Capítulo 284: O Desejo de Brett Lloyd (3/3)
Elsa Collins. Apesar de ter apenas dezenove anos, ninguém na alta sociedade ousava ignorá-la. Além de possuir beleza e elegância, sua família era incrivelmente rica. Era uma combinação que poucos tinham. Com seu carisma, eloquência e ferocidade, até mesmo os nobres de alto escalão, incluindo condes, evitavam qualquer confronto com ela.
No entanto, naquele momento, nada disso importava.
Olhares ameaçadores? Discussões? Tudo isso parecia brincadeira de criança. Elsa Collins sentiu um medo que jamais havia sentido antes ao encarar o metal em brasa fumegando diante dela.
Suas seguidoras, e até mesmo seus cavaleiros, que estavam ali para protegê-la, sentiram o mesmo. Como guerreiros treinados na esgrima por pelo menos dez anos, eles sabiam muito bem o que significava a energia ao redor da mão daquela mulher: aura. Tremeluzente como uma névoa sob o calor do verão, não era tão compacta quanto a dos mestres espadachins, mas o simples fato de ser visível já era impressionante o suficiente. Aquela mulher não era apenas uma especialista, mas uma das que estavam no topo.
“Judith… Eu sabia que ela era da Academia de Esgrima Krono, mas nunca imaginei que fosse tão poderosa!”, pensaram os cavaleiros.
“Ouvi as histórias sobre ela na Terra da Provação, mas achei que fossem apenas exageros daqueles que gostam de narrativas dramáticas sobre plebeus que mudam seus destinos…”
De fato, eles precisavam admitir que estavam errados. As histórias não eram exageradas. Na verdade, mal faziam jus à realidade.
Ninguém ousou impedir Judith, que permanecia ali como um vulcão prestes a entrar em erupção. Incapazes de cumprir seu dever, os cavaleiros se viram nas garras da bruxa escarlate.
Mas…
Woosh!
— Vão. — disse Judith.
Dissipando sua energia, Judith jogou de lado a cauda do tigre que segurava.
Retirando completamente sua aura, gritou mais uma vez para Elsa Collins, seus seguidores e seus cavaleiros:
— Eu disse para sumirem, a menos que queiram me ver realmente irritada.
Finalmente voltando a si, o grupo recuou. Os cavaleiros e as damas, incluindo a insuportável Elsa Collins, fugiram em silêncio, apavorados. Todos aqueles que participaram daquela patética encenação fugiram com o medo cravado no peito, um medo que carregariam pelo resto de suas vidas. Nenhum deles voltou para o salão, e sim direto para suas casas. Afinal, ninguém seria louco o suficiente para continuar aproveitando a festa depois daquilo.
“O mesmo vale para mim…”, pensou Judith com um suspiro.
Ela se sentia dividida. Sua mente estava repleta de pensamentos. O que era certo, no entanto, era que ela não pertencia àquele lugar.
Cerrando o punho, Judith fitou o portão pelo qual as damas haviam fugido. Foi então que uma voz clara se fez ouvir.
— Boa noite.
Judith lançou um olhar duro para a pessoa que falara antes de, finalmente, responder.
Às vezes, alguém não podia ser ignorado, mesmo sem saber esgrima, magia ou feitiçaria. Mesmo que fosse fácil empurrar essa pessoa com a ponta do dedo, simplesmente não se podia deixá-la de lado. A mulher diante de Judith era uma dessas pessoas. Vestida primorosamente, ela exibia um sorriso gentil, apesar da agressividade de Judith.
“Ela não tem nada a ver com o que acabou de acontecer…”, pensou Judith.
Ela não podia descontar sua raiva em uma pessoa assim. Mas isso não significava que faria questão de ser gentil.
— Sim, boa noite. Bem, então… — disse Judith de forma curta antes de se virar.
Ela estava cansada. Não queria conversar com ninguém nem por um instante a mais. Voltou-se para a direção em que as nobres arrogantes haviam fugido.
Ela sentia pena de Brett, mas não conseguia mais suportar aquilo. Pediria desculpas mais tarde por não ter concedido seu desejo.
Mas não pôde.
— Me desculpe, mas você não pode simplesmente ir embora assim. Você deve pagar pelos danos. — disse a mulher.
Judith se virou, curiosa.
Sua confusão, no entanto, não durou muito. Ao olhar para a estátua do tigre, agora sem cauda, para a qual a mulher apontava, Judith entendeu quem ela devia ser.
— Você é…? — murmurou.
