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    O novo ano havia chegado. Nove meses haviam se passado desde que os aprendizes preliminares entraram na academia. Era um inverno frio, com um vento que soprava todos os dias, congelando seus ossos. Felizmente, nenhum dos jovens parecia se incomodar.

    — Hah, hah!

    — Droga! Não está funcionando!

    Vapor saía de seus corpos enquanto praticavam esgrima no salão de treinamento. Alguns estavam encharcados de suor, o que tornava difícil acreditar que estava congelando.

    O inverno pode ser uma estação terrível para alguns, mas para os aprendizes preliminares, que precisavam se exercitar constantemente, era muito melhor do que o verão. Claro, eles esfriavam muito quando descansavam, mas isso não era um problema. Eles tinham acesso livre à sala de descanso perto do salão de treinamento, grande o suficiente para muitos usarem ao mesmo tempo. Mas ninguém a usava para descansar de fato.

    Um garoto parecia confuso, como se algo não estivesse indo bem, e murmurou:

    — Não está funcionando para mim agora. Vou meditar um pouco.

    — Sim, eu também. Não consigo me concentrar.

    — Não me deixem de fora.

    O grupo de aprendizes foi para a sala de descanso para meditar, e havia algumas pessoas já meditando lá dentro. O Instrutor Ahmed sorriu de longe ao observá-los.

    “Em uma idade em que estão cheios de energia, nunca esperei que os aprendizes meditassem por conta própria”, pensou ele.

    O esforço sozinho não era suficiente para os espadachins crescerem em força. Eles precisavam de ‘esforço na direção certa’ em vez de simplesmente tentar coisas aleatórias. Falhariam se corressem para os lados ou para trás quando o destino estava à frente. O problema era que eles não percebiam que estavam indo na direção errada.

    “A meditação é um excelente método para resolver esse problema.”

    Ao se livrar do fardo de uma espada, colocar-se em uma posição confortável para acalmar a mente e se desvencilhar de pensamentos complicados, muitos aspectos perdidos se tornariam evidentes. Focar em silêncio, com a mente tranquila, lhes daria uma percepção mais ampla. Eles perceberiam erros repetidos, partes que precisavam de mais atenção e pontos fortes que só precisavam de um pouco de ajuste para se solidificar. Refletir sobre si mesmos, olhando para trás na trajetória percorrida, lhes permitiria entender a direção à frente. Ahmed sabia disso muito bem, mas não havia recomendado a meditação aos aprendizes. Na verdade, nenhum dos instrutores mencionou isso.

    Os aprendizes eram muito jovens, mal entrando na adolescência, cheios de paixão e curiosidade. Os instrutores acreditavam que não era fácil fazer crianças tão jovens sentarem-se para meditar. Achavam que era uma má ideia recomendar um método de treinamento tão complexo e sem impacto imediato, especialmente em meio à feroz competição.

    Mas as coisas mudaram. O Nobre Preguiçoso, Airen Farreira, e o nobre de alto escalão, Brett Lloyd, provaram que o método da meditação era eficaz por meio de seu crescimento surpreendente.

    “Eles acreditariam mais nos resultados de um colega do que nas palavras vagas de um instrutor. Dois aprendizes fizeram um ótimo trabalho. Especialmente esse aqui…”

    Ahmed olhou para o garoto. Brett Lloyd agora carregava uma confiança que o colocava acima dos outros, ao invés de sua arrogância anterior. Ahmed acreditava que ele estava trazendo uma influência positiva à academia, mais até do que Airen, que começou a meditação primeiro.

    Ao contrário dos outros, Brett não desprezou o treinamento de Airen e o observou sem preconceito. Ele então o adaptou de maneira eficiente para si mesmo. Após aprender, compartilhou o conhecimento com os outros aprendizes sem hesitação, permitindo que eles também crescessem. Brett aceitou, compartilhou e absorveu muito mais por meio da experiência. Nada disso foi uma tarefa fácil.

    Ahmed percebeu isso porque sabia como Brett costumava ser obstinado.

    “Ele já está na minha lista, mas devo observá-lo mais de perto.”

    E estava prestes a deixar o salão de treinamento quando o Diretor Ian apareceu sem fazer barulho.

    — Eles não são ótimos? — perguntou Ian.

    — Ah! S-senhor? Perdão, o que o senhor…

    — Os aprendizes. Quero dizer, o crescimento deles.

    — Ah… — Ahmed assentiu um pouco e respondeu com um olhar sério. — Sim, senhor. Todos eles são muito talentosos. São todos esforçados e ansiosos para aprender e…

    — Recentemente, eles melhoraram muito, graças a Airen e Brett — disse Ian.

