Índice de Capítulo

    “Por que ela está aqui?”

    Foi a primeira coisa que passou pela cabeça de Judith. Exceto pelas raras ocasiões em que ia ver Airen, Illia sempre treinava sozinha nas pequenas salas de treinamento.

    Era estranho. Mas Judith não teve tempo para pensar muito, pois a presença de Illia se tornava mais feroz.

    Judith rangeu os dentes e fez uma careta. Evitou gemer de dor apertando os dentes. Mas era só isso. A garota de cabelos vermelhos não conseguia sequer se mexer, não tendo escolha a não ser ouvir o que Illia dizia, parada bem na sua frente.

    — Eu não me importo se você me odeia, me xinga ou despreza minha família. Mas nada vai mudar, não importa o que gente como você diga pelas minhas costas. Sim. Nada. Eu vou ficar em primeiro lugar, como da última vez e no futuro. A esgrima da minha família? Não preciso dela. O que aprendi aqui na Academia de Esgrima Krono já é o suficiente… para provar que eu supero todos vocês.

    Ela falava com a mesma calma de sempre, mas o que dizia não era algo que os outros aprendizes pudessem ignorar. Ainda assim, ninguém ousou discutir com a garota de cabelos prateados. Alguns dos aprendizes zombavam dela pelas costas, mas, diante dela, mantiveram-se em silêncio.

    Judith não conseguia nem sentir raiva da reação deles, pois estava na mesma situação. Ela não era diferente dos outros.

    “Droga!”

    Ela queria dizer, ‘Quem você pensa que é para falar assim? Corta essa e guarda para o exame final.’ E queria gritar que iria arruinar o nome da grande e poderosa família Lindsay. Mas não conseguia falar.

    Judith mordeu o interior da boca, machucando o tecido macio. Sangue escorreu da ferida, mas ficou ali, deixando um gosto amargo e uma pontada de dor. A garota percebeu que a raiva a enchia de uma determinação feroz que faltava antes.

    Depois de sair de seu transe, respirou fundo. Abriu a boca para xingar a rica esnobe.

    — Parem — disse Brett Lloyd, interrompendo-as. Sua voz calma combinava com o azul de seu cabelo e aliviava o ar tenso ao redor deles.

    Mas, claro, Judith não se importou e gritou: — Saia do meio e desapareça…

    — Você será expulsa se causar mais problemas.

    Brett olhou para Judith e Illia, depois direcionou o olhar na direção dos dois instrutores assistentes que estavam de olho. Illia sentiu os olhares sobre si e retirou sua aura. Judith também respirou fundo e fechou a boca, insatisfeita.

    A garota de cabelos prateados voltou a sua expressão inalterada, como se nunca tivesse estado irritada, e saiu com passos casuais, sem olhar para trás.

    Judith tremia de fúria ao ver Illia se afastando, mas não podia fazer mais nada. Nesse momento, Brett falou novamente.

    — A esgrima da família Lindsay — disse em voz alta, parecendo um pouco empolgado.

    Illia parou. Não sabia por quê, mas sentiu que deveria. E a voz de Brett continuou às suas costas.

    — O nome foi dado após a derrota do Rei Dragão Demônio, da raça demoníaca que governava o céu há 400 anos, certo? A Espada dos Céus.

    — E o que tem isso…? — respondeu Illia.

    — Eu quero ver o quão incrível ela é.

    — Isso não vai acontecer — retrucou Illia.

    — Que pena. Não vou forçar você a mostrar se não quiser. Mas saiba de uma coisa — Brett fez uma pausa e continuou: — Se você não mostrar a Espada dos Céus, eu vou ficar em primeiro lugar no exame final.

    Illia não respondeu. Ficou parada por alguns segundos e então se retirou, voltando de onde veio. Mas não conseguiu ignorar completamente Brett. Ele acendeu um fogo dentro dela, algo que não acontecia há muito tempo.

    Mas, claro, quem ficou mais aquecida entre eles foi Judith. Ela ficou parada, ofegante, por um tempo, e então falou em meio à respiração pesada.