— Sim, essa estátua me pertence. — respondeu a mulher.
— Esqueci de me apresentar. Sou Liliana Clancy, filha do Duque Clancy.
— Eu sou Judith. Uh… — Judith hesitou.
Mais uma vez, teve que se apresentar desconfortavelmente como uma plebeia. Também sentia certo pesar por ter danificado a propriedade da jovem. No entanto, ao mesmo tempo, sentia-se indignada por ter acabado naquela situação para começo de conversa. A mistura de sentimentos a fez exibir uma expressão tola.
Ela não sabia o que dizer. Mas não era um problema.
Andando até ela de maneira leve como um pardal, Lady Liliana Clancy disse:
— Uma conversa.
— Isso já seria um pagamento suficiente. Poderia me conceder um momento do seu tempo?
Judith não teve escolha senão assentir.
— Eu sei! Ele está completamente fora de si, não está? Aquele desgraçado é inacreditável… Não dá para acreditar que se fazia de cavalheiro em seu país natal! — disse Judith.
— Hmph, acho que ele não estava fingindo. As pessoas podem agir de maneiras diferentes dependendo da situação… — respondeu Liliana.
— Ainda assim, isso é um pouco… Ugh, que irritante! Aaargh!
Conversar com Liliana era muito mais fácil do que com Elsa. Era estranho. A conversa começou com um tom elegante, como qualquer outra, e Judith não estava acostumada a falar sobre assuntos que exigiam refinamento.
No entanto, falar com Liliana era surpreendentemente mais natural.
Após alguns minutos, Judith até se pegou falando de Brett espontaneamente.
“Mas ainda me sinto desconfortável…”, pensou Judith, sem conseguir se livrar do incômodo.
Era porque não gostava de Liliana?
Claro que não. Na verdade, era o contrário.
Liliana era uma pessoa incrível, compreensiva e atenciosa, apesar de ser filha de um duque.
Mas esse era exatamente o problema.
“No mundo dos nobres, nem uma pessoa gentil nem uma pessoa desprezível é como eu…”, pensou Judith.
De fato. Elsa Collins, que a insultou e humilhou, não era como ela. Da mesma forma, Liliana Clancy, que a tratou com gentileza, também não era como ela. No entanto, elas não eram as únicas. Pensando bem, todos os presentes na festa eram diferentes dela. Eles nasceram e cresceram de formas distintas. Tinham humores e pensamentos diferentes. Em outras palavras, aquele mundo nobre não lhe pertencia.
“Talvez Brett e eu não possamos ficar juntos…”, pensou Judith.
Mas essa ideia não era nova. Era algo que já havia passado por sua cabeça antes mesmo de levar Brett a sério como amante. Ele simplesmente entrou em sua vida antes que pudesse pensar muito sobre isso. Agora, esse pensamento retornava, e seu rosto foi se tornando cada vez mais rígido.
— Judith? — chamou Liliana, percebendo a mudança em sua expressão.
Para ser justa, essa não foi a primeira vez que Liliana notou a mudança. Judith começou a falar cada vez menos. Seu rosto hesitava, e seus olhos carregavam preocupação. Rápida em captar o humor dos outros, Liliana percebeu que Judith não estava se sentindo à vontade. No entanto, aquilo não parecia ser culpa sua. Então…
Foi quando Judith soltou um riso sem graça e disse:
— Acho que já vou indo.
— Hã? O que você… — murmurou Liliana.
— Eu realmente não acho que pertenço a este lugar. Não me entendo com as pessoas, o ambiente… ah, não estou tentando falar mal daqui. Só sinto que… me faltam modos e cultura demais para estar aqui. Por favor, não me entenda mal.
— Não se preocupe.
— Uh, então… Com licença. Obrigada por tudo.
Judith se curvou. Sabia que Brett não a trouxe ali para zombar ou humilhá-la. No entanto, os acontecimentos daquela noite a ensinaram que não seria fácil para eles ficarem juntos.
— Ah, por último… Se puder dizer algo a Brett… Diga que estou indo para casa mais cedo porque estou cansada.
— Uh, com licença… ah, espere, acabei de dizer isso. De qualquer forma, obrigada por relevar a questão da cauda do tigre. Bem, então…
— Então…
— Você sabe o que significa vir a um baile com um acompanhante? — perguntou Liliana, assim que Judith se preparava para sair.
Ela não conseguiu continuar andando. Para ser sincera, queria saber a resposta. Mas estava envergonhada demais para se virar imediatamente, então ficou parada. Felizmente, Liliana continuou falando.