    — Sim, senhor. A meditação beneficiou muitos deles. Eu ouso dizer que é o melhor ano de classe em nossa história — Ahmed falou em um tom baixo.

    Ian assentiu dessa vez.

    — Você está certo. A turma de oito anos atrás também foi ótima, mas acho que ninguém supera os jovens deste ano.

    — Sim, senhor.

    — Hmm. — O velho esfregou o queixo enquanto observava os aprendizes no Grande Salão de Treinamento.

    Ahmed esperou em silêncio, sempre considerando Ian um homem complexo de entender, mas sabia que havia algum significado por trás dessa conversa. Quando Ian falou com ele, Ahmed esperava uma ordem.

    — Reúna os jovens.

    — Entendido, senhor.

    — Mas não no auditório. Traga-os aqui.

    Ahmed ficou curioso. Sempre usavam o auditório para anúncios, então ficou confuso quando o diretor disse para trazer os aprendizes ao Grande Salão de Treinamento. Mas sua curiosidade não durou muito, pois as palavras seguintes de Ian responderam sua pergunta.

    — Tenho certeza de que muitos jovens deste ano entenderão.

    — !!

    Os olhos de Ahmed se arregalaram. Ele finalmente entendeu o que o Diretor Ian estava tentando fazer ali.

    — Vou trazê-los imediatamente, senhor — respondeu com a voz trêmula.

    Ahmed era bem treinado, mas ainda achou difícil suprimir a empolgação que o dominou.


    — Droga!

    Judith não estava se sentindo bem. Tinha seus motivos. Estava irritada porque Brett recentemente havia se tornado mais forte que ela, mesmo quando sempre o considerou fraco. E o treinamento de meditação, que se espalhava como fogo entre os aprendizes, a deixava irritada.

    “Como é que ficar parado os deixa mais fortes? O que é isso?”

    Ela não conseguia entender. Pensava que era melhor balançar a espada mais uma vez do que perder tempo com aquele treinamento entediante. Não mudou de ideia, não importava o que os outros dissessem.

    Mas a realidade provou o contrário. O resultado confirmou que aqueles que praticavam a meditação melhoravam enquanto ela não conseguia. E isso a estressava muito.

    “Não me faça perder tempo, argh.”

    Estava extremamente irritada com o chamado inesperado, já que já estava de mau-humor.

    “Vou cuspir no escritório do diretor se ele nos convocou por nada”, pensou Judith enquanto olhava para frente.

    O diretor olhou para os aprendizes reunidos ao redor dele e então começou com um anúncio chocante.

    — Vou direto ao ponto. Quero falar sobre o exame final — disse o diretor.

    — O quê!

    — Hmph!

    — !!

    Os aprendizes não conseguiram evitar expressar gemidos reprimidos. Faltavam cerca de cem dias para o exame final, então ninguém esperava isso. Todos pareciam confusos. Mas Ian não lhes deu tempo para pensar e continuou.

    — Diferente do exame intermediário, não vamos avaliar nada no exame final. Pode parecer vago, mas este exame final avaliará o ‘potencial’ de cada um de vocês.

    O diretor acrescentou que a academia queria saber se eles conheciam seus pontos fortes, seu objetivo final, o que precisavam fazer para chegar lá e como o fariam. Os aprendizes ainda pareciam confusos.

    Ian explodiu em gargalhadas.

    — Hahaha. Não se preocupem muito. Não é nada sério. Vocês só precisam me mostrar o melhor que têm com uma espada. Pode ser um golpe decisivo, uma habilidade de esgrima que cativa o oponente, ou até mesmo uma esgrima rápida como um raio. Quero dizer, podem usar qualquer meio possível para me mostrar o que têm guardado.

    Os aprendizes permaneciam em silêncio. Eles entenderam melhor o exame final, mas agora estavam confusos com o próprio objetivo.

    Eu…

    “O que é minha espada, afinal?”

    Os aprendizes refletiram seriamente sobre suas habilidades e sobre o tipo de espadachim que queriam ser. Até mesmo aqueles que já vinham pensando sobre isso encontraram dificuldades. Tentaram clarear suas mentes, mas parecia que estavam tentando desatar um nó pesado e emaranhado.

    Foi então que o diretor da Academia de Espadachins de Krono desembainhou sua espada. O som da lâmina saindo da bainha chamou a atenção de todos, como ele pretendia. Ian sorriu misteriosamente e falou em um tom baixo, porém carregado de uma aura que fez todos no salão ouvirem, mesmo os que estavam mais distantes.

