Índice de Capítulo

    Todos ficaram em silêncio. Os viajantes não tiveram escolha senão olhar atordoados para o jovem que disparava à frente, deixando um rastro dourado para trás.

    Era Airen Farreira, a estrela da Academia de Esgrima Krono, em quem todo o continente estava focado, e o prodígio do Reino Heyle.

    No entanto, devido ao grande número de impostores, ninguém sabia como o verdadeiro Airen se parecia. Apenas procuravam por algumas características, como Lulu, a gata falante, e a espada dourada que sempre brilhava intensamente. Como Aron não possuía nenhuma dessas, as pessoas naturalmente zombavam dele.

    Agora, a situação havia mudado completamente. Os viajantes, que encaravam o rastro deixado por Airen ou a rachadura que ele abriu no chão, empalideceram um a um.

    “O que… eu fiz?”

    “Se ele era real, por que não disse nada?”

    “Acho que não falei nada tão ruim, falei?”

    “Vai ficar tudo bem, certo? Tudo bem…”

    No entanto, nem todos estavam tranquilos. Aqueles que estavam bajulando a Guilda Wise se encontravam tomados pela preocupação. Embora ele não fosse tão famoso quanto Gael Wise, a influência do jovem mestre espadachim não podia ser subestimada, especialmente considerando a Academia de Esgrima Krono e as Casas Lindsay e Lloyd, que eram suas aliadas.

    — Temos que ir também — disse uma voz, tirando todos de seus devaneios.

    Era Gael Wise. Usando magia para amplificar sua voz, ele continuou:

    — Embora seja uma sorte que Lorde Airen Farreira, o mestre espadachim, tenha assumido essa missão, não podemos relaxar até descobrirmos o quão poderosos são os demônios. Afinal, pode haver um diabo entre eles.

    — Então… — murmuraram algumas pessoas.

    — Não forçarei ninguém a me seguir, mas a guilda e eu pretendemos nos juntar ao jovem herói. Por favor, preparem-se caso queiram vir conosco.

    Com isso, Gael Wise chamou novamente os soldados derrotados para perguntar sobre os detalhes enquanto organizava suas tropas. Os viajantes ficaram hesitantes antes de se juntarem à guilda para enfrentar os demônios.

    Mas nem todos estavam agindo por coragem ou senso de dever. Alguns apenas temiam se separar do grupo maior, enquanto outros não queriam antagonizar Airen. Houve também aqueles que decidiram que não seria tarde demais para fugir quando a situação ficasse séria.

    — Acho que esse tal de Gael Wise pretende fazer exatamente isso — comentou Vulcan.

    — O quê? — perguntou Ethan.

    — Seria vergonhoso para toda a guilda — com um mestre espadachim e tudo — fugir enquanto Airen partiu sozinho dizendo que salvaria os reféns. Então, é claro que ele faria um grande espetáculo se unindo a ele. Mas ele se moveria devagar, observando… para que pudesse fugir no momento em que visse qualquer vestígio de um diabo, alegando que era inevitável.

    — Vulcan… quer dizer, Vulcanus?

    — Isso mesmo, é Vulcanus.

    — Você também não gosta de Gael?

    — Vocês sabem de alguma coisa…?

    Ethan e Giovanni perguntaram cautelosamente, mas Vulcanus apenas acenou com a mão.

    — A elfa não contou a vocês? Provavelmente sei tanto quanto vocês.

    — Então a história é real…?

    — Oh, eu não sei.

    Vulcanus ficou em silêncio, como se não quisesse falar mais sobre o assunto.

    Ethan olhou ao redor.

    Era difícil encarar o anão da mesma forma que antes, assim como não podia mais enxergar Airen como fazia no passado. Afinal, ele estava diante do maior ferreiro do continente e criador das espadas numeradas.

    Agora que pensava nisso, temia ter cometido algum erro, ido longe demais com suas brincadeiras ou ofendido o anão de alguma forma…

    Foi então que Jarin se aproximou deles.

    — Eles estão se movendo bem devagar, como Lorde Vulcanus disse. Vocês acham que ele ficará bem? — perguntou ela.

    — O que quer dizer? — respondeu Ethan.

    — Airen. Ele parece ter ido direto para o covil. Será que ficará bem sozinho?

    Ethan, Giovanni e Keenan Reyes ficaram imóveis.

    De fato. Haviam deixado passar o que era realmente importante. Mesmo um mestre espadachim poderia enfrentar dificuldades contra vários demônios ou um diabo. Eles não podiam se demorar ali.

    Mas também não podiam avançar sozinhos. Embora tivessem um especialista entre eles, estavam longe de ser fortes o suficiente para fazer algo por conta própria.

    — Ele ficará bem — disse Vulcanus, estranhamente calmo.

    Pegando um cigarro do bolso, ele o acendeu e deu uma tragada.

    Exalando a fumaça, continuou:

    — Apenas digam a ele que fez um bom trabalho depois.


    A maioria dos diabos que despertavam no mundo humano, especialmente aqueles que se lembravam do passado, não podiam deixar de se surpreender com o quão mais poderosos os humanos haviam se tornado do que imaginavam. Dezenas deles eram mortos sem conseguirem fazer muita coisa, e muitos estavam fugindo. Os diabos precisavam encontrar esconderijos melhores e agir com mais discrição para salvar suas vidas.

    No entanto, alguns escolheram um caminho diferente.

    O Diabo da Cortina era um deles.

    Em vez de se esconder dos cavaleiros sagrados, ele decidiu aproveitar ao máximo tudo o que o mundo humano tinha a oferecer antes de ir embora com um estrondo.

    “Vamos aproveitar isso ao máximo, huh?”, ele pensava.

