Capítulo 279: A Quinta Energia (4/6)
O Reino Sagrado de Arvilius era o país mais poderoso do continente. Incluindo suas forças ocultas, possuía mais de quinze mestres espadachins, além dos sumos sacerdotes e cavaleiros especializados que os apoiavam, sem mencionar seus fiéis espalhados por todo o continente.
De fato, era a melhor organização para combater o mal. Por isso, ao contrário de Lavaat e Palanke, que entraram em pânico com o surgimento do bufão, um grande diabo comparável ao Rei Dragão Demônio, o Reino Sagrado organizou silenciosamente uma expedição para exterminá-lo.
No entanto, a situação ainda era grave. O continente teria se saído melhor caso enfrentasse os diabos diretamente. Afinal, por mais terrível que uma entidade fosse, ela não seria capaz de resistir ao poder que o Reino Sagrado acumulou ao longo dos 160 anos de paz sob a liderança de Julius Hule, um dos três melhores espadachins do continente. Infelizmente, os diabos eram astutos, cruéis e numerosos. O Reino Sagrado não teve escolha senão dispersar suas forças para monitorar o vasto território do continente, e foi nesse momento que os diabos atacaram.
Pouco a pouco, os danos se acumularam. Pouco a pouco, a confusão cresceu. O segredo escapou, e muitos começaram a perceber a ascensão dos diabos.
O Reino Sagrado teve que revisar seu plano de agir sozinho, e muitos outros reinos se juntaram à causa. Embora tal decisão desse origem a mais rumores, considerou-se que seria mais benéfico erradicar o diabo o mais rápido possível.
Porém, isso foi um erro. Assim que o Reino Sagrado alterou sua abordagem, os diabos se esconderam para dar espaço a outro grupo de seres: os contratantes. O número de demônios começou a crescer exponencialmente.
— Você ouviu falar do demônio nas Montanhas Torvan?
— Ouvi dizer que há alguns em Calvin também. As coisas não estão ficando sérias demais ultimamente?
— Eu sei. Melhor ficarmos dentro das muralhas, se possível. Tenho certeza de que tudo será resolvido assim que o reino enviar tropas.
— Quem sabe? Segundo os rumores, o número de demônios aumentou porque o diabo reapareceu…
— O quê? Isso é verdade?
O medo varreu o continente. No entanto, não foi suficiente para desestabilizar a sociedade, pois o continente havia se fortalecido significativamente ao longo do longo período de paz. O número de espadachins cresceu exponencialmente graças às diversas academias de esgrima que surgiram em todo o continente, e o número de magos também aumentou no Reino Runetell. A ordem se manteve firme. Assim, os danos gerais não foram tão grandes. Mais pessoas ainda sofriam com a pobreza e os ladrões.
No entanto…
“O que importa é que a semente do medo foi plantada na mente das pessoas. Não podemos mais… acabar com isso rapidamente. Essa batalha vai se arrastar”, pensou Cristobal Blackwell, membro dos Cavaleiros Vermelhos.
Assim como a fé dos sacerdotes criava milagres, o medo das pessoas criava caos, desestabilizando as dimensões e abrindo fendas entre o reino humano e o reino demoníaco.
“Não temo enfrentar os diabos, mas…”
Cristobal sabia melhor do que ninguém o quão poderosos e aterrorizantes seus inimigos eram. No entanto, isso não importava, contanto que pudesse brandir sua espada pelo bem do continente. Ele daria sua vida de bom grado pelo sagrado. Mas se a esperança vacilasse e o medo crescesse apesar desses sacrifícios… Se as portas do reino demoníaco fossem abertas para permitir a entrada de seres ainda mais terríveis no mundo humano…
Cristobal estava imerso em seus pensamentos sombrios quando avistou Julius Hule se aproximando.
