Capítulo 304: Você, de Novo (1/2)
Essa expressão é considerada conhecimento comum desde os tempos antigos: ‘Para capturar um castelo, a força atacante precisa de mais de três vezes o número de tropas dos defensores.’
Os defensores podem observar seus oponentes de uma posição segura, sem a necessidade de agir primeiro. Em outras palavras, eles conservam sua força, evitando esforços desnecessários. Além disso, têm a vantagem de preparar diversas defesas antes que o ataque comece, forçando os invasores a suportar um fardo significativo enquanto avançam. O mesmo princípio se aplicava a duelos entre espadachins. Embora exista o ditado de que a melhor defesa é o ataque, não era fácil para alguém de habilidade relativamente inferior tomar a iniciativa.
Antes do combate começar, Karl avaliou a situação com calma. Sua estratégia era resistir. Por mais rápido que seu oponente fosse, Karl acreditava que seria difícil para ele atravessar sua ampla detecção de aura e sua postura defensiva sólida para desferir um golpe fatal.
“Se quiser explorar minhas brechas, ele terá que se mover para a esquerda, direita ou para trás. Enquanto ele precisa dar vários passos para mudar de direção, eu posso fazer o mesmo com meio passo ou um único passo. Apenas bloquear. Bloquear, bloquear e bloquear de novo.”
Se conseguisse aguentar até que o corpo frágil do velho finalmente se cansasse, uma oportunidade de ataque surgiria. Se Khun estivesse em seu auge, talvez a história fosse diferente, mas Karl tinha certeza de que não perderia para o homem diante dele agora.
Porém, ele estava enganado. O velho, que já havia perdido baldes de sangue e ambos os braços, parecia frágil, desprovido de qualquer intimidação. No entanto, apesar de seu estado deplorável, Khun não caiu. Em vez disso, começou a pressionar Karl, agora envolto em trevas, com movimentos ainda mais rápidos do que antes.
Swish…
Nem mesmo o som de um passo foi ouvido. Nenhum rastro foi deixado no chão. Era como se ele tivesse desaparecido do lugar, ou melhor, como se nunca tivesse existido ali para começo de conversa.
Slash…!
— Urgh!
Ele apareceu ao lado direito de Karl, sua lâmina cortando limpidamente ao passar. Rangendo os dentes, Karl brandiu sua espada em retaliação. Era um golpe incrivelmente rápido, tão impiedoso e poderoso que até mesmo um mestre espadachim comum não teria tempo de reagir. Mas era inútil se não acertasse.
Khun já havia reaparecido a mais de dez metros de distância, rindo suavemente. E então, desapareceu novamente. Karl perdeu sua figura de vista, apenas para sentir o ardor afiado de uma lâmina cortando a parte de trás de sua coxa mais uma vez.
— Graaaaaaah!
Ele rugiu de raiva. Conforme a energia demoníaca o envolvia, o fluxo de sangue foi interrompido. Seu corpo há muito tempo havia superado os limites humanos, permitindo que ferimentos como aqueles cicatrizassem com apenas uma única respiração. Talvez, se conseguisse apenas continuar pressionando seu oponente, mesmo com golpes vãos como agora, ele pudesse vencer. Afinal, ao contrário de si mesmo, o corpo de Khun ainda sangrava sangue vermelho.
Mas ele não conseguia. Ou melhor, ele se recusava a aceitar isso. Ainda lhe restava mais aura, um físico mais forte, sentidos mais aguçados e uma esgrima mais poderosa, ele era superior em todos esses aspectos. A única coisa que lhe faltava era velocidade.
“Mas estou sendo pressionado a esse ponto só por causa dessa única diferença? Como uma criança sendo provocada por um adulto?”
— Haaaaah!
Depois de ser cortado pela décima quinta vez pelos ataques de Khun, Karl mudou sua postura com um grito. Então, uma escuridão ainda mais densa começou a se expandir a partir de sua espada negra.
Três metros, cinco metros, sete metros…
Com sua Aura da Espada se erguendo a quase dez metros de altura, ele parecia um grande diabo emergido das profundezas do reino demoníaco, determinado a trazer o fim do mundo humano. Chamas infernais tremulavam em seus olhos, e uma respiração ardente escapava de sua boca.
