Capítulo 270: Visitante Secreto (3/5)
Depois que Brett Lloyd deixou a propriedade Farreira, Airen Farreira e Illia Lindsay se dedicaram ao treinamento como de costume. Illia estava particularmente entusiasmada, pois se sentia bastante inspirada por seu amigo.
“Ele é muito mais maduro do que eu”, pensou.
Ela já sabia que o objetivo de Brett não era se tornar o maior espadachim do continente. Em vez disso, ele treinava na esgrima para ser um bom lorde e, um dia, liderar a propriedade Lloyd. No entanto, isso não significava que ele não tivesse espírito ou competitividade. Pelo contrário. Se lhe faltasse ambição, ele não teria compreendido Judith nem conquistado seu coração.
Ainda assim, ele não se perdeu. Mesmo ficando para trás em relação aos outros e sofrendo com isso, seguiu em frente.
“Ele não é como eu… quando fui consumida pela sombra de Ignet.”
Whoosh!
Swoosh!
Manejando a espada com agilidade, Illia se lembrou de Ignet Crecensia. Fazia muito tempo desde a última vez que pensara nela, especialmente se comparado aos dias em que sua mente era dominada por esses pensamentos. Mas será que ela realmente havia se libertado completamente de Ignet? Essa era a pergunta que rondava sua mente enquanto pulava o almoço para se concentrar no treinamento.
— Illia — chamou Airen.
— Ah, Airen — respondeu ela.
Claro, ela não se permitiria perder-se.
Quando o céu já estava tingido de laranja, Airen a chamou. Illia sorriu. Desde que Brett partira, Airen permanecera ao seu lado, e vê-lo ali fazia com que um caloroso afeto brotasse em seu peito. No entanto, a pergunta que ele fez a seguir a pegou desprevenida, deixando-a sem palavras por um instante.
— Que tal tomarmos um ar e jantarmos fora esta noite? — sugeriu ele.
— Hã? Ah… — murmurou Illia.
Desde que Airen confessara seus sentimentos, os dois haviam passado o tempo juntos apenas dentro da propriedade Farreira. Além do treinamento, também havia uma estranha timidez em demonstrar para os outros que eram um casal.
— Você parece um pouco frustrada. Pensando bem, você ficou dentro da propriedade por um mês inteiro. Achei que seria bom passearmos um pouco, como costumávamos fazer quando estávamos viajando. Isso não te agrada…? — perguntou Airen.
— Não… Parece uma boa ideia, digo, vamos sim! — respondeu Illia.
— Hã? Tem certeza?
— Sim. Pensei melhor e você tem razão, Airen. Vamos sair.
Illia sorriu. Pensando bem, não havia razão para esconder seu relacionamento dos outros. Não era como se estivessem fazendo algo condenável.
“Na verdade, eu deveria me orgulhar dele”, pensou Illia.
Ela se perguntou se queria esconder o relacionamento porque ainda se deixava influenciar pelas opiniões alheias, incapaz de se afirmar. Mas não queria mais isso, especialmente depois de testemunhar a determinação inabalável de Brett.
Assim, Illia Lindsay assentiu e saiu do castelo, caminhando pelas ruas de mãos dadas com Airen, até entrarem em uma taverna claramente lotada.
“Pai…?”, ela nunca imaginaria encontrar seu pai, Joshua Lindsay, naquela noite.
De fato, embora ele tivesse mudado o cabelo e colocado uma barba, entre outras coisas, uma filha reconhece seu próprio pai.
— Hã… — murmurou o homem.
Mas ele não estava sozinho. Ao lado de Illia, Airen também ficou boquiaberto ao ver seu pai, o Barão Harun Farreira, presente no mesmo lugar. Assim como Joshua, ele também estava disfarçado, tingindo os cabelos loiros de castanho-avermelhado. Infelizmente, isso não era o suficiente para enganar um mestre espadachim.
— Por que seu pai está aqui…? Digo, por que o barão está aqui? — sussurrou Illia.
Airen não conseguiu responder. Ele podia imaginar por que seu pai estava ali, já que Harun frequentemente patrulhava a propriedade para ver como as coisas estavam indo. No entanto, ele não conseguia entender por que o chefe da Casa Lindsay estava no mesmo lugar ou o que aquilo significava.
“Como…? Ele não deveria estar no Reino Adan? Por que ele estaria aqui sozinho e disfarçado?”
“Será que…?”
Airen se perguntou se Joshua estava ali por preocupação com sua filha.
Naquele momento, um impulso de sair dali tomou conta de Airen, apesar de não ter feito nada de errado. Embora não sentisse vergonha de estar namorando Illia, não conseguia evitar de se encolher diante de Joshua Lindsay.
— Phew… Hah… — Ele respirou fundo antes de se virar para o pai, sem coragem de encarar Joshua.
Focando os olhos apenas em Harun, ele cumprimentou:
— Vejo que estava patrulhando a cidade, pai. Vou me retirar.
— Bem, então… — disse Airen, recuando.
Illia olhou ao redor, confusa, até finalmente captar a situação, embora não por completo.
Porém, sabia o suficiente para entender que nada de bom sairia de permanecer ali, então se despediu dos dois homens.
— Aproveite sua conversa com o barão. Nos vemos depois, pai.
Click.
Um silêncio gélido caiu sobre o ambiente. Nem Harun Farreira, nem Joshua Lindsay, nem mesmo o dono da taverna, que observava tudo se desenrolar, conseguiram dizer uma palavra.
O que pareceu uma eternidade se passou.
— Hmph, hmph. Hm… Peço desculpas.
