Capítulo 27: A Nova Mudança (3/3)
por MrRody, Second StarAiren não apenas mudou em aparência; havia uma aura potente ao seu redor enquanto voltava ao seu lugar original. Todos os aprendizes pararam de treinar e se viraram para ele.
Era fascinante. Airen costumava fazer coisas inacreditáveis, mas geralmente de forma silenciosa e despercebida. Além de ser mais alto e mais velho que a maioria e ter uma aparência acima da média, não tinha nada que o destacasse. Por isso, a sensação misteriosa que o cercava era inevitável e despertava interesse.
Mas Airen não deu atenção a isso. Ele ergueu a espada, fechou os olhos, respirou tão silenciosamente que ninguém percebeu e repetiu o processo. Após se concentrar em silêncio, abriu os olhos de repente e balançou a espada.
Swoosh!
E nada aconteceu.
Swoosh! Swoosh! Airen continuou balançando a espada. Repetia o movimento improvisado de Esgrima de Krono que aprendera naquele dia. A lâmina cortava o ar ferozmente. Mas era só isso. O garoto não parecia diferente de antes de se deitar no banco.
— Não tem nada pra ver.
— É, pelo jeito que ele estava agindo, achei que talvez tivesse despertado algum conhecimento.
— Não há como experimentarmos isso no nosso nível. Nem acontece tanto assim com espadachins que têm décadas de experiência.
— Pois é. Mas ouvi dizer que é preciso passar por isso pelo menos uma ou duas vezes para se tornar um mestre espadachim.
Os aprendizes preliminares começaram a se virar novamente, já que o Nobre Preguiçoso parecia o mesmo de antes. Após um breve cochicho, voltaram ao próprio treinamento.
E, como sempre, Airen não deu atenção a eles. Ele apenas cortou, balançou e estocou sua espada como antes. Cerca de uma hora depois, o garoto largou a espada e voltou ao banco no canto do salão. Em seguida, deitou-se novamente no banco e fechou os olhos. Não era preciso explicar que isso chamou a atenção de todos mais uma vez.
— Ele está doente ou algo assim? — disse Brett.
— Não se distraia, seu idiota — rosnou Judith.
— Você não acha isso estranho?
Brett franziu a testa enquanto Judith quase rugia para ele.
— Não tenho dúvidas de que Airen aguentaria vinte e quatro horas seguidas sem comer ou dormir. Mas olhe para ele, deitado no banco pela segunda vez em menos de duas horas. Você acha isso normal agora?
— Ah… Tanto faz. Cala a boca — Judith respondeu novamente. Isso enfureceu os seguidores de Brett.
— Como ousa falar assim com o Lorde Lloyd…
— Blá, blá, blá.
Judith tampou os ouvidos com os dedos enquanto eles gritavam com ela. Mas ela sabia que Brett tinha razão e estava igualmente preocupada com o comportamento estranho de Airen.
A garota de cabelos vermelhos não conseguiu se segurar e foi até o banco. Estava prestes a dizer a Airen para ir à sala de recuperação se estivesse se sentindo mal. E assim o fez. Mas a resposta dele a confundiu.
— Ah, estou bem. Só estou treinando.
— Você o quê…?
— Treinando. Mas ainda não está dando certo. Eu sabia que não funcionaria de imediato, mas mesmo assim…
“O que não está funcionando? Que parte disso é treinamento?” Ela sentiu uma forte vontade de perguntar, mas não conseguiu, pois Airen se deitou de novo no banco e fechou os olhos.
Judith não teve escolha a não ser voltar ao seu lugar, ainda mais curiosa.
— Isso é absurdo — murmurou ela.
— O que ele disse? — perguntou Brett.
— Disse que está treinando e que está tudo bem.
— O quê?
Brett parecia tão confuso quanto ela. E todos os aprendizes que ouviram o que ela acabara de dizer olharam para Airen com uma expressão perplexa.
Mas o Nobre Preguiçoso não deu atenção a eles. Ele simplesmente focou silenciosamente em sua mente.
Era difícil trazer de volta as sensações do homem. O ambiente era diferente, e mesmo que Airen recriasse um cenário semelhante, ele precisava superar obstáculos para trazer a mentalidade do homem do sonho para a vida real.
Primeiro, tentou dissipar a névoa em sua mente e clarear a imagem. Depois, tentou gravá-la com precisão em sua mente. Não, talvez ‘gravar’ não fosse a palavra certa, pois a imagem se distorcia ou se destruía com uma pequena perda de foco.
