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    — Hmm, devo chegar em uma semana… no máximo — murmurou um homem enquanto caminhava pelas planícies do continente central.

    Com três correntes douradas ao redor do pescoço, uma roupa luxuosa feita de bons materiais e adornada com bordados sofisticados, e um relógio de pulso feito por anões no braço esquerdo, que valia mais do que todo o resto que vestia, ele parecia extravagante demais para ser um mero viajante.

    O nome do homem era John Drew, o maior instrutor de esgrima de Aisenmarkt. Naturalmente, andar por aí com tal vestimenta era muito perigoso. Embora o continente central fosse relativamente seguro, não era isento de criminosos. Pior ainda, o continente vinha sofrendo com monstros enfurecidos, um aumento no número de criaturas demoníacas que remetiam ao passado e os próprios diabos que as comandavam.

    Diante dessas circunstâncias, o número de viajantes entre as cidades caiu, enquanto os mercadores buscavam desesperadamente mercenários habilidosos. Mas…

    “Alguém com as minhas habilidades não precisa se preocupar, é claro”, pensou John com um sorriso.

    É claro que ele trouxe alguns guarda-costas. Afinal, coisas inesperadas aconteciam. No entanto, diferentemente do passado, era em seu próprio braço que mais confiava. As fintas brilhantes que compensavam as diferenças de talento e a estratégia avassaladora que sobrepujava a quantidade total de aura…

    De fato, ele havia finalmente estabelecido o ‘Método John Drew’. O homem patético que só se importava com a opinião dos outros já não existia mais, embora ele tivesse que admitir que ainda gostava de acessórios chamativos.

    “Airen Farreira… o que será que ele diria?”

    A razão pela qual John estava indo para a propriedade Farreira, tão distante de Aisenmarkt, era simples: ele queria mostrar a Airen suas novas descobertas. Ele mesmo achava aquilo estranho. Afinal, sempre amou dinheiro e foi mais obcecado por ele do que qualquer outra pessoa. Ainda assim, lá estava ele, indo para a propriedade Farreira, investindo mais de um mês na jornada, sem sequer estar sendo pago para isso.

    John Drew soltou uma risada baixa. Agora, ele entendia o que antes não compreendia.

    “Aquele cara foi o primeiro a me reconhecer pelo que eu sou.”

    De fato, Airen Farreira admirava e aprendia sua esgrima melhor do que qualquer um poderia. Como qualquer quantidade de ouro poderia se equiparar a algo assim?

    — Eu sei que ele já é um mestre espadachim. Mas tenho certeza de que posso ser útil de alguma forma… huh? — murmurou John com um aceno de cabeça, imaginando a expressão de Airen, quando ouviu um alvoroço. Ele se virou e franziu a testa.

    — Parece que há um bando de ladrões. Vamos — disse ele.

    — Sim, senhor! — responderam seus homens.

    Mercenários comuns nunca entrariam em uma luta que não fosse deles. No entanto, a maioria dos que acompanhavam John Drew o consideravam um mentor que lhes ensinou sobre esgrima. Como pessoas que já haviam recebido ajuda no passado, eles estavam mais do que dispostos a retribuir o favor. Rapidamente, cavalgaram rumo ao campo de batalha, com a luz do sol cintilando sobre suas espadas. No entanto, não tiveram a chance de desembainhá-las.

    Slash!

    — Aaargh!

    Slash!

    — Aaaargh!

    A cada golpe, os ladrões caíam como folhas ao vento no outono.

    Em pouco tempo, quase dez ladrões estavam estirados no chão, completamente impotentes diante do homem que haviam emboscado. Em menos de um minuto, o bando foi aniquilado.

    Porém, John Drew e seus homens não ficaram surpresos. O que os surpreendeu foi a luz branca que brilhava ao redor da lâmina.

    Ao ver a Aura da Espada e o rosto do homem, John Drew exclamou:

    — Zett Frost, o 101º Espadachim!

    — Não sou mais o 101º — corrigiu Zett.

    — Ah, certo — respondeu John com um sorriso sem graça, estendendo a mão para Zett, que fez o mesmo.

    Os dois apertaram as mãos vigorosamente.

    — Faz tempo, John.

