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    Um silêncio desconfortável se instalou. Mas não foi porque ele mencionou nomes inesperados. Foi porque o jovem parecia bastante diferente ao falar. Ethan e os outros o encararam em silêncio por um tempo.

    Claro, o silêncio não durou para sempre. Airen, não, Aron, levantou o olhar pensativo, encontrou os olhos de todos e então sorriu.

    — Eu estava brincando — disse.

    — Oh.

    — Para ser honesto, não faço ideia. Não conheço ninguém muito bem além dos chamados Dez Espadachins…

    — O quê? Então você estava só brincando?

    — Bem, não foi algo aleatório. Mas eles são os guerreiros do futuro, não são? E como têm a minha idade, naturalmente torço por eles.

    — Vamos lá. Estar nos quarenta ou cinquenta ainda é ser jovem para um mestre espadachim. Já os que estão nos vinte e trinta anos são praticamente bebês — disse Keenan.

    — Você está certo, mas… você acabou de chamar mestres espadachins de bebês? — retrucou seu companheiro.

    — Não foi isso que eu quis dizer…

    Ethan, Keenan Reyes e Giovanni continuaram a conversar animadamente. O jovem loiro os observava com um sorriso, lançando algumas perguntas de vez em quando. Embora também viajasse há bastante tempo, ele precisava admitir que os mercenários veteranos tinham uma experiência além de sua imaginação. De fato, ele só conhecia os nomes dos Três Espadachins do Sul e do Orgulho do Leste.

    Eu não conhecia nenhuma casa de espadachins além da Casa Lindsay. Camrin Rey, hein?

    Ao deitar-se para dormir após a conversa, Airen relembrou o que ouviu sobre alguns indivíduos. Embora todos fossem interessantes, dois permaneceram em sua mente: Camrin Rey, o segundo de sua família, e Ignacio Carahan, a Estrela Ascendente do Sul.

    Curiosidade e competitividade, sentimentos que não sentia há um tempo, começaram a arder novamente.

    — Você não estava brincando, estava? — perguntou Vulcanus.

    — Hã? — Airen ergueu a sobrancelha.

    — Você estava falando sério ao citar seus amigos, não estava? Parece que realmente acredita que eles podem chegar ao topo…

    — Hmm, isso não é verdade…

    Sim. Não era como se Airen tivesse duelado contra todos os participantes do Festival dos Heróis. Então como poderia prever o resultado das lutas? Como dissera aos aventureiros, a única razão pela qual mencionou seus amigos era porque queria torcer por eles.

    Mas será que estava apenas brincando?

    “sso também não é verdade”, pensou Airen, fechando os olhos e visualizando Illia Lindsay invocando o vento e Brett Lloyd fluindo como a água. Ele também se lembrou de Judith, a quem não via há dois anos. Mas ainda conseguia recordar as chamas furiosas e o calor abrasador que ela demonstrou da última vez.

    “Não consigo imaginar o quão mais forte ela deve estar agora…”

    — Ainda assim, preciso admitir que estou empolgado — disse Airen baixinho, olhando para Vulcanus.

    De fato. Embora estivesse animado para conhecer novas pessoas como Camrin Rey ou Ignacio Carahan, estava ainda mais ansioso para reencontrar seus amigos. Se fosse completamente honesto, queria mostrá-los ao mundo. Afinal, ninguém conhecia tão bem quanto ele o talento e a dedicação deles.

    — Seu bastardo, o que diabos você estava tentando dizer? — resmungou Vulcanus.

    — Ah, desculpe. Só estava pensando no passado… — desculpou-se Airen.

    — Ugh, isso soou tão coisa de velho para um garoto que nem chegou aos trinta. Tá bom. Vou dormir.

    Resmungando, Vulcanus voltou para seu canto. Airen o observou com um sorriso antes de se deitar no chão. Embora fosse muito mais desconfortável que uma cama de cidade, ele não se importava. Afinal, já era um viajante experiente. Além disso, sabia que alguém estava escutando sua conversa.

    “Achei que ela não estivesse interessada.”

    Bem, não se importava. Ele usou o artefato de Kiril para bloquear ruídos por um momento, então sua identidade provavelmente ainda estava segura. Por um instante, questionou-se se deveria se preocupar com isso, mas decidiu que era o melhor a fazer. Preferia aproveitar momentos tranquilos como aquele a viajar chamando atenção.

    Airen disse a si mesmo que deveria tomar mais cuidado com as palavras. Enquanto isso, Jarin, a maga élfica, olhava para Airen com um leve franzir de testa.


