Capítulo 283: O Desejo de Brett Lloyd (2/3)
O baile começou. Sendo a primeira festa que o Duque Clancy organizava em muito tempo, muitos compareceram à ocasião. Os jovens se divertiam alegremente com música, bebidas e dança, enquanto os adultos mais velhos os observavam com carinho.
Mas, se havia alguém de quem todos falavam, era Brett Lloyd, o filho mais velho do Conde Lloyd.
— Há quanto tempo Brett Lloyd não aparece em um baile?
— Acho que o vi há um ano… mas certamente ele não vem com frequência.
— Certo. Suponho que ele não teria se tornado um mestre espadachim tão jovem se estivesse interessado em eventos sociais.
— Mas parece que ele ainda fez o que todo mundo faz — comentou um nobre de meia-idade com um sorriso.
Seu companheiro lançou um olhar para quem ele observava e também sorriu.
— Certo. Não se deve esquecer de amar, não importa o quão ocupado se esteja, especialmente na juventude.
— De fato.
Eles não eram os únicos a reagir de forma positiva. A maioria das pessoas também via a cena com bons olhos. Afinal, quem culparia um jovem diligente que orgulhava o reino por estar apaixonado?
Infelizmente, nem todos compartilhavam desse sentimento. Para ser mais exato, não pareciam gostar da pessoa ao lado de Brett Lloyd.
— Quem é essa?! — exclamou Elsa Collins, uma bela dama que recentemente vinha ganhando destaque na alta sociedade.
Ela gostou de Brett à primeira vista. O maior prodígio do reino parecia uma dádiva divina depois de tantas decepções com a falta de homens à altura de suas expectativas. Mas o bom humor de Elsa durou apenas até perceber uma mulher desconhecida ao lado do jovem mestre Lloyd.
“Cabelos vermelhos, estatura alta… Quem pode ser? Não me lembro de nenhuma mulher assim neste reino.”
Ela logo concluiu que a resposta não estava ali. Elsa lembrava-se de todas as mulheres não apenas do Reino Gaveirra, mas também dos países vizinhos que poderiam ser suas rivais. No entanto, por mais que tentasse, não conseguia identificar aquela mulher. Começou a se perguntar se a desconhecida não viria do continente central.
“Sim, essa parece ser a explicação mais plausível. Brett Lloyd vagou pelo continente por muito tempo para aprimorar sua esgrima. Talvez tenha encontrado essa mulher pelo caminho.”
Elsa Collins tomou um gole de seu vinho. O álcool alimentou sua inveja, seu ciúme e sua raiva. Ela já estava observando Brett Lloyd e a misteriosa mulher por meia hora quando sua expressão mudou. Algo que nunca imaginaria ver em um baile continuava acontecendo diante de seus olhos.
“O que diabos é isso?”, pensou.
Ela até podia entender se a mulher não soubesse dançar bem. Não que estivesse fazendo um trabalho terrível. Embora seu ritmo estivesse fora de sincronia, seus movimentos eram exatamente os de uma cavaleira.
Porém, Elsa simplesmente não conseguia compreender os bocejos sem cobrir a boca, as conversas enquanto mastigava e todo o resto que era completamente inaceitável em um evento daquele nível. Mesmo que alguém nunca tivesse ido a um baile antes, não poderia agir assim. Era como se…
“Parece que ele simplesmente pegou uma plebeia qualquer da rua…”
Foi quando seu cavaleiro se aproximou silenciosamente para fazer um relatório. Assim que viu a estranha, Elsa Collins ordenou que descobrissem sua identidade o mais rápido possível. Felizmente, não parecia ter sido tão difícil.
Um minuto depois, Elsa riu com desprezo ao finalmente descobrir quem a mulher era.
— Hah! Então ela é uma plebeia! — murmurou.
— Minha senhora, ela pode ser uma plebeia, mas é uma aluna oficial da Academia de Esgrima Krono… — começou o cavaleiro, mas parou ao perceber o olhar cortante de sua mestra. Recolheu-se em silêncio, enquanto Elsa nem se deu ao trabalho de lançar-lhe outro olhar.
Ela, por outro lado, estava furiosa. Sentia-se humilhada só de pensar que havia sido superada por uma plebeia.
