Capítulo 292: Companheirismo Incômodo (1/4)
— Não, não é isso…
— Puxa, eu não posso dizer nada, não é? Tudo bem, tá bom?!
— Pfft, é por isso que você ainda é um mercenário de insígnia de bronze.
— Como se você fosse diferente…
No caminho pela Floresta Tamoe, infestada de criaturas demoníacas e monstros, um grupo de viajantes avançava. Normalmente, eles estariam se movendo nervosos, prendendo a respiração. No entanto, hoje era diferente. A maioria caminhava animada, conversando entre si.
Ninguém estava surpreso. Afinal, o líder do grupo de quase duzentas pessoas era um homem extremamente confiável.
“Não precisamos nos preocupar com criaturas demoníacas ou monstros se temos o filho mais velho da Guilda Wise”, pensavam.
“Não importa se encontrarmos outro demônio, temos um mestre espadachim conosco!”
“Desde que não seja algo muito perigoso, eu até gostaria que fôssemos atacados. Quero ver a Aura da Espada do mestre em ação.”
Gael Wise, o filho mais velho da Casa Wise, dona da maior guilda mercantil do continente, não era apenas um homem sortudo de uma boa família. Com suas habilidades excepcionais nos negócios e sua filantropia, ele trabalhava para tornar o mundo um lugar melhor ao mesmo tempo em que fomentava boas relações entre humanos e elfos. Graças a isso, muitas pessoas talentosas o seguiam.
Dessa vez não era diferente. Junto a ele estavam os guardas da guilda, treinados ao nível de soldados militares, cinco espadachins especialistas e Brodie Sharper, um mestre espadachim que poderia enfrentar todos eles sozinho.
Com uma força capaz de rivalizar com a de um exército nacional, ninguém temia a Floresta Tamoe, mesmo com suas criaturas demoníacas.
— O Lorde Gael Wise também está indo para o Reino Sagrado, certo? — perguntou alguém.
— Foi o que ouvi — respondeu outro.
— Ele também vai competir? Ouvi dizer que tem talento tanto na esgrima quanto na magia…
— E quanto a Brodie Sharper? Tem alguma conversa sobre ele?
— Ah, aquele cavalheiro já passou dos setenta. Não pode entrar por causa da idade.
— Oh, certo. Hahaha.
O clima era tão tranquilo que nem mesmo aqueles que riam da conversa pareciam ofendidos.
Airen assentiu, compreendendo. Gael Wise proclamara que protegeria a todos não apenas na Floresta Tamoe, mas também ao longo da jornada até o Reino Sagrado. Para qualquer mercenário mediano, não poderia haver situação melhor.
No entanto, nem todos estavam felizes.
Jarin, Giovanni, Keenan Reyes e Ethan pareciam estranhamente calados. Airen os observou discretamente.
Era o segundo dia na Floresta Tamoe.
“Está tudo bem. Não há necessidade de ficar nervoso com isso”, Ethan, o líder, disse a si mesmo em silêncio, respirando fundo.
De fato. Não era nada demais. Ele estava apenas expressando gentilmente a leve decepção que ele e seu grupo vinham sentindo nos últimos dias. Não estava arrumando briga.
“Se eu não conseguir falar sobre isso, posso desistir de ser um líder.”
Atualmente, a Guilda Wise era o coração do grupo. Mas isso não significava que pudesse cuidar de tudo sozinha. Assim, tomou o controle de outros grupos menores para organizá-los de maneira eficiente. Isso incluía decidir quem montaria guarda durante a noite, quem dormiria onde, quem cozinharia ou faria outras tarefas. Naturalmente, ninguém reclamava. Afinal, quem além da Guilda Wise poderia fazer isso?
Infelizmente, algo vinha acontecendo repetidamente, incomodando Ethan e os outros.
“Bom, acho que não é nada tão grave”, pensou Ethan, acenando com a cabeça.
De fato. Era apenas que eles recebiam sua comida um pouco tarde demais, montavam guarda algumas vezes a mais do que o normal e dormiam nos locais mais vulneráveis por algumas noites seguidas.
Se alguém quisesse pensar nisso como algo sério, poderia. Mas com um pouco de generosidade, era fácil ignorar. Ethan tentou relevar. Mas estava preocupado com Jarin.
— Desculpe. Todo mundo está sendo prejudicado por minha causa — ela dissera.