Mas Khun permaneceu calmo. Mesmo quando os cabelos de seu oponente ficaram completamente grisalhos e seu corpo inteiro foi engolfado pelas trevas, o riso despreocupado de Khun não vacilou. Eventualmente, ele falou.
— Você conhece a história dos dois lobos que vivem no coração de uma pessoa?
Karl não respondeu. Era a mesma pergunta de antes, e de antes disso também. Mas ele não tinha motivo para responder. Seu único propósito era tirar a vida de Khun e assegurar seu corpo; não tinha interesse em mais nada. Por isso, a pergunta só alimentava ainda mais sua irritação. Ele queria arrancar a boca daquele velho que continuava insistindo em uma resposta que ele nunca daria. Conforme as trevas o envolviam, sua agitação e fúria cresciam como nunca antes.
Khun o observava. Tomando emprestadas as palavras de seu rival Ian, ele enxergava o coração de seu oponente através de seus olhos. Ele viu um abismo profundo, de escuridão insondável, mesmo enquanto queimava com uma intensidade feroz. E então, justo quando estava prestes a falar sobre o lobo negro que havia engordado dentro de Karl, o ataque foi lançado.
Kwaaaaaaaa…!
Foi um golpe colossal, esmagador, poderoso o suficiente para redesenhar a própria paisagem. Com a raiva fervendo até o topo de sua cabeça, Karl brandiu sua gigantesca espada para obliterar tudo ao seu redor. A morada de Khun, rochas, árvores, até mesmo os pássaros voando no céu, não puderam escapar da devastação. As ondas de choque se espalharam muito além do alcance de sua lâmina, apagando tudo nas redondezas.
— Haa, haa.
Só depois que suas emoções se acalmaram, Karl finalmente demonstrou uma expressão preocupada. Matar o oponente não era o mais importante. O crucial era garantir que seu corpo permanecesse intacto.
“O que eu devo fazer? Se o corpo dele foi vaporizado por aquele golpe, então…”
Mas esses pensamentos não duraram muito. Karl parou abruptamente e se virou com uma expressão incrédula. Conforme a poeira e a sujeira assentavam, o velho surgiu. Ele caminhava em sua direção, devagar e com calma. Sua postura era tão relaxada quanto antes, como se estivesse zombando de Karl, que até agora não conseguira acertá-lo nem uma única vez.
— Como eu disse antes… quando uma pessoa nasce, ela vive com dois lobos em seu coração. — Khun não esperou por uma resposta e continuou: — Um é o lobo negro. Ele representa as energias negativas, a raiva que consome a si mesmo, a culpa insuportável e os complexos de inferioridade que constantemente seguram alguém para trás…
Passo a passo, Khun continuou a se aproximar de Karl. Seu ritmo ainda era vagaroso, como se estivesse apenas passeando. Mas Karl não conseguia brandir sua espada como antes. Parte disso era porque havia se esforçado demais. Mas, mais do que isso, era a presença de Khun que o deixava inquieto. Os passos do velho pareciam mais leves do que antes, não, mais livres do que qualquer coisa que Karl já havia visto, e, de alguma forma, isso pesava em seu coração. Sem perceber, ele hesitou e recuou um passo.
O velho prosseguiu, indiferente às ações de Karl. Sua voz continuou, agora explicando sobre o outro lobo, o branco.
— O lobo branco é alegre, generoso, corajoso, cheio de ambição justa e uma competitividade saudável. Por isso, ele é puro e brilha branco como o belo pico de uma montanha coberta de neve. Esses dois lobos são rivais, batalhando todos os dias. Às vezes o lobo negro vence, às vezes o lobo branco vence. Mas, no fim, essas lutas intermináveis terminam com apenas um vencedor. O derrotado é expulso, e o vencedor permanece no coração, continuando a crescer.
Um silêncio inquietante tomou o ar.
— Qual deles você acha que normalmente vence?
— Pare com isso…
— Aquele que você alimenta.
Khun não esperou pela resposta de seu oponente. Cortando suas palavras friamente, ele olhou diretamente para o jovem envolto em trevas com olhos penetrantes.