    — Sei que não é uma tarefa fácil. Mas também não é tão difícil. Vocês ainda têm noventa dias, e estou certo de que cada um de vocês poderá florescer em seu potencial máximo — disse ele, preparando sua espada. — E este é meu pequeno presente para vocês. É apenas a dança aleatória de um velho, mas espero que aprendam algo com ela.

    E então Ian fechou os lábios, ficou sério e começou a se mover.

    — O quê? O que está acontecendo?

    Vozes irromperam ao ver a inesperada dança da espada do diretor, mas a comoção logo se dissipou, e o público caiu em um silêncio profundo. Mas não era um simples silêncio.

    Em questão de segundos, os movimentos do velho espadachim hipnotizaram todos os aprendizes. Não era por ele ser considerado o melhor do continente, nem por ser o diretor da academia, de quem dependiam seus destinos. Mesmo que não soubessem do status de Ian, teriam a mesma reação. Todos os aprendizes ficaram apenas cativados pela própria dança da espada e esqueceram tudo ao redor.

    Swoosh! Swish!

    Movimentos suaves, mas poderosos. Leves, mas pesados. Às vezes calmos como água, outras vezes explosivos e arrogantes como fogo. Traços incontáveis foram desenhados no ar e se repetiram. Os aprendizes, ao observar a dança, tiveram aquele momento gravado em suas mentes de forma marcante.

    — Hmm. Por ora, é isso. Desejo sorte a todos vocês. — O diretor sorriu ao terminar a dança e se retirou. Ele balançou o braço enquanto caminhava, parecendo um típico velho do campo.

    Mas nenhum aprendiz se despediu dele. Permaneceram parados por um tempo, até despertarem de seu transe.


    “É incrível toda vez que vejo isso”, pensou o Instrutor Ahmed enquanto seguia Ian.

    Ele já tinha visto a dança antes, mas ainda a achava inacreditável. Considerava impossível transferir conhecimento para crianças tão inexperientes apenas com uma dança de espada, não importava o quão talentosas fossem.

    E não era nem mesmo o mesmo ensinamento para todos. A espada de Ian carregava dezenas, até centenas de lições, todas misturadas em um fluxo único. Permitia aos aprendizes captarem a parte que melhor compreendessem ou os fazia receber o conhecimento que tanto buscavam.

    “O Diretor Ian… é o melhor professor de esgrima deste continente!”

    Alguns poderiam discordar ao falar sobre o melhor espadachim, mas Ahmed não hesitava ao afirmar quem era o melhor professor. Ele estava prestes a expressar sua admiração por Ian em voz alta quando o velho homem falou.

    — É fascinante.

    — O que é, senhor?

    — Acho que há um aprendiz que não aprenderá nada com minha dança.

    — Oh…

    Ahmed não achou isso estranho. Os aprendizes eram muito talentosos, mas isso não significava que todos alcançariam grandes feitos. Ele pensou que seria um grande sucesso se metade deles absorvesse alguma lição.

    “Em minha opinião, mais da metade aprendeu algo hoje.”

    Ele tinha quase certeza disso, e Ian também deveria saber. Portanto, Ahmed não entendia por que o diretor parecia preocupado com um aprendiz específico. Mas mudou de ideia quando ouviu o que Ian disse.

    — Na verdade, talvez ele nunca tenha querido aprender desde o início.

    — Como assim, senhor?

    — Ele não estava realmente assistindo à minha dança da espada. Seus olhos olhavam, mas sua mente estava em outro lugar. Era como se ele estivesse perseguindo algo muito mais atraente para ele, sem espaço para olhar para o lado — disse Ian.

    Ahmed ficou em silêncio, e o diretor perguntou a ele:

    — Consegue adivinhar de quem estou falando?

    Era difícil imaginar quem poderia ser. Certamente não era Illia Lindsay; sua admiração pelo diretor era evidente, apesar de seu motivo para estar na academia. O mesmo valia para Judith, uma encrenqueira teimosa, mas desesperada por sucesso na academia. Brett Lloyd, Lance Patterson e todos os outros aprendizes não eram exceção. Todos haviam dedicado suas vidas à espada desde jovens, então não havia como ignorarem a esgrima do diretor. Mas… se tivesse que escolher um…

    — É o Aprendiz Preliminar Número 311? Airen Farreira?

    O diretor não respondeu, apenas sorriu. E isso bastou. Ahmed franziu o cenho em descrença ao ouvir a voz do velho um pouco mais tarde.

    — Estou curioso. Muito curioso para saber o que ele está olhando. Mas… por agora, sinto algo diferente de curiosidade.

    “Ele feriu meu orgulho como professor”, murmurou o velho para si mesmo e deu uma gargalhada.

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