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    — Eu te amo muito.

    Diferente de quando Brett Lloyd chamou Judith para sair, as palavras de Airen Farreira não foram ditas por impulso, mas planejadas após um dia inteiro de reflexão. Ele até mesmo buscou conselhos com aqueles ao seu redor. Sem a ajuda deles, não teria conseguido pensar em uma carruagem voadora, um bom lugar para o encontro ou um restaurante decente para jantar.

    “Brett foi um pouco… excêntrico, suponho”, pensou Airen, embora estivesse disposto a perdoar seu amigo, já que provavelmente fez aquilo com boas intenções.

    De qualquer forma, os outros só podiam ajudá-lo a criar a oportunidade perfeita para declarar seus sentimentos. Escolher as palavras certas era algo que apenas Airen podia fazer. Isso não era algo que pudesse delegar a ninguém. Por isso, passou a noite anterior revirando-se na cama. Felizmente, sua luta deu frutos.

    “É um pouco assustador”, pensou enquanto inspirava fundo.

    Ele estava ciente dos sentimentos de Illia por ele, assim como reconhecia os próprios sentimentos por ela. Ainda assim, não conseguia evitar o nervosismo. Afinal, todos queriam causar a melhor impressão possível, especialmente para alguém que poderia ser seu futuro amor.

    No entanto, Airen deixou suas preocupações de lado. Tentar conquistar alguém com palavras sofisticadas, expressões calculadas e gestos precisos não combinava com ele. Mesmo que treinasse por um dia inteiro, teria seus limites. Então, em vez de se focar em se expressar de forma impressionante, decidiu ser honesto.

    Com um aceno de cabeça, Airen Farreira olhou para Illia e disse:

    — Eu te amo. Você foi a primeira a se aproximar de mim quando eu não tinha ninguém.

    Ele se lembrou de como ela era quando a conheceu na Academia de Esgrima. Naquela época, não tinha amigos com quem conversar.

    Pensando bem, Illia sempre foi gentil com ele desde o início, encontrando tempo para ajudá-lo mesmo com sua agenda ocupada. Ela o tratou sem preconceitos. Mesmo quando houve um mal-entendido, ela o ouviu e superou seu próprio passado difícil.

    — Eu te amo porque me recebeu com um sorriso quando eu não cumpri minha promessa e voltei depois de cinco anos — continuou Airen.

    Também se lembrou de como Illia foi na Terra da Provação. Foi um período difícil. No entanto, enquanto ele atravessava um momento sombrio de sua vida, ainda mais difícil do que quando era um nobre preguiçoso, Illia o acolheu alegremente.

    Embora outro mal-entendido os tenha levado a brigar, Illia não desistiu dele. Pensando bem, talvez tenha sido ali que começou a se apaixonar por ela.

    — Eu te amo mesmo que não seja acostumada a viajar ou cozinhar. Eu te amo até quando usa aqueles palavrões que aprendeu com Judith…

    — Ah…

    Illia olhou para Airen, envergonhada. Para ser mais exata, reagiu quando ele mencionou cozinhar. O próprio Airen não conseguiu conter um riso ao se lembrar de quando ela tentou invocar sua aura da espada para cortar um pedaço de carne dura. No entanto, ele gostava disso. Afinal, o fato de ser inexperiente e de se surpreender com sua própria atrapalhação era parte de quem Illia era.

    Airen continuou sua declaração, mencionando tanto eventos grandiosos, como o que aconteceu em Drukali e sua luta contra o diabo bufão, quanto momentos triviais, como quando sentaram lado a lado para observar o horizonte ou conversaram sobre coisas banais. Ele valorizava todos esses momentos. Mas apenas isso não bastava.

    — Illia — chamou Airen, fitando seu rosto.

    Por um momento, se perguntou se tinha falado demais.

    “E se isso for tedioso?”, pensou, por um instante.

    Mas afastou esse pensamento rapidamente. É claro que seria desajeitado e um pouco estranho. Afinal, estava apenas começando. Todo mundo era assim no começo.

    Lembrando-se dos conselhos de seus amigos, ele olhou para sua amada com carinho e perguntou:

    — Você quer namorar comigo? Quero dizer…

    Phew.

    Airen soltou o ar antes de declarar:

    — Namore comigo.

    Ouvindo a voz de Airen Farreira, sentindo seu olhar e percebendo seus sentimentos, Illia começou a relembrar o passado. Mas, em vez de pensar em quando se apaixonou por Airen ou no que gostava nele, olhou para si mesma.

    Ela hesitou. Será que realmente merecia o amor que Airen dizia ter por ela? No passado, teria respondido que não. Na verdade, nem sequer consideraria essa possibilidade. Tudo o que importava para ela era seu irmão, sua família, e Ignet. Não podia se dar ao luxo de pensar sobre quem era ou sobre o que gostava ou desgostava.

    Mas isso ficou no passado. Quando escapou do covil do diabo bufão, percebeu que, se queria amar alguém, precisava amar a si mesma primeiro. E ela queria amar — tanto que se determinou a se amar. Desde então, aprendeu a desenvolver seus sentimentos de uma forma mais saudável, permitindo que seu coração se curasse, pouco a pouco.

    “Então… posso me amar tanto quanto posso amar outra pessoa?”

    Embora não fosse uma pergunta fácil, precisava respondê-la. Se não o fizesse com sinceridade, não estaria apenas ferindo a si mesma, mas também Airen, que lhe oferecia seu coração. Foi por isso que não respondeu imediatamente.

    “Mas…”

    — Sim… — murmurou.

    De fato, essa pergunta não era algo capaz de abalar seu coração.

