Capítulo 286: O Crescer de uma Árvore (2/2)
— Haha, então vamos?
Um dia após encontrarem Airen Farreira, os dois cavaleiros sagrados deixaram a propriedade mais cedo do que o esperado. Mas não estavam tão ocupados quanto alegavam. Apesar de suas palavras, na verdade, estavam tentando ser considerados. Dessa forma, Airen não perderia tempo de treinamento e poderia demonstrar todo o seu potencial no Festival dos Heróis.
O jovem herói Farreira decidiu participar, como os cavaleiros desejavam. Por isso, o mentor estava tão alegre.
“Ele parece realmente feliz.”
No passado, o comportamento do mentor apenas irritaria Gerald. Ele perguntaria o que havia de tão especial em Airen e reclamaria por ter que fazer uma longa jornada, apesar da saúde debilitada, apenas para retornar sem sequer alguns dias de descanso. No entanto, assim que viu a espada de Airen, compreendeu a verdade.
Depois de conversar com ele, ficou convencido. Ver seu mentor empunhar a espada novamente após três meses até o fez se emocionar um pouco.
— Vamos indo. Por favor, tome cuidado para que a carruagem não balance muito — disse com um sorriso ao cocheiro.
— Sim, senhor. Farei o meu melhor — respondeu o cocheiro.
— Haha, Gerald, está tudo bem. Eu realmente estou bem. Não precisa se preocupar tanto — comentou o mentor.
— Mas… — protestou Gerald.
— Sério. Sinto-me melhor do que nunca este ano. Se dependesse de mim, seguiria a pé para apreciar a paisagem.
É claro que seu desejo não foi atendido. Fatigado pela viagem, o velho inquisidor adormeceu rapidamente. Os leves tremores da carruagem sacudiam seu corpo, mas não o bastante para acordá-lo. Gerald permaneceu imóvel, observando a expressão serena de seu mentor e mergulhando em seus próprios pensamentos.
Ignet Crecensia e Airen Farreira… Antes que percebesse, começou a comparar os dois e, surpreso, estremeceu.
“Acabei de imaginar esses dois juntos…?”
Swoosh!
Wooosh!
Após a visita dos cavaleiros sagrados, Airen Farreira mergulhou ainda mais em seu treinamento. Embora não estivesse negligenciando sua prática, vinha focando mais na Arte dos Cinco.
“Se vou participar, quero fazer um bom trabalho”, pensou.
Lembrou-se de quando participou de uma competição semelhante em Aisenmarkt. Sua mente então vagou até o encontro que tivera uma semana antes. Para ser sincero, não tinha intenção de entrar no Festival dos Heróis até a visita dos cavaleiros. Para ele, não havia razão para participar. Afinal, nunca estivera interessado em espalhar seu nome pelo continente, nem antes, nem agora.
Na verdade, o aumento repentino de sua popularidade o incomodava. A oportunidade de enfrentar Ignet Crecensia, sua rival que desejava superar, também não era suficiente. Por mais presunçoso que parecesse, ela concordaria em duelar com ele sempre que quisesse, sem precisar de uma ocasião especial ou um palco grandioso. O que realmente pesava em sua mente, no entanto, era que o objetivo do festival estava alinhado com suas crenças.
“Mas disseram que mais de vinte mestres estão participando. Isso não deveria ser suficiente?”
Se sua presença reforçasse a mensagem, talvez não fosse tão ruim. No entanto, com tantos espadachins renomados lá, Airen não conseguia imaginar sua ausência como um problema. Sendo assim, não seria melhor focar na Arte dos Cinco?
De fato, talvez fosse mais sensato concentrar-se na árvore e em seu próprio crescimento, como fizera dois anos atrás, quando pedira mais tempo a Quincy Meyers. Esse era o pensamento sincero de Airen. No entanto, foi então que surgiu o velho cavaleiro dos Inquisidores, que de um dia para o outro se tornara miseravelmente frágil. Os olhos ardentes daquele herói sem nome mudaram sua decisão.
— Você é extraordinário.
— Hã?”
— Você não é um tolo, então já deve saber. Com sua fama, muitos se aproximarão de você com palavras doces. Você deve ter se esforçado para não se acostumar com essa doçura. O orgulho leva à preguiça. A preguiça destrói os heróis. Mas… não faça isso. Você não precisa se diminuir.
— Por mais alto que pense de si mesmo, na verdade, você é ainda maior do que isso.
— Humm…
— Ah, não preciso de desculpas. Apenas fique quieto.
— Aliás, acho que não preciso de palavras. Venha comigo.
— Hã? Para onde…
— Para o campo de treinamento. Vou lhe mostrar com minha espada o que senti e aprendi com você, e o que você pode oferecer ao continente.
Airen ainda conseguia visualizar claramente o momento em que o velho cavaleiro se levantou, saiu da sala de recepção e caminhou até o campo de treinamento. Ele parecia extremamente frágil. Afinal, já não era um mestre espadachim. Parecia alguém que conhecia sua própria data de expiração. Seu corpo decadente era mal sustentado por sua aura.
No entanto, ao chegar ao campo de treinamento e brandir sua lâmina, ao expressar através dela a influência que Airen teve sobre ele, o jovem espadachim não pôde mais se preocupar com sua condição, tampouco negar suas palavras.
— Uma espada de esperança.
