Capítulo 308: Uma Batalha de Inteligência (3/4)
Não era nada particularmente especial, apenas algumas palavras afetuosas trocadas entre amantes. Uma cena comum, que se podia ver em qualquer lugar, a qualquer momento. Casais sussurrando doces palavras um ao outro, trocando olhares ternos, eram um espetáculo corriqueiro, especialmente em um baile, onde tais demonstrações estavam por toda parte. Em locais mais reservados, era até possível encontrar casais expressando sua afeição de maneira ainda mais intensa.
Mas isso só acontecia em lugares comuns, com atmosferas comuns. No Torneio dos Heróis, onde dezenas de mestres espadachins e especialistas de alto nível estavam reunidos, a mudança repentina no clima os deixou perplexos.
Apenas cinco minutos atrás, a tensão era tão alta que alguém poderia ter sacado sua espada. O confronto entre Ignet Crecensia e Illia Lindsay que se seguiu não foi diferente. Embora apenas se encarassem, a atmosfera era tão carregada que suores frios escorriam pelas costas de todos.
No entanto, tudo se dissolveu no momento em que Illia Lindsay apareceu radiante, seus olhos cheios de carinho. A tensão anterior parecia uma ilusão, como se nunca tivesse existido. No novo e inesperado estado de calma, Judith virou-se para Brett e falou:
— …O que diabos está acontecendo?
— Eu te disse. Ele mudou muito desde antes.
— Você disse, mas… — Judith calou-se no meio da frase. Ela sabia que os dois haviam se tornado amantes; Brett lhe contara. Na verdade, de certa forma, ela já esperava por isso. Embora não fosse particularmente perspicaz, percebera a atmosfera calorosa entre eles durante a jornada.
“Mas não achei que fosse assim.”
Eles não estavam se beijando profundamente nem fazendo algo inapropriado diante de todos. Mas ela simplesmente sentia. Ao contrário de sua suposição de que teriam um romance inocente, como adolescentes recém-apaixonados, havia entre eles uma afeição profunda e íntima.
— Huh, eu pensei que fossem só crianças.
— Sério? Então o que isso faz de…
— Cala a boca.
— …
— De qualquer forma, é surpreendente. Estou tocado.
Brett resmungou baixinho, mas Judith não ligou. Apenas observava Airen e Illia com uma expressão satisfeita. Claro, nem todos compartilhavam do mesmo sentimento.
Na verdade, a maioria não compartilhava. Aqueles que não conseguiam se adaptar à súbita mudança de atmosfera tinham expressões vazias, incluindo Ignet Crecensia, que estava em um impasse momentos atrás.
“O que está acontecendo…?”
Ela estava atônita. Ignet sempre fora o centro das atenções, fosse por inveja, admiração ou ódio, as emoções que os outros dirigiam a ela eram intensas. Mas, de sua perspectiva, nenhuma delas jamais merecera uma resposta. Para ela, ninguém era digno de seu interesse. E agora, ao ser completamente ignorada por aqueles que começara a achar intrigantes, um sentimento estranho surgiu dentro dela. Era um desconforto inexplicável, uma sensação desagradável que nunca experimentara antes.
Foi por isso que decidiu agir. Pela primeira vez desde que chegara ao torneio, Ignet ergueu sua aura.
Swoosh…
Uma energia afiada e meticulosamente calculada atingiu dois alvos específicos. Como agulhas, espetou Airen e Illia. Ignet engoliu em seco, antecipando sua reação. Por alguma razão, sentia-se tensa.
Mas os dois continuaram presos no olhar um do outro, completamente alheios. Como se estivessem isolados do mundo, transmitiam silenciosamente: ‘Alguém como você não pode abalar nosso mundo com esse nível de provocação.’ Na verdade, pareciam ainda mais afetuosos.
