Capítulo 281: A Quinta Energia (6/6)
A Capitã dos Cavaleiros Negros retornou de sua longa jornada. Julius Hule ainda era o maior cavaleiro, e Quincy Meyers, o ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos, ou Rigoberto Clark, o atual Capitão dos Cavaleiros Vermelhos, haviam demonstrado mais do que ela. No entanto, o retorno de Ignet encorajou o Reino Sagrado mais do que qualquer outro.
“Mesmo que as forças que governam Arvilius enfraqueçam com o tempo… não haverá problema algum”, pensaram os cavaleiros.
Com a esperança, o futuro e o novo fogo que ela trouxe aos seus corações, os Cavaleiros Sagrados se lançaram à batalha contra os diabos com determinação renovada.
— Eles não conseguiriam chegar até aqui de qualquer forma — disse o sacerdote, aparentemente indiferente ao vigor do Reino Sagrado, já tendo previsto até onde poderiam ir.
Conhecendo a força da determinação humana, ele se preparou bem. Recrutar o demônio bufão fazia parte de seu plano. Não foi difícil para ele comprar um ano de tempo. O sacerdote então se virou e viu um espadachim encarando o vazio nas profundezas da escuridão.
— Venha, Karl Lindsay — chamou, antes de deslizar para dentro do buraco.
Karl olhou para suas costas, ou para o que se escondia no fundo, enquanto refletia. Já não pensava mais na família com a qual havia perdido contato. Pensava em Ignet Crecensia e Airen Farreira.
Fechou os olhos em silêncio, relembrando a batalha de alguns dias atrás. O talento de Airen era espantoso, e suas habilidades eram admiráveis. No entanto, ele não pôde competir com Ignet. Assim como Karl perdeu de forma humilhante, Airen também perdeu a consciência após ser brutalmente massacrado. Foi só isso. Mas…
“Ele a fez refletir sobre si mesma.”
Karl lembrou-se de como Ignet surgira como o vento e o derrubara antes de se afastar sem dar importância. Seu coração parecia ferver ao comparar aquele momento com o que aconteceu há poucos dias. Sentindo-se frustrado, respirou fundo.
— Vou fazer com que você olhe para trás… vou fazer com que não tenha escolha… — murmurou baixinho.
Repetindo isso para si mesmo, Karl Lindsay lançou-se na escuridão. Observou as costas do sacerdote enquanto sentia as trevas engolfá-lo, pouco a pouco. Já não lembrava quando ou como havia chegado ali. O que era certo, porém, era que não poderia mais voltar. Foi quando seus pensamentos cessaram.
Nem mesmo o diabo bufão descobriria para onde ele e o sacerdote haviam ido ao mergulharem na escuridão.
Duas semanas após seu confronto com Ignet Crecensia, Airen Farreira entrou em uma longa meditação. Contemplou por três dias sem comer, beber ou sequer dormir. Não havia problema algum. Ele não estava incerto nem ansioso como da primeira e da segunda vez que a enfrentou. Em vez disso, tentava entender como aquela nova inspiração o havia afetado.
“Ainda tenho um longo caminho a percorrer”, pensou.
O primeiro pensamento que lhe veio foi que ela era uma grande espadachim. Ele havia crescido exponencialmente nos últimos anos. Embora sentisse vergonha de admitir isso, era uma verdade inegável. Ainda assim, não conseguiu vencer Ignet. Não apenas perdeu, mas foi espancado a ponto de se perguntar se a diferença entre eles havia aumentado.
Quase riu secamente, percebendo que nem ele nem Illia poderiam superar Ignet em termos de talento.
“Mas isso não é um problema.”
De fato, Airen não se desesperou. Afinal, ele não pegou sua espada para se tornar o maior espadachim ou para derrotar Ignet Crecensia. Claro, não ignoraria seu desejo natural de competir. No entanto, se perdesse de vista o que realmente importava por causa disso, então sim, haveria um problema.