    Passaram-se mais alguns dias. Monstros e demônios continuaram a atormentar o grupo, mas eles não tiveram dificuldades. A audição aguçada da elfa e os feitiços de alarme foram eficazes, enquanto Ethan, o especialista, liderava os combates com habilidade.

    Aron se assimilou ao grupo naturalmente. Mas não foi apenas por sua grande habilidade com a espada ou seu talento culinário. Embora essas habilidades ajudassem, o que realmente conquistou os outros foi sua natureza gentil, que deixava todos à vontade.

    — Esse cara é melhor do que eu imaginava.

    — Sim. E não parece que ele apenas segue ordens. Parece simplesmente ser um cara naturalmente gentil.

    — Para alguém tão gente boa, ele não é tímido ou inseguro. Não é fácil dizer o que precisa ser dito sem ofender ninguém, então estou bastante impressionado.

    — Verdade.

    — Verdade.

    Giovanni e Keenan assentiram às palavras de Ethan. Embora inicialmente tivessem trazido o jovem apenas por diversão, agora se viam cada vez mais à vontade com ele. Aron não era mais apenas uma fonte de entretenimento, mas sim um colega confiável.

    Claro, nem todos estavam felizes com isso. Jarin, por exemplo, não gostava do jeito assertivo de Aron às vezes.

    “Quero dizer, ele não teria falsificado sua identidade se fosse tão orgulhoso assim, teria? Do que ele tem tanto orgulho depois de ter sido desmascarado?”, pensou.

    Por causa desses pensamentos, o que poderia ser considerado ‘assertivo’ parecia arrogante e irritante. Claro, ela não tinha intenção de criar conflitos com ele. Mas também não queria se aproximar ou se divertir com ele. Ainda assim, era grata por ele cozinhar para o grupo. No entanto, teria que pensar melhor sobre a possibilidade de viajar junto até o Festival dos Heróis.

    Foi então que Ethan, que caminhava em silêncio, de repente comentou:

    — Pensando bem, não estamos chegando à Floresta Tamoe?

    — Verdade. Ah! Não está um pouco perigosa ultimamente?

    — Não é mais como costumava ser.

    A Floresta Tamoe era uma densa área arborizada localizada no continente central. Normalmente, não haveria problemas, já que os cinco países que dependiam do comércio haviam construído estradas em conjunto. Embora a taxa de pedágio não fosse barata, a estrada era bem conservada e equipada com áreas de descanso, valendo o custo.

    Agora, no entanto, as coisas eram diferentes. Depois de dois incidentes envolvendo demônios na floresta, os cinco reinos desistiram de manter a estrada. Embora tivessem conseguido derrotar os demônios com a ajuda do Reino Sagrado, não queriam correr o risco de enfrentar a escuridão novamente. Assim, qualquer um que quisesse atravessar a floresta caótica precisava reunir o maior número possível de combatentes habilidosos.

    “Isso me lembra do que aconteceu nas Montanhas Alhaad”, pensou Airen.

    Algo semelhante havia ocorrido quando ele partiu em sua jornada quatro anos atrás. Na época, os mercadores se uniram para se proteger de um grande grupo de ladrões.

    Provavelmente, desta vez não seria diferente. No entanto, o problema era que agora enfrentavam demônios e criaturas demoníacas, que eram muito piores do que meros ladrões.

    — Acho que temos gente suficiente, no entanto.

    — Certo. Haverá muitos outros grupos como o nosso.

    Ethan assentiu. Ao contrário das circunstâncias normais, muitas pessoas estavam viajando para Arvilius para assistir ao Festival dos Heróis. Muitos desses viajantes eram guerreiros experientes. Alguns, talvez, até mais habilidosos do que Ethan.

    Como esperado, ao chegarem à cidade mais próxima da Floresta Tamoe, encontraram grupos sendo organizados para atravessar a estrada. O organizador, por acaso, era alguém que até mesmo Airen Farreira, com sua experiência limitada, reconheceu.

    — Gael Wise? O filho do mestre da Guilda Wise?

    Gael Wise era o filho mais velho de Toby Wise, um renomado milionário que, segundo diziam, possuía toda a riqueza do continente em suas mãos. Ele era meio-elfo, filho de uma mãe elfa. Isso por si só já era suficiente para marcar sua presença na memória das pessoas, mas seu maior destaque era sua generosidade.

