Capítulo 285: O Crescer de uma Árvore (1/2)
Agora, todos sabiam que os diabos haviam reaparecido. Mas como não saberiam, quando os demônios prosperavam e rumores sobre ataques secretos dos diabos circulavam havia dois anos?
Diante de uma ameaça que não enfrentavam há 160 anos, as pessoas tremiam. O comércio enfraquecia, e a interação entre o oeste e o leste, que permanecia relativamente seguro, também diminuía.
É claro que a situação poderia ter sido pior.
— Por mais terríveis que sejam os diabos, os cavaleiros sagrados e os sacerdotes do Reino Sagrado podem enfrentá-los com facilidade!
— Sim, é claro! Além disso, não é como se tivéssemos apenas Arvilius para depender!
— Certo! Temos o Reino Runetell e os Cinco Reinos do Oeste. O poder da Academia de Esgrima também cresceu exponencialmente!
— Sim! Ouvi dizer que agora não há apenas cem, mas quase duzentos mestres espadachins!
No momento, o reino humano ostentava um poder sem precedentes na história. Não apenas possuía o Reino Sagrado de Arvilius, que não descansou durante os 160 anos de paz e fortaleceu sua influência, como também contava com o Reino Mágico Runetell, uma nação reclusa, mas poderosa, os reinos do oeste, com suas cinco prestigiadas famílias de espadachins, e a Academia de Esgrima, que elevou os padrões de todo o continente.
Eles podiam fazer isso. Não, eles tinham a vantagem, pelo menos enquanto tivessem os três melhores e os outros dez maiores espadachins do continente.
Além disso…
— Você ouviu?
— O quê? Ah… o Festival dos Heróis?
— Sim, o torneio de esgrima organizado por Arvilius! Ouvi dizer que cerca de vinte mestres espadachins vão participar. Não, talvez sejam ainda mais.
— Eu também ouvi. E não são apenas os já renomados, há muitos outros espadachins poderosos.
— Dizem que são bem jovens também. Isso é um alívio.
— Sim. Para falar a verdade, já estávamos preocupados. Aqueles mestres, especialmente os três espadachins e os cinco chefes das famílias, estão envelhecendo. Então, é bom saber que há muitos jovens talentosos para cuidar do mundo quando eles partirem.
— Sem dúvida.
— Quero dizer, eles organizaram esse evento justamente porque sabem quão habilidosos são os participantes, certo? Segundo os rumores, a Condessa Crecensia já…
— Os mestres espadachins do sul também…
É claro que alguns reclamavam que tais frivolidades eram absurdas, quando todos deveriam estar caçando os diabos. No entanto, muitos mais ficaram animados com a notícia. Afinal, as pessoas também compartilhavam da mesma preocupação do Diretor Ian e do Reino Sagrado: um dia, os titãs que sustentavam o continente poderiam não estar mais ali.
Assim, todos aguardavam ansiosamente o torneio, que reuniria jovens espadachins com menos de sessenta anos. O evento, de fato, traria esperança para todos. Era esse o objetivo de Arvilius, extinguir o medo dos diabos e fechar as portas para o reino demoníaco.
— Ele vai participar, certo?
— Mas é claro, quem mais além do nosso jovem mestre?
— Sim! Esse evento é pelo futuro do continente. Não podem deixar de fora Lorde Farreira. Ele é jovem e talentoso!
— Bem, espero que ele vença.
— Haha, seu tolo. Ele pode ser talentoso, mas isso não será fácil. Até mesmo os jovens mestres espadachins estão na casa dos quarenta ou cinquenta anos… Eles têm o dobro da experiência do nosso jovem mestre.
— Isso é verdade. Sem contar que também temos a Condessa Ignet Crecensia.
— Sim. Há até rumores de que o torneio foi feito para destacar o poder da capitã. Mas quem sabe?
— Claro, claro! Nosso jovem mestre é um gênio entre os gênios!
— Hahaha, isso mesmo! Vamos beber!
O Festival dos Heróis, organizado pelo Reino Sagrado, mudou rapidamente o clima sombrio que pairava sobre o continente. Dos grandes centros urbanos ao campo, a empolgação tomou conta das conversas. No entanto, nenhum lugar estava tão animado quanto a propriedade Farreira. Afinal, Airen Farreira era um dos poucos prodígios do continente, ao lado de Ignet. Eles não tinham escolha senão se empolgar.
Todos torciam para que Airen fosse bem-sucedido. Que ele elevasse o nome dos Farreira e retornasse como um herói, de modo que nenhum demônio ou diabo ousasse desafiá-lo.
Isso era esperado. Gerald Moser, membro dos Cavaleiros Vermelhos, concordava enquanto observava a opinião pública de um canto da taverna.
Contudo, embora sua mente compreendesse a situação, seu coração não aceitava. Ele franziu a testa ao imaginar seu mentor, que agora repousava no quarto.
“Eu sei que ele é uma pessoa importante, mas…”
Gerald sabia que o torneio tinha um propósito, mostrar ‘o futuro do continente’, e foi por isso que se deu ao trabalho de vir até ali. Farreira era o único que ainda não havia respondido ao convite. Infelizmente, isso significava que seu frágil mentor precisou fazer uma longa viagem.