Todos os cavaleiros no campo de treinamento prenderam a respiração e voltaram seus olhares para o mais devoto e mais poderoso espadachim de Arvilius, ou talvez do próprio continente. O coração de Cristobal disparou ao ver aquele que se tornara o capitão dos Cavaleiros Brancos antes de liderá-los por quase quatro décadas. Somente um homem como ele poderia reunir aqueles que exterminavam os demônios e os diabos. Alguém em quem se podia confiar nos tempos mais sombrios e que trazia esperança, era isso que Julius Hule significava para os cavaleiros de Arvilius.
“Talvez ele nos mostre como superar os desafios que estamos enfrentando agora”, pensou Cristobal com um leve sorriso.
Mas, um momento depois, notou outra presença.
A energia avassaladora do Capitão dos Cavaleiros Brancos era tão intensa que ninguém havia percebido a pessoa que o acompanhava. Porém, à medida que ela se aproximava, sua presença tornava-se impossível de ignorar.
Uma nova e poderosa energia emanava através da muralha branca sagrada de Julius Hule.
O silêncio caiu e permaneceu.
O momento se alongou conforme a pessoa cruzava lentamente o vasto campo de treinamento. Quando finalmente parou, os cavaleiros fixaram seus olhos nela. Ignet Crecensia, a Cavaleira Negra, enfrentava o mais poderoso espadachim com uma aura deslumbrante.
— Vamos começar — convidou Julius.
Ignet não respondeu.
Swish!
Ela desembainhou sua espada.
Tap.
Assumiu sua postura.
Woosh…!
Manifestou sua Aura da Espada vermelha e encarou Julius Hule. Alguns cavaleiros engoliram em seco, apenas para perceberem que suas bocas estavam secas, já dominados pela presença da Capitã dos Cavaleiros Negros, que parecia preencher todo o ar ao redor.
Clang!
Swish!
Ignet avançou e sacou sua espada como um raio. Julius Hule apenas sorriu. Uma aura imensa emanou da espada do velho espadachim enquanto ele enfrentava sua oponente, parecendo mais feliz do que nunca.
Booom!
— Isso foi realmente eficaz — comentou Quincy Meyers.
— Hmph — assentiu Julius Hule.
De fato. Os cavaleiros pareciam ter mudado completamente desde que assistiram ao combate.
— Georg, você estava certo. Reunir todas essas pessoas ocupadas não foi em vão — disse ele após um momento de reflexão.
— Obrigado, senhor — respondeu Georg.
— Hehe! Mas é claro que todo mundo ia se animar depois de ver a nossa chefe, digo, nossa capitã, lutando tão bem! — disse Anya, animada.
— De fato — disse o Capitão dos Cavaleiros Brancos, bagunçando o cabelo de Anya Marta.
Assim como os outros cavaleiros, ele não temia enfrentar o diabo.
No entanto, isso era apenas por agora. Ele não conseguia evitar a preocupação ao pensar no que viria em dez ou vinte anos.
“Myers, os inquisidores, Ian, Khun, o Capitão dos Cavaleiros Vermelhos e eu… estamos todos chegando ao nosso limite”, pensou Julius Hule. Se enfrentassem os diabos agora, teriam mais de 90% de chance de vencer.
Porém, daqui a dez anos, quando os inquisidores tivessem partido e os três grandes espadachins do continente estivessem enfraquecidos pela idade, seus sucessores seriam capazes de ocupar seus lugares?
“Isso era o que o reino mais temia, mas…”
Depois de hoje, ele não se preocuparia mais.
— Há esperança — disse ele com um sorriso afetuoso, recordando o combate de instantes atrás.
De fato, Ignet Crecensia perdeu hoje, mas sua derrota não significava desespero. Significava esperança. Embora ela ainda não tivesse alcançado o nível dos três grandes espadachins, certamente chegaria lá mais cedo do que o esperado, não, chegaria a um patamar ainda mais alto. Ela se tornaria o novo centro do continente e erradicaria o mal. Essa esperança fortaleceria os cavaleiros sagrados de Arvilius e enfraqueceria os diabos.
