Capítulo 278: A Quinta Energia (3/6)
Reunidos na sala de recepção da Propriedade Farreira estavam nove convidados. O encontro não havia sido planejado, coincidência, poderia-se dizer. Mas, por mais casual que parecesse, todos ali eram notáveis.
O diretor Ian, da Academia Krono, e seu eterno rival Khun já eram figuras impressionantes por si só, mas eles não estavam sozinhos.
Joshua Lindsay, considerado o mais poderoso entre os Cinco Reinos do Oeste, Karakhum, o Grande Guerreiro inigualável entre os orcs, Illia Lindsay, que supostamente possuía mais potencial que todos os demais, e Brett Lloyd, a principal figura da geração dourada de Krono. Além deles, embora não estivesse exatamente no mesmo patamar, Zett Frost também era um homem de grande talento, respeitado por muitos.
“Você já era talentoso antes, mas agora realmente se tornou algo notável, Airen”, pensou Khubaru, o espiritualista, enquanto observava os convidados.
Como alguém que conheceu Airen cedo, embora talvez não tão cedo quanto Illia e Brett, que o conheceram ainda como aprendiz, ele se sentia bastante satisfeito. Até se atreveria a dizer que teve certa influência no espadachim. Afinal, poucos anos atrás, Airen era um andarilho desorientado, possuindo uma vontade de ferro poderosa, porém incontrolável. Agora, no entanto, era uma pessoa completamente diferente. Não mais nervoso, ansioso ou sufocado por sua própria determinação.
Khubaru não queria dizer que Airen havia se tornado um homem novo, por assim dizer, pois o jovem ainda o recebia com olhos gentis e sorrisos calorosos…
“Eu diria que ele se tornou maior… que cresceu, embora eu não tenha certeza se sou alguém qualificado para julgá-lo.”
Khubaru sorriu ainda mais e estendeu a mão. Airen também a alcançou para um aperto de mãos. Embora fosse um gesto simples, considerando o tempo que estiveram afastados, Khubaru não se sentiu decepcionado. Ele conhecia a sinceridade de Airen.
— Faz tempo, Khubaru. Na verdade, eu cheguei a voar até Durcali em um grifo uma vez, mas parece que não nos encontramos — disse Airen.
— É verdade. Sinto muito por isso. Eu deveria ter enviado uma carta ou algo assim — respondeu Khubaru.
— Não tem problema. O que importa é que estamos nos vendo agora. Faz tempo, Lorde Karakhum.
— Hmph — resmungou Karakhum, acenando com a cabeça.
Embora de modo algum fosse tímido, não se sentia tão confortável como entre seu próprio povo, estando cercado por tantas figuras grandiosas. Além disso, ainda estava se recuperando da batalha da qual havia acabado de sair. Os outros também compartilhavam desse sentimento.
Percebendo a tensão no ar, Khubaru puxou algo: uma garrafa de bebida.
— É uma bebida tradicional de Durcali — explicou.
— Que tal tomarmos um gole?
— Eu aceito — respondeu Brett Lloyd prontamente.
— Hmph — murmurou Joshua Lindsay em aprovação.
Os outros também pareceram dispostos, então Khubaru assentiu e trouxe mais três garrafas para a mesa, enquanto um servo, de maneira sensata, providenciava copos e blocos de gelo.
E assim começou uma festa de bebida um pouco antecipada.
— Sério? Entendo.
— Sim, então foi quando…
— Hmm, tem um gosto mais cítrico do que eu esperava. E também é meio gaseificada…
— Você entende de bebidas?
— Não diria que entendo… mas gosto de beber, senhor.
— A propósito, Airen, onde estão Lulu e Kiril?
— Ah, não vejo muito a Lulu ultimamente. Deve estar aprontando algo por conta própria. Kiril foi ver Lance.
— Ah…
Conforme a tensão se dissipava e o grupo se envolvia em conversa, Zett Frost e John Drew permaneciam um tanto deslocados, ou pelo menos John Drew.