Sim. O velho cavaleiro falava sobre esperança. Sua espada expressava felicidade e futuro. Era algo que transcendia meras técnicas e forças da esgrima. Foi nesse momento que Airen compreendeu o verdadeiro significado das palavras vagas daquele homem. E também percebeu o poder de sua própria espada, algo que até então não enxergava.
“Bem, acho que essa última parte é meio embaraçosa…”, pensou.
Ele havia decidido empunhar sua espada pelo bem do mundo. Dissera a si mesmo que dedicaria toda a sua vida a isso. No entanto, com o passar do tempo, começou a perceber o quão difícil essa tarefa realmente era. Já não era o mesmo de antes, quando falava sem saber melhor.
Agora, Airen aguardava o momento certo com calma e constância.
“Treinar com pessoas novas e poderosas é divertido, e conheço a emoção de ouvir a multidão aplaudir. Não é como se eu tivesse medo da competição, e tenho certeza de que não me desesperarei, mesmo se perder.”
Porém, sentia-se hesitante porque seus ideais iam além do topo da competição. As coisas haviam mudado. Se sua espada pudesse trazer esperança às pessoas, assim como fez com o velho cavaleiro dos Inquisidores, ele poderia estar um passo mais próximo de seu objetivo. O Festival dos Heróis seria um palco não apenas para a esgrima, mas também para crenças.
“Talvez eu ainda esteja um pouco aquém, mas devo tentar.”
— Certo. Vamos recomeçar!
Despertando de seus pensamentos, Airen apertou a empunhadura da espada e demonstrou tudo o que aprendera até então. Afinal, por mais nobres que fossem seus objetivos e grandiosas suas crenças, sua espada era a única forma de expressá-los ao mundo. Ele não poderia se sair mal.
Woosh! Wooosh!
Continuou a brandir sua espada sem pausa. Os fundamentos que aprendera na Academia de Esgrima Krono encontraram os golpes pesados de Zett Frost. Em seguida, surgiu a mente estratégica de John Drew e a espada da mente de Ignet. A esgrima sagrada dos Inquisidores misturou-se ao que aprendera nos duelos contra o Mestre Lindsay e às inspirações que seus amigos lhe proporcionaram.
Por fim, ele invocou a espada do metal e finalizou com a energia da árvore. A Arte dos Cinco começou a circular. Para sua surpresa, havia progresso. Até mesmo Airen ficou admirado com a velocidade de sua evolução. Mas como não ficaria? Ele vinha cultivando sua energia havia um ano ou mais. Como a árvore em seu mundo interior, seu poder estava pronto para disparar ao menor estímulo. A visita do velho cavaleiro serviu como um catalisador.
Mas isso não foi tudo. Outros eventos incendiaram ainda mais seu coração.
— Há uma carta para o senhor.
— De quem, oh…
Nos encontraremos em um lugar mais alto. – Brett Lloyd
Vejo você no Reino Sagrado. Observe enquanto eu derroto todos e venço. – Judith
Como o casal que eram, haviam enviado bilhetes curtos no mesmo dia.
Airen sorriu. Sentia saudades de seus amigos. Fazia mais de seis meses desde a última vez que vira Brett. Mas, acima de tudo, sentia falta de Judith, a quem não via desde o ano passado.
“Estou animado para ver até onde ela chegou.”
A paixão floresceu no coração de Airen. Pensar em enfrentar Brett, que havia crescido exponencialmente nos últimos tempos, e Judith, que demonstrava tanto potencial dois anos atrás, enchia-o de entusiasmo.
Independentemente do propósito do Festival dos Heróis, sentia-se tomado pela emoção. Mal conseguia entender por que não havia considerado participar antes. No entanto, a maior inspiração veio depois, quando recebeu uma carta de Illia Lindsay, sua amada.
A carta não era longa. Não dizia muito além de um convite para vê-la no evento, assim como fizeram Judith e Brett. Expressava afeto de maneira seca, mas sincera, como Illia sempre fazia. Airen a leu várias vezes antes de guardá-la cuidadosamente no bolso. Em seguida, começou a treinar com ainda mais fervor, como se já não estivesse se dedicando ao máximo.
— Hmph, o amor é algo bonito, não é? — comentou Lulu preguiçosamente enquanto observava Airen antes de se acomodar para dormir.
Marcus, que cuidava pessoalmente de Airen apesar da idade, olhou para seu jovem mestre com um sorriso sereno.
Dias, semanas e um mês se passaram. Agora, faltavam apenas dez dias para sua partida para Arvilius.
— Lorde Airen — chamou Marcus.
— Hã? — respondeu Airen.
— O ferreiro pediu para vê-lo enquanto o senhor treinava.
— Sério? Está falando de Vulcanus, certo?
— Sim. Ele disse que voltaria depois, já que não era urgente…
Airen estava prestes a sair do campo de treinamento para almoçar quando Marcus trouxe a notícia. Pensando bem, já fazia um tempo desde sua última conversa com Vulcanus. Apesar de morarem na mesma propriedade, o anão se trancara na forja depois de ver sua espada de feitiçaria.
“Sinto que continuo fazendo-o esperar…”, pensou Airen, coçando a cabeça de leve.
— Certo. Irei até ele, não há porquê esperar.
— Entendido, senhor.
Marcus fez uma reverência e se afastou, enquanto Airen comia, tomava banho e trocava de roupa antes de seguir para a forja. Como sempre, os ferreiros, incluindo Vulcanus, estavam absortos em seu trabalho.
Clank!
Clank, clank!
Martelando o aço sem camisa, Vulcanus finalmente abriu a boca meia hora após a chegada de Airen.
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