Capítulo 274: O Maior Especialista (2/3)
Zett Frost, o 101º espadachim do continente, agora um orgulhoso mestre espadachim, refletia sobre os eventos recentes. Alguns dias atrás, ele testemunhou Brett Lloyd alcançando o nível de mestre ainda no início de seus vinte anos e observou Judith, a especialista de talento brilhante que ele antes pensava estar ficando para trás em relação a Brett.
A luta havia sido inspiradora.
— Já faz uma semana, mas… — murmurou ele ao expirar lentamente.
O evento parecia tão real como se tivesse acabado de acontecer. E não era como se ele estivesse tentando se apegar a isso.
Não conseguia evitar pensar naquilo, fosse enquanto comia, caminhava ou até sonhava. Mas como poderia evitar, quando o resultado da luta havia destruído tudo o que Zett Frost acreditava?
“Nunca imaginei que uma especialista derrotaria um mestre.”
É claro que tal coisa não era impensável. Por mais raro que fosse, já havia ocorrido de especialistas vencerem mestres. Afinal, um espadachim especialista em seu auge não era tão diferente de um mestre em termos de habilidade. Se o especialista tivesse uma espada forte o bastante para resistir ao poder de uma Aura da Espada, poderia vencer com um pouco de sorte.
No entanto, a luta que ele presenciou não foi assim. Na opinião de Zett Frost, ou de qualquer um que assistiu à batalha, não foi a sorte que determinou o resultado.
Ao relembrar Judith, ele balançou a cabeça.
“Talvez eu tenha me enganado sobre o Lorde Khun esse tempo todo…”, pensou.
Apenas os espadachins mais talentosos conseguiam alcançar o nível de mestre espadachim. Mas, mesmo entre eles, havia diferenças. Alguns se tornavam mestres aos vinte anos, enquanto outros, como Khun, mal conseguiam manifestar uma Aura da Espada aos setenta. Muitos o chamavam de o menos talentoso entre os mestres espadachins.
Mas isso não era verdade, ou talvez fosse. Zett, honestamente, não sabia. A luta de uma semana atrás havia deixado uma coisa clara. Khun e Judith não podiam ser definidos pela hierarquia de especialista e mestre que dominava o continente.
“A Aura da Espada não era o único caminho para a esgrima suprema. Se houvesse um método melhor, mais poderoso, que pudesse ser refinado…”
“Então, de que importavam as categorias de mestres e especialistas?”, Zett refletiu.
— Talvez Khun já fosse forte o suficiente para superar mestres espadachins regulares antes mesmo de alcançar esse nível… — murmurou Zett.
Seus pensamentos se aprofundaram. Tornar-se um mestre espadachim sempre fora seu único objetivo. Agora que havia chegado lá, não estava satisfeito. De fato, começava a sonhar em alcançar alturas ainda maiores. A perspectiva de novas possibilidades o surpreendia e confundia. Mas, acima de tudo, o deixava animado.
— Hmph — murmurou Zett Frost ao imaginar a espada de Judith, antes de hesitar.
Pensou em Brett e no que ele poderia estar sentindo.
“Deve estar bem chocado por ter perdido para uma especialista.”
Embora uma especialista que derrotasse um mestre fosse um feito raro e digno de honra, um mestre que perdesse para uma especialista só poderia sentir humilhação e vergonha.
Mesmo que Judith e Khun estivessem além dessas categorias, e Brett provavelmente soubesse disso, emoções eram difíceis de controlar.
— Espero que ele não entre em desespero… — Zett murmurou, passando a língua pelos lábios.
Muitos gênios que tiveram tudo a seu favor, ao enfrentarem pequenos desafios, nunca mais conseguiram se reerguer. Ele não apenas ouvira histórias assim, mas as havia testemunhado.
Pensando no espadachim de cabelos azuis, seguiu em frente. Queria voltar a Partizan e empunhar sua espada novamente.
— O que eu faço com isso? — perguntou Judith.
— O quê? E que olhar é esse? — retrucou Khun, olhando para ela com um sorriso divertido.
Ele não conseguia evitar. Afinal, era um milagre que Judith, a própria encarnação do orgulho e da teimosia, estivesse pedindo conselhos a alguém, e esse alguém fosse justamente ele.
“Merda”, pensou Judith.
Ela mesma não se entendia. Só conseguia pensar em como ficar mais forte, em como derrotar aqueles mais talentosos do que ela. Então, permitiu que sua raiva e seu complexo de inferioridade alimentassem sua esgrima e obteve resultados com a ajuda de Khun. De fato, foi assim que venceu a luta contra Brett.
“Mas por que…”, pensou.
Por que, ao invés de alegria, sentia-se inquieta? Era ridículo.
Sentindo-se incomumente confusa e incomodada, Judith franziu a testa. Havia tantos oponentes que precisava derrotar. Como poderia simplesmente ficar ali sentada, pensando na expressão decepcionada de Brett?
Judith balançou a cabeça, frustrada. Queria se socar por sequer pensar em como poderia confortá-lo.
Ela expirou e olhou de volta para seu mentor.
— Retiro o que disse — murmurou.
— Retira o quê? — ecoou Khun.
— Sim. Em vez disso, me diga como me livrar dessas emoções.
— Acho que não vou conseguir seguir em frente de outra forma. Você me disse o mesmo, não foi? Caso contrário, não teria treinado sozinho nesse deserto por décadas. Então, me diga. Como faço isso? Como me torno como você?
“O que devo fazer por você?”
Khun sorriu ao ver sua protegida bombardeá-lo com perguntas. No entanto, era um sorriso diferente. Se antes seu sorriso era radiante, agora não era mais. Mesmo Judith, perdida em suas próprias emoções, sentiu a diferença. Recuando levemente, ela olhou para ele.
