Capítulo 307: Uma Batalha de Inteligência (2/4)

— Hilário. Essa pirralha também recebeu um convite para Arvilius? Deve ter sido algum tipo de engano.

Essas foram as primeiras palavras ditas por Jakuang, o Rei dos Mercenários do Sul. Ele não estava tentando provocar uma briga, simplesmente não conseguia compreender a decisão do Reino Sagrado.

“Se fosse Brett Lloyd ao lado dela, eu até entenderia. Mas por mais que eu olhe, essa garota não se encaixa no padrão.”

Este era um torneio destinado a apresentar os guerreiros que liderariam o futuro e trariam esperança para todo o continente. Para Jakuang, a ideia de uma desconhecida no nível de Especialista passeando por um lugar como aquele era inaceitável. Afinal, dizia-se que a maioria dos convidados, com exceção daquela peste, eram Mestres, então suas dúvidas eram compreensíveis.

“Qual pode ser o motivo? Ela atingiu o nível de Mestre Espadachim? Não parece provável. Talvez sejam suas conexões? O apoio da Casa Lloyd, da Casa Lindsay e da Academia de Esgrima Krono? Eu simplesmente não entendo.”

Mas uma coisa era certa: ele não era do tipo que deixaria isso passar despercebido.

— O que está olhando, pirralha? — Jakuang zombou. Mas, para sua surpresa, percebeu que o olhar afiado dela estava cravado nele.

“Para alguém no início dos vinte anos, ela tem potencial. Quem sabe, em trinta anos, pode até se tornar um dos pilares do continente. Mas não agora. Logo ela entenderá seu lugar.”

Quando pensava nisso e estava prestes a desviar o olhar…

— Vá se ferrar.

— …O que você disse, sua pirralha?

Whoosh…!

Uma aura aterrorizante explodiu do corpo colossal de Jakuang. Era selvagem e descontrolada, como centenas de cavalos em disparada. A maior parte da pressão foi direcionada à garota ruiva, mas ela não recuou. Também não demonstrou medo. Em vez disso, certificou-se de que ele a ouvisse claramente ao repetir as mesmas palavras.

— Eu disse, vá se ferrar.

O salão caiu em silêncio. Os espadachins, os músicos, os jornalistas, todos pararam o que estavam fazendo e observaram o confronto entre Jakuang e Judith.

— Hm. Isso é ruim.

— Você está irritado?

— Não, não estou — respondeu Brett Lloyd com um leve sorriso à pergunta de Judith.

— Se segurar demais faz mal. Faça o que quiser.

— …Por que estou me sentindo irritado?

— Quer que eu faça um carinho na sua cabeça?

— Cala a boca. Não estou com humor para brincadeiras.

Ela interrompeu a provocação do parceiro e voltou a encarar Jakuang. Ele tinha uma aparência feroz, um corpo massivo e inúmeras cicatrizes pequenas espalhadas pela pele como insetos rastejando. Mas Judith não era alguém que se deixava intimidar por essas coisas. Na verdade, quanto mais era provocada, mais quente e mais forte se tornava.

“…Algo continua me incomodando.”

Na verdade, Judith não vinha se sentindo muito bem ultimamente. Nada de particularmente ruim havia acontecido. Sua viagem até o Reino Sagrado correu bem, e até conseguiu algumas conquistas no caminho. Fazia tempo que não via Brett, então passar um tempo com ele de novo foi agradável. Além disso, estava confiante em suas chances de vitória no torneio. Em outras palavras, tinha todas as razões para simplesmente ignorar esse tipo de provocação. Mas não conseguia.

“Ah, dane-se.”

Judith balançou a cabeça. Pensou em seu mestre por um instante. Para ser sincera, sentia-se desapontada. Não esperava que ele a seguisse, mas insistir nesse sentimento agora parecia infantil. Com isso decidido, ela falou novamente.

— Ei, me desculpe.

— O quê?

— Me desculpe pelo palavrão. Vamos encerrar isso aqui, certo? Você também não disse nada muito educado, não é?

— Olha só essa pirralha…

— Oi, você está começando de novo. Seja como for, vou deixar essa passar também. Vamos acabar com isso numa boa. Não percebe que todo mundo está olhando…? Ei, você está me ouvindo?

— Pfft…

Uma risada ecoou atrás deles.

Era Inasio Karahan, Estrela Sagrada do Sul. Ele assistia à confusão com diversão, torcendo para que Judith provocasse ainda mais Jakuang. Mas nem ele esperava que as coisas chegassem tão longe. Ao ver o rosto do Rei dos Mercenários do Sul ficando vermelho como se estivesse prestes a explodir, gritou:

— Sênior, vamos pegar leve, como a júnior sugeriu. Este é um encontro pela paz do continente, afinal. Não há necessidade de se exaltar por algo tão trivial… Oh, desculpe, vou parar.

Inasio Karahan levantou as mãos e recuou. O espetáculo era divertido demais para ele querer se envolver diretamente. Sem esforço, dissipou a aura de Jakuang e desapareceu na multidão. A energia que antes vagava sem rumo voltou a se concentrar em Judith.

O silêncio retornou.

Ninguém ousou intervir. Os que não tinham habilidade suficiente estavam sobrecarregados pela aura de Jakuang, e mesmo os espadachins mais experientes não queriam criar problemas desnecessários. Ainda assim, todos pensavam a mesma coisa.

“…Ela está calma demais. Por que ainda não cedeu?”