— Hmph…
Mais uma hora se passou. Elsa Collins continuava observando Brett e Judith. Alguns homens se aproximaram para convidá-la para dançar, mas ela os ignorou. Estava muito ocupada pensando em como humilhar aquela mulher plebeia. Então, finalmente, sua chance chegou.
Os dois se separaram. Por algum motivo, Brett Lloyd se afastou, deixando Judith sozinha, olhando ao redor e mordiscando alguns biscoitos com uma expressão apática.
“Ugh, olhe só para ela mastigando aquele biscoito. Que visão desagradável.”
Talvez seus pensamentos tenham alcançado a mulher plebeia, porque ela olhou ao redor mais uma vez antes de seguir em direção à saída. Devia estar indo dar uma volta.
Com um aceno discreto, Elsa a seguiu, acompanhada por um grupo de suas amigas nobres.
— O que eu estou fazendo aqui… — murmurou Judith, mastigando um biscoito antes de olhar para si mesma.
O opulento vestido vermelho, os belos acessórios em seu pescoço, o leve traço de perfume, nada disso combinava com ela. Nem aquele lugar, nem aquelas pessoas.
Judith se sentiu deslocada ao observar os convidados sorrindo com elegância até mesmo ao beberem água. Tudo ali gritava que ela não pertencia àquele ambiente.
“Vou sair um pouco para tomar ar…”
Foi exatamente por isso que deixou o salão. E foi quando alguém lhe dirigiu a palavra.
— Está procurando um lugar para caminhar?
— Hã? Ah, sim, está um pouco quente aqui…
— Entendo. Aquele lado não está aberto ao público, então receio que não encontrará nada lá. Se me permite, posso levá-la a um belo jardim.
— Oh… uh… tudo bem — respondeu Judith, hesitante, assentindo com a cabeça.
Ela se sentia nervosa e confusa. Seria aquela mulher alguém da Casa Clancy? Não parecia. Mas como conhecia o interior da propriedade? Talvez já tivesse estado ali muitas vezes. Bem, fazia sentido, considerando seus traços delicados e seus modos elegantes.
“E como eu estou parecendo agora…?”, pensou Judith.
Será que parecia uma caipira? Ela realmente tentou o máximo para não envergonhar Brett…
Judith sacudiu a cabeça. Isso não ia resolver nada. Se continuasse pensando assim, só se sentiria pior.
Decidindo mudar sua postura, ergueu o olhar para a mulher diante dela, ou melhor, para suas pernas.
“Que finas. Parece que quebrariam com um único chute baixo.”
Reconhecendo que aquele não era um pensamento apropriado para um baile, ela parou de divagar e seguiu a mulher sem pensar muito, ou tentou, antes que a loira diminuísse o ritmo e se colocasse ao seu lado.
Porém, seus planos logo se mostraram inúteis.
— Imagino que nunca tenha ido a um baile antes? — perguntou a mulher com um sorriso.
— Uh… acho que não — respondeu Judith.
Ela não se sentia confortável. Para falar a verdade, queria estar sozinha. Mas não conseguia recusar alguém que, com um sorriso, lhe oferecia ajuda. Afinal, ela já não era mais a criança inconsequente de antes. Sabia como funcionavam os costumes sociais. A menos que alguém a atacasse primeiro, precisava manter a compostura. Essa era uma das valiosas lições que aprendeu na Academia de Esgrima Krono.
Claro, isso não significava que participasse ativamente da conversa. Não conseguia. Afinal, não havia como Judith conversar com facilidade com uma dama da nobreza, uma mulher tão delicada que parecia nunca ter trabalhado um único dia na vida.
Pior ainda, a mulher só falava sobre bailes e festas. Quando não, falava sobre política, economia, cultura e artes, o que deixava Judith ainda mais nervosa. Ela se sentia perdida. Não tinha nada para dizer.
Começando a pensar que preferia lidar com mercenários bêbados em uma taverna, sentiu o medo crescendo dentro de si.
“Mas isso não é sobre mim e ela…”
Era sobre ela e Brett. Pela primeira vez, Judith percebeu que ela e Brett vinham de mundos diferentes. E agora que percebeu, não conseguia mais ignorar.
Seu rosto se entristeceu quando a mulher disse algo que não podia ignorar.
