Capítulo 280: A Quinta Energia (5/6)
Frosh!
O fogo ardia como se quisesse consumir o mundo inteiro. A aura vermelha parecia mais apropriada para um Cavaleiro Vermelho do que para um Cavaleiro Negro.
Uma vez… duas vezes… arfando pesadamente, Ignet avançou. Sua espada veloz atingiu o ombro de Airen Farreira.
Swish!
Então, ela cortou e golpeou. À medida que se movia mais rápido, conseguia enxergar os movimentos de seu oponente com clareza, como se pudesse agarrá-lo. Não só isso, mas também conseguia sentir sua aura, sua psique, sua intenção e sua respiração. Tinha certeza de que finalmente havia superado aquela barreira.
Com um sorriso sutil, Ignet liberou uma energia ainda mais poderosa de sua espada.
K-ssshh…!
Durante quase um ano, ela percorreu o continente enfrentando os mais poderosos, os mais extraordinários dos mestres, aqueles reverenciados como os dez espadachins mais fortes, e até Ian, Khun e Julius Hule, os três espadachins comparáveis aos heróis que decapitaram os grandes diabos. A jornada havia sido difícil, mesmo para ela. No entanto, os frutos eram evidentes. Em meio a uma torrente de epifanias, Ignet refletiu sobre sua espada e concluiu seu domínio sobre ela. Então, a destruiu para dar o próximo passo. De fato, ela estava pronta para alcançar o céu.
Mas quem foi a pessoa que mais a inspirou? Joshua Lindsay, descendente do herói que derrotou o Rei Dragão Demônio? Ou Ian, o mestre de Krono e o maior mentor do continente? Ou talvez algum dos três grandes espadachins?
Ignet riu. A resposta já estava diante dela. Apertando sua espada com mais força, avançou para atacar novamente. No entanto, mesmo enquanto suas chamas o bombardeavam, o espadachim loiro manteve-se firme.
Vendo seus olhos azuis lentamente se tornarem dourados, Ignet sussurrou:
— Obrigada.
Desde a fundação de seu próprio grupo de mercenários, ou até antes disso, ela sempre caminhou sozinha. Ninguém jamais ousou acompanhá-la, e ela nunca esperou ajuda de ninguém. Mesmo agora, sentia-se confiante de que poderia enfrentar tudo sozinha, de que poderia suportar corajosamente a solitária coroa.
No entanto, isso não era o ideal. Mesmo que pudesse fazer tudo sozinha, era melhor fazer juntos. Mesmo que pudesse sustentar a todos, às vezes era bom deixar que outros a apoiassem de vez em quando. Foi por isso que decidiu tirar um ano para treinar.
Antes, jamais teria imaginado deixar de lado seu dever de exterminar os diabos em prol de seu treinamento pessoal. A pessoa que tornou isso possível foi um jovem herói que nunca poderia rivalizar com ela sozinho, mas que alcançou seu nível com a ajuda de muitos: Airen Farreira.
Ela sorriu ferozmente para ele.
“Sinto que meus horizontes se expandiram.”
Boom! Boom!
Boom! Boom!
A espada de Ignet começou a se mover ainda mais rápido. A sucessão de explosões e o ângulo impossível da lâmina deixavam a visão de quem observava em desalinho. Um mestre espadachim comum jamais conseguiria acompanhar aqueles ataques. Airen cerrou os dentes, esforçando-se para defender-se de seus golpes. Em apenas um minuto, já estava suando.
Ignet, no entanto, não se importou. Em vez disso, investiu com sua espada ainda mais impetuosamente, acreditando que essa era a melhor dádiva que poderia conceder àquele que havia ampliado seus horizontes. Mostrou tudo pelo que trabalhou, deixando Airen cada vez mais exausto.
Crash!
— Hah, ugh…
Trinta minutos se passaram desde o início da luta. Não era um tempo curto, mas também não era excessivamente longo, considerando a resistência e a estamina quase infinitas de Airen. No entanto, ele havia atingido seu limite. O sangue escorria de sua pele rachada, manchando suas roupas de vermelho. Sua respiração estava entrecortada, e sua parte inferior do corpo tremia, impedindo-o de se mover com destreza. Ele estava a um segundo de desabar.
— Acabou…? — murmurou Karakhum em voz baixa.
Khubaru assentiu. Não via mais nenhuma esperança. Em vez disso, sentia orgulho por Airen ter resistido por tanto tempo. De fato, embora ele não fosse um espadachim inexperiente, Ignet era simplesmente outra coisa.
“Ela já era notável quando a vi pela primeira vez, mas agora… sinto que alcançou um novo patamar.”
Khubaru recordou-se da época em que Ignet derrotou Charlot e Victor, que já eram quase fortes demais para Airen enfrentar na época. A energia brutal e impiedosa dela, que parecia esmagar, queimar e dilacerar tudo em seu caminho, o fazia encolher-se, como se estivesse diante de um incêndio voraz.
No entanto, agora ela era diferente. Continuava tão carismática quanto antes, mas já não era apenas fogo. Era quente, mas inatingível, como o próprio sol.
O espiritualista orc cerrou os dentes diante da grandeza que era Ignet.
“Ela cresceu muito. Cresceu até mais do que Airen…”
Apesar de não ser Airen, Khubaru sentiu-se chocado e derrotado.
Mas o que realmente importava era o que viria a seguir.
Crash!
— Ugh…!
Airen conseguiu bloquear o ataque explosivo de Ignet. E não apenas isso, usando a onda de choque para se impulsionar para trás, recuperou o fôlego e se preparou para o próximo ataque.
No entanto, Ignet não atacou. Em vez disso, permaneceu firme no chão e concentrou-se em sua aura.