    Ainda assim, não ousava vagar livremente pelo mundo. Como os outros, não gostava de se afastar de seu domínio. Por isso, concentrava-se em firmar contratos com humanos e manipular os demônios para exercer sua influência, deixando-os trazer caos ao redor e aumentando seu próprio poder. Ele sequestrava humanos úteis e os transformava em seus asseclas.

    O que favorecia o Diabo da Cortina era que a maioria dos cavaleiros sagrados estava concentrada recentemente na capital de Arvilius. Por isso, o diabo, que deveria ter sido exterminado há muito tempo, sobreviveu o bastante para sonhar em criar seu próprio reino e se tornar o rei dos demônios.

    Sua rápida expansão o enchia de confiança. Assim, quando um humano avançou sozinho contra ele, o diabo não viu muita diferença entre aquele homem e um mosquito.

    — Hmph, hmm, hmm — cantarolou, sem sequer prestar atenção ao invasor.

    Embora as criaturas demoníacas estivessem caindo como folhas, não era como se importassem. Logo, os demônios sentiriam a presença do intruso e se moveriam. Isso seria o fim.

    O Diabo da Cortina continuou seu trabalho, limpando cuidadosamente os diversos instrumentos de tortura.

    Buzz…buzz…

    — Hã? O que foi? — perguntou o diabo.

    — Ah, o invasor parece ser bastante habilidoso — explicou o capitão dos demônios.

    — Eu… eu cuidarei dele imediatamente! — gaguejou o capitão.

    O diabo conteve sua raiva enquanto observava o capitão apressadamente fazer uma saudação e sair. Se pudesse, teria esmagado a cabeça daquele demônio ali mesmo.

    Infelizmente, aquele capitão era o mais útil entre todos os seus contratados. Além disso, o diabo estava muito focado no que estava por vir, como corromperia os quatro especialistas que havia capturado? Por isso, demorou para reagir.

    Ao sentir que algo estava errado, cerrou o punho.

    Crack!

    Os delicadamente trabalhados instrumentos de tortura se partiram, mas o diabo não teve tempo de se importar. Focalizou sua atenção nos contratados e no covil.

    Nada.

    Metade deles havia desaparecido!

    Ao perceber que metade dos seus demônios fora dizimada em questão de segundos, o diabo ergueu o olhar em choque.

    Crash!

    — Ugh!

    O diabo franziu a testa e cortou a conexão. Apertando a cabeça dolorida, recordou-se do homem humano e do ataque que seus asseclas haviam presenciado. A espada dourada invencível e a lâmina envolta em aura…

    Confirmando a presença de um mestre espadachim, o diabo explodiu em uma fúria sombria.

    — Como ele ousa interferir no meu reino…?! — rugiu.

    Woooosh!

    O Diabo da Cortina estendeu as mãos para os lados. A escuridão que preenchia o covil se envolveu em torno de seu corpo como cortinas. Em questão de segundos, havia multiplicado seu tamanho e cerrava os dentes. Estava apenas expandindo seu território! Só precisava de um pouco mais de tempo para reunir poder suficiente até que os cavaleiros sagrados aparecessem à sua porta.

    E então veio esse desgraçado, bloqueando seu caminho e arruinando seus planos. Jamais o perdoaria. Mesmo se morresse, aquele homem nunca pagaria por seus pecados.

    “Eu vou transformá-lo em um demônio, custe o que custar”, pensou o Diabo da Cortina com um sorriso perverso.

    Normalmente, era difícil corromper um humano de vontade forte e grande poder. Eles estavam cheios de confiança, acreditando que poderiam conseguir o que desejavam sem sacrificar nada. Para que o contrato funcionasse, o humano precisava sentir desespero, acreditar que jamais poderia realizar seus mais profundos desejos sozinho. A especialidade do Diabo da Cortina era envolver o coração de sua vítima em trevas, mergulhando-a na perda e na desesperança.

    O diabo disse a si mesmo que talvez o que havia ocorrido não fosse tão ruim assim. Afinal, era raro que um mestre espadachim, um material tão valioso, invadisse sozinho o covil de um diabo. Ali, ele tinha a vantagem.

    Mas…

    Assim que o diabo olhou nos olhos do espadachim humano à sua frente e espiou sua vontade, sua espada e seu credo, não teve escolha senão mudar de ideia.

    Clang!

    Crash!

    O diabo bateu o pé no chão e disparou para cima, rompendo o teto no processo. Não caiu, pois a cortina negra atrás dele se transformou em um par de asas. Ao perceber que não tinha nenhuma chance de vencer, fugiu tão rápido quanto o grifo de Kiril.

    “Vai ser difícil alcançá-lo”, pensou Airen.

    Mas tudo bem.

    Erguendo o olhar, Airen tomou sua postura e levantou sua espada larga.

    A criatura sombria subia mais e mais, fugindo enquanto a luz do sol derretia seu corpo.

    Sem hesitação ou dúvida, Airen disparou uma aura dourada de sua lâmina.

    Boom!

    Boom!

    Foi o fim. Não apenas o diabo, mas também sua vontade póstuma desapareceram sob o poder de Airen.

    Recolhendo sua espada, Airen a fincou no chão.

    Crack.

    Embora estivesse ali para erradicar o diabo, também precisava resgatar os inocentes. Sua boa vontade emanava da espada encantada.

    Observando seu poder purificar o covil do diabo, Airen moveu-se rapidamente para verificar o estado dos reféns.

    Tudo aconteceu em questão de segundos. Tanto os aventureiros quanto a Guilda Wise não tiveram a chance de ver corretamente os poderes de Airen Farreira. No entanto, ninguém ousou duvidar de sua força.

    Todos observavam em silêncio enquanto o herói cuidava dos reféns, envolto por uma luz quente que parecia afastar a escuridão iminente.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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