Era desafiador, como tentar desenhar uma pintura sobre a superfície da água. Airen fez uma careta.
E isso não era o fim.
— Hmm…
Ele tentou refinar o foco que havia construído no sonho, tornando-se mais afiado mentalmente. Tornou-se alheio às pessoas ao redor, ao vento soprando em seu cabelo e ao leve cheiro que subia até suas narinas. Concentrou todos os seus sentidos em um único objetivo e finalmente desenhou sua mente sobre a água.
Mas, assim que Airen se levantou do banco e deu um passo, a imagem completa se agitou violentamente. E, se isso não bastasse, retornar ao local de treinamento destruiu a imagem a ponto de ele não conseguir lembrar sua forma original.
“Falhei de novo.”
Airen tentou manter a imagem desenhada sobre a água, sem perturbá-la enquanto se movia, mantendo as sensações do homem que mal conseguia evocar. Era um grande desafio para ele.
“Vamos tentar de novo.”
Mas, como sempre, ele não desistiu. Nem sequer ficou desapontado. Já havia falhado tantas vezes na academia que não se desesperaria agora por um ou dois obstáculos. Ele também sabia, mesmo que vagamente, que a repetição de falhas se acumula para formar uma torre de sucesso.
O garoto não deixaria de tentar por medo. Ele deu um tapa forte no próprio rosto e voltou para o banco.
Os aprendizes ao redor o olharam com decepção.
“Ele está fazendo isso de novo.”
“Será que esqueceu de si mesmo?”
“O que ele está pensando?”
Mas eles não ousaram dizer isso em voz alta, pois o garoto já havia se provado contra as zombarias com seu desempenho milagroso no exame intermediário. E também não queriam lidar com a Judith, agora que ela o apoiava.
Ainda assim, os aprendizes não mudaram de opinião. Eles não conseguiam considerar aquilo um treino. Parecia que ele estava fugindo. Sim, isso parecia correto. Os aprendizes achavam que Airen tinha percebido a diferença entre ele e os aprendizes de alto escalão e voltado a ser o mesmo preguiçoso de antes.
Mas Airen Farreira não prestou atenção a eles. Ele sabia que até os assistentes instrutores começavam a duvidar dele, mas não tinha tempo a perder pensando no que eles achavam. Estava completamente focado na espada do homem, nas sensações, e naquele ‘algo mais’ que havia encontrado no sonho.
Airen deitou-se no banco e fechou os olhos. Ou estava prestes a fazer isso.
— Hmm.
O garoto de cabelos azuis, Brett Lloyd, estava observando-o. Airen perdeu o foco ao sentir o garoto olhando fixamente para ele de perto. Teve que se levantar e perguntar.
— Posso te ajudar com alguma coisa…?
— Aquilo — disse Brett.
— O quê?
— Aquilo que você chama de treino.
Brett apontou o dedo para Airen. Ele não parecia estar tentando arrumar briga, pois o nobre arrogante tinha um brilho nos olhos, como se tivesse aprendido algo significativo. Após um breve silêncio, ele falou energicamente.
— Você não está dormindo, está meditando!
— Meditando…?
— Sim! Sabe, como os monges fazem para refletir sobre si mesmos e acalmar a mente. Estou certo?
Não. Airen só queria trazer o sonho para a realidade, e deitar com os olhos fechados parecia ser a melhor posição para isso. Mas não podia dizer a verdade para Brett, então decidiu seguir a conversa.
— Ah, bem… acho que sim?
— Sim. Já ouvi falar que alguns espadachins estão tentando o método de treinamento dos monges. Agora me lembro.
Brett continuou falando. Ele disse que ouviu falar que era eficaz para aumentar o foco, já que pessoas religiosas de mente forte praticam isso, e um espadachim renomado tinha despertado para o conhecimento através da meditação, subindo ao nível de mestre. Ele também disse que deveria ter percebido quando Airen disse que estava treinando, e assim por diante.
Airen se sentiu ainda mais culpado, pois a voz de Brett, antes tranquila, agora soava empolgada. Mas ele não podia corrigir o mal-entendido, então permaneceu em silêncio.
— Ótimo. Vou tentar isso por mim mesmo — disse Brett. — Mas é meio estranho. É assim que as pessoas meditam?
