Índice de Capítulo

    Um silêncio ensurdecedor tomou conta do local. Nenhum dos inúmeros convidados dos quatro reinos ou dos sessenta magos da Casa Slick disse uma única palavra. No início, estavam apenas nervosos. O fato de um mestre espadachim e um grande mago de Runetell estarem duelando, e a possibilidade de que poderiam ser atingidos pelos resquícios do conflito, os manteve em silêncio. Esses sentimentos logo se transformaram em puro horror quando o jovem mestre espadachim de Heyle derrubou o segundo mago mais poderoso da Casa Slick com um único golpe.

    “Isso sequer faz sentido…?”, pensaram.

    Mesmo que um espadachim tivesse vantagem contra um mago em um combate direto…

    “Estamos falando de um grande mago!”

    De fato, Airen Farreira havia alcançado a maestria apenas no ano passado, mesmo assim…

    “Um mestre espadachim normalmente tem tanta aura assim?”

    “Acabou? Acabou de verdade?”

    Os membros da realeza e os nobres dos quatro reinos lançaram olhares a seus cavaleiros, como se quisessem perguntar se aquilo era normal.

    “Mesmo que nos olhem assim…”, pensaram os cavaleiros.

    “Como poderíamos saber? Nunca vimos um mestre espadachim enfrentar um grande mago antes.”

    “Eu estava atento o tempo todo e ainda assim não vi eles se moverem. Essa é a diferença entre um especialista e um mestre?”

    “Não… Não pode ser. O mestre que vi da última vez não estava nesse nível…”

    Os cavaleiros não tinham respostas para seus senhores. Por mais habilidosos que fossem, seus nomes só eram conhecidos dentro dos quatro reinos. Não tinham como avaliar com precisão o nível de poder de um mestre espadachim. Mas se havia algo em que todos concordavam, era…

    “Airen Farreira…”

    “Ele não é um mestre espadachim inexperiente.”

    “Não sei exatamente em que nível ele está… mas é muito mais poderoso do que os rumores diziam…!”

    — Creio que o Mestre Farreira seja muito mais forte do que imaginávamos.

    — É mesmo?

    — Sim. Sou humilde demais para avaliar com precisão a extensão de suas habilidades, mas…

    — Hm…

    O silêncio, que parecia durar uma eternidade, finalmente se quebrou quando as pessoas começaram a murmurar. A maioria comentava sobre Airen Farreira, como era de se esperar. De fato, essa estrela emergente era muito mais interessante do que Iphrain Slick, que não apenas perdera, mas já era amplamente conhecido. Afinal, os quatro reinos eram vizinhos.

    A realeza assentiu com expressões pensativas ao ouvir seus cavaleiros, antes de voltarem a encarar Airen com mais atenção, percebendo que o jovem era muito mais formidável do que imaginavam.

    “Teremos que ficar atentos ao desenrolar da situação com o Reino de Runetell, mas…”

    “Por ora, devemos manter uma relação amistosa.”

    “Ele tem conexões próximas com as Casas Lindsay e Lloyd, certo? Esses laços certamente terão um grande impacto no futuro…”

    “Hmph, parece que todos estão pensando a mesma coisa.”

    Os nobres de Sonan e Colon trocaram olhares. Já os representantes de Bisau permaneceram em silêncio. Afinal, seu reino tinha laços estreitos com Runetell. Se o mestre espadachim criasse inimizade com Runetell, eles não poderiam se envolver com ele. A influência do reino mais poderoso do continente oriental simplesmente não podia ser ignorada.

    No entanto, essa situação era tudo, menos comum. Airen Farreira não era apenas incrivelmente talentoso por ter se tornado um mestre espadachim aos vinte e dois anos, ele era ainda mais habilidoso do que diziam os rumores. Se isso fosse verdade, talvez seus laços com as Casas Lindsay e Lloyd fossem mais do que simples conexões…

    Considerando que sua irmã também tinha relações com o Principado de Cezar, talvez fosse uma boa ideia cultivar uma relação com o jovem, mesmo que houvesse riscos.

    “Antes que os desgraçados de Colon tentem se aproximar…”

    “Precisamos agir antes que as cobras de Sonan façam isso!”