Ignet ficou ali, sem palavras. Por um longo momento, ponderou silenciosamente se deveria intensificar sua aura. Justo quando se inclinava para fazer isso…
— Eles chegaram.
— Julius Hule!
— O Capitão dos Cavaleiros Brancos!
— Ao lado dele está…
— Não pode ser, é o Rei Sagrado?
Uma comoção varreu o salão. Era natural, já que as figuras que acabavam de entrar atraíam imensa atenção. Julius Hule, Capitão dos Cavaleiros Brancos, caminhava com uma aura misturada ao poder divino, refrescante e revigorante. Sua simples presença fazia as pessoas se sentirem mais lúcidas e calmas. Não havia dúvidas de que ele era o maior especialista do reino.
Mas ainda mais atenção foi direcionada ao Rei Sagrado. Apesar de ter aparecido em público raramente ao longo dos anos, e sem exibir qualquer aura perceptível, todos o reconheceram instantaneamente. Não sabiam explicar como, mas simplesmente sabiam.
“Alguém que liderou Arvilius por décadas não poderia ser uma pessoa comum.”
“Por que ele está aqui? O que ele pretende dizer?”
“Espero que isso não vire um discurso chato…”
A combinação de Reino Sagrado, um homem idoso e a mais alta autoridade fez algumas pessoas, especialmente Jakuang e Jarod, gemerem internamente, antecipando um longo e tedioso sermão.
No entanto, contrariando todas as expectativas, o Rei Sagrado não era nada entediante. Ele parou de andar, sorriu levemente e falou:
— Bem-vindos, espadachins de todo o continente, que vieram espalhar a esperança. Sem mais demora, vamos revelar os confrontos.
Bang!
Ele golpeou o chão com seu cajado, e uma radiação prateada se espalhou, formando letras brilhantes no ar. Uma chave de torneio para 128 participantes apareceu, e os servos se apressaram em distribuir papéis com as chaves dos duelos. Os participantes imediatamente se lançaram sobre as futuras batalhas.
A chave do torneio não fazia distinção entre mestres e novatos. Por isso, os competidores de menor nível focaram em verificar seus primeiros adversários, esperando evitar um oponente do nível de um Mestre. Um confronto favorável poderia significar avançar para a segunda rodada, talvez até atrair a atenção de figuras influentes. Para cavaleiros errantes sem afiliação, essa era a melhor chance de conseguir uma grande oportunidade.
Mesmo os competidores de nível Mestre examinavam atentamente seus oponentes. Embora precisassem derrotar todos para vencer, era natural preferirem enfrentar adversários mais fortes apenas nas fases finais. Gemidos frustrados vinham daqueles que sortearam oponentes difíceis logo no início, enquanto outros, que tinham caminhos mais suaves, sorriam.
— Hmm…
Jakuang, o Rei Mercenário do Sul, franziu a testa. Suas primeiras rodadas seriam contra adversários fáceis, pessoas que mal conseguiam sacar a espada corretamente. Mas, em uma rodada posterior, enfrentaria a Capitã dos Cavaleiros Negros, Ignet Crecensia de Arvilius.
“A maioria dos participantes das fases finais será de mestres espadachins. Enfrentar Ignet não é tão ruim quanto pegar Jarod ou Inasio logo de cara, mas ainda assim…”
Sua testa se enrugou. Normalmente, esse era um confronto pelo qual ele ansiava. O fato de só enfrentar Camrin Rey, o mais forte do torneio, na final, era uma boa notícia. Embora não subestimasse Ignet, achava impossível que uma mulher na casa dos trinta pudesse derrotá-lo. Pelo menos, era isso que pensava dez minutos atrás. Mas, depois de encará-la diretamente, sua presença parecia muito mais formidável do que ele esperava. E isso o incomodava.
— Qual é essa cara séria? Está preocupado com alguma coisa? — perguntou Jarod.
— Preocupado? Nem pensar! Só estava pensando em como esmagá-los — respondeu Jakuang, exibindo um sorriso feroz.