— Ah, veja só! Nem me apresentei ainda! Me desculpe — disse a mulher.
— Oh, não tem problema… — tentou responder Judith.
— Sou Elsa Collins, a segunda filha da Casa Visconde Collins. Você deve conhecer o nome. A Casa Collins é famosa por nossos perfumes.
— Ah…
— A propósito, o perfume que você está usando agora é da nossa marca.
— Hã? Isso…
— Ah, entendo. Você não sabia. Tudo bem, isso pode acontecer.
— Mas ainda assim…
— A propósito, gostaria de saber — disse Elsa, parando no meio do caminho e virando-se para encarar Judith.
— Qual é o seu nome?
Mas aquela não era uma pergunta sobre seu nome, e sim sobre sua casa e seu status social.
Percebendo o que a mulher queria dizer, Judith hesitou.
“O que eu devo fazer?”
Se alguém lhe perguntasse, ela diria que não se envergonhava de ser uma plebeia. Claro que não, ou pelo menos, era o que pensava. Esse era o espírito do continente nos dias atuais. Embora as coisas pudessem ter sido diferentes séculos atrás, a maioria das pessoas acreditava que o status social não importava, contanto que a pessoa tivesse habilidade.
Mas, por algum motivo, Judith sentiu-se desconfortável. Para sua própria surpresa, não conseguiu se apresentar com orgulho.
“Não, eu já sei por que me sinto assim.”
Brett Lloyd era um nobre de alta estirpe vindo de um reino poderoso, enquanto ela era uma órfã dos becos de um cortiço. Por mais que suas habilidades fossem comparáveis, não podiam ignorar o fato de que vieram de dois mundos completamente diferentes.
Judith permaneceu hesitante, seu rosto demonstrando conflito. Foi então que a mulher voltou a falar.
— Acho que você sabe o quanto é embaraçosa — disse Elsa.
— Quero dizer, estou mentindo? Você não consegue dizer nada porque não tem um sobrenome. Você sabe que tem vergonha de si mesma.
— Estou errada?
Judith a encarou, pasma. A mulher parecia uma pessoa completamente diferente. Elsa Collins exalava veneno, como se não fosse a mesma dama amável de antes. E ela não estava sozinha.
— Provavelmente não. Se ela tivesse um pingo de vergonha, não teria ficado parada no salão daquele jeito.
— Pois é. Andava por aí sem um pingo de decoro.
— Sério? É mesmo?
— Não tem jeito com plebeus, não é?
Damas surgiram de todos os lados para se juntar a Elsa Collins. Judith sabia que havia outras pessoas por ali, mas pensou que estavam apenas tomando ar, assim como ela. Mas, pelo visto, esse não era o caso. Aquelas mulheres estavam ali apenas para humilhá-la.
— Ah, a propósito, aqui está. Pode ver isso, senhorita Judith? — perguntou Elsa, apontando graciosamente para um lugar.
Era um portão que levava para fora da propriedade do duque.
Judith o encarou em silêncio. Elsa sorriu e acrescentou:
— Deve ser bastante doloroso estar em um lugar onde não pertence. Que tal isso? Não se force a permanecer em um local para nobres. Jogue fora esse vestido e apenas vá…
Mas Elsa não conseguiu terminar sua frase. Judith se virou abruptamente e caminhou na direção oposta. As damas riram, comentando sobre o orgulho inútil da garota de origem humilde. Continuaram a insultá-la até que ela parou diante de uma estátua.
Crack!
A estátua de um tigre era elegante e robusta. Afinal, era feita de puro aço. Mas seu material não significava nada para Judith, que invocou sua aura de fogo.
Com um puxão, arrancou o rabo da estátua e se virou.
Tap.
Tap.
Tap, tap.
Crack, craaack!
Crack!
Judith caminhou em direção às damas, segurando firmemente o pedaço de metal.
Envolvida em uma aura escarlate e fervente, a cauda do tigre queimava em brasa enquanto formava um círculo.
Ninguém ousou se mover ou falar.
Em silêncio, Judith se aproximou de Elsa Collins.
Ninguém a impediu.
— Fiz esta pulseira como um presente de agradecimento — disse com um sorriso.
— Não aceito um não como resposta.
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