    Hoo. Aquela… hah. Cu-hoo. Zona-hah. Eu vou-hoo-acabar com ela!

    — Controle-se primeiro. E lembre-se de que foi você quem começou isso — disse Brett a Judith.

    — Eu… ela… quero dizer, eu… ugh… Cala a boca!

    — Como você quiser.

    — Ei!

    Judith ainda estava tomada pela raiva e não se acalmou, então Brett se virou e pegou sua espada. Ele parecia calmo, mas seu coração batia mais rápido que o normal.


    A notícia da discussão entre Illia Lindsay, Judith e Brett Lloyd se espalhou rapidamente entre os aprendizes. Naturalmente, a afirmação arrogante de Illia não foi deixada de lado.

    Mas poucos aprendizes ficaram irritados com isso. Eles sabiam quem ficaria em primeiro lugar, não importava o quanto competissem. Superar a família Lindsay era como enfrentar uma barreira estabelecida desde o nascimento, considerada intransponível. Eles só podiam se esconder nas sombras e falar pelas costas dela. Essa era a amarga verdade.

    — Eu ficarei em primeiro lugar.

    Mas as palavras de Brett mudaram isso. O garoto era muito talentoso, mas um realista. Nunca havia falado em ser o melhor. Agora, ele desafiava algo além dos céus. Sua declaração reviveu o orgulho adormecido dos aprendizes.

    “Eu não vim aqui para perder!”

    Era verdade. Ninguém veio para perder ou apenas sobreviver. Todos estavam ali para se tornarem os melhores espadachins que podiam ser. Brett Lloyd os fez lembrar do que tinham esquecido há muito tempo. E Judith ensinou, enfrentando Illia Lindsay de frente.

    “E-eu consigo ir além!”

    “Sobreviver ao exame final não é o bastante!”

    “Eu vou vencer! Eu tenho uma chance depois do que aprendi com a dança da espada!”

    “Vou vencer, não importa o que aconteça!”

    Todos mudaram de mentalidade. Eles voltaram a como eram inicialmente, sonhando com um objetivo que parecia impossível. Era como se tivessem voltado ao momento antes de sucumbirem ao desespero. O entusiasmo deles agora era muito mais quente do que antes, a ponto de ser difícil perceber que era inverno.

    E o aprendiz mais inflamado, o filho da família Lloyd, com seus cabelos brilhantes, pensou consigo mesmo.

    “Eu tenho o que é preciso para fazer isso?” ele se perguntou após enfrentar Illia Lindsay. Seria possível? Ele conseguiria cumprir sua palavra? Após pensar por um tempo, concluiu que tinha uma chance.

    Ele havia crescido após o ensinamento do diretor. Sua percepção havia se ampliado, e sua visão estreita se tornou mais flexível, permitindo absorver as forças dos outros e torná-las suas. Agora, ele era mais forte até mesmo do que a teimosa Judith.

    “Posso sentir o calor…”

    Ele estava se sentindo competitivo. Na verdade, ele odiava palavras como competitividade e combatividade. Achava que essas emoções o impediriam de ser racional e atrapalhariam seu crescimento eficiente.

    Mas ele não pensava mais assim. Já sabia que a chama ardente em seu coração lhe daria um poder explosivo, mesmo sem precisar olhar para o futuro.

    — Brett! Quanto a…

    — Ei, idiota sentimental! Vamos lutar!

    — Senhor Lloyd? Sabe o que eu devo fazer aqui…?

    Os aprendizes ao redor de Brett também sentiam o fogo dentro dele. Todos reconheceram que ele estava brilhando. Ele brilhava tão intensamente que era quase ofuscante, e ninguém conseguia ignorar isso. Isso atraiu vários outros ao redor dele.

    Brett e Illia eram ambos gênios, mas de formas diferentes. Enquanto ele abraçava todos ao seu redor, ela mantinha distância e focava em seu próprio caminho. Ele ajudava os outros, e eles o ajudavam em troca. A atmosfera quente e brilhante se espalhou e logo tomou conta de toda a academia.