Lembrando-se do que deveria sempre priorizar e de sua própria fé, que poderia se perder em um momento de confusão, Airen Farreira despertou abruptamente de sua meditação.
— Airen! Você acordou?
— Airen! Você está bem?
— Você está bem?
Kiril, Lulu e Amelia correram para ele, preocupadas. Atrás delas, o Barão Farreira observava-o fixamente. Airen sentiu o calor do coração deles o sustentando e curando. Ele assentiu e sorriu.
— Estou bem. Desculpem por preocupá-los — disse.
Sua gratidão fluiu para eles. A troca sincera de sentimentos pareceu apaziguar o fogo que ameaçava consumi-lo.
Os dias que se seguiram foram normais. Ele treinava, saía com sua família, passava tempo com Illia ou duelava com Brett.
Por outro lado, passou a ver Lulu cada vez menos. A gata parecia deixar o castelo com frequência nos últimos tempos. Embora Airen estivesse curioso, decidiu que ela devia ter um motivo para não lhe contar. Afinal, sua amizade permanecia sólida, e isso era o que importava.
O tempo passou.
Swoosh!
As estações mudaram. A vida de Airen permaneceu a mesma. Ele empunhava sua espada e passava tempo com aqueles que lhe eram queridos.
Claro, nem tudo continuou igual. Ele via Illia e duelava com Brett com menos frequência. Os dois deviam ter atingido um momento crucial em seu caminho da espada. Mas isso não era um problema. Para ser honesto, Airen sentia-se um pouco desapontado por não poder ver sua amada com tanta frequência, mas era algo suportável.
Afinal, as palavras e os sentimentos de Illia ainda residiam em seu coração. O que compartilharam, em amor, em esgrima e em tudo mais, parecia girar dentro dele.
Mas não era apenas Illia. Muitos haviam estendido a mão para Airen de uma forma que ele jamais poderia ter imaginado quando ainda era um nobre preguiçoso.
Abençoado pelo apoio de tantas pessoas, algo começou a crescer dentro dele.
Swoosh! Woosh!
As estações passaram novamente sem grandes mudanças. Infelizmente, a esgrima de Airen também não mudou muito. Apesar de treinar todos os dias, parecia incapaz de avançar. No entanto, ele não se sentia ansioso, e de maneira alguma havia desistido. No fim das contas, sua maior preocupação era evitar o esgotamento por competitividade excessiva. Não precisava ir contra seu desejo natural de se aprimorar.
“Como era a espada de Ignet naquela época?”, ele relembrou.
Seu duelo com Ignet ajudou muito. Antes, talvez tivesse sido insuportável. Se ainda fosse o nobre preguiçoso de antes, teria se curvado diante da paixão de Ignet e jamais teria olhado para cima novamente. Também poderia ter se perdido caso negligenciasse o presente e o que estava ao seu redor ao se fixar no passado e no futuro. Agora, porém, ele aceitava o fluxo maior e a base firme que o sustentava.
O ataque de Ignet não veio como um fogo para destruir seu mundo, mas sim como um raio de sol quente. Seu pequeno broto absorveu os nutrientes e se estendeu lentamente para o céu.
Woosh! Wooosh! Swoosh!
Até então, Airen não havia percebido isso. Apenas vivia dia após dia com diligência. Às vezes, sentia-se desapontado ou exausto. Mas esses momentos eram passageiros. Airen sempre se reerguia como se nunca tivesse vacilado, empunhando sua espada mais uma vez.
O tempo passou novamente. Algo mudou na Casa de Farreira.
— Kiril? Você está vestida diferente hoje. Vai sair…?
— Hã? Ah! Tenho um assunto para resolver. Não é nada importante, mas…
— Sério? O que está acontecendo…
— Sim! Falamos depois! Tchau!
Woosh!
Airen olhou para sua irmã, confuso, enquanto ela o interrompia e saía às pressas. Considerando seu jeito habitual, isso era estranho. Embora pudesse ficar emburrada ou irritada, nunca o dispensava assim.