K-sshh!
Sua aura densa tornou-se visível a olho nu, vibrando ao redor de seu corpo. Ela irrompeu como um vulcão antes de ser rapidamente sugada para dentro de sua espada. A lâmina de aura, que antes se estendia por vários metros, começou a se condensar em uma esfera. Continuou encolhendo, tornando-se cada vez mais densa no processo.
Woooosh…
O som ameaçador alcançou Airen. Khubaru, que também o ouviu, encontrou-se se movendo antes mesmo de perceber.
Ignet não tinha intenção de poupar Airen. Aquele ataque não podia ser interrompido. Não podia ser suportado. Se ele queria salvar seu amigo, tinha que intervir. Ele precisava…
Grab!
No entanto, Khubaru não conseguiu. Ao se virar, viu seu pai. Cerrando os dentes, tentou usar o poder dos elementos para se libertar. Tinha que impedir Ignet, mesmo que isso significasse se ferir no processo.
Porém, ele não era páreo para Karakhum, um dos mais poderosos mestres. No fim, não teve escolha a não ser assistir enquanto Ignet finalizava sua preparação.
Psh…
O som rápido…
Crack…
E um impacto silencioso.
Mas o caos que se seguiu quase fez a cabeça de Khubaru explodir.
Boooom!
— Aaaaargh! — gritou Khubaru, cobrindo ambos os ouvidos enquanto era quase lançado pelos ares.
Felizmente, foi salvo. Karakhum havia dado um passo à frente para dissipar a onda de choque.
Crack, crack…!
O chão ao redor do pai e do filho afundou. Galhos e pedras se estilhaçaram antes de cair como chuva, deixando para trás uma nuvem de poeira.
Mas isso não importava. Recuperando finalmente os sentidos, Khubaru lançou um olhar furioso para seu pai. Por que ele o impediu? Por que não interveio? Como podia ser tão cruel quando Airen, aquele que os ajudou a se reencontrar após décadas, estava em perigo?
Estava prestes a protestar quando Karakhum falou, curto e direto:
— Olhe.
Por algum motivo, as palavras de seu pai o acalmaram. Seguindo o tom grave de sua voz, Khubaru virou-se lentamente para ver onde a esfera vermelha havia atingido. Para sua surpresa, Airen ainda estava de pé.
Os olhos de Khubaru se arregalaram.
No entanto, Airen estava longe de estar bem. Sua camisa já esfarrapada havia sido completamente rasgada, revelando sua pele nua enquanto o sangue escorria por seu corpo. A poeira ao seu redor o fazia parecer ainda mais miserável. Mas…
Ele bloqueou o ataque de Ignet. Ele resistiu. Khubaru não conseguia entender o que havia acontecido.
“Aquele ataque estava em outro nível. Eu talvez não saiba muito sobre esgrima, mas tinha certeza absoluta de que Airen não conseguiria bloqueá-lo…”
Seu instinto era aguçado o suficiente para se equiparar ao de um feiticeiro, e foi por isso que tentou agir, acreditando que precisava intervir por Airen.
Porém, seu amigo estava de pé. E até exibia um leve sorriso ao encarar Ignet Crecensia.
— Na próxima vez… — murmurou ele.
E foi só isso. Incapaz de terminar sua frase, Airen perdeu a consciência, ainda de pé. Khubaru correu até ele e o deitou, começando a examiná-lo.
Felizmente, não era nada grave. Mas isso apenas significava que seus ferimentos não eram fatais, ele ainda estava gravemente ferido. Pegando seu kit de primeiros socorros, Khubaru começou a tratar seus machucados.
— Vamos — disse Ignet.
— Sim, capitã! — respondeu Anya.
— Vejo que dessa vez você acertou.
— Eu não erro o tempo todo, sabia? Hah!
Woosh!
Anya Marta abriu o portal, e Ignet seguiu seu caminho, mas antes olhou para trás uma última vez.
Ficou ali por um momento antes de murmurar:
— Acho que não precisarei visitar os outros…
Era estranho. Embora os responsáveis por sua epifania devessem ser os mestres espadachins de alto nível espalhados pelo continente, ela se sentia atraída pelos mais jovens, pela espadachim de cabelos prateados ao lado do Mestre Lindsay, pela espadachim de cabelos vermelhos ao lado de Khun, o Veloz, e pelo espadachim de cabelos azuis ao lado de Ian, da Krono.
Woosh.
No entanto, Ignet não seguiu para encontrá-los, mas sim retornou ao Reino Sagrado de Arvilius. Como havia dito, não precisaria visitá-los, pois, conhecendo Airen, sabia que eles encontrariam um jeito de impulsionar o crescimento uns dos outros de uma forma melhor do que a dela. Imaginar esse futuro a fez rir.
“Talvez fosse divertido nos reunirmos todos um dia”, pensou.
Imaginando algo que jamais teria concebido dois anos atrás, Ignet Crecensia seguiu para encontrar o Capitão dos Cavaleiros Brancos.
Depois que ela partiu, Karakhum permaneceu no campo de batalha com uma expressão séria por um tempo. Mas não era porque ela o ignorara. No instante em que a viu, percebeu que não precisava mais enfrentá-lo, ela já havia traçado seu caminho.
Ignet veio ali apenas por causa de Airen. Aquela era a sua maneira de retribuir o favor, de inspirá-lo.
Foi um tanto cruel, mas tenho que admitir que terminou bem…” ,pensou o grande guerreiro de Durcali, assentindo com um sorriso ao recordar o Círculo que Airen criou por um breve momento. Ele estava dando um passo rumo a um novo mundo.
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