Zett Frost, por outro lado, estava desfrutando da oportunidade de provar bebidas exóticas. Embora não fosse particularmente sociável nem tivesse muitos amigos, apreciava suas bebidas tanto quanto Brett e Khubaru.
Infelizmente, John Drew não podia acompanhá-lo. Além de não gostar tanto de beber, também estava lidando com um complexo de inferioridade.
“Eu realmente mereço estar aqui?”, pensou.
Havia dez pessoas na sala de recepção, incluindo ele. Oito delas eram mestres espadachins. Agora que pensava nisso, era algo ridículo. Em todo o continente, existiam apenas cerca de cem mestres espadachins. E ali estavam quase um décimo deles, reunidos em um castelo no interior!
Embora alguns argumentassem que o número de mestres espadachins havia aumentado recentemente para quase cento e cinquenta, a situação ainda era absurda.
“Eu… eu achei que tinha sido bem-sucedido, mas agora…”, pensou John, enquanto seu olhar se voltava para Khubaru.
Assim como ele, Khubaru também não era um mestre espadachim. Tampouco era tão renomado quanto os outros convidados. Mas, mesmo assim, era mais distinto, sendo mentor de Airen Farreira. Acima de tudo, era filho de Karakhum, o Grande Guerreiro, e irmão mais velho de Tarakhan, o chefe de Durcali! John não tinha a menor chance de competir com esse cara e sua linhagem! No fim das contas, era o único ali sem um nome ou uma história de fundo impressionante. Era um patinho feio entre os cisnes.
Não, era ainda pior que isso. Um sapo seria uma comparação mais adequada. Sentindo-se cada vez mais abatido, John Drew se arrependeu de ter vindo até a Propriedade Farreira.
Foi então que Airen, que estava conversando com Khubaru, voltou-se para ele com um olhar caloroso.
— Senhor John Drew, faz tempo.
— Hã…? Senhor…?
— Bem, você é meu professor, não é? Ainda me lembro das estratégias e do treinamento mental que me ensinou. Ah, me desculpe. Estou sendo formal demais, não estou? É só que faz tanto tempo que não nos vemos que me sinto um pouco estranho, haha…
— Ah, sim… certo. Pode falar de forma mais casual, como antes, hahaha…
John Drew riu nervosamente. Sentiu-se incrivelmente grato por Airen, que parecia realmente se importar com ele, apesar de ser um mero inseto entre gigantes. No entanto, não se deixaria enganar, pensando que isso significava algo.
“Não posso deixar que isso suba à minha cabeça”, disse a si mesmo, relembrando o passado.
A maioria de suas memórias envolvia mulheres. Ele fazia piadas e elas riam educadamente. Ele, animado, começava a falar alto e rápido, apenas para perceber, tarde demais, que a expressão da mulher começava a vacilar…
Desta vez, as coisas não seriam assim. Ele iria se controlar. Se ultrapassasse seus limites só porque a outra pessoa estava sendo gentil…
— A propósito, ouvi dizer que você abriu oficialmente uma academia de esgrima — disse Airen.
— Hã? — respondeu John.
— Não abriu?
— Sim, eu abri…
John Drew ficou surpreso. Nunca tentou esconder isso de ninguém. Na verdade, sentia que sua esgrima havia melhorado significativamente ao ponto de garantir seu próprio espaço. Todos sabiam disso em Aisenmarkt. No entanto, isso era no continente ocidental. O fato de alguém da Propriedade Farreira saber sugeria que não se tratava apenas de rumores, mas que Airen realmente procurara informações sobre ele.
“Talvez… Airen me considere um amigo”, pensou John, sentindo seu orgulho ressurgir à superfície.
Mas isso não era tudo. A conversa continuou, com Airen não apenas perguntando como ele estava, mas também se aprofundando em sua especialidade. Os outros começaram a prestar atenção. A confiança de John estava prestes a desmoronar sob os olhares dos mestres espadachins quando…
— Você definitivamente é mais aberto do que eu, Sr. Drew — comentou Airen.
— Hã? — ecoou John.
— Você tem tantas soluções para o mesmo problema. Tenho que admitir que nunca havia pensado em algumas dessas abordagens antes…
Comovido, John Drew começou a falar com mais paixão enquanto Airen o ouvia atentamente e demonstrava admiração sincera.
