Capítulo 282: O Desejo de Brett Lloyd (1/3)
Foram necessários alguns meses até que Airen Farreira recebesse um convite do Reino Sagrado.
Judith dedicava seu dia ao treinamento, como de costume, na residência de Khun, ou será que não?
Seu corpo brandia a espada por hábito, mas sua mente estava ocupada com a visita iminente de Brett Lloyd.
“Aquele desgraçado… O que ele quer fazer? Por que está demorando tanto?”
Era estranho. Justo quando pensava tê-lo superado, ela perdeu novamente. Normalmente, isso a deixaria furiosa. No entanto, não se sentia tão mal.
“Se você está se sentindo para baixo só porque perdeu para mim uma vez, então você já está morto. Treine mais. Se ganhar da próxima vez… eu te deixo pedir qualquer coisa.”
De fato, ela lhe enviou uma nota curta e sem emoção para incentivá-lo. Ver seu amado se motivar tanto com aquela simples carta e crescer tanto, imaginar sua expressão alegre ao dizer ‘Vou me preparar’ lhe trouxe uma certa satisfação.
“Ugh, que diabos estou pensando?”
Judith sacudiu a cabeça violentamente. Embora fizesse menos de dois anos desde que ela e Brett ficaram juntos, já o conhecia havia quase dez anos. Antes de ser sua amante, ela era sua rival, então ninguém conhecia a personalidade de Brett melhor do que ela.
Em sua opinião, o desejo dele era…
“Algo que vai me envergonhar ao extremo, certo…?” ela pensou cautelosamente.
Ela começou a imaginar as situações embaraçosas que aquele convencido adoraria, gritar ‘Eu te amo, Brett! Não posso viver sem você!’ várias vezes em uma praça lotada, se beijar em público e coisas do tipo.
Sentindo-se sufocada por sua própria imaginação, ela gritou e brandiu a espada com o rosto em chamas.
— Aaaaaargh!
Boom!
— Ugh, o que foi? Ah, é hoje, não é? Hoje é o dia da visita daquele desgraçado — comentou Khun, abrindo os olhos de sua meditação ao sentir a energia de Judith explodindo como fogo.
Embora sempre tivesse treinado se movendo e empunhando a espada, ultimamente ele vinha treinando em silêncio como Ian, não que fosse continuar fazendo isso quando havia coisas tão mais divertidas como essa.
Sorrindo, ele provocou:
— Eu posso treinar 365 dias por ano, mas acho que hoje vou tirar um dia de folga. É muito divertido te observar. Não posso perder isso.
— Cala a boca, por favor— disparou Judith.
— Não quero!
— Eu disse para calar a boca! Vou te matar, mesmo sendo meu mentor!
— Haha! Tem certeza de que tem habilidade para isso?
Swish, swish, swish!
Khun se levantou e começou a se mover com velocidade.
Compará-lo a um relâmpago ou ao vento não seria suficiente. Embora Judith tivesse as habilidades de uma mestre espadachim, não conseguia pensar em uma forma de acompanhar seu mentor.
“Maldição!”, pensou Judith furiosa, antes de fechar os olhos.
Ela estava irritada. Irritada com seu amado e com seu mentor. Mas, acima de tudo, estava irritada consigo mesma. Se fosse um pouco mais forte, poderia facilmente dar um soco em Brett e lançar Khun pelos ares.
E não era só isso. Ela não queria perder para ninguém, seja Airen Farreira, Illia Lindsay, Ignet Crecensia, Ian, Julius Hule ou qualquer um que o continente chamasse de poderoso.
Reabastecendo sua determinação, Judith soltou um suspiro quente e se concentrou na lâmina, ou tentou.
Woooosh!
Um grifo, uma criatura lendária, surgiu do céu e pousou graciosamente. Era Cherry, a criatura invocada de Kiril Farreira.
Mas algo estava diferente. Suas penas desordenadas estavam escovadas, sua cabeça parecida com a de um papagaio estava adornada, e até mesmo havia um laço amarrado em seu pescoço.
Judith olhou chocada para o grifo bem arrumado, quando Brett Lloyd desceu de suas costas. Mas ele não estava sozinho.