    Os reis de Sonan e Colon o observavam com olhos ardentes. Embora tivessem planejado voltar para casa assim que a caça terminasse, decidiram permanecer e aproveitar o banquete até o fim, pelos próximos dois dias.

    Por outro lado…

    — Que pena que as coisas terminaram assim — disse o rei de Bisau.

    — Hm… — murmurou o rei de Heyle.

    — Sinto muito, mas creio que teremos que nos retirar mais cedo. Com licença.

    — Entendo…

    O rei de Bisau retirou-se do restante do banquete. De fato, Heyle não era o único a se preocupar com o duelo. O rei de Bisau e Kyle Murdoc, que pareciam nervosos desde o início da luta, agora pareciam prestes a desabar, assim como todos os outros de Bisau. No fim, tanto eles quanto os magos de Runetell se afastaram do evento.

    O rei de Heyle observou melancolicamente enquanto os representantes de Bisau partiam amargurados.

    “Talvez esta seja a última vez que os quatro reinos realizem um banquete juntos”, pensou tristemente.

    Mas ele não culpava Bisau. Sonan, Colon e até Heyle tinham sua parcela de responsabilidade nisso. Talvez tal discórdia fosse inevitável quando os quatro reinos, que antes se uniam contra desafios externos, começaram a se desentender internamente.

    “Bem, pelo menos o pessoal de Sonan e Colon parece estar se divertindo”, refletiu o rei.

    Seus verdadeiros sentimentos eram um mistério, mas, pelo menos por enquanto, o clima geral não estava tão ruim quanto ele temia. Num momento, receou que os três reinos se aliassem a Runetell e deixassem Heyle para trás. Mas, pelo menos por enquanto, esse destino parecia distante.

    Enquanto o rei se perdia nas complicadas tramas políticas, a pessoa responsável por todo o tumulto aproximou-se dele.

    O Rei de Heyle forçou-se a endireitar a postura. Embora a maioria já soubesse que ele era de bom coração, queria demonstrar alguma autoridade. No entanto, sua determinação evaporou completamente quando Airen Farreira inclinou-se respeitosamente diante dele.

    — Peço desculpas do fundo do meu coração por ter causado todo esse problema, Vossa Majestade. No entanto, não poderia permitir que Iphrain Slick saísse impune após insultar não apenas minha família, mas também o Reino de Heyle como um todo. Embora a Casa Slick e o Reino de Runetell possam ser poderosos o suficiente para se tornarem um império, tenho orgulho do Reino de Heyle e de seus séculos de história — declarou.

    Woosh!

    O jovem mestre espadachim falou com respeito, mas firmeza, enquanto sua espada dourada brilhava atrás dele.

    A maioria, incluindo o Rei de Heyle, observava como se estivessem enfeitiçados.

    Crash!

    Foi então que Airen fincou sua espada no chão e jurou:

    — Pela minha espada, pelo meu coração e pela minha honra como cavaleiro, juro que irei resolver qualquer problema que surja deste duelo. Assegurarei que isso não trará problemas para Vossa Majestade ou para seu reino.

    O Rei de Heyle permaneceu sem palavras.

    Para ser justo, Airen Farreira não havia dito nada extraordinário. Embora fosse admirável que estivesse assumindo a responsabilidade, ele não havia apresentado um plano concreto. Alguns poderiam até dizer que suas palavras eram apenas para efeito de cena. Mas ele era um mestre espadachim, e não apenas isso, mas alguém que deixaria seu nome na história. Ali estava ele, declarando sua lealdade ao rei com sua Aura da Espada sagrada, que brilhava mais do que qualquer cavaleiro sagrado de Arvilius.

    Isso era algo que o rei nunca imaginou que viveria como soberano de um reino pequeno. A emoção esmagava a razão e o senso comum enquanto ele assentia e lançava um olhar para os reis de Sonan e Colon, como se quisesse provocá-los infantilmente: ‘Vocês não têm isso, têm? Não têm um mestre espadachim como esse. Mesmo que tenham, tenho certeza de que o nosso Airen, não, o Mestre Farreira, é melhor.’

    No entanto, os reis de Sonan e Colon não puderam responder à provocação. Afinal, estavam realmente com inveja.

    — Airen está mesmo incrível hoje, não acha, pai? — perguntou Kiril.

    — Pai? Pai? Por que você está… Pai?

