que o acompanhava, os representantes de Sonan, Colon, Bisau e até os sessenta e quatro magos que até então haviam permanecido estoicos… Todos observavam, atônitos, o final do duelo.

    Com um único golpe, o mestre espadachim da Casa Farreira, do Reino Heyle, derrotou o segundo mago mais poderoso da Casa Slick.

    Olhando para o velho agora desarrumado e caído no chão, Airen disse:

    — Deixe-me repetir. Eu não irei para Runetell.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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