Índice de Capítulo

    — Hmph… — resmungou Khun enquanto encarava o homem de preto.

    Karl Lindsay. O nome lhe trouxe nostalgia. O nome de um prodígio tolo que abalou o mundo antes de cair em desgraça após encontrar Ignet. De fato, ninguém mais esperava nada dele, apenas zombarias e desprezo.

    “Mas eu o entendo”, pensou Khun.

    Alguém poderia perguntar como uma única derrota poderia fazê-lo cair tanto. Mas esse era o pensamento de uma pessoa comum. Os prodígios eram diferentes. Ele provavelmente sentiu isso no momento em que a enfrentou.

    No instante em que se chocaram, suas dúvidas devem ter se transformado em convicção. Quando o resultado foi selado, ele já teria visto o futuro, ele jamais conseguiria superar a diferença de talento, mesmo que dedicasse um ano, uma década ou até mesmo toda a sua vida.

    “Uma pessoa comum não consegue enxergar o verdadeiro talento, potencial e futuro de Ignet…”

    No entanto, a razão pela qual Karl Lindsay caiu de forma tão dramática foi porque ele também possuía um talento excepcional, o talento de perceber o potencial de alguém antes de qualquer outra pessoa.

    “Por isso ser estúpido é bom.”

    Khun riu.

    Sim. Ele era estúpido, então não desistiu. Ele não percebeu a distância incomparável entre Ian e ele mesmo. Décadas se passaram. Se ele fosse como Karl Lindsay, já teria desistido. Em vez disso, desperdiçou todos esses anos tolamente.

    Mas…

    Somente com tal tolice alguém poderia superar o óbvio. Apenas alguém insensato o suficiente para dedicar toda a sua vida sem pensar em probabilidades ou potencial teria uma chance de 0,00001% de alcançar um milagre, como ele, Judith, ou inúmeros espadachins anônimos escondidos na escuridão por aí.

    — Parabéns por ter voltado ao caminho. Mas…

    Khun riu enquanto olhava para Karl Lindsay, não, para o homem que abandonou seu nome.

    Ele conseguia entender o que estava acontecendo. Assim como abandonara tudo para derrotar Ian, ele também devia ter renunciado a tudo que lhe era querido para alcançar essa posição. Era perceptível apenas pela sua postura. Embora antes não tivesse nenhuma percepção, agora, com mais de cem anos, devia estar desenvolvendo algo como aquilo de que Ian falava.

    No entanto, Khun não estava exatamente satisfeito.

    — Por que eu? — perguntou.

    — Você está atrás de Ignet, não está? Este não é o Reino Sagrado. Siga em frente. Se encontrar minha aluna pelo caminho, pode dar uma lição a ela. Ah, talvez você não saiba quem ela é. O nome dela é Judith. Pode não ser tão talentosa quanto você, mas ela é…

    — Eu gostaria de aprender.

    Woosh!

    Uma poderosa energia emanou do corpo de Karl, mas não era espírito de luta. Era algo mais afiado e frio. Algo que ele não teria demonstrado se estivesse apenas pedindo uma lição, aquilo era intenção assassina.

    Sentindo a energia maliciosa, Khun olhou para Karl atordoado antes de rir.

    — Você está tentando me matar? — perguntou.

    — Também estou arriscando minha vida — Karl respondeu.

    — E tem certeza de que tem coragem para isso?

    — Você não é mais quem costumava ser.

    — Ah, entendi. Então você está dizendo que pareço um alvo fácil. Eu sou o quê? Seu aperitivo—um aquecimento—antes de enfrentar Ignet?

    Khun bufou. Sentiu-se incrédulo, irritado, triste e amargo. Nunca foi um homem de palavras refinadas, então não conseguia explicar exatamente o que sentia. Também estava curioso para saber por que Karl queria sua vida.

    Então só havia uma coisa a fazer.

    Após rir por um momento, ergueu o olhar e endireitou o corpo. Sua expressão se tornou séria, completamente diferente de quando brincava com sua aluna.

    Karl também sentiu a mudança. Ao erguer sua espada para bloquear a energia afiada que parecia perfurar até sua densa aura…

    Boom!

    Com um estrondo retumbante, Khun desapareceu.

    Boom! Boom! Boom!

    Boom! Boom!

    Com um som que parecia sacudir toda a terra, o chão cedeu, e as rochas endurecidas se despedaçaram. Karl se concentrou, despertando seus sentidos. Seus sentidos extremos examinaram a nuvem de poeira.

    Ele não podia ver, mas podia sentir o espadachim mais veloz se movendo como se estivesse além do que o mundo conhecia.

    — Eu sei que você está com medo — disse a voz de Khun enquanto Karl lutava, incapaz de ver nem mesmo um vislumbre das roupas do oponente.

    — Você está assustado, sofrendo e lutando. Às vezes, apenas imaginar seu oponente, quanto mais enfrentá-lo, faz você querer fugir. Mas não o faça. Não sou eu quem você deve enfrentar. É Ignet.

    Os sentidos de Karl se aguçaram ainda mais, tanto que ele podia até mesmo ouvir a poeira caindo sobre uma agulha ou contar as partículas de sujeira flutuando no ar.

    No entanto, ainda não conseguia acompanhar Khun. Com expressão grave, brandiu sua espada.

    Swish!

    Pssss!

    Sua aura negra invocou o vento e dissipou a poeira. Mas seu esforço foi em vão. Sua espada não cortou Khun, mas sim uma árvore.

    Enquanto isso, seu oponente continuava a falar. Karl rangeu os dentes ao ouvir a voz preenchendo o espaço.

    — Você tentou. Eu sei disso muito bem. Apesar de seus esforços, você fracassou. Mas ainda tem uma chance. Você está em um lugar onde pode tentar.

