Capítulo 31: A Calma Antes da Tempestade (3/3)
por MrRody, Second Star— Judith? — perguntou Airen.
— O que foi? Você tem algum problema com minha presença aqui?
— Não, só estou…
— Só estou brincando. Você me conhece. Não seja tão sério toda vez. Céus.
Judith resmungou com uma expressão insatisfeita, mas logo parou. Então, aproximou-se de Airen e apontou para o banco.
— Podemos conversar se você estiver livre? — perguntou Judith.
— Uhm…
Ele não estava completamente livre. Mas também não estava muito ocupado, e Judith nunca pedia para conversar de forma séria, então a curiosidade não o deixou recusar.
Airen assentiu enquanto se sentava, e Judith sentou-se ao lado dele. A garota olhou para o céu noturno por cerca de um minuto antes de abrir a boca.
— Como estão as coisas? — ela perguntou.
— Hã? O que você quer dizer?
— O exame final. O que mais poderia ser? Temos menos de duas semanas — disse ela.
— Ah…
Na verdade, Airen não estava pensando nisso. Ele sabia da importância do exame final, já que definiria se o esforço do último ano daria frutos ou não. Mas outra coisa ocupava sua mente naquele momento.
— Estou apenas fazendo o meu melhor — ele disse. Não era tolo a ponto de dizer a verdade do que realmente estava pensando.
— Que desanimador — respondeu Judith. — Mas… acho que isso é a sua cara.
— E você…? Está confiante? — Airen perguntou dessa vez.
— Confiante com o quê?
— De passar no exame final.
— Claro que vou passar. Por que você pergunta isso? Você deveria perguntar se acho que posso vencer aquela garota irritante, a Illia.
— Você pode vencê-la…?
Airen sentiu que, ao mencionar o nome de Illia, estaria confirmando para Judith que também a achava irritante, então parou de falar. Ele sabia que muitos não gostavam dela, mas, para ele, Illia era alguém preciosa, alguém que o ajudou no começo.
Já para Judith, Illia era uma vilã.
— Claro que sim. Treinei muito. Quer dizer, só se esforçar não é o suficiente. Ainda assim, vou vencê-la. Vou vencê-la, custe o que custar — disse Judith, com uma voz que mais parecia um rosnado.
— Certo — respondeu Airen.
— O quê? Não seja tão indiferente!
— Mas eu não sei como…
— Ugh, tudo bem. Você é tão chato.
— Desculpa.
Um silêncio caiu entre eles após o pedido de desculpas do garoto. Judith chutou o chão, e Airen mexia nos pés de forma desajeitada. Então, a garota de cabelos vermelhos falou novamente:
— Me desculpa também.
Airen ficou surpreso com o pedido de desculpas dela. Estava tão chocado que não conseguiu responder de imediato. Ela realmente estava se desculpando? E por quê? O garoto a olhou, atordoado, e Judith continuou com a cabeça abaixada.
— Não pude te ajudar muito nesses últimos tempos. Você sabe como eu costumava corrigir seus movimentos desajeitados e treinar com você.
— Hã? Ah, sim…
— Percebi que não prestei muita atenção em você depois da dança da espada do diretor. Vim pedir desculpas.
— Ah, você não precisa se desculpar por…
— Eu sou órfã — disse Judith abruptamente.
Airen fechou a boca. Ele também havia perdido a mãe, mas não sabia como reagir ao fato de ela não ter pais. Porém, Judith continuou, sem parecer esperar uma resposta.
— Não estou te contando para você ter pena de mim. Você sabe… Eu estava sozinha quando criança, então tive que roubar e furtar para sobreviver. E isso me deixou rodeada de pessoas problemáticas. Adultos e crianças também…
— …
— Por isso, nunca precisei ser grata a ninguém ou dizer obrigada. E é por isso que não consegui te agradecer por me salvar no exame intermediário. E ainda não consigo, porque é constrangedor — disse Judith.
— Não precisa…
— Então, tentei retribuir te ensinando e ajudando no que podia. Mas, aqui estou eu. E é por isso… que peço desculpas — disse Judith, suspirando. Ela parecia um pouco aliviada e muito mais relaxada do que antes.
Airen não sabia o que dizer, então apenas a olhou atordoado, e seus olhos se encontraram quando Judith virou a cabeça em sua direção.
— Você tem que passar — disse ela.
— Hã?
— No exame final. Você tem que passar. Depois, se tornar um aprendiz formal da Academia de Esgrima Krono e… — Judith parou por um momento, depois continuou. — Desta vez, vou te ajudar mais, para eu não sentir que ainda te devo algo. Para garantir que você passe. Entendeu?
Airen assentiu. Judith deu uma risada, levantou-se e se sacudiu. Em seguida, deu um tapinha nas costas do garoto. — Até mais. Trabalhe duro. — Judith não olhou para trás enquanto saía. Seu cabelo vermelho curto e sedoso balançava suavemente sobre o ombro.
Airen observou-a por um tempo, depois olhou para baixo e refletiu. Ainda não conseguia entender por que ela achava que tinha que se desculpar. Na verdade, ele era quem deveria estar pedindo desculpas.