Gerald Moser suspirou. No ano passado, seu mentor ainda estava em forma o suficiente para fazer parte dos Inquisidores, a força secreta de Arvilius. Infelizmente, o envelhecimento repentino o tornara mais fraco do que um especialista. Ele talvez nem sobrevivesse até o fim do Festival dos Heróis. Ainda assim, insistia que precisava garantir a participação de Airen Farreira. Se necessário, usaria até mesmo sua própria fragilidade como carta de simpatia. Essa era sua última responsabilidade antes de retornar ao divino.
Foi por isso que Gerald acabou na propriedade Farreira. Queria cuidar de seu mentor e tentar realizar seu último desejo. No entanto, não conseguia evitar o conflito interno.
“Aquela pessoa estava certa”, pensou, assentindo para si mesmo.
Um dos clientes bêbados argumentara que o Reino Sagrado estava organizando o evento apenas para exibir Ignet Crecensia. E isso era verdade, ou pelo menos, ele acreditava nisso como membro dos Cavaleiros Sagrados de Arvilius.
Recordar a luta entre o Capitão dos Cavaleiros Brancos e o Capitão dos Cavaleiros Negros no ano passado ainda o enchia de emoção. Também o fazia ter esperança em um futuro mais brilhante. Embora não dissesse que os outros eram inúteis, não via razão para tanto alarde. A Condessa Crecensia era mais do que suficiente para elevar o ânimo do continente.
Foi então que seu mentor desceu do segundo andar.
— Senhor! — exclamou.
— Haha, por que está tão surpreso? — respondeu o mentor.
— O senhor deveria descansar um pouco mais. Por que…
— Não consigo dormir. Acho que seria melhor partirmos agora.
— Mas…
Gerald Moser o encarou com preocupação. Seu mentor fora quem o resgatou e criou quando era um órfão. O homem era mais um pai do que um mestre. Ver essa mesma pessoa se esforçar tanto pelo bem do continente, sem se preocupar com seu próprio bem-estar, quase o fazia chorar. E, naquele instante, também começou a pensar mais em Airen Farreira.
— Entendido. Irei me preparar — respondeu.
— Hoho. Você acha que há um motivo para ele não estar participando? Espero que não seja nada sério… — disse seu mentor.
— Não acredito que seja nada demais. Tenho certeza de que ele aceitará agora que o senhor está aqui.
Gerald Moser assentiu enquanto olhava para o mentor. Para ser sincero, não se importava tanto se Airen Farreira participaria ou não do torneio. O que realmente importava era se ele havia crescido o suficiente para satisfazer seu mestre.
“Espero que sim”, pensou o cavaleiro sagrado, enquanto ele e seu mentor se preparavam para visitar o castelo.
Airen Farreira estava sentado de olhos fechados no centro do campo de treinamento. Mas sua visão não era de escuridão. Ele contemplava o mundo interior que cultivara ao longo de mais de dez anos. A paisagem, o clima e a sensação eram os mesmos de sempre, como se estivesse olhando para um sonho antigo.
Contudo, não sentia como se estivesse em um lugar atemporal e imutável. Ao erguer os olhos para o céu, viu que a árvore, não, sua fé, havia crescido.
“Tive sorte quando essa árvore surgiu.”
De fato, não podia dizer outra coisa. Sua jornada começara na tentativa de acalmar o aço em seu coração. Mas até isso lhe fora difícil, até que recebeu a ajuda de muitos outros. No entanto, antes que percebesse, o fogo ardera. A água veio para mantê-lo sob controle. Em seguida, surgiu o coração da terra para sustentar tudo. Não fora sua intenção, mas o destino criara um solo vasto e firme, fertilizado pela água e abençoado por um sol quente. E foi desse solo que cresceu uma árvore…
“Mas não posso apenas contar com a sorte e ficar de braços cruzados…”, pensou Airen, olhando para cima antes de se levantar para encarar a estaca de aço.
Mas já não era uma estaca. Aquecida e forjada, tornara-se uma grande espada. Ele estendeu a mão, e a lâmina encolheu para voar até sua palma.
Airen examinou a arma antes de se erguer no ar, brandindo a espada com um sorriso.
Snip.
Slash, slash!
Para que a árvore, ou sua crença, crescesse corretamente, ele não apenas precisava criar o ambiente adequado, mas também continuar se esforçando, como fazia agora.
O fluxo da água, o solo firme e os raios de sol aquecidos ajudavam a árvore. No entanto, não podiam controlar o crescimento desordenado de seus galhos. O papel de Airen era guiá-los. Sua energia metálica, sua espada, era a ferramenta para isso.
Swish! Slash! Swish!
Airen desferiu golpes no ar como se estivesse em transe. Sua lâmina cortava os galhos.
No mundo real, já não estava mais sentado no campo de treinamento. Ele se erguera. Em sua mão, segurava firmemente sua grande espada de feitiçaria.
Quando sentiu uma presença, uma hora já havia se passado.
Airen Farreira abriu os olhos e viu dois cavaleiros sagrados. Reconheceu um deles, mas não o outro. No entanto, ambos o encaravam com a mesma expressão. Seus olhos estavam marejados.
Sentindo-se ligeiramente desconcertado, o jovem lorde da Casa de Farreira sugeriu:
— Aceitariam uma xícara de chá?
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