“Chega. Ainda estou inquieto, mas é melhor ignorar. No fim das contas, pelo menos evitei Camrin Rey no começo.”
Ele gostava do fato de que Inasio Karahan e todos aqueles caras do Oeste que o preocupavam estavam do outro lado da competição. Mas, acima de tudo, o que mais o animava era…
“Judith. Vou poder esmagar pessoalmente essa pirralha que não conhece seu lugar. Ah, certo, matar não é permitido.”
Ele sorriu e olhou para sua oponente na primeira rodada, Judith. Ninguém poderia imaginar o quanto aquelas seis letras o empolgavam.
— Haha! — Jakuang riu alto, virando-se para ver se Judith já havia notado quem enfrentaria.
“Que tipo de expressão ela fará quando vir meu nome?”
— Ei, Airen. Aquilo foi bem cruel mais cedo.
— Hã? O que foi…?
— Mesmo com a Illia aqui, como você nem sequer olhou para mim depois de dois anos e meio sem nos vermos? Sério?
— Concordo. Nossa Judith, embora não demonstre, é bastante sensível e se magoa fácil com coisas assim…
— Ah, você pode calar a boca? Por que nunca consegue ficar quieto?
— …
Jakuang ficou sem palavras. Ela nem estava olhando para ele. Não o reconheceu, nem por um segundo. Vê-la rindo e brincando com os amigos, como se seu confronto anterior nunca tivesse acontecido, fez algo dentro dele se romper. Seus punhos se cerraram com força, seu rosto ficou vermelho de raiva. Sentiu sua aura violenta borbulhar, prestes a explodir como lava, mas antes que pudesse…
Seus olhos encontraram os de Julius Hule. No mesmo instante, a aura sólida e inquebrável do velho paladino, forjada por uma fé inabalável, se abateu sobre ele.
Ssshhh…
A energia de Jakuang recuou como se nunca tivesse existido.
— …
Enquanto Julius desviava calmamente seu olhar para outro ponto do salão, Jakuang murmurou para si mesmo.
“Aguente só mais um pouco. Assim que isso acabar, terei alegrias suficientes para compensar todo esse sofrimento.”
Claro, Judith não se importava. Para ela, reencontrar velhos amigos após anos era muito mais importante.
— O que é o amor?
Clang!
Georg Phoibe, que estava treinando diligentemente com sua espada para não envergonhar sua capitã, deixou-a cair, algo impensável para um espadachim de nível Mestre. Mas ele não pôde evitar.
Pois ninguém menos que Ignet Crecensia acabara de mencionar amor.
— Amor… o que é?
— …!
Sua voz ecoou novamente, e Georg percebeu que não tinha ouvido errado. Ele reuniu os pensamentos, pegou a espada e olhou para a capitã com olhos arregalados de curiosidade.
Ignet, a elite em tudo, sempre à frente dos demais, era uma exceção quando se tratava de romance. Não porque lhe faltasse capacidade, mas porque nunca teve interesse. Apesar de já ter 31 anos, uma idade que não era mais jovem, ela não possuía nenhuma experiência amorosa. Isso apenas aguçava ainda mais a curiosidade de Georg.
“O que pode ter acontecido? Será que alguém ousado no torneio tentou cortejá-la?! Se não foi isso… será que a capitã se apaixonou por alguém?”
Diversas especulações giraram em sua mente, acelerando seu coração. Afinal, histórias sobre a vida amorosa dos outros sempre eram mais interessantes do que as próprias. Mas, depois de muito refletir, a conclusão que Ignet expressou foi completamente diferente do que Georg esperava.
— Amor é… algo desagradável. Vou esmagá-los. Os dois.
Ela não disse mais nada, voltando ao treino com movimentos afiados e precisos. Observando-a, Georg pensou consigo mesmo.
“Por que ela chegou a essa conclusão?”
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