— Não, de jeito nenhum. Não pode ser por sua causa. Isso é só coincidência — ele respondeu.
Mas…
Jarin, a maga élfica, parecia abatida.
Quando Ethan percebeu que todo o grupo estava sendo afetado por tentar apoiá-la e que estavam se movendo mais devagar por isso, mudou de ideia e decidiu que traria o assunto à tona.
“Para ser honesto, parece que Jarin está exagerando um pouco”, pensou.
Ele ouvira a história. Embora não estivesse muito claro, entendia por que Jarin se sentia tão desconfortável. No entanto, também achava que era um exagero presumir que o que estava acontecendo agora fosse consequência daquele incidente do passado.
Era apenas uma coincidência. Apenas azar. Então tudo ficaria bem. Isso era algo que poderia ser resolvido com uma simples sugestão.
Finalmente reunindo coragem, Ethan aproximou-se dos mercenários que jogavam cartas, acreditando que seria melhor ir junto com alguns líderes de outros grupos em vez de sozinho.
Infelizmente…
— Hã? — Ah, desculpe. Estamos no meio de uma partida importante. Podemos falar depois?
— Hã? Ah, certo! Decidimos ir juntos, né, ugh! Mas estou com dor de barriga agora, sabe. Desculpe por isso. Podemos ir mais tarde.
— Puxa, acabei de beber. Não acho certo ir com o rosto todo vermelho.
A expressão de Ethan caiu. Embora não fossem os melhores amigos, ele pensava que os conhecia bem depois de dez anos como mercenário. Ele até os ajudara várias vezes, então não achava que estava pedindo muito. Infelizmente, aparentemente, estava errado.
Sentindo um gosto amargo na boca, ele suspirou.
— Certo. Não é como se isso fosse tão sério. Eu posso ir sozinho. Claro que posso — murmurou, dando um tapa no próprio rosto.
Clap!
De fato. Não era sério. Ele só estava fazendo uma reclamação ou sugestão simples e razoável. Não devia se sentir tão nervoso com isso. Isso deveria ser fácil.
“Além disso, quem eu penso que sou? Sou Ethan, o especialista com insígnia dourada.”
Ele sorriu. Sempre pensara que, mesmo que não fosse o melhor espadachim, tinha a coragem necessária para se manter firme diante dos maiores guerreiros.
Então, por que isso seria diferente? Ele não tinha nada a temer. Quem se importava se o outro lado era uma guilda pequena ou a grande Guilda Wise, que controlava o continente, desde que ele estivesse certo de suas palavras?
— Whew…
Finalmente se preparando mentalmente, Ethan dirigiu-se à grande tenda no centro do acampamento, onde residia Gael Wise, o líder do grupo.
Um passo, dois passos… Por alguma razão, seus passos pareciam pesados. Ainda assim, ele continuava. Nem se importava com o suor. Afinal, não era tão perceptível assim.
Enquanto caminhava lentamente em direção ao seu destino, um homem de meia-idade apareceu. Ethan o reconheceu.
— O que é? — questionou o homem.
— Parece haver um pequeno problema na distribuição das tarefas… então vim falar sobre isso — explicou Ethan com um sorriso.
No entanto, ele sabia que nem sua expressão nem sua voz eram naturais.
“Que estranho”, pensou.
Sentia-se estranho. Por alguma razão, não conseguia falar como normalmente falava. Seu coração estava pesado. Reconhecia o especialista careca parado diante dele, embora nunca tivessem sido próximos. Muitas vezes se desentenderam. No entanto, nunca pensou que isso fosse um problema, pois sempre saía vitorioso.
Infelizmente, assim que viu o emblema da Guilda Wise no peito do homem e a expressão presunçosa em seu rosto, com a grande tenda ao fundo, Ethan subitamente se sentiu impotente. O careca parecia gigantesco, enquanto ele próprio parecia insignificante.
— Você precisa mesmo falar sobre isso? Não é algo tão importante, é? — retrucou o homem.
— Ainda assim, poderíamos conversar… — murmurou Ethan.
— Certo. Podemos conversar. Você pode me contar.
— Hã?
— Você pode me dizer, e eu falo com ele.
— Quero dizer, se você não quiser…
Ethan ficou em silêncio enquanto o careca sorria de maneira provocadora.