“Ela está certa”, pensou Khun consigo mesmo.
Sua protegida insolente estava certa. De fato, ele abandonou tudo para superar o muro que era Ian. Deixou para trás seus amigos, sua esposa e muitas outras coisas. Expurgou-os do coração e preencheu o vazio com sua obsessão pela esgrima. Convencera-se de que jamais alcançaria Ian se não se obrigasse a pensar apenas em esgrima.
— Não faça isso — disse ele.
— O quê? — perguntou Judith.
— Não abandone suas conexões — disse Khun, surpreendendo-a.
Ela fitou seu mentor de olhos arregalados. Ele sorriu novamente. Era um sorriso amargo, mas ainda assim mais brilhante do que antes.
O mentor a encarou por um momento antes de continuar, nem devagar nem rápido demais:
— Se você quer ser forte o suficiente, se estiver satisfeita em ser apenas uma das dez melhores espadachins do continente, pode seguir meus passos. O que eu fiz realmente me ajudou. Afinal, pude investir todo o meu tempo aperfeiçoando minha esgrima porque abandonei todo o resto. Foi assim que me tornei um dos três melhores espadachins do continente.
— Mas por que eu seria apenas uma das dez quando você é um dos três? — protestou Judith.
— É isso que te incomoda? Não estou te subestimando. Só estou apontando que sua geração é mais talentosa que a minha. Estou errado?
— Não…
— Exato. Por isso disse ‘uma das dez’. Mas alguém gananciosa como você não se contentaria com isso, não é?
— Claro que não…
— É por isso — disse Khun, cortando Judith antes de acrescentar com um olhar incisivo — que quero que siga um caminho diferente do meu. Não abandone seus amigos ou amantes. Não rompa seus laços com a Academia de Esgrima Krono. Não sacrifique tudo pela sua espada. Peça por mais. Não abandone nada. Segure-se a tudo.
— Se quiser ter alguma chance contra mim, Ignet ou Airen, precisará de, no mínimo, essa ambição — finalizou Khun antes de cair na gargalhada.
Ele não conseguiu evitar. As mesmas palavras tinham significados diferentes dependendo de quem as dizia. Por exemplo, ‘ganhe a vida honestamente!’ soaria diferente vinda de um líder respeitado ou de um bêbado.
Nesse sentido, ele era a última pessoa que deveria dar esse tipo de conselho.
— Haha, hahaha… Faz tempo que não rio assim — disse ele.
— Absorva o que quiser. Pratique sua espada. Eu vou descansar um pouco.
— Ugh, não bagunce meu cabelo! — protestou Judith enquanto seu mentor lhe despenteava antes de entrar.
Assim que Khun partiu, tossiu sangue. Limpando-se com um pedaço de pano, arfou antes de rir novamente. O que diziam sobre as pessoas mudarem antes da morte? De repente, lembrou-se de Keira Finn, sua esposa.
— O que ela diria se eu pedisse desculpas agora…? — murmurou.
Ele não sabia. Nunca saberia. Já havia ido longe demais para ousar pronunciar essas palavras. Tossiu mais sangue, rindo a cada vez. Mas, curiosamente, sentia-se muito melhor.
Depois de lavar a boca com água, Khun voltou para fora e segurou sua espada.
— Sabia. Descansar, meu rabo… — resmungou Judith.
— Haha! Um espadachim pode descansar o quanto quiser depois da morte! — bradou Khun.
— Pare de ser ridículo…
— Hah! Hah! Hah! Morra, Ian! Hiya!
— Ha…
Judith balançou a cabeça. Por mais estranha que fosse, Khun era pior. Mas ela não deixou passar o que seu mentor dissera. Afinal, para ela, ele era o melhor em esgrima. Para ela, Khun era um mentor melhor do que Ian, embora tivesse algumas dúvidas sobre o que acabara de lhe dizer…
“Vou pensar nisso antes de dormir. Agora, foco na minha espada.”
Inspirando profundamente, Judith fechou os olhos e se concentrou. Incontáveis imagens passaram por sua mente: a espada de Khun, que se movia tanto como quanto diferente da dela; a espada de seu amado Brett Lloyd, completamente distinta da sua; e a espada do espadachim de cabelos negros que passara por ali recentemente.
“Eu vou te derrotar um dia…”
O fogo dentro de Judith ardia ao se lembrar da espadachim que não vacilou mesmo ao ser dilacerada pela espada de Khun. Sua lâmina vermelha brilhou ainda mais, o calor se intensificando contra o inverno ao seu redor.
Ela derrotaria Illia. Ela derrotaria Airen. Ela derrotaria Ignet. Quando aquele desgraçado do Brett caísse, ela o forçaria a se levantar e o derrubaria de novo, e de novo.
“Hã? Isso não resolve meu problema?”, pensou Judith, curiosa.
K-sshh!
Ela sorriu. Por algum motivo, o fogo de sua espada começou a queimar com ainda mais intensidade. Ela brandia sua lâmina com prazer, enquanto Khun a observava. Ele também mergulhou em sua própria esgrima e perdeu a noção do tempo. Mentor e discípula realmente se pareciam.
Não muito longe dali, estava o sacerdote.
Por ora, ele estava sozinho. O bufão e o espadachim haviam seguido Ignet. Embora estivesse preocupado por estarem mais distantes de sua influência, não se preocupava tanto. Afinal, ele lhes dera uma bênção de discrição.
De fato, este era um momento significativo. O sacerdote observou Khun por um tempo antes de abrir a boca. Fazia muito tempo desde a última vez que vira aquele homem.
O diabo hesitou, ponderando sobre como deveria chamá-lo, antes de sussurrar:
— Pai.
Tão baixo que ninguém ouviu.
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