— Espere — disse Julius.
— Há algum problema? — perguntou Quincy Meyers com a seriedade de sempre.
Afinal, Julius Hule havia estado animado antes de franzir a testa de repente. Será que algo aconteceu?
No entanto, não havia motivo para preocupação. O que o Capitão dos Cavaleiros Brancos disse a seguir era positivo e inesperado.
— Precisamos restringir isso apenas aos cavaleiros? — perguntou.
— O que quer dizer? — questionou Quincy.
— A habilidade da Capitã dos Cavaleiros Negros.
— Hmm?
— A esgrima da Dame Ignet, seu potencial, a esperança que ela pode trazer…
— E se não a guardarmos só para nós e permitirmos que todo o continente saiba sobre isso? E se criarmos uma ocasião para isso?
Talvez, então, fosse possível criar uma esperança que superasse o medo e selasse os portões do reino demoníaco.
Quincy Meyers arregalou os olhos. Foi nesse momento que um cavaleiro comum correu com uma notícia.
— A Capitã dos Cavaleiros Negros desapareceu? Espera…
O ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos olhou ao redor. Ninguém estava ali. Anya Marta, que estivera ao seu lado momentos antes, havia sumido sem deixar rastros.
— Para onde ela foi, se nem mesmo está se sentindo bem…? — murmurou, preocupado.
— Ela ficará bem — disse Julius Hule de imediato.
Quincy o encarou antes de voltar seu olhar para Georg Phoibe, o Tenente-Capitão dos Cavaleiros Negros. Ele também parecia despreocupado.
Finalmente entendendo o que estava acontecendo, ao visualizar o rosto de um certo jovem, Quincy assentiu.
— Espero que ela não tente inspirá-lo demais.
— Foi bom revê-los depois de tanto tempo. Espero que não se importem se visitarmos novamente no futuro.
— Haha, claro. Sempre que quiserem.
Já se haviam passado alguns dias desde o encontro das figuras poderosas. Todos, incluindo Illia Lindsay, já haviam partido. Airen sorriu enquanto Khubaru e Karakhum finalmente deixavam a Propriedade Farreira. Despedidas eram sempre difíceis, mas ele não estava triste.
“Eu sei que poderei vê-los novamente”, disse a si mesmo silenciosamente antes de se despedir com um sorriso animado, ou ao menos tentou.
Woosh!
Uma fenda cortou o ar. Uma luz mais brilhante que o sol da tarde surgiu pela rachadura. Logo, ela se alargou o suficiente para permitir a passagem de múltiplas pessoas antes de cuspir uma garota.
Era Anya Marta.
Khubaru fez uma careta ao ver seu rosto.
Tap.
Então, outra figura emergiu. Seus longos cabelos negros, uma visão rara no continente, esvoaçavam atrás dela. Apesar de sua estatura modesta, ela exalava uma presença sem igual.
Antes que percebesse, Khubaru sussurrou seu nome:
— Ignet…!
Pssss…
Click!
Usando a Arte dos Cinco, Karakhum combinou seu martelo e machado em um gigantesco machado de duas lâminas, como era de se esperar, após ouvir o que havia acontecido.
“Ela aparentemente foi até Ian, Khun e o Mestre Lindsay”, pensou.
O espírito de luta do orc ardia como o verão.
No entanto, ele estava enganado. Embora Ignet estivesse ali para um combate, seu alvo não era o Grande Guerreiro de Durcali.
Passando direto por Karakhum, para seu choque, ela manteve os olhos fixos em apenas uma pessoa.
— Airen Farreira — chamou.
— Gostaria de lutar? — sugeriu, exalando uma aura poderosa.
Woosh!
Apesar do convite repentino, Airen Farreira permaneceu calmo. Ele não pareceu surpreso nem apreensivo.
Encarando Ignet Crecensia com compostura, ele convocou sua espada de feitiçaria.
Woooosh!
— Por favor — respondeu.
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