Ele não queria voltar, especialmente quando sabia que aquele homem não entregaria sua mensagem, considerando o histórico entre eles. Então, decidiu esperar até que Gael Wise terminasse seus assuntos para falar diretamente com ele.
Infelizmente, não conseguiu. Embora soubesse que nem ele nem seu pedido tinham nada de errado, sentiu-se impotente, como se estivesse diante de um demônio.
— O que você está fazendo?
— Vai ficar parado aí desse jeito?
— Quanto tempo pretende ficar aí?
O careca continuou falando. Mas ele não estava apenas perguntando. Ele estava zombando de Ethan, que permanecia imóvel, incapaz de reagir. Ethan se perguntou se deveria simplesmente voltar. Afinal, não era nada importante. Mas por que estava tão nervoso por algo tão trivial?
Para ser honesto, ele sabia por quê. Na verdade, sabia melhor do que ninguém.
Finalmente, tendo tomado sua decisão, Ethan abaixou a cabeça e se virou para partir.
— Posso falar? — perguntou uma voz.
Ethan olhou para cima, surpreso, ao ver Aron se aproximando com um sorriso.
Ele não se lembrava de ter contado nada a esse cara sobre o que estava acontecendo. Além disso… ele estava falando sério? Estava mesmo se oferecendo para intervir quando era óbvio que nenhum dos dois era bem-vindo ali?
— Quem é você? — rosnou o careca.
— Ah, olá. Meu nome é Aron. Sou membro do grupo de Ethan. Há algo que preciso discutir… — explicou Aron.
— Lorde Wise está ocupado — cortou o careca, surpreso com a aparição repentina do jovem.
Ele ficou perplexo com o fato de que o rapaz não demonstrava o menor receio ao afirmar seus pedidos com tamanha firmeza.
“Esse cara não percebe o clima?”, ele se perguntou.
Claro, isso não seria um problema. Ele reuniu sua aura. Embora não fosse habilidoso o suficiente para exercer verdadeira pressão sobre alguém, poderia facilmente criar um ambiente intimidador o bastante para afastar moleques como aquele. Mas ele estava errado.
Sem demonstrar qualquer sinal de desconforto, o jovem continuou falando.
— Ouvi ali atrás que você vai repassar nossa mensagem? — perguntou Aron.
— Hã? É… — respondeu o careca.
— Agradeço. É só que, como Ethan mencionou, houve alguns problemas na distribuição das tarefas — continuou Aron, explicando a situação. De acordo com Ethan, não era nada muito sério, apenas algo que alguns poderiam ignorar.
Mas não era o que o loiro dizia que incomodava o careca.
Olhando para o jovem explicando calmamente a situação, ele congelou.
“O que há com esse cara?”
Ele parecia tão manso quanto qualquer um poderia ser. Se não fosse por sua estatura, poderia muito bem ser confundido com um estudioso ou um estudante. No entanto, o modo como falava não era nada manso. Não se intimidava com a fama da Guilda Wise, nem parecia sequer notar a aura do careca.
Mas também não parecia estar ignorando-o. Estava apenas falando com ele como um homem fala com outro homem, sem tentar tomar vantagem, sem se intimidar.
Observando Aron, o careca sentiu uma pressão estranha.
— Hã? Mas isso é mesmo algo para reclamar!
— Pois é. Uma vez tudo bem, mas quando acontece várias vezes, já é estranho.
— Espero que esse cara passe a mensagem direito.
À medida que a conversa avançava, mais pessoas começaram a prestar atenção. Muitos assentiam à história do jovem loiro, voltando-se para o careca, que agora suava profusamente. Sentia-se como se tivesse perdido a armadura que o protegia.
Ele não fazia ideia do que estava acontecendo.
O clima mudou quando duas pessoas saíram da tenda.
Swish.
— O que está acontecendo? — perguntou uma voz.
— E-Eu…! — gaguejou o careca, congelando no lugar.
Ele não podia evitar. Afinal, essa era uma pessoa que ele jamais veria em sua vida, a menos que fosse em um evento especial, como o Festival dos Guerreiros.
Os olhos de Brodie Sharper, o mestre espadachim, emanavam uma energia que um mero especialista não poderia suportar.
No entanto, Aron, não, Airen Farreira, olhava para outro lugar.
“Então aquele homem é…”
Alto, bonito e com um sorriso suave, Gael Wise, o meio-elfo que liderava a Guilda Wise, olhava de volta para ele em silêncio.
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