— Não consegui ser de nenhuma ajuda nos últimos dois meses…
Apesar do que ela disse, Judith ainda o visitava pelo menos uma vez por semana para ajudá-lo em várias coisas. E ela não era a única. Brett Lloyd também aparecia frequentemente com dicas, mesmo com sua agenda cheia, e Illia Lindsay também vinha de vez em quando desde que Airen lhe deu o presente. Eles podiam ter vindo menos, mas isso não significava que se importavam menos.
“Mas eu não me importei com eles. Não apenas com minhas ações, mas também com minha mente.”
Era verdade. Airen estava focado no seu sonho. Ele estava fascinado pela espada do homem e não conseguia pensar nas pessoas ao seu redor. Não estava errado em tentar ser como aquele homem misterioso… mas não podia deixar de sentir remorso por Judith.
“Uma dívida? Mas ela não me deve nada.”
Na verdade, ele é quem devia a eles. Recebeu muito de Illia, Brett e Judith, mas não tinha dado nada em troca. E agora, o tempo para pagar essa dívida estava acabando, já que o exame final estava a apenas duas semanas de distância. Ele lamentava por isso.
“Não, ainda não é tarde demais.”
Ainda não havia acabado. Talvez estivesse se estivesse falhasse no exame final, mas não se passasse. Como Judith disse, ele poderia estar com eles por mais tempo se todos se tornassem aprendizes formais. Teria tempo para retribuir o que não pôde fazer no passado. Um sorriso suave surgiu em seu rosto enquanto esse pensamento o aliviava.
“É incrível.”
Ele fechou os olhos e relembrou seu passado.
Ele costumava ficar preso em seu quarto o tempo todo. Sua alegria, raiva, tristeza e felicidade eram opressivas e enterradas pela depressão e letargia. Mas sua vida mudou depois da academia. Ficava surpreso consigo mesmo a cada vez.
Desde quando salvou Judith na água, até quando deu um presente que perturbou Illia Lindsay, e finalmente quando se manteve firme contra Brett ao aceitar um duelo… Em cada momento, ele se espantava e achava estranho como agia e se sentia daquela maneira.
Ele havia aprendido muito sobre si mesmo no último ano, coisas que desconhecia antes. Aprender sobre si e entender seus sentimentos era uma experiência estranha, mas boa.
Por um tempo, o Nobre Preguiçoso passou um tempo refletindo sobre seus sentimentos em vez de seu corpo ou movimentos de esgrima. Mas isso não durou muito, pois um pensamento específico o fez se levantar de repente.
Ele pegou a espada de madeira ao lado do banco e caminhou até o centro do salão de treinamento. Preparou-se com uma respiração silenciosa. Então, começou a copiar o que havia deixado de lado por todo esse tempo.
“Eu estava errado em pensar que bastava copiar apenas o que vejo na superfície.”
A superfície não era o único aspecto importante. O que mais importava era o que havia dentro. Com essa compreensão repentina, o garoto fechou os olhos e começou a meditar. A brisa fria da noite passava por suas orelhas, mas ele permanecia imóvel, mantendo sua postura.
— Eu fui vê-lo — disse Judith.
— Entendi — respondeu Brett Lloyd.
— Você não está curioso para saber se ele está bem?
— É óbvio que ele está. Como eu disse, ele vai passar de qualquer jeito, com ou sem você cuidando dele.
— Babaca. Todo nobre fala assim?
— Todo primogênito da família Lloyd é educado com maneiras e cortesia desde jovem.
— Então por que você fala desse jeito?
— Se você acha que todo mundo é um babaca irritante, deve ser você quem tem um problema. Sugiro procurar ajuda.
— O quê? Está dizendo que eu tenho um problema?
— Estamos perdendo tempo. Vamos começar — disse Brett, acenando com a mão em um gesto de desprezo.
Ele então segurou sua espada, e a atmosfera mudou. Era como se uma esfera de água altamente concentrada envolvesse o corpo do garoto. A defesa era sufocantemente fechada, sem espaço para ataque. Judith tentou esboçar um sorriso para ele.
— Isso é interessante toda vez que vejo — disse ela.
Brett Lloyd e Judith decidiram se unir para o exame final. Acreditavam que seriam úteis um ao outro no aprimoramento de suas habilidades e perceberam que eram oponentes adequados para despertar seu potencial. Os instrutores também tinham grande consideração por eles. Mas Judith sabia que ainda não era boa o suficiente para ser considerada rival de Brett.
“Eu posso ter uma chance de vencer a Illia, mas o Brett…”
Ela já treinava com ele há algum tempo, então sabia o monstro que Brett era. Sua esgrima se concentrava em criar espaço para atacar, mesmo quando não havia nenhum, mas ela sequer conseguia imaginar Brett perdendo o fôlego ou ficando preocupado… Pelo menos por enquanto.
“Vou vencê-lo depois que me tornar uma aprendiz formal.”
Illia Lindsay. Brett Lloyd. Judith transformou sua frustração em espírito competitivo e empunhou sua espada.
O combate real começou. Mas eles não eram os únicos. Com o exame final se aproximando, todos os aprendizes preliminares no Grande Salão de Treinamento estavam com olhares ferozes.
— Hah, hah!
— Hiya!
A intensidade era incomparável à noite antes do exame intermediário. Os aprendizes refinavam o conhecimento adquirido enquanto os instrutores e o diretor da academia os observavam à distância, com olhares de antecipação.
Duas semanas se passaram. O exame final, que decidiria a admissão oficial dos aprendizes na Academia de Esgrima Krono, finalmente começou.