Capítulo 269: Visitante Secreto (2/5)
— Preciso fazer uma visita ao Reino Heyle — declarou Illia.
— O quê? Espere… — questionou Joshua.
— Eu retornarei em breve.
— O quê? Hã? Espere! Espere!
Não havia palavras para descrever a sensação de perda que Joshua Lindsay sentiu quando sua amada filha, Illia, partiu para a propriedade Farreira, bem quando ele havia planejado um piquenique em família dali a dois dias.
Mas isso não era tudo.
Na cidade de Lavaat, quando um diabo apareceu, Joshua havia dado conselhos à sua filha, conselhos excelentes, em sua opinião, algo que não fazia há tempos. De fato, aquilo pareceu animar Illia bastante.
“Mas mesmo assim…”, pensou Joshua.
Sim. Illia não correu para ele, mas sim para Airen.
Foi por isso que Joshua atravessou o continente central. Não conseguia simplesmente sentar e esperar até que sua filha voltasse. Precisava agir, mesmo que levasse tempo, o que, no fim, não levou. Afinal, ele era um dos dez maiores espadachins do continente e um mestre espadachim. Embora alguns pudessem discordar, ele acreditava estar entre os cinco melhores.
Assim, quando se concentrava em viajar o dia inteiro, sua velocidade era absurda. Foram necessárias apenas duas semanas para cruzar do continente ocidental à região central. No entanto, ele não manteve um ritmo tão insano o tempo todo.
Em algum momento, se perguntou o que diabos estava fazendo.
“Por que estou tão obcecado com a vida amorosa da minha filha adulta?”
Claro, talvez fosse porque Illia era sua única filha, a quem ele amava profundamente.
Mas realmente não havia necessidade de ir tão longe. Não era como se Illia tivesse caído nas mãos de algum inútil.
Airen Farreira. Embora o jovem tenha lhe causado alguma decepção em certas ocasiões, era, objetivamente, um indivíduo notável, tanto em aparência quanto em esgrima e personalidade.
Então, por que o chefe da Casa Lindsay se sentia assim e atravessava o continente sozinho? Quando esse pensamento passou por sua mente, Joshua Lindsay reduziu o ritmo. Em vez de seguir em disparada, começou a refletir sobre seus sentimentos e organizar sua mente confusa.
Foi por isso que ajudou o jovem de cabelos azuis que encontrou pelo caminho. Se sua cabeça estivesse cheia apenas de sua filha e Airen, jamais teria feito isso.
“Ainda bem que o ajudei”, pensou.
O jovem provavelmente era o filho mais velho da Casa Lloyd.
Joshua assentiu ao se lembrar da esgrima fluida do rapaz. De fato, essa geração possuía um talento impressionante. Jovens extraordinários surgiam por todo o continente, algo que ele jamais teria imaginado em sua própria juventude.
Mas isso não o animava por completo. Afinal, o nascimento de heróis geralmente precedia o surgimento de uma grande ameaça. Com diabos além do bufão aparecendo um após o outro, ele não sabia quanto tempo levaria até que não pudessem mais manter a verdade oculta do restante do continente.
“Então, o que estou fazendo, atravessando tudo isso no meio desse caos?”
Fitando o céu, ele bateu o pé no chão.
Era tarde demais.
Já estava diante da propriedade Farreira. Não podia se dar ao luxo de se arrepender agora que havia chegado tão longe. Tinha que seguir em frente e encarar sua filha e seu homem.
Com um suspiro, o chefe da Casa Lindsay avançou rapidamente em direção à propriedade Farreira.
— Então veio do oeste. Tenha uma boa estadia, senhor.
— Obrigado.
Graças ao disfarce e ao nome falso, sua chegada não causou alvoroço no portão. O guarda sorriu calorosamente para Joshua, que apenas assentiu e entrou. Seu destino? O castelo. Seu objetivo? O jovem casal.
Mas, em vez de seguir direto para seu destino, ele optou por uma caminhada tranquila pela propriedade. Desde que chegou ao continente central, desenvolvera esse hábito.
Por um lado, queria afastar os pensamentos inquietantes de sua mente. Por outro, queria observar as diferenças entre as diversas propriedades e entender sua essência.
Assim, Joshua caminhou lentamente, observando a cidade e seus habitantes.
Mas não parou por aí. Para compreender alguém em um nível mais profundo, era preciso conversar. E o que melhor facilitava uma conversa?
Bebidas.
Observando o pôr do sol antecipado, o verão já havia passado, no céu alaranjado, Joshua entrou em uma taverna convidativa.
— Droga, estou quebrado.