    E após dois meses, Brett reconheceu claramente que havia se fortalecido.

    “Nada mal.”

    Quem não o conhecesse poderia pensar que ele era arrogante, mas não era o caso. Ele apenas reconhecia seu papel como o primogênito da família Lloyd. Não havia necessidade de se rebaixar quando era melhor do que a maioria.

    Essa também era a razão pela qual ele nunca pensou em desafiar Illia Lindsay. Sabia que ela estava acima dele, assim como ele estava acima dos outros, e isso parecia imutável. Mas agora, a lei do mundo que ele mesmo havia estabelecido estava começando a ruir.

    “Nada no mundo é fixo. Aqueles que parecem estar pior do que eu sempre podem me superar. Judith e Airen Farreira também podem se tornar mais fortes do que eu.”

    Nesse sentido, ele também poderia superar Illia Lindsay. Sua confiança brilhava intensamente, como o sol. Mas é claro.

    — Hmm.

    A luz não iluminava tudo. Assim como sempre havia uma sombra, por mais brilhante que fosse o sol, também havia aqueles que viviam na escuridão mais densa.

    Esse era Airen Farreira. A atenção das pessoas em relação a ele havia diminuído após o incidente entre Brett e Illia. Todos o ignoravam completamente como rival.

    Na verdade, ninguém duvidava de que ele passaria no exame final, considerando seu potencial avassalador. Mas também era verdade que sua habilidade estava muito atrás dos outros. Ninguém da classe B ou superior perderia para Airen em um duelo. Até mesmo alguns aprendizes da classe C pareciam ter uma boa chance de vencê-lo. Essa era a percepção sobre ele.

    Como resultado, embora os aprendizes reconhecessem seu potencial, ao mesmo tempo o desprezavam. Sabiam que ele tinha um futuro promissor, mas sua habilidade atual era decepcionante.

    Assim, Airen era como uma ilha solitária localizada longe do continente, longe do acirrado campo de competição.

    Mas isso não o incomodava. O Nobre Preguiçoso preferia assim. Ninguém dizia nada sobre ele não ter aprendido nada com a dança da espada, sobre ter reduzido seu treinamento de esgrima ou sobre investir o tempo economizado em meditação, que as pessoas costumavam achar um desperdício. E ele gostava disso. Finalmente, podia se concentrar em silêncio nesse ambiente.

    Na calma do silêncio, Airen estava deitado no banco. Então, levantou-se e pegou a espada de madeira. Mas ele não estava tentando treinar. Apenas estava mudando sua forma de meditar. Depois de permanecer imóvel por cerca de trinta minutos, abriu os olhos e assentiu.

    — Eu sabia que era isso.

    Ele parecia confiante, algo raro. O Nobre Preguiçoso quase nunca estava confiante ou certo de si mesmo. Tudo era novo para ele, então raramente considerava algo ‘correto’.

    Mas tinha um bom pressentimento e pensou em silêncio.

    “O que eu queria replicar era o homem, não o sonho em si.”

    Precisaria deitar-se para meditar se a casa em ruínas, o pequeno quintal, os trechos de grama selvagem e a brisa também fossem importantes. Mas não era isso. O garoto queria apenas copiar o homem e sua esgrima completa. Se fosse esse o caso, ele precisava ficar de pé para imitar o homem o mais fielmente possível. Precisava meditar enquanto empunhava uma espada. Mas isso, por si só, não era o suficiente.

    “Preciso de algo mais.”

    Estava no caminho certo, mas não era o bastante. Achava que havia mais coisas que precisava para chegar ao seu destino, e percebeu que não conseguiria nada ao continuar apenas pensando. Ele machucaria a mão em vez de abrir a porta, mesmo que continuasse a bater nela.

    Então, Airen abandonou sua obsessão e voltou a empunhar a espada para retornar à meditação.

    — Espera aí, isso também é uma meditação?

    O garoto abriu os olhos ao ouvir a voz atrás de si e virou-se para ver quem estava falando.

    Apoie-me

    Nota