Hop.
— Faz tempo, Judith — disse Kiril Farreira, a mais renomada prodígio da feitiçaria no continente.
Hop.
— Saudações. Ouvi muito sobre você. Meu nome é Bill Stanton, o maior e mais elegante nobre do Reino Adan e um especialista em alta sociedade — declarou um nobre com um leve ar convencido.
Judith olhou para os dois antes de virar-se para seu amado em busca de uma explicação.
Brett sorriu.
— Judith — chamou.
— Hã? Sim? — respondeu ela.
— Tem um lugar para onde quero ir com você.
— Onde? Aliás, quem são essas pessoas? Achei que você viria sozinho. Por que…
— Ah, é que o lugar para onde vamos tem um código de vestimenta. Você também precisa se comportar.
— O que você…
— De qualquer forma, esses dois, especialmente este cara, estão aqui para te preparar para isso.
Brett olhou para Bill Stanton antes de dizer:
— Ele é um estilista magnífico, então não precisa se preocupar.
— O quê? Um estilista? O que você… — protestou Judith.
— Haha, está tudo bem. Não se preocupe. Farei o meu melhor para realçar seus encantos e esconder suas falhas, tornando-a o mais bela e elegante possível — disse Bill.
— Eu também farei o meu melhor. Podemos entrar? — disse Kiril animadamente.
— Não, quero dizer, o que todos estão fazendo… Ei, vocês não estão me ouvindo?! Ei! Ei! — gritou Judith, enquanto os dois se esgueiravam atrás dela, agarravam seus braços e a puxavam para dentro da casa de Khun.
Era realmente um fenômeno curioso. Essas pessoas não davam a mínima para o fato de um dos três maiores espadachins do continente, alguém que qualquer espadachim sonharia em conhecer, estar bem ali diante deles. Eles se importavam apenas com suas tarefas.
Khun os observou antes de cair na gargalhada.
— Que grupo engraçado — comentou.
— Kiril pode ser meio assim. Você deve saber bem — respondeu Brett.
— Aquele tal de Bill também é igual. Não parece ter juízo, mas tem talento e habilidade de sobra. Esses dois são um grupo curioso…
— É mesmo?
Brett ficou levemente surpreso. Khun raramente demonstrava interesse por pessoas além de Ian e Judith. Era incomum vê-lo falar tanto.
No entanto, o velho rapidamente mudou de assunto. Com um sorriso malicioso, perguntou ao jovem para onde ele estava indo.
Sem intenção de esconder nada, Brett respondeu:
— Estamos indo para um baile.
Ele se lembrou da história que Kiril lhe contou sobre o que aconteceu na Casa de Lindsay no ano passado, antes de Airen e Illia se tornarem amantes.
“Brandir espadas juntos é bom e tudo mais… mas às vezes, a gente também quer curtir um encontro ao modo dos nobres”, pensou Brett, recordando-se do romance e da empolgação daquele momento.
No Reino Gaveirra, um dos países mais poderosos do continente central, tudo parecia tranquilo. Embora o número de demônios tivesse aumentado significativamente, circulavam rumores de que um verdadeiro diabo estava por trás disso. E, embora muitos países estivessem sofrendo com a situação, o Reino Gaveirra não se importava. Com suas fundações fortalecidas ao longo de 160 anos, ele conseguia se manter fora do caos, pelo menos por enquanto.
— Cara, está lotado.
— É claro, estamos falando de um baile organizado pelo duque.
Naquela noite, a única casa ducal do reino estava promovendo um baile. Naturalmente, muitas pessoas que queriam ganhar o favor de um nobre de alto escalão lotaram o evento. Mas, mesmo sem esses oportunistas, a festa estava cheia. Afinal, quem recusaria o convite de um duque amante das artes? A maioria dos nobres que não tinha assuntos urgentes a tratar dirigia-se ao local para se divertir e, possivelmente, encontrar um par.
Vestidos de maneira impecável, os jovens bateram à porta da mansão do duque.
— Uau, isso é grandioso.