Illia Lindsay, Brett Lloyd e Zett Frost também acrescentaram suas opiniões. Karakhum, o Grande Guerreiro, assentiu lentamente ao observar o grupo.
“Ele não apenas dominou o metal, o fogo e a água, mas também ganhou o poder da terra…”, refletiu.
Uma conversa era mais do que uma troca de palavras, era uma troca de pensamentos, emoções e corações. Isso era como a água: fluía e se espalhava. E, por isso, podia se tornar avassalador.
“Você pode se perder, dominado pelos sentimentos dos outros. Seu coração se exaurirá, afogado nas emoções alheias. É pesado e confuso. Por isso, todos fecham seus corações.”
Airen, porém, era diferente. Mantinha sua postura firme, apesar de estar cercado por figuras que qualquer pessoa comum sequer ousaria encarar. E não apenas isso, ele liderava a conversa e abria os corações ao seu redor. Isso acontecia porque ele era bem fundamentado. Era uma força diferente da do metal.
“Não acho que preciso interferir de forma alguma”, pensou Karakhum, observando o jovem herói abraçar os sentimentos e pensamentos de todos.
Na verdade, tinha certeza de que Airen dominaria a energia dos cinco elementos sem sua ajuda. Talvez nunca tenha sido sua função intervir desde o início. Afinal, o que Airen estava cultivando era bem diferente do que vinha de Durcali, embora pudesse ter as mesmas raízes.
Decidindo que apenas observaria seu crescimento, Karakhum sorriu levemente antes de beber seu drinque junto com os outros.
— Não vai beber?
— Não estou com vontade.
— Que estranho você recusar bebida justamente agora que saiu. Não é como se estivesse enclausurado em algum lugar.
— Beba o quanto quiser.
— Você sabe que prefiro chá a álcool. De qualquer forma…
Diferente de Karakhum, o Grande Guerreiro, Ian e Khun não estavam tão impressionados com o crescimento de Airen. Já sabiam quão grandioso o jovem estava se tornando. Mas não era apenas ele. Todos os jovens, incluindo Judith, estavam crescendo mais rápido do que qualquer um imaginava. Ainda assim, eles não estavam totalmente desinteressados em Airen.
Diminuindo o tom de voz, Ian sorriu e sussurrou:
— Olhe para aqueles dois.
— Quem? — questionou Khun.
— Airen e Illia. Achei que já tivesse ouvido. Os dois estão namorando.
— Eu ouvi. E daí?
— Quero dizer, não é engraçado que dois jovens na casa dos vinte anos, que estão juntos há mais de meio ano, ainda sejam tão tímidos um com o outro?
— Ugh, você é insuportável…
Apesar das palavras, Khun concordava com Ian. O casal não se reconhecia abertamente com tantos olhares sobre eles. No entanto, não podiam evitar de trocar olhares sempre que seus olhos se encontravam. Mesmo Ian e Khun, que já passavam dos cem anos, não podiam negar que os dois eram adoráveis juntos.
Mas ainda assim…
— O que isso deveria ser? Eles não são duas crianças — resmungou Khun.
— Hã? — Ian perguntou.
— Quero dizer, você não acha? Eles já são adultos. Até quando vão continuar se comportando assim?!
— Haha, que exigente você é. O que mais podem fazer quando todos estão observando?
— Dá para ver só de olhar para eles que são assim o tempo todo.
— Hahaha.
Ian riu, sem ter como responder. Para ser sincero, concordava. O casal não parecia ser do tipo que se entregaria a algo mais apaixonado nem mesmo quando estivessem a sós, ou pelo menos era o que os velhos achavam.
Bebendo em silêncio e ouvindo suas conversas, Brett balançou a cabeça.
“Eles não sabem de nada”, suspirou, antes de encher seu copo e virar a bebida de uma vez.
“Saudades de você, Judith”, pensou, soltando outro suspiro.
Naquele mesmo instante, a equipe de extermínio do Reino Sagrado se reunia na capital.
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