A expressão ‘matar alguém apenas com aura’ não surgiu do nada. Na verdade, aqueles que atingiram o nível de Especialista já podiam exercer pressão direta sobre seus oponentes através da manifestação da aura. E nem se falava dos Mestres Espadachins de nível mais alto. Não importava o quão talentosa Judith fosse, ela deveria estar tremendo e recuando a essa altura. Mas não estava.

Na verdade, estava assombrosamente calma.

No silêncio, uma a uma, exclamações de admiração começaram a surgir. A presença que a jovem espadachim exibia era surpreendente.

“Essa pirralha…”

Jakuang não ficou satisfeito. Mas sabia que havia pouco que poderia fazer. Forçá-la ainda mais significaria uma luta real, algo que ele queria evitar, mesmo sendo o governante do Sul. Por mais grandioso que fosse, não queria causar uma confusão em Arvilius, a nação mais poderosa do continente. Sua aura era apenas para intimidação, não para combate de verdade.

“Mas recuar assim seria humilhante…”

Seu rosto se contorceu de frustração, o suor começou a se formar em sua testa. Ele não podia simplesmente desistir, mas continuar era desgastante. Por alguma razão, a garota ruiva parecia impassível. Ela não era uma Mestre, e ainda assim ele não conseguia compreender a situação. Enquanto ponderava, sentiu uma presença atrás dele.

“É o Jarod?”

Jakuang se virou, esperando ver seu camarada. Pensou que seria melhor se Jarod o impedisse. Mas não era Jarod. Era Ignet Crecensia, a espadachim de cabelos negros e um dos pilares do Reino Sagrado. Ela o observava com olhos frios e sem emoção.

— …!

A expressão de Jakuang se endureceu quando ele deu um passo para trás. O suor que havia se formado em sua testa escorreu. Embora estivesse distraído, não percebeu sua aproximação até que ela estivesse bem atrás dele. Antes que pudesse entender a situação, outra voz veio de trás.

— Pare com isso, Judith.

Surpreso, ele virou o corpo, e outra jovem espadachim entrou em seu campo de visão. Era a gênia do Reino Adan, Illia Lindsay. Sua expressão escureceu. Ele também não a havia notado.

Além disso, a atmosfera estava se tornando estranha. O que antes era um confronto entre Jakuang e Judith agora havia atraído a atenção de todo o salão. Inasio Karahan, Devan Kennedy, Ralph Penn e até mesmo o principal candidato ao título, Camrin Rey, estavam observando atentamente.

Mas agora, não era mais esse o foco.

Ignet Crecensia e Illia Lindsay estavam frente a frente, e a tensão era mais densa do que nunca.

— Isso não parece bom.

— De fato. Isso está…

— Se tornando mais interessante do que o esperado.

Os repórteres murmuravam em voz baixa a uma distância segura. Eles estavam intrigados. Mais do que isso, estavam empolgados. Diferente de Jakuang e Judith, que não tinham uma história pregressa, Ignet e Illia eram rivais bem conhecidas. Seu relacionamento adversário era infame por todo o continente. O fato de Illia ter se juntado à Academia de Esgrima Krono e até buscado a Terra da Provação para alcançar Ignet era amplamente conhecido.

“Mas não importa o quão entrelaçada seja essa história… se elas não estiverem no mesmo nível, não significa nada.”

Um repórter lembrou-se dos eventos passados. Enquanto Illia parecia sempre estar consciente de sua rival, Ignet nunca retribuiu esse sentimento. Além disso, parecia estar ampliando a distância entre elas cada vez mais, como se afirmasse: ‘Não estamos no mesmo nível.’ Mas agora, as coisas pareciam diferentes.

A espadachim de cabelos prateados encarou sua contraparte de cabelos negros. Ignet não desviou o olhar, correspondendo com um leve sorriso curioso. Não havia aura nem manifestação de pressão. Mesmo assim, a tensão era tão palpável que fazia a pele formigar, indicando a mudança na dinâmica entre as duas. Até mesmo alguns espadachins que chegaram atrasados engoliram em seco diante da cena incomum.

Exceto por uma pessoa.

Tap, tap.

No salão completamente silencioso, passos ecoaram. Lentamente, as cabeças se viraram em direção ao som. Havia algo estranho nisso. Eram passos comuns, mas exigiam atenção. Ninguém conseguia desviar o olhar.

Jakuang, Jarod, Judith e Brett Lloyd não eram exceção. Até mesmo Ignet Crecensia era igual. Alguns observadores mais atentos notaram que seu olhar parecia mais focado nesse indivíduo do que quando olhava para Illia Lindsay.

O espadachim loiro continuou caminhando em um ritmo constante, encurtando a distância.

Tap, tap.

O tempo parecia desacelerar. Ninguém olhava para nenhum outro lugar. Seus olhos estavam fixos nos dois espadachins, a de cabelos negros e o loiro, se aproximando.

“Por que estou me focando tanto neles? Há algo entre eles?”

Todos tiveram o mesmo pensamento, mas ninguém sabia o porquê. A única coisa clara era que o jovem irradiava um poder inexplicável que atraía a atenção de todos. Enquanto a multidão prendia a respiração, o espadachim loiro passou por Ignet.

— …?

— …?

— …?

A confusão se espalhou pelo salão. Alguns suspiraram, desapontados com o momento aparentemente insignificante. Mas o espadachim não se importava.

Parado diante de sua amada, Airen Farreira sorriu.

— Senti tanto a sua falta.

— Eu ainda mais — Illia Lindsay respondeu com um sorriso.

Ignet Crecensia os observou, atordoada.

— Hah?