— Esse é o veículo mágico que o Reino Runetell inventou recentemente?
— Parece que sim. Uau, ele realmente se move sem cavalos.
— As rodas também são diferentes. Ele desliza suavemente.
O que os homens faziam para impressionar as mulheres que desejavam conquistar? Tentavam várias coisas, mas nada era tão óbvio quanto dinheiro. Não apenas os porteiros, mas muitos outros concordariam. Com o status social perdendo parte de sua importância, uma riqueza inquestionável era a melhor forma de demonstrar prestígio. Assim, a maioria dos convidados se adornava com roupas luxuosas, acessórios requintados ou relógios caros. Mais recentemente, havia algo novo: veículos.
Montado não apenas em uma carruagem extravagante, mas em uma movida pelo poder da magia, Roselio Spencer, o caçula do Conde Spencer do Reino Runetell, olhava ao redor com orgulho.
“Foi uma ótima decisão comprar isso”, pensou.
Para falar a verdade, ele foi além do que podia. Queria tanto a carruagem mágica, uma raridade mesmo no Reino Runetell, que gastou tudo o que tinha para adquiri-la. Até pediu ajuda ao pai. Isso significava que, apesar de ser filho de um conde, ele viveria na pobreza por um tempo. Mas não se arrependia.
As pessoas olhavam admiradas. Até mesmo os porteiros do duque, que já haviam recebido inúmeros nobres, não conseguiam esconder o espanto. E, acima de tudo, as damas o observavam com olhares discretos. Era uma sensação inebriante. Esse era o motivo pelo qual ele ia a bailes.
“Parece que sou a estrela da noite”, pensou Roselio Spencer, o primeiro proprietário de uma carruagem mágica de Runetell no Reino Gaveirra.
Imaginando todos comentando sobre ele no baile, ele se esforçou para manter a expressão neutra. Alguns o achavam presunçoso, mas outros estavam visivelmente encantados com sua riqueza.
No entanto, seu momento de glória não durou muito. Algo ainda mais esplêndido, impressionante e mágico, como se saído de lendas ou mitos, surgiu no horizonte.
— Hã? Uhm…
— O que é aquilo?
— É outro veículo mágico feito em Runetell?
— Não, não parece ser…
“O que é isso?”, pensou o caçula do conde, virando-se para a comoção. Sua expressão se desfez enquanto se perguntava quem diabos ousava roubar seu momento.
“Quão incrível poderia ser esse veículo?!”
Mas ele teve que engolir suas palavras imediatamente. Afinal, o que mais poderia fazer ao ver um grifo puxando uma carruagem pelo céu com uma graça que a carruagem de Runetell jamais poderia alcançar?
Todos, inclusive Roselio Spencer, ficaram paralisados de choque, sem nem mesmo sentir inveja. Foi então que alguém finalmente desceu da carruagem.
“Brett Lloyd!”
“Ouvi dizer que o filho mais velho da Casa Lloyd tem laços com uma feiticeira… Então é por isso que ele usou uma carruagem mágica!”
“Uma carruagem mágica já é algo raro o suficiente, mas agora isso! Estamos vendo coisas incríveis esta noite…”
“Mas quem é aquela mulher ao lado dele?”
Todos olhavam curiosos para Judith, que ainda não havia feito seu nome no continente, enquanto ela se mexia desconfortavelmente ao lado de Brett Lloyd, o partido número um do Reino Gaveirra, que se tornara mestre espadachim no início de seus vinte anos.
Em especial, as mulheres a encaravam com hostilidade.
— Ugh…
Judith sentiu-se desconcertada, envergonhada por estar em um ambiente desconhecido, vestindo um vestido vermelho que parecia estranho em seu corpo. Os olhares apenas pioravam as coisas.
Lançando um olhar para seu amado, ela sussurrou: — Desculpa, mas eu não consigo. Sério… Eu não aguento isso, então… pode escolher outro desejo?
Brett se virou, olhando firme para ela.
Após encará-la por um longo tempo, comentou: — Se não queria isso, deveria ter vencido.
— Merda…
Judith corou mais do que o próprio vestido vermelho.
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