— Do que você tá falando?! De novo? Não deu certo?
— Argh! Perdi de novo!
— Haha, vai ter que se esforçar mais se quiser me vencer!
O cheiro delicioso de comida e álcool flutuava no ar, mais quente que a brisa outonal, misturando-se ao típico burburinho de uma taverna.
Pedindo uma cerveja e alguns petiscos, o chefe da Casa Lindsay se deixou absorver pelo ambiente. Nem precisou recorrer a seus sentidos de mestre espadachim.
Joshua comeu em silêncio enquanto os bêbados se lamentavam sobre suas vidas sem reservas.
— É um bom lugar — murmurou.
Um homem de meia-idade sentou-se à sua frente com uma caneca de cerveja.
— De fato, é um ótimo lugar.
— A comida é boa, e os preços, ainda melhores. Mas, acima de tudo, há uma grande variedade de bebidas, então sempre se encontra algo para o dia certo. A propósito, se importa se eu sentar aqui? — perguntou o homem.
— De jeito nenhum — respondeu Joshua, seco.
E falava sério. Embora não esperasse que alguém respondesse ao seu comentário, esse era o lado bom de viajar sozinho. Além disso, gostou do ar do outro homem. Ele tinha cabelos vermelhos e olhos calmos e sábios.
Joshua o observou por um tempo antes de murmurar, como se não se importasse se o outro o ouvisse ou não:
— Mas eu não estava falando da taverna.
— Hmm? Então… — respondeu o homem.
— Eu estava falando sobre esta terra.
— É mesmo?
— Sim. Parece muito melhor do que as terras vizinhas.
— Você parece um viajante. Pode me dizer o que o fez pensar assim?
— Hmm. Certo.
Joshua então começou a falar, explicando suas impressões sobre a propriedade Farreira.
— Primeiro, a segurança é excelente. Os guardas são bem-equipados e educados. Os moradores também parecem tranquilos. E a cidade é ainda melhor. Suas ruas são bem organizadas, limpas, e há quase nenhum odor desagradável.
— Hmm.
— Também me impressionou o que ouvi na taverna. É normal que as pessoas reclamem enquanto bebem. Mas, em vez de se preocuparem com o dia a dia, pareciam mais preocupadas com o futuro, o que é um bom sinal. O lorde deve estar fazendo um excelente trabalho.
— Isso é melhor do que eu esperava.
— Estou falando sério — disse Joshua, tomando um gole de sua cerveja antes de continuar.
Todos sabiam que segurança, planejamento urbano e bem-estar eram essenciais para a administração de uma propriedade. A única razão pela qual muitos não conseguiam manter isso era a falta de dinheiro. Alguns nobres corruptos até ignoravam completamente a vida de seu povo.
Então, como o Barão Farreira administrava suas terras tão bem?
“Ele deve ter algum negócio lucrativo acontecendo. Afinal, parece ter atraído muitos artesãos de ofícios rentáveis, como a fabricação de vidro…”
No entanto, Joshua não conhecia os detalhes. Estava interessado em Airen Farreira, afinal. Nunca havia pensado muito sobre o Barão Farreira e suas terras.
Ainda assim, bastou uma rápida análise para perceber que o Barão Harun Farreira era um homem notável por si só. O comércio florescente, as guildas bem organizadas e a inteligência administrativa por trás disso diziam muito. Além disso, o barão era sábio o bastante para compartilhar a riqueza com seu povo.
Por isso, expressou sua opinião honestamente. O homem diante dele parecia bastante satisfeito. Ele devia ser um morador local. Caso contrário, não teria ficado tão contente.
Para a surpresa de Joshua, o homem parecia bastante interessado em sua opinião.
— O que você acha que essa terra precisa para melhorar? — perguntou.
— Hm? — Joshua ecoou.
— Ah, me desculpe. Gosto de falar sobre esses assuntos, mas a maioria das pessoas se cansa logo. Se não quiser, eu paro.
— De forma alguma. Apenas achei a pergunta um tanto abstrata.
— Entendo. Então, deixe-me ser mais específico. Estava pensando em maneiras de aproveitar o grande número de ferreiros na região…
Para a surpresa de Joshua, o homem começou a discutir ideias para melhorar a terra. No entanto, isso não o incomodou. Na verdade, gostou da conversa. Raramente encontrava alguém em uma taverna com quem pudesse discutir tais assuntos de forma tão aprofundada. O homem também tinha ideias impressionantes, chegando até a surpreendê-lo, mesmo sendo o chefe da Casa Lindsay.
Assim, Joshua aproveitou a conversa com o homem de meia-idade por um bom tempo.