    Kiril Farreira arregalou os olhos ao ver o sério e reservado Harun Farreira olhando para Airen com lágrimas nos olhos.

    Claro, isso não era inesperado. Kiril recuou um passo enquanto seu pai permanecia imóvel, olhando para Airen sem perceber que ela o chamava. Ela então voltou seu olhar para o irmão, com a mesma expressão chocada.

    No entanto, nem todos estavam felizes. Oswaldo Odone, o Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo, não conseguia afastar a preocupação com Runetell, mesmo enquanto se maravilhava com o poder de Airen, que superava todas as suas expectativas.

    “Claro, o duelo foi justo, e foi Slick quem antagonizou Airen primeiro. Ele não ousaria pedir ajuda a Runetell depois de perder de maneira tão humilhante. Até mesmo Runetell acharia isso ridículo. Mas…”, ele ponderou.

    Isso realmente acabou? Aquele velho mago realmente vai recuar?

    Afinal, estava falando de Iphrain Slick, o mais pretensioso, arrogante e presunçoso entre os magos de Runetell.

    “Talvez seja melhor discutirmos algumas estratégias…”, pensou Oswaldo.

    Mas agora não era o momento. Isso teria que esperar até o fim da competição de caça e o descanso de todos. Airen Farreira, é claro, teria que comparecer.

    No entanto, mesmo depois que tudo acabou, ele não conseguiu encontrar Airen.

    — Parece que ele saiu para caminhar — explicou um atendente.

    — Hm… — Oswaldo gemeu, sentindo um peso no peito.

    A noite seguiu desconfortável.


    — Aquele maldito…! — rosnou Iphrain Slick, dentro de seu enorme palanquim, estacionado do lado de fora do castelo de Heyle.

    Ele continuava a calcular e converter mana com as mãos. Normalmente, nunca faria isso. Permitir que emoções interferissem na magia, que deveria ser pura lógica, apenas resultaria na contaminação da mana e na sabotagem do feitiço.

    No entanto, ele não se importava. O que estava construindo era um feitiço que afetaria a mente do alvo. Maldições como essa funcionavam ainda melhor quando o lançador alimentava-as com emoções negativas.

    — Phew… pronto — suspirou, finalmente terminando.

    O feitiço finalizado era extremamente discreto, sem cor ou cheiro, e com uma presença tão tênue de mana que a maioria dos magos sequer seria capaz de detectá-la, especialmente depois que se dispersasse pelo ar. Até mesmo ele não conseguiria rastreá-lo assim que deixasse o palanquim. Mas o que um feitiço tão diluído poderia fazer?

    “Muitas coisas…”, pensou Iphrain Slick com uma risada maliciosa.

    A barreira branca que ele criara antes do duelo não serviu apenas para separar espaços. A mana discreta da barreira envolveu alguns de seus alvos. Nem mesmo magos de alto nível seriam capazes de detectar tal magia.

    “Mas esse feitiço atrairia o outro que ele acabara de lançar. E quando os dois se misturarem…”, Iphrain pensou.

    A mistura teria um efeito semelhante às poções que os diabos antigos usavam para corromper humanos.

    As pessoas do passado chamavam isso de ‘substância demoníaca’.

    — Esse lixo… — murmurou o grande mago, cerrando os dentes enquanto via seu feitiço incolor e inodoro se espalhar.

    Ele não pretendia pedir ajuda nem à Casa Slick, nem ao Reino de Runetell. Seu próprio poder seria suficiente. Tudo seria resolvido assim que colocasse as pessoas queridas de Airen sob seu controle.

    “Vamos ver como ele se mantém tão orgulhoso quando seu próprio pai se ajoelhar diante de mim…”, pensou.

    Crack.

    Foi nesse momento que seu enorme palanquim se partiu, ou melhor, se rompeu. Embora tenha sido um som discreto, ele não poderia deixar de notar, pois sua magia havia aumentado suas percepções. O fato de não ter percebido ninguém se aproximando era simplesmente inacreditável.

    No entanto, seu choque não durou muito.

    A porta se abriu, revelando ninguém menos que Airen Farreira.

    Os olhos do velho mago tremiam.

    Mas o que aconteceu a seguir o chocou ainda mais.

    — Você… pegou o meu feitiço? — ele balbuciou, a voz trêmula, incapaz de compreender o que acabara de presenciar.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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