    Ela riu depois de dar sua resposta tímida. — Ah, acabei de rir de um jeito bem estranho, não foi? — murmurou, surpresa.

    Mas como poderia evitar? Airen parecia tão adorável enquanto tentava esconder sua ansiedade quando ela demorou a responder. Seria impossível não rir.

    “Eu talvez não tenha tanta confiança em mim mesma quanto poderia, mas…”, pensou Illia com um sorriso.

    Mas isso não importava. Os olhos, a voz e o coração de Airen Farreira compensavam facilmente suas inseguranças.

    — Eu também te amo — soltou de repente Illia Lindsay, agora a amada de Airen Farreira.

    Nunca imaginou que uma declaração tão simples pudesse fazê-la se sentir tão feliz. Como era maravilhoso expressar seus sentimentos honestamente!

    Corando, murmurou:

    — Eu te amo. Eu te amo muito… Airen.

    — Hã… Ah! — exclamou Airen, pegando-se de surpresa enquanto sorria timidamente.

    Illia adorou. Não conseguia parar de sorrir. Uma onda de sentimentos bons borbulhava dentro dela. Sorte que não havia ninguém por perto, pois ela mesma não estava acostumada a se ver assim.

    Então…

    “Isso é só para o Airen por enquanto”, pensou Illia, tocando-o de leve com a mão antes de se afastar devagar, como se o convidasse a segui-la. Airen a acompanhou.

    Tap.

    Tap, tap.

    As mãos dos novos amantes se roçaram antes que, nervosos e um pouco suados, finalmente se segurassem.

    Nenhum dos dois soltou por um bom tempo. A lua brilhava sobre o novo casal.

    — Puxa, só isso? Só ficaram de mãos dadas?

    — E daí? Tem algo de errado em segurar as mãos?

    — Quero dizer, pensa bem. Eles podiam fazer mais, já que o clima está tão bom!

    — Mais?

    Bem, além da lua no céu, havia outros observando Airen Farreira e Illia Lindsay: Kiril Farreira, Lulu e Brett Lloyd, que trabalharam para que os eventos daquele dia fossem possíveis.

    Embora os dois mestres da espada fossem sensíveis o suficiente para perceber até o mais silencioso dos intrusos, não conseguiam ver através da feitiçaria cuidadosa de Kiril e Lulu. Além disso, estavam bem distraídos, deixando as duas feiticeiras livres para discutir, ou reclamar, sobre o desfecho do encontro do casal.

    — Ainda assim, eles podiam pelo menos se beijar, não podiam? — protestou Kiril.

    — Hã, sério? — perguntou Lulu.

    — Claro! — insistiu Kiril veementemente.

    Para ser justa, ela e os outros trabalharam bastante para que aquele dia acontecesse: ajudaram Airen com sua roupa, pilotaram a carruagem voadora com o máximo de cuidado e guiaram o casal até um bom local para que Airen pudesse se declarar.

    O beco onde Airen e Illia estavam era um espaço especial da cidade, normalmente lotado de gente. No entanto, Lulu comprou o lugar inteiro por um dia para que o casal tivesse privacidade.

    “Foi por isso que tudo deu certo! Então…”, pensou Kiril, convencendo-se de que era natural esperar mais do casal.

    Por outro lado, a gata preta apenas assentiu levemente. De fato, Lulu já estava mais do que satisfeita só por Airen e Illia terem ficado juntos. Afinal, conhecia bem os dois, e achava impressionante que tivessem chegado tão longe.

    Brett sentia o mesmo.

    — Acho que nada vai acontecer tão rápido quanto Kiril deseja. Os dois são bem tímidos nesses assuntos, afinal. Mas isso também tem seu charme, não tem? Acho mais divertido ver como eles se atrapalham de forma tão inocente — comentou seriamente enquanto observava o casal se afastar.

    Kiril franziu a testa.

    — Não diga besteira. Você estragou o clima porque insistiu que precisava servi-los. As coisas teriam ido muito melhor se você não tivesse atrapalhado.

    — O quê?! Isso não é verdade! Minha escolha perfeita de bebida proporcionou um momento perfeito para eles… — protestou Brett.

    — Brett, acho que não — disse Lulu, balançando a cabeça, assim como Kiril.

    Ambas pareciam sinceras enquanto olhavam para Brett com reprovação.

    — Isso não vai dar. Vamos ficar de olho neles, e se parecer que as coisas estão indo devagar demais… — murmurou Kiril.

    — Então? — ecoou Lulu.

    — Então convocamos outra reunião de emergência.

    — Ah, tudo bem! Adoro coisas assim! É divertido!

    — Ei, não é para diversão!

    — Ah, qual é…

    Nem Lulu, animada, nem Kiril, que a repreendia, deram atenção a Brett.

    Sentindo-se sozinho, Brett olhou para o alto, pensando em sua própria amada.

    “Estou com saudades de você, Judith…”, pensou, imaginando o que ela estaria fazendo naquele momento.

    Provavelmente treinando como sempre, supôs ele. Sentindo o frio do vento outonal, Brett ergueu o olhar, melancólico.

    Naquele mesmo instante…

    — Ugh, por que está coçando tanto?! — reclamou Judith.

    — Ei! Para de se mexer! Você acha que sou uma piada?! — rosnou Khun.

    — Não, espera! É que minha orelha tá coçando muito…

    — Não me venha com desculpas. Sei que você só quer um tempo para descansar…

    — Não, seu velho maluco! Tá coçando mesmo, acredita em mim!

    “Alguém tá falando de mim? Será que é o Brett? Espero que seja ele”, pensou Judith, sentindo a coceira na orelha enquanto imaginava seu amado.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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