    Não apenas fornecia comida para os pobres, mas também criava bolsas de estudo para os desfavorecidos e oferecia armas e armaduras com desconto para aqueles que combatiam os demônios. Além disso, se esforçava para reduzir as tensões entre humanos e outras raças.

    “Ouvi dizer que ele também é bastante capaz. Apesar de doar boa parte de seus bens, para choque das outras guildas, aparentemente ficou ainda mais rico.”

    De fato, esse era um filho de quem qualquer pai teria orgulho. Saber que alguém assim estava organizando o grupo tranquilizava as pessoas. Vulcanus também assentiu, concordando.

    No entanto, algo parecia estranho. Airen olhou para seus companheiros. Ethan, Giovanni, Keenan Reyes e Jarin não pareciam muito contentes. Jarin, em especial, parecia inquieta.

    Tenso, ele perguntou cuidadosamente:

    — Há algum problema…?

    — Não, nada — respondeu Jarin com um sorriso.

    — Será só por uma semana, no máximo. O que poderia acontecer?


    — Você realmente não vai vir comigo? — perguntou Judith.

    — Sim, sua idiota. Quantas vezes tenho que dizer? Prefiro usar o tempo para treinar — respondeu Khun.

    — Vamos lá. Sua aluna vai se exibir em uma competição para todo mundo ver, e você não quer assistir?

    — Não, não. Se eu parasse para tudo, nunca teria chegado onde estou. Estaria lambendo os pés do Ian agora.

    — O quê?

    — Haa… tá bom. Só me prometa que vai dar o seu melhor.

    — Estou orgulhoso de você, Judith. Acabe com todos, seja Ignet, Airen ou Brett.

    — Ugh… estarei de volta.

    Judith fez uma reverência antes de deixar a residência de Khun. Não olhou para trás. Afinal, ficaria fora apenas por um tempo. Poderia vê-lo o quanto quisesse quando retornasse. Não havia necessidade de se emocionar com aquilo.

    “Ainda assim, seria bom se ele viesse comigo…”, pensou por um instante.

    Mas conteve esse sentimento. Sabia o quão teimoso o velho era. Com um suspiro, correu para o nordeste.

    Khun observou sua aluna desaparecer além da nuvem de poeira antes de…

    — Ugh!

    Tossiu sangue.

    — Hah… hah… urgh…

    Não se sentia bem. Isso já acontecia há um tempo, mas havia piorado. Não importava se era devido a uma doença ou apenas ao avanço natural da idade. O que importava era que ele não podia deixar que terminasse ali.

    “Quero viver”, pensou Khun, erguendo sua espada e golpeando o ar.

    Continuou cortando, investindo e perfurando desesperadamente. Havia uma lenda de que, ao atingir um nível além do de um especialista ou mesmo de um mestre, um espadachim obteria um novo corpo. Libertar-se-ia de seu corpo velho e doente e receberia uma nova chance.

    “Antes, eu não acreditava nisso, mas…”

    Agora acreditava— ou, melhor dizendo, queria acreditar. E tinha um motivo para isso. Claro, não sabia como alcançar esse estado. Afinal, só havia se tornado mestre aos setenta anos, enquanto Ian atingira o mesmo nível aos vinte e cinco.

    Mas…

    “Quando foi que eu já precisei saber tudo antes de tentar?”

    Com uma risada baixa, Khun balançou sua espada mais uma vez. Ele faria isso mesmo sem entender. Faria até compreender. Faria o que precisasse fazer.

    Afinal, foi assim que chegou até ali.

    Khun balançava sua lâmina como se estivesse em transe quando, de repente, parou e se virou na direção de um ponto distante. Alguém se aproximava. Vestia roupas escuras, como se estivesse envolto em sombras. Seu rosto parecia congelado, como se usasse uma máscara. Seus cabelos, prateados ou acinzentados, ondulavam ao vento.

    Khun não o reconheceu. No entanto, o homem lhe parecia familiar. Ele culpou sua memória fraca antes de ceder e perguntar:

    — Já nos encontramos antes?

    — Não consegue falar?

    — Bem, parece que não. Você é absurdamente insolente para um jovem, não é?

    Khun começou a repreender o homem, despejando xingamentos inapropriados para alguém de seu status como um dos Três Espadachins. Qualquer pessoa comum teria ficado furiosa.

    No entanto, o homem parecia indiferente.

    Puxou sua espada, assumiu posição sem demonstrar emoção e encarou Khun com olhos profundos e vazios.

    — Karl Lindsay gostaria de aprender com você, senhor — disse.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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