— Eu… só estava me sentindo confortável comigo mesmo.
— Entendi. Bem, vou tentar do seu jeito.
— Não precisa…
— Shhh. Deixe-me concentrar. Volte ao seu treinamento.
Brett foi até outro banco e se deitou. Colocou as mãos sobre o estômago, como Airen, e fechou os olhos. Ele estava confiante de que esse era o segredo por trás do desempenho impressionante de Airen. Acreditava que isso era o que tornava o foco de Airen possível. Se fosse verdade, ele sabia que também teria resultados positivos.
“Ótimo. Vamos nos acalmar primeiro.”
Brett não estava familiarizado com a meditação, mas sabia que precisava esvaziar a mente. Após acalmar sua respiração, seus batimentos cardíacos, elevados pelo treino, começaram a diminuir.
“Não é ruim.”
Ele tinha uma boa sensação sobre isso. Tinha ficado irritado por causa daquela ‘porca selvagem’, Judith, mas agora sentia paz. Brett se esforçou ao máximo para esvaziar a mente de todos os pensamentos perturbadores.
“Mais tranquilo. Mais em paz. Mais…M…”
— Lorde Lloyd!
Brett abriu os olhos ao ouvir alguém chamá-lo ao lado. Virou-se e viu Lance Patterson agachado ao seu lado.
— O quê? — perguntou Brett.
— Er… Achei que você tinha adormecido…
Depois de um breve silêncio, Brett olhou para a torre de vigia. Duas horas haviam se passado desde que começou a meditar. Ele decidiu mentir.
— Hã… Eu não estava dormindo. Estava apenas experimentando o método de treinamento do Airen.
Lance pareceu não acreditar, e Brett continuou, visivelmente envergonhado.
— É-é… uma meditação. Os monges começaram isso, e agora cavaleiros de alto escalão também fazem…
— Ah, é mesmo? E roncar faz parte dessa meditação, ou seja lá o que for? — provocou Judith, enquanto passava por ele.
Lance Patterson e os outros dois seguidores de Brett ficaram ali, constrangidos.
Brett saiu do salão de treinamento em silêncio. Airen viu o rosto dele corando, mas decidiu fingir que não havia percebido.
Airen Farreira continuou seu treinamento sem muito progresso. Ainda era difícil manter a imagem desenhada sobre a água. As zombarias dos colegas aumentaram, mas Airen não ligou. O surpreendente foi que Brett Lloyd também continuou com seu treinamento de meditação.
— A postura era o problema. Ouvi dizer que é preciso estar sentado ao meditar — disse Brett, animado com seu novo aprendizado.
— Seu idiota. Isso não vai funcionar para você. Airen é apenas esquisito — disse Judith.
— É cedo demais para decidir antes de tentar.
Brett não se importou, mesmo quando Judith despejou uma série de críticas. Ele não era mais o mesmo arrogante de antes. Mudou após ouvir o conselho do diretor. Aceitou que era arrogante e percebeu que podia aprender com os pontos fortes dos outros. Mas ainda tinha dificuldade em reconhecê-los, então esse era um esforço valioso.
“Devo seguir a orientação do diretor e lentamente superar minha visão limitada.”
Brett então foi para um canto do salão de treinamento, sentou-se no chão como um monge e mergulhou em sua mente.
Os aprendizes preliminares também zombavam de Brett. Achavam que tanto Brett quanto Airen estavam desperdiçando seu tempo.
Mas, após um mês, o consenso mudou.
— Aprendiz Airen Farreira. A partir de hoje, você está designado para a classe B.
— Sim, senhor — respondeu Airen à ordem do Instrutor Brandon Phillips.
Ninguém reclamou, nem ficou surpreso. Todos já sabiam que Airen Farreira estava melhorando em uma velocidade exponencial, a partir de um certo ponto.
E eles perceberam que esse ‘certo ponto’ foi quando ele começou a meditar. E havia mais.
Swoosh!
— Venci — disse Brett para Judith, que parecia furiosa.
— Droga! Isso não conta! Vamos de novo!
— Conta sim, mas aceito o desafio com prazer.
Judith e Brett Lloyd vinham disputando o segundo lugar no ranking da academia desde o início. Estavam sempre muito próximos no ranking, mas um deles começou a tomar a dianteira. Não era preciso perguntar quem estava na frente.
Brett Lloyd estava confiante enquanto erguia sua espada.