Joshua Lindsay foi o primeiro a quebrar o silêncio. Para ser justo, ele havia iniciado a discussão, criticando o jovem bem diante de seu pai. E embora naquele momento quisesse fugir dali mais do que qualquer outra coisa, sabia que isso não resolveria nada.
Assim, Joshua Lindsay se desculpou sinceramente.
— Me desculpe. Nunca pensei que você fosse o próprio Barão Farreira. Não, mesmo que não soubesse, falei fora de lugar. Peço desculpas sinceras.
— Eu também devo me desculpar. Deixei meu temperamento sair do controle. Pensando bem, cometemos o mesmo erro.
— Aceita mais uma bebida?
— Bem… Claro.
— Que tal algo um pouco mais forte que cerveja?
— Parece uma boa ideia.
Joshua assentiu. De fato, a realidade que enfrentava era demais para seu coração. Cerveja não resolveria nada. Ele disse a si mesmo que precisaria de pelo menos alguns copos de uma bebida forte para continuar conversando com o Barão Farreira.
— Com licença.
— Sim, senhor!
— Receio que queiramos alugar o local para esta noite. Isso basta?
— Claro, claro!
Após entregar mais duas moedas de ouro ao dono da taverna, o Barão Farreira sentou-se a uma mesa intacta.
Joshua Lindsay hesitou antes de tomar assento à sua frente e servir-se de uísque com gelo, que engoliu de uma vez só.
O Barão Farreira, por outro lado, tomou goles rápidos e retos antes de pousar o copo com um tilintar.
— Você aguenta bem a bebida? — perguntou Joshua.
— Sou mediano — respondeu o barão.
— Eu sou bem resistente, então estou bem. Mas você não está se forçando?
— A situação me obriga a isso…
— Certo…
— Ainda assim…
O Barão Farreira serviu-se do quarto copo, seu rosto já rosado. Ele encarou o líquido âmbar por um tempo antes de levantar os olhos para Joshua.
— Como pais orgulhosos de filhos adoráveis, ou melhor, como pais excessivamente apegados a seus filhos, acho engraçado termos acabado conversando um com o outro. Ou melhor… — murmurou.
Por um momento, Joshua quis protestar, mas logo cedeu.
— Acho que você tem razão…
— Não é?
— Sim, você está certo — murmurou Joshua, sem energia.
A atmosfera ficou muito mais amigável a partir de então. Os dois homens falaram sobre si mesmos e sobre seus filhos, rindo, reclamando, enfurecendo-se e, às vezes, confortando um ao outro. No fim, chegaram à conclusão de que, assim como os filhos superam os pais, os pais também precisam superar os filhos.
Sem dúvidas, foi Joshua Lindsay quem sentiu isso na pele.
— Hah… Devíamos levantar — murmurou o barão.
— Sim. Você está tão bêbado quanto eu. Você é mais resistente do que disse ser — respondeu Joshua.
— Haha, é mesmo? Francamente, eu poderia beber um pouco mais. Mas, se for para outra rodada, por que não vamos para um lugar mais confortável, digo, para o meu castelo?
— Certo. Por mim, tudo bem.
— Vamos.
Embriagados e felizes, os dois homens seguiram para o castelo. O soldado que guardava a entrada os observou com curiosidade, notando que o barão estava acompanhado por um homem estranho.
— Está tudo bem. Este aqui é o chefe da Casa Lindsay, uma das cinco casas de espadachins do Oeste.
— Perdão?
— Leve-o para dentro. Leve-me para dentro, hehehe.
— Ah, sim, senhor…
Claro, o soldado não acreditou no barão. Observando o quão bêbado seu lorde estava, chamou os criados.
No entanto, antes que os criados chegassem, Airen Farreira e Illia Lindsay se aproximaram.
— Mestre Lindsay — chamou Airen, nervoso, dando dois passos à frente.
Antes, ele havia fugido de choque, incapaz de encarar a fúria de Joshua. Mas agora se sentia diferente. De fato, não deveria ter fugido se queria continuar sendo o namorado de Illia. Se queria segurar sua mão e permanecer ao seu lado com orgulho, precisava da aprovação de Joshua Lindsay.
Whooosh…
Uma energia emanou do corpo de Airen. Embora não fosse tão agressiva quanto quando enfrentava um demônio, havia paixão e determinação.
“Se ele quiser um duelo, que seja um duelo. Se quiser conversar, conversarei”, pensou Airen.
Determinado a demonstrar sua sinceridade, ele olhou para Joshua com olhos ardentes.
— Cuide bem da Illia, sim? — disse Joshua.
Com uma aprovação sem dificuldades, Joshua Lindsay sorriu e entrou no castelo junto com o Barão Farreira sem olhar para trás.
Airen e Illia se entreolharam, confusos. Claro, não podiam reclamar. Isso era bom.
Acalmando-se, Airen murmurou:
— Ugh, ainda estou nervoso…
— Ainda assim, que alívio. Eu estava preocupada com o que meu pai poderia fazer vindo até aqui… — disse Illia.
— Certo. Ele veio nos ver, não é?
— Provavelmente?
Illia e Airen assentiram, mas não disseram mais nada.
Infelizmente, eram jovens demais para entender os sentimentos de Joshua, os sentimentos de um pai. No momento, a única pessoa capaz de compreendê-lo era outro pai como ele, Harun Farreira. Naturalmente, o barão permaneceu alheio aos pensamentos de Joshua durante toda a conversa e bebedeira.
“Aquele rapaz, Airen, parece estar ficando mais forte toda vez que o vejo, mas ainda não é suficiente. Acho que devo começar a treiná-lo mais amanhã para que possa se tornar um homem digno do status de Illia.”
E assim passou mais um dia na propriedade Farreira.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.