— Não é nada demais — disse.
— Antigamente, só se podia vir a um baile com alguém se ao menos estivessem noivos. Hoje em dia as coisas são mais livres. As pessoas normalmente vêm a um baile apenas porque gostam um pouco uma da outra ou simplesmente porque não encontraram um par.
— Certo. Não há como eu atribuir um significado desses…
— Mas ainda existem aqueles que desejam manter a tradição.
— Claro, não sei se Brett Lloyd é um desses— ah, ali vem ele.
— Hã?
Judith se virou, chocada. E de fato. Brett Lloyd se aproximava delas à distância. Mas o que a incomodava não era o fato de não ter percebido ninguém se aproximando antes de uma dama comum, mas sim que o próprio Brett Lloyd estava vindo até ela.
— Judith — chamou ele.
— Brett — respondeu Judith.
— Ah, achei que você estivesse apenas tomando um ar. Por que não voltou… hã?
— O quê?
— Nada, é que você parece ainda mais bonita do que antes. Não pude deixar de admirar isso.
Thud!
— Ah, ugh… Espera, você realmente… Isso não é uma piada, é? Ai, dói! — gritou Brett.
— Cala a boca. Não diga nada. — rosnou Judith.
— O quê? É pecado chamar alguém de bonita?
— Ugh, eu disse para parar.
Thud, thud, thud!
Judith espancou seu amado sem piedade. Brett recebeu tudo com uma mistura de exagero e sinceridade, enquanto Liliana observava com um sorriso.
Por fim, ele parou de brincar e se curvou graciosamente.
— Obrigado por passar um tempo com minha namorada desajeitada. — disse ele.
— O que quer dizer? Ela é uma ótima pessoa. — respondeu Liliana.
— Concordo, mas muitos discordam…
— Eu disse para calar a boca… — rosnou Judith.
— Ugh. De qualquer forma, obrigado por cuidar dela com tanta gentileza. Podemos ir?
Liliana assentiu, e Brett se curvou novamente. O homem de cabelos azuis e a mulher de cabelos vermelhos se afastaram.
Liliana observou o casal discutindo o caminho inteiro.
— Acho que realmente não tenho chance alguma. — murmurou, melancólica.
Bem, ela já sabia disso. Foi exatamente por isso que disse o que disse. Mas ao ver os dois sendo tão perfeitos um para o outro…
— Eu deveria parar… — disse Liliana a si mesma.
Balançando a cabeça firmemente, mas com graça, ergueu o olhar para o céu.
O vento estava frio naquela noite, mas não parecia tão ruim.
Após o breve encontro com Brett Lloyd, Judith passou a treinar ainda mais intensamente.
Ela se sentia dividida. Tanto seu mestre, que lhe dizia para nunca recuar, quanto Brett, que parecia estar planejando um futuro com ela, a deixavam sobrecarregada.
Eu… Eu nem sei se consigo fazer isso, pensou.
Ela era confiante, ou, melhor, determinada e teimosa, o suficiente para acreditar que se tornaria a melhor espadachim. Mas era só isso. Não conseguia imaginar facilmente um futuro feliz com alguém. Isso lhe parecia ainda mais difícil do que se tornar a melhor espadachim. Afinal, isso não era algo que pudesse alcançar sozinha. Era algo que teria que construir com outra pessoa.
“Será que uma pessoa egoísta e rabugenta como eu consegue fazer isso?”
Sua própria dúvida a surpreendeu. Embora seu mestre, seu amado e seus amigos confiassem nela e a apoiassem incondicionalmente, às vezes, ela sentia que esse incentivo era demais.
Ela não sentia que merecia. Afinal, ficava aquém deles em todas as áreas, exceto na esgrima. E era por isso que se agarrava tanto à espada. Ela queria fugir desse dilema…
— Droga! — Judith grunhiu.
Ela sabia que isso não estava certo.
Estava demonstrando uma covardia semelhante à de Airen no passado, quando ele lhe contou sua história. No entanto, era difícil. Ela não conseguia encarar seus próprios pensamentos, então buscava refúgio na lâmina.
Claro, isso não significava que estivesse apenas fugindo. Canalizando sua fúria contra suas próprias falhas, Judith fez sua espada queimar ainda mais quente.
O tempo passou, e as estações mudaram.
— Hmph? Isso é… — murmurou ao pegar uma carta.
Não era muito diferente da que Airen Farreira havia recebido. O Festival dos Guerreiros, uma competição ainda mais feroz do que a da Terra da Provação, estava prestes a começar.
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