    — De fato. Diria que uns dez anos? Mas por que você está…

    — Eu estava indo para a propriedade Farreira…

    — Hã? Farreira? Você também? — perguntou John Drew, surpreso com a notícia. Sem que ele percebesse, Zett já havia se juntado à sua comitiva. Os dois começaram a conversar até que, por fim, assentiram com um olhar compreensivo.

    Ambos estavam buscando Airen pelo mesmo motivo.

    — Aquele jovem realmente atrai as pessoas, não é? — disse John, tomando um gole d’água.

    — De fato — respondeu Zett com um aceno de cabeça.

    Depois de assistir à luta entre Brett Lloyd e Judith, ele retornou para casa. No entanto, o fato de não ter visto Airen o incomodava. Ele não conseguia esquecer a paixão, o esforço, o talento e o encanto indescritível daquele jovem. Talvez quisesse se inspirar ou encontrar uma pista que o ajudasse a superar sua estagnação.

    Talvez. Mas, no fim das contas, a verdade era simples.

    — Só quero vê-lo. Faz tempo — admitiu Zett.

    — Hmm, é verdade. Acho que o mesmo vale para mim — concordou John.

    Ao mesmo tempo, ele começou a se sentir bastante orgulhoso ao perceber o quão no topo da situação parecia estar.

    “Estou conversando casualmente com um mestre espadachim enquanto estou indo visitar outro!”, pensou John.

    Embora tivesse aprendido a se importar menos com a opinião dos outros e a aceitar seus próprios méritos, ele ainda era ele mesmo. Ainda preferia parecer elegante a não ser, então socializar tão naturalmente com alguém tão talentoso enchia seu peito de orgulho. Ele lançou um olhar para seus homens, que o encaravam com admiração.

    Sentindo-se um pouco mais orgulhoso, John abaixou a voz e sugeriu:

    — Vamos?


    A presença de Zett Frost em sua comitiva fez John Drew se sentir ligeiramente mais confiante. Ele pediu comida com um tom um pouco mais baixo e tentou parecer mais importante ao se apresentar à segurança do portão.

    Alguns até o reconheceram. Afinal, John Drew tinha uma certa reputação, especialmente depois que alguns especialistas mencionaram seu nome, embora ainda não estivesse no mesmo nível que Zett Frost.

    — Esse é o senhor John Drew! Você é bem conhecido no continente central, não é?

    — Magnífico! Magnífico! — elogiaram seus homens.

    — Haha, isso não é algo para se vangloriar. O senhor Zett Frost é que é impressionante. Eu sou apenas um… — dizia John, mesmo que seu rosto demonstrasse claramente sua satisfação.

    Por isso, não pôde evitar sentir-se um pouco animado ao chegar à propriedade Farreira. Alguém de sua posição certamente causaria um grande alvoroço em uma pequena propriedade pertencente a um barão de um reino insignificante do continente central, ou pelo menos era o que ele pensava até que a checagem de segurança terminou rapidamente.

    — Pode passar — disse o guarda do portão.

    — Algum problema, senhor?

    — Não, nenhum… — respondeu John, enquanto o guarda o olhava com indiferença. Ele passou pelo portão e olhou para trás. Para sua surpresa, Zett Frost também foi tratado com a mesma indiferença.

    “Mas o que está acontecendo?”, pensou John, chocado.

    Ele até poderia aceitar que o tratassem dessa forma, mas Zett Frost era um homem famoso, uma figura de destaque no continente mesmo antes de se tornar um mestre espadachim. Não conseguia entender como aquele guarda podia estar tão despreocupado.

    O que estava acontecendo? Como era possível que o guarda os tratasse como se fossem apenas dois cavaleiros errantes quaisquer?

    John caminhava, confuso, quando ouviu uma comoção no portão.

    — O que está havendo? — disse ele, virando-se surpreso.

    O que poderia fazer aquele guarda e os que estavam ao redor exclamarem daquela forma?

    John estreitou os olhos, tentando localizar a origem da confusão, quando dois gigantes surgiram no meio da multidão. A visão o deixou completamente atônito.

    Ele reconhecia um deles, mas não o outro. No entanto, logo viu de quem se tratava.