Mas ela não era a única. Os outros também estavam agindo de forma semelhante. Seus pais estavam ocupados um com o outro, deixando os filhos de lado. Lulu, por outro lado, mal era vista. Até mesmo Marcus, que costumava cuidar de Airen, parecia distante, muito ocupado supervisionando os novos servos. Mas…
“Bem, acho que é assim que as coisas são.”
Airen não pensou muito sobre isso. Mas sua despreocupação não vinha da indiferença para com seu próprio bem-estar. Em vez disso, ele confiava nas pessoas ao seu redor. Se ainda fosse o nobre preguiçoso, sempre à beira do desastre, eles jamais teriam coragem de desviar o olhar. Em vez disso, o vigiariam ansiosamente o tempo todo.
“Eu realmente mudei bastante.”
De fato, não eram apenas os outros que haviam mudado. Airen também havia mudado muito, tornando-se mais firme não apenas em suas ações, mas também em seus pensamentos. Não apenas havia superado sua fase de inércia como nobre, mas também havia ultrapassado seu desempenho nos últimos dias em que esteve na propriedade Lloyd. Sua determinação permaneceu a mesma, mas agora ele era mais resistente.
“Não estou mais ansioso ou preocupado.”
Houve um tempo em que se perguntava se o objetivo que escolhera perseguir era inalcançável. Seu sonho era, de fato, grande demais para ele. Afinal, quem poderia apoiá-lo ao ver como seu sonho ameaçava seu bem-estar e exauria aqueles ao seu redor? Agora, Airen entendia por que Karakhum ficara tão furioso quando ele dissera que seguiria o caminho de um herói em Durcali.
De fato, alguns ainda poderiam chamar seu sonho de arrogante, mas ele agora poderia dizer com confiança:
— Quero empunhar minha espada pelo mundo.
Ele não dizia isso por ignorância nem por estar embriagado pelo romantismo de sua vida passada. Tinha certeza de que havia se tornado mais forte. Isso, no entanto, não significava que fosse perfeito. Ainda tinha um longo caminho a percorrer. Mas já não precisava esconder seu sonho e caminhar sozinho. Aceitaria ajuda e conselhos dos outros e caminharia junto a eles, compartilhando pensamentos e crenças. Encontraria felicidade não apenas para si mesmo, mas também para os outros, e para o mundo.
Claro, esse futuro ainda estava além do horizonte, e ele não sabia quanto tempo levaria para alcançá-lo. Mas decidiu seguir com mais leveza, pelo menos em relação ao seu objetivo.
“Não é só o resultado que importa, mas também o processo.”
Com um aceno de cabeça, Airen deixou o campo de treinamento e voltou para seu quarto para continuar meditando, refletindo sobre seus sonhos e princípios.
Mas hoje, algo parecia diferente. Ao mergulhar em seu mundo interior, percebeu algo novo.
“Uma árvore…”
Mas ela não havia surgido sozinha. A água fluía conforme ele compartilhava mais pensamentos com os outros. O solo tornava-se mais firme para sustentar tudo.
De fato. A árvore não surgiu sozinha, mas com a ajuda de todos. Era por isso que era tão forte, saudável e verde.
Airen sorriu ao notar como as folhas sob a luz do sol pareciam especialmente vívidas.
A árvore ainda só chegava à sua cintura e crescia de forma frustrantemente lenta. Mas ele não se importava. Seria bom se crescesse rápido, mas não via problema em permitir que tomasse seu tempo. O que importava era que crescesse da maneira certa.
Com isso em mente, Airen utilizou a Arte dos Cinco com todo o seu coração. As cinco energias diferentes, metal, fogo, água, terra e madeira, se fundiram em um círculo. O círculo começou a girar, ganhando mais profundidade.
O tempo passou.
Já fazia cerca de um ano desde a batalha de Airen contra Ignet quando uma carta chegou.
— Um Festival de Guerreiros…?
Era um convite do Reino Sagrado de Arvilius.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.