Capítulo 305: Você, de Novo (2/2)
Khun tornou-se um mestre aos setenta anos. E mesmo depois disso, através de um esforço incansável, tornou-se um rival digno de Ian, o senhor de Krono.
É uma história que inspira sonhos e esperança em todas as pessoas sem talento ao redor do continente. No entanto, poucos compreendem o que realmente significa lutar por um ano.
Persistir por cinco anos, dez anos, ou até mesmo décadas não era algo que pudesse ser feito com uma força de vontade comum. Era como caminhar por um abismo, trilhando um caminho solitário por toda a vida sem uma esperança clara de alcançar o objetivo. Persistir sem ter certeza se estava avançando ou retrocedendo era o mesmo que tortura.
Khun fez tudo o que pôde para escapar desse inferno. Passou mais tempo controlando suas emoções do que treinando com sua espada.
Felizmente, obteve resultados. As zombarias do mundo, o escárnio de todos, o sentimento de autocomiseração, a tristeza e a dúvida, para escapar de toda essa negatividade, Khun embarcou em uma longa jornada e reconstruiu sua fé. Um espírito de luta saudável afastou seu complexo de inferioridade, e a esperança no futuro apagou sua ansiedade e incerteza. Após quarenta anos, o lobo negro no coração de Khun desapareceu.
“Não, ele não desapareceu.”, Khun riu baixinho. “Isso mesmo. Ele não desapareceu.”
Mesmo sem alimentá-lo por um longo tempo, sem nem mesmo lançar-lhe um olhar, o lobo negro ainda estava vivo. Embora tivesse emagrecido tanto que sua barriga se colava às costas, ele não definhou. Simplesmente escapou de seu coração para encontrar um novo mestre.
Quantas pessoas o haviam alimentado? Ele nem conseguia imaginar.
O que era certo era que, para superar os esquemas do lobo negro, que havia crescido a um tamanho imenso, o antigo Karl Lindsay teria sido jovem e inexperiente demais. Mas era exatamente por isso que ele via esperança.
O velho baixou a cabeça e olhou para seu próprio estado. Ambos os braços, sem um único dedo restante. O sangue fluía tanto que sua cabeça girava, e grandes e pequenos ferimentos estavam ocultos sob essa camada vermelha, tornando-se invisíveis. Para uma pessoa comum, esses seriam ferimentos graves o suficiente para causar morte instantânea.
Mas pior do que isso era a aparição do lobo negro transformado em diabo e do monstro na forma de um bufão diante dele.
Ele pôde sentir instintivamente que o estado que havia alcançado agora era tão grandioso que não poderia ser descrito como nada menos que sublime, tão distante que superava até mesmo os milagres realizados por feiticeiros. Normalmente, ele poderia ter reunido as energias ao seu redor para reconstruir seu corpo, renascendo novamente. Mas agora, isso era impossível.
Mesmo que tentasse formar um novo corpo reunindo as energias turvas e vis emitidas pelos diabos, o que surgiria seria apenas mais uma perversidade. Khun percebeu que seu fim havia chegado.
Então, qual era a esperança que o velho enxergava? Os cantos de sua boca se ergueram.
Ao ver isso, o sacerdote interrompeu abruptamente seus passos. O diabo bufão também olhou para o maior espadachim do continente com olhos cheios de cautela.
“Tenho que ter cuidado.”
Não era porque recentemente havia sofrido derrotas consecutivas e perdido a confiança. Sinos de alerta estavam tocando em sua cabeça. A imagem do velho que, em um passado distante, havia despedaçado sua máscara. O olhar do velho, sua aura aterradora.
Uma força comparável emanava de Khun.
“E até mesmo o fato de ele estar à beira da morte é semelhante… Argh, assustador!”
O bufão estremeceu involuntariamente. Não queria se aproximar. Se fosse possível, desejava que o velho simplesmente encontrasse seu fim em silêncio.
Whoosh…!
— Eek! Ugh!
Khun, o maior espadachim do continente, estendeu o braço direito. Mais precisamente, uma energia se materializou através de sua aura. Um poder vasto, tão sutil quanto a luz da lua absorvida pelo vidro.
A expressão do sacerdote se tornou ainda mais sombria, e o bufão recuou para longe. A ferida sob sua máscara latejava tanto que ele nem conseguia erguer a cabeça. Mas o poder do velho não estava direcionado a eles.
Deslizando para o lado, Khun ergueu o jovem que havia desabado no chão e murmurou algo.
Sua voz era tão baixa que parecia que nenhum som saía. Nem o sacerdote nem o bufão conseguiram ouvir o que o velho disse. Apenas Karl compreendeu suas palavras.
Cambaleando para trás, Karl foi solto da mão de Khun assim que a conversa terminou. O mesmo aconteceu com o velho. Como se sua energia tivesse se esgotado, ele também cambaleou para trás, finalmente caindo e deitando-se no chão. O braço que havia surgido de seu lado direito, e a espada, já não estavam mais visíveis.
Após um breve momento, uma voz muito mais clara e distinta fluiu da boca do velho.
— Ei, amigos.
Quando ninguém respondeu, ele continuou.
— Amigos, estão surdos? Ou estão com tanto medo? Vão continuar assim mesmo quando eu estou à beira da morte? Especialmente você aí… você é aquele sujeito que causou estragos em Lavaat, não é?
— …
— Pensar que Ignet Crecensia teve dificuldades contra um idiota como você… eles ainda têm um longo caminho a percorrer.
— Seu desgraçado…
O bufão lançou-lhe um olhar furioso por trás da máscara, seus olhos tingidos de sangue. Mas ainda assim, não se aproximou.
Khun continuou a zombar.