    Com quase três metros de altura, um peito largo como o tronco de uma árvore colossal e carregando um enorme machado, que só era ofuscado por seu próprio carisma, Karakhum, o Grande Guerreiro, caminhava imponente.

    John ficou paralisado ao encarar o maior herói orc da história, quando uma voz chamou seu nome.

    — Senhor John Drew! Senhor Zett Frost!

    — Oh! Khubaru! Quanto tempo! — respondeu John.

    — Faz tempo… — disse Zett.

    Os dois cumprimentaram Khubaru, que se aproximou deles animado. Infelizmente, nenhum dos dois conseguiu relaxar, ainda abalados pela presença de Karakhum, que se erguia atrás de Khubaru como uma rocha inabalável.

    Felizmente, Khubaru era um orc amigável, capaz de aliviar a tensão com facilidade.

    — Haha, então é isso. Que coincidência. Nós também viemos ver Airen.

    Desde que Airen e sua comitiva deixaram Drukali, Khubaru e Karakhum também partiram em uma jornada, não por causa de algum conflito tribal, mas porque pai e filho queriam passar um tempo juntos, acreditando que seria algo significativo.

    — Então vagamos por aí até chegarmos ao Reino Heyle. Depois pensamos que seria uma boa ideia fazer uma visita — explicou Khubaru.

    — Ah, entendi… — John assentiu, embora sua atenção estivesse completamente voltada para Karakhum.

    O guerreiro os observava com olhos misteriosos e sérios.

    — Bem, estamos aqui, não estamos?! Quero ver Airen logo! — disse John, apontando para o castelo.

    — Hmm, concordo — respondeu Zett Frost, assentindo apressadamente.

    Mesmo sendo um grande especialista e um mestre espadachim, os dois não conseguiam suportar facilmente a presença avassaladora de Karakhum. Assim como os outros, ansiavam por ver o rosto amigável de Airen.

    — Lorde Karakhum? Quer dizer, o grande chefe de Drukali? — exclamaram os homens.

    — Não mais. Meu filho Tarakhan é o chefe agora — respondeu Karakhum.

    — Ah… entendo. Permita-me guiá-los.

    — Não será necessário.

    Estava claro quem era o centro das atenções do grupo. Embora John se sentisse um pouco contrariado, algo mais chamou sua atenção.

    Para sua perplexidade, os servos da propriedade Farreira pareciam incrivelmente calmos, apesar da presença de Karakhum, o Grande Guerreiro, um herói entre heróis.

    “Eles parecem um pouco surpresos, mas não tanto quanto eu esperava. Como pode ser?”

    Mesmo considerando que serviam Airen Farreira, que se tornou um mestre espadachim ainda na casa dos vinte anos, eles estavam calmos demais. Mas o que mais confundiu John foi a atitude de Karakhum. O guerreiro caminhava sem precisar de um guia, emanando uma energia poderosa que fazia o ar vibrar ao seu redor.

    O que estava acontecendo? Por que aquele monstro de guerreiro marchava adiante, segurando seu machado como se estivesse pronto para lutar?

    A pergunta de John logo foi respondida.

    Swoosh!

    Wooosh!

    Crash!

    — Ugh!

    — Ufa…

    Dois jovens que pareciam ter acabado de entrar na casa dos vinte anos estavam no meio do campo de treinamento, empunhando suas espadas. Os olhos de John tremeram. Normalmente, ele apenas os observaria com interesse, mas agora não era o momento para isso.

    Wooosh!

    Woooosh!

    Tanto o jovem de cabelos azuis quanto a jovem de cabelos prateados empunhavam Auras da Espada deslumbrantes. Mas eles não foram os que mais chamaram a atenção de John.

    Um espadachim de cabelos prateados observava os dois jovens em silêncio antes de se aproximar de Karakhum.

    O grande guerreiro orc também se aproximou do homem, exalando sua presença pesada, como se não se importasse com nada ao seu redor.

    No instante em que os dois gigantes se encararam, John Drew engoliu em seco.

    “Talvez este lugar não seja para mim…”

    Zett Frost; Brett Lloyd; Illia Lindsay; Joshua Lindsay; Karakhum, o Grande Guerreiro.

    Sentindo-se pequeno diante da imensa presença daqueles mestres, John olhou ao redor, nervoso.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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