Uma hora se passou. Quando Joshua finalmente se levantou, parecia diferente de quando entrou na taverna.
— Você é impressionante. É responsável pela administração destas terras?
— Haha, de jeito nenhum. Apenas me interesso pelo funcionamento das coisas — respondeu o homem.
— Mas parece muito mais do que isso… — murmurou Joshua, incrédulo.
Ele gostou daquele homem. Para ser mais exato, o cobiçou, tanto que considerou se apresentar e recrutá-lo para a Casa Lindsay. Aquela breve conversa foi suficiente para garantir que, além de sábio, aquele homem possuía uma mentalidade sólida.
Animado, Joshua ponderou se deveria revelar sua identidade, esquecendo-se completamente do motivo pelo qual viera até ali em primeiro lugar, enquanto as taças vazias de cerveja se acumulavam ao seu lado.
Foi então que um assunto que o trouxe de volta à realidade surgiu na mesa ao lado.
— Você ouviu a notícia?
— O quê?
— Sobre o jovem mestre Farreira. Ouvi dizer que ele está com uma jovem da Casa Lindsay. Não é apenas um boato. Tenho certeza…
— O quê?!!
Crack!
O silêncio tomou conta do local.
Os clientes olharam nervosos para o homem de meia-idade que quebrou a mesa com um soco, tentando entender o que poderia tê-lo enfurecido. Na verdade, o que mais os preocupava era quem ele era para possuir tal força.
A maioria preferiu desviar o olhar. Alguns até começaram a sair, para desespero do dono da taverna.
Pouco depois, o homem de cabelos vermelhos se levantou calmamente e entregou uma moeda de ouro ao dono.
— Me desculpe. Meu companheiro causou problemas. Não é muito, mas espero que ajude — ele se desculpou.
— Pode quebrar mais mesas, se quiser — respondeu o dono pacificamente, segurando a moeda com um brilho nos olhos.
O homem de cabelos vermelhos sorriu. Retornando à sua cadeira, virou-se para Joshua Lindsay.
— Você fez isso porque ouviu falar de Lorde Airen Farreira e Lady Illia Lindsay? — perguntou.
— Hmph — resmungou Joshua.
— Entendo.
— Sim…
— Já imaginava. Mas não entendo por que ficou tão irritado…
— Serei direto. Isso o incomoda porque o nosso… Lorde Farreira está namorando Lady Lindsay?
O homem de cabelos vermelhos parecia frio, como se fosse uma pessoa completamente diferente da que conversava antes.
“O quê? Qual é a dele?”, pensou Joshua, surpreso.
É claro que sabia que havia exagerado. A notícia era inesperada, mas não era motivo para se enfurecer. Além disso, ninguém ali sabia que ele era o pai de Illia.
Mas…
“Ele também não precisava reagir assim!”
Seria porque o homem era um morador local? Será que pensava que Joshua estava menosprezando Airen Farreira, filho do respeitado Barão Farreira? Era por isso que parecia tão irritado?
“Bom, consigo ver por esse lado”, pensou Joshua, assentindo.
Se fosse isso, já sabia como resolver a situação. Bastava pedir desculpas. Poderia dizer que ficou animado porque era de Adan e que Lady Lindsay era como um tesouro nacional. Simplesmente não conseguia acreditar que ela estava com outra pessoa.
Isso seria suficiente. E, no entanto…
— Claro que estou ofendido — ele disse.
Ele não…
— Lady Illia Lindsay é o maior prodígio de Adan e a mestre espadachim mais jovem da história. Ela poderia ter encontrado alguém melhor… — continuou.
Quanto mais falava, mais emocionado e exaltado ficava. E assim começou a soltar palavras ainda mais duras, sem se importar se o outro homem era um morador local.
Ele só parou quando o outro homem o encarou com olhos ardentes.
“Aquilo…”
Joshua engoliu seco.
Aquele era um homem comum. Não parecia um espadachim, nem um mago ou um feiticeiro. Não deveria ser nada próximo de ameaçador.
E ainda assim, de repente, sentiu-se nervoso.
O carisma do outro homem era avassalador.
Joshua encarou aqueles olhos inacreditavelmente intensos e poderosos com surpresa e indignação.
Crack.
— Esse lugar é bem agradável. O que acha? É bom sair um pouco de vez em quando…
— Hã? Está vazio…
Um casal ficou paralisado no local.
Um jovem de cabelos dourados como o sol da tarde e uma jovem de cabelos prateados como a lua encaravam os dois homens de meia-idade com uma mesa quebrada entre eles.
“Pai?”
“P-pai?”
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