— Impotente, fracassado, tolo, craca, pulga de areia… — Depois de murmurar insultos por um tempo, ele de repente parou e falou seriamente. — Eu retornarei.
— Aquele animal ali, fingindo ser um sacerdote, não saberá, mas você sim. Você é um diabo; viveu por muito tempo, não é?
— Do que você está falando?
— Estou falando da lenda daqueles que ultrapassaram o domínio dos Mestres Espadachins. O grande reino que todos anseiam, o Grão Mestre Espadachim. Há uma história que diz que, ao alcançá-lo, você pode se livrar de seu corpo doente, velho e desgastado e renascer… Você já ouviu falar disso, não é?
— …
— Eu alcancei esse limite… e retornarei. De uma forma ou de outra.
“Porque então… poderei vê-los novamente.”
“Meu rival, Ian.”
“Minha esposa, Keira Finn.”
“E minha promissora discípula, Judith.”
Khun riu. Uma risada pura, inocente, sem arrependimento, obsessão, raiva ou tristeza. Sua voz era tão imaculada que irritava os nervos do diabo. E então, tudo terminou. Um minuto se passou, depois dois. O velho não respirou por tanto tempo que até mesmo o desconfiado diabo bufão se convenceu de sua morte.
Finalmente, o bufão soltou um suspiro e começou a caminhar em direção ao cadáver, despejando xingamentos e zombarias.
— Ha, esse maldito idiota! Do que diabos ele estava falando?
“Grão Mestre Espadachim, ele realmente acreditava em uma bobagem dessas?”
Uma risada vazia escapou involuntariamente. Claro, ele também conhecia essa lenda. Na verdade, não achava que era inteiramente um absurdo. Em qualquer campo, quando alguém alcança o ápice, é possível realizar milagres comparáveis à feitiçaria.
“No momento em que se rompe a barreira de mestre, o corpo realmente passa por uma nova evolução para aceitar a aura transbordante e a energia que jorra de fora… criando um receptáculo mais forte e amplo para contê-la.”
Mas isso só acontecia enquanto se estivesse vivo. Não importava o quanto alguém lutasse, algo assim não poderia acontecer depois da morte. Até mesmo o espadachim do passado, Karin Winker, que demonstrou uma grandiosidade semelhante à de Khun, desapareceu em poeira.
Foi então que a expressão do bufão se endureceu ao ser tomado por um pensamento repentino, aquele fedelho que o despertou de um longo sono e, como se não bastasse, lhe infligiu mais uma ferida amarga. Ao lembrar-se do rosto daquele tolo, um sentimento de inquietação o dominou.
Slash.
— Aaaargghhh!
Uma energia cortante disparou de Khun, e o corpo do bufão foi partido ao meio. O velho, apreciando a cena com uma expressão satisfeita, murmurou:
— Seu tolo, devia ter ficado alerta até o fim.
— Maldição, maldição, maldição!
— Não adianta praguejar, seu imbecil… Bem, agora eu realmente estou indo.
Esse foi o fim. Khun finalmente parou de respirar e desabou. Ainda com um sorriso no rosto. Uma provocação perfeita, tirando até mesmo a chance de vingança de seu inimigo.
Mas, claro, o bufão não aceitou isso.
A parte superior de seu corpo saltou para o alto e se recolocou na parte inferior. A dor era inevitável. Com a sucessão de golpes recentes e o ataque do Grão Mestre Espadachim, sua força restante estava no limite. Ele ao menos queria extravasar sua frustração no cadáver.
No entanto, isso era impossível.
— Saia do caminho.
O ombro do bufão foi empurrado para o lado pelo sacerdote que havia aparecido. Ele colocou a mão sobre o peito de Khun, fechou os olhos gentilmente e começou a recitar um encantamento.
O bufão permaneceu em silêncio. Normalmente, ele não teria ficado parado. Apesar de trabalharem juntos, ele não era alguém que pudesse ser tratado de maneira tão desdenhosa. Além disso, era a primeira vez que ouvia o sacerdote se dirigir a ele de maneira tão informal.
Para se tornar um ser superior, ascendendo a uma escuridão ainda mais profunda, a transformação de Khun se desenrolou diante do bufão, que não ousou expressar sua raiva.
Glug glug.
Zuuuuuuu…
A energia de Khun fluiu para o corpo do sacerdote. O lobo, que havia vagado por tanto tempo, finalmente encontrou um lar e se alegrou. Chorou e riu diante daquela iguaria incomparável.
Depois de um tempo, o bufão ficou diante do sacerdote, que havia recuperado sua força.
— Parabéns ao novo Rei Demônio.
— Não, não me chame assim.
O demônio negou as palavras do bufão. Ele cerrou e abriu os punhos, dobrou e esticou as pernas. Depois de examinar seu novo corpo por um tempo, finalmente se definiu.
— De agora em diante, me chamem de Demônio do Coração.
— Sim.
O bufão respondeu, e Karl também abaixou a cabeça em reverência.
Porém, apesar de ter diante de si o sacerdote, não, o Demônio do Coração, renascido como um novo ser, os pensamentos de Karl estavam em outro lugar.
— Vá para o Reino Sagrado. Vá e veja o Torneio dos Heróis, e observe aqueles que participam. Aqueles que, apesar de suas fraquezas, sofrem, se angustiam, mas ainda assim se levantam e seguem em frente… Se você os vir, talvez tenha uma nova chance, apesar de estar manchado pelas trevas.
“Judith.”
“Brett Lloyd.”
“Illia Lindsay.”
“E Airen Farreira.”
Na escuridão que se aprofundava, Karl repetiu os nomes que o velho lhe havia dito.
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