    — E se você perder? E se perder de novo? Sabendo como ela é, Ignet aceitará seu desafio quantas vezes você desejar. Então…

    Os olhos de Karl se arregalaram. A voz vinha da frente.

    Mas Khun não estava lá.

    Por algum motivo, Karl sentiu claramente que a espada de Khun estava mirando suas costas. Era como se estivesse olhando para o chão de cima.

    Virando-se abruptamente, ele girou e brandiu sua espada com ferocidade para bloquear o ataque do oponente. Mas era tarde demais. A lâmina de Khun já havia alcançado seu peito.

    Enquanto permanecia imóvel, como se o tempo houvesse parado, o velho disse:

    — Dê o fora enquanto eu deixo, garoto…

    O silêncio caiu.

    Um longo tempo se passou. Até que a poeira assentasse e o vento a carregasse para longe, o velho e o jovem permaneceram ali, se encarando. Nenhum parecia disposto a falar primeiro.

    Foi Khun quem quebrou o impasse. Não por vontade própria, no entanto.

    Cough!

    Splat!

    Tossindo sangue o suficiente para encharcar seu peito, Khun tremeu, assim como a ponta de sua espada. Os olhos de Karl se moveram.

    Woosh!

    Ele ergueu sua lâmina, e Khun tentou fazer o mesmo. Mas não conseguiu.

    Crack…!

    A aura negra que escorria da lâmina de Karl envolveu a arma de Khun. Não era uma aura comum. Era algo diferente, algo maior.

    Nem mesmo a força de uma árvore centenária poderia libertá-lo. Soltando uma risada oca, Khun fitou o jovem. Seus olhos escuros refletiam seu próprio corpo enfraquecido.

    A espada de Karl desceu sobre Khun.

    Crack!

    Crash!

    Boom!

    O estalo de um impacto avassalador foi seguido por uma colisão contra o solo, terminando em uma explosão.

    Era Khun. Arremessado como uma boneca de trapos, ele se chocou contra sua própria morada.

    Karl respirou com dificuldade enquanto observava as ruínas de pedras, árvores e destroços. Não conseguira cortá-lo. Apenas golpeá-lo. No último instante, Khun soltou sua espada e bloqueou a lâmina de Karl com a palma da mão. O impacto fez a mão de Karl sangrar profusamente.

    Mas…

    Pss…

    O ferimento cicatrizou em questão de segundos enquanto ele arfava.

    Olhando para sua ferida se fechando com olhos conflitantes, Karl virou-se para as ruínas. A silhueta de um homem corpulento aproximava-se por entre a nuvem de poeira.

    “Ele deve estar à beira da morte”, pensou Karl.

    Embora Khun fosse considerado um dos Três Espadachins do continente, ele só ganhou esse título por causa de sua velocidade. Suas outras habilidades não eram tão aclamadas. Considerando a quantidade de aura que ambos possuíam, mesmo que tivesse bloqueado o ataque, o golpe no torso devia ter sido devastador.

    Karl não estava errado.

    Woosh!

    Ao balançar sua espada e dispersar a poeira para revelar seu oponente, viu um homem destroçado, sua mão esquerda sem dedos, mal pendurada, e seu braço direito completamente ausente.

    Ele ainda segurava uma espada. Ele não perderia.

    Mas isso não era tudo.

    Quando Khun parou de se mover, expeliu sangue novamente.

    Hurl, glug, glug…

    O sangue jorrou sem cessar, a ponto de alguém se perguntar quanto sangue um homem poderia ter.

    Surpreendentemente, Khun não parecia perturbado.

    — Ah… ugh… isso é melhor. Me sinto melhor. Me sinto mais leve. É como se… — murmurou.

    Era como se…

    — Como se algo que estava preso tivesse desaparecido — Khun murmurou, cambaleando e olhando para cima.

    Karl observou nervoso.

    Ele ainda estava um desastre, seu rosto pálido, sua energia esgotada. Seu manto branco havia se tornado vermelho, e sua aura quase desaparecera. Até mesmo sua postura robusta parecia ter encolhido. No entanto, ele não parecia fraco.

    Era como se…

    Parece que ele não perdeu sua energia, mas apenas se tornou mais leve…

    — Karl Lindsay, não, Karl — Khun disse.

    Karl recuou um passo, estremecendo, antes de forçar-se a dar um passo à frente. Ele odiava ter recuado.

    O velho, no entanto, não parecia se importar. Com um sorriso que exibia dentes manchados de sangue, ele disse:

    — Pare de consumir a energia demoníaca agora.

    — Você consegue. Ainda não é tarde. Expulse a corrupção que consumiu e recomece. Como alguém que só se tornou mestre espadachim aos setenta anos, eu garanto que você pode fazer isso.

    Clang!

    Mas Karl não ouviu. Colocando a espada de Khun no chão, ele a despedaçou com um golpe do pé envolto em aura antes de assumir sua posição de combate.

    Khun riu. No entanto, por alguma razão, soou solitário e triste.

    — Acho que não pode ser evitado — disse.

    De fato.

    Mesmo quando viu aquele rosto familiar e ficou perplexo com o crescimento do jovem em poder, ou quando finalmente entendeu tudo, ele rezou para que Karl não cruzasse essa linha.

    Infelizmente, Khun teve de admitir que isso era impossível. Karl não recuaria.

    “Então, eu mesmo vou quebrá-lo”, pensou, enquanto inspirava fundo.

    Ignorando o gosto de ferro na boca e a dor em seu corpo, ele avançou.

    Seu braço esquerdo pendia, assim como o direito. Mas ele sentia sua mão direita, sentia sua espada. Ele se sentia mais leve do que antes.

    — Posso me mover ainda mais rápido — murmurou Khun.

    Em sua mão direita, havia uma nova espada.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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