— …Eu não posso compreender completamente o que você passou ou a dor que sofreu.
Khun ergueu o braço direito. Embora chamá-lo de braço fosse um exagero. Seu corpo já não era mais normal. Mas isso já não importava.
— Mas… foi você quem o alimentou. Você é responsável por criar o lobo negro em seu coração.
Zuuuuung…
A Aura da Espada do velho se transformou. Mas ela não ficou mais brilhante. Pelo contrário, tornou-se mais tênue, tão fraca que era mais pálida do que a estrela mais apagada no céu noturno. O contorno mal discernível da lâmina parecia feito de vidro transparente. E, no entanto, aquela espada insignificante parecia mais aterrorizante para Karl do que qualquer outra coisa.
Rangendo os dentes, Karl retomou sua postura. A aura negra fluía de sua espada. Mas, em vez de se erguer para cima, espalhou-se amplamente para os lados, focando-se na defesa. Formou um escudo espesso à sua frente e, além disso, selou todos os lados sem deixar uma única brecha. Era como se ele estivesse encerrado dentro de uma imensa e impenetrável joia negra.
De certa forma, era uma visão ainda mais impressionante do que a aura colossal de momentos atrás. Mas o rosto de Khun estava repleto de pena em vez de admiração. Ele murmurou suavemente.
— Então, você nem tem coragem para ser repreendido. Hahaha, haha… cof, cof!
O velho, que ria alto, tossiu sangue mais uma vez. Era menos do que antes, mas isso não significava que sua condição havia melhorado. Ele sabia disso também, seu tempo estava acabando. Ainda assim, ele estava satisfeito. Aquilo não era apenas conversa vazia, nem bravata. Não era fruto do desespero, nem um ato de perdão para o desprezível Karl Lindsay. Ao refletir sobre sua vida, percebeu que, mesmo quando achava que havia abandonado tudo, ainda havia uma obsessão que não conseguia largar até o último momento.
“Ian.”
Não era um complexo de inferioridade em relação a ele, nem ciúmes. O que atormentou Khun até o fim foi o medo de que sua vida, uma que ele dedicara inteiramente a superar Ian, acabasse se provando inútil.
“Eu não preciso disso.”
Ele sorriu. Não era a risada forte de antes, mas um sorriso tênue, mais tranquilo. Há muito tempo, mais de dois anos, ele havia percebido que existiam coisas muito mais importantes na vida. No entanto, ele havia agido com meio coração, então merecia qualquer punição que o aguardasse. E, com esse pensamento, sua mente se aquietou.
Respirando fundo, Khun parou de caminhar e se concentrou. Firmou os pés e assumiu uma postura para um estocada.
“Falta de uma esgrima profunda? Aura insuficiente? Controle precário? Poder inferior em comparação a espadachins do mesmo nível?”
No fim, a única coisa que ele possuía era velocidade.
“Mas isso basta. Isso é mais do que o suficiente.”
Com um passo, ele transcendeu o espaço.
Com dois passos, ele superou o tempo.
Em todo o continente, as pessoas concordavam unanimemente que aqueles que atingiam o nível supremo da espada eram aclamados como mestres espadachins.
Mas havia um reino que nem mesmo esse grande título conseguia abranger.
Dizia-se que ninguém jamais o alcançou.
E não havia certeza de que alguém o faria no futuro.
O Grão Mestre Espadachim.
Em seus momentos finais, a espada do velho vislumbrou esse reino e cortou através da esfera negra…
Wuuuuuuung…
A expressão de Khun endureceu. Embora tivesse sobrevivido ao golpe, estava em um estado onde mal conseguia se manter de pé. Se ao menos pudesse dar mais alguns passos à frente, poderia encerrar a luta. Mas seu corpo se recusava a se mover.
No meio daquele impasse, um sacerdote e o Diabo bufão se aproximaram. Os dois trouxeram consigo uma escuridão absoluta que engoliu os arredores. O velho focou seu olhar no sacerdote, uma expressão vazia tomando seu rosto.
“O lobo negro que eu pensei ter expulsado e destruído… voltou.”
“…Como um mal ainda maior.”
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