Capítulo 316: Limites (1/2)
A sala de espera dos participantes estava tão silenciosa quanto sempre.
Não era para menos. As primeiras rodadas do torneio haviam sido relativamente tranquilas, mas a partir daí, acontecimentos inesperados continuavam se desenrolando. Até mesmo esta luta havia trazido um resultado tão surpreendente que era difícil de acreditar.
Inasio Karahan, um espadachim renomado do sul do continente, que havia construído sua própria lenda, caiu diante de um mestre espadachim que mal passava dos vinte anos.
Foi porque ele era fraco?
Não.
Foi porque foi superado por truques astutos ou um espírito de luta feroz, como no confronto entre Brett Lloyd e Devan Kennedy?
Também não.
Ele foi derrotado por pura habilidade e força. A diferença inegável entre eles trouxe a divindade do sul aos joelhos, selando a vitória de Airen Farreira.
Camrin Rey, o segundo no comando da família Rey e irmão mais novo do chefe da família, fechou os olhos e relembrou os momentos finais da luta.
“Um Escudo de Aura… Essa é uma técnica avançada que até a maioria dos mestres não ousaria tentar. Apenas paladinos abençoados pelos deuses são capazes de realizá-la, e mesmo assim, após suar até a exaustão. Mas ele fez isso sem esforço algum.”
Camrin sabia que Inasio não era alguém que desperdiçava tempo ao criar distância e preparar sua técnica secreta. No entanto, naquele instante fugaz, Airen já havia reunido uma quantidade extraordinária de aura e a refinado em sua forma mais pura.
“Não vai ser fácil.”
Ele abriu os olhos novamente e olhou para a tela. O rosto de um jovem mestre espadachim apareceu. Porém, a atmosfera refletida em seu olhar não era a de um novato inexperiente.
“Para onde ele está olhando? Para si mesmo, ou para Ignet Crecensia? Se não for…”
Enquanto seus pensamentos se aprofundavam, alguém se levantou abruptamente.
Era Judith.
A única entre os participantes das oitavas de final que ainda estava no nível de especialista, e mesmo assim, ela gritou animadamente:
— É minha vez agora?!
Parecia completamente alheia ao choque da luta anterior ou à pressão de sua própria luta.
Com essa declaração ousada, a espadachim de cabelos vermelhos saiu da sala de espera e pisou no palco. Enquanto isso, Airen, visivelmente atordoado, descia do palco. Era uma cena estranhamente divertida, mas ninguém na plateia pareceu achar graça.
“O que diabos ela está fazendo?”
“…O que será que passa na cabeça dela?”
“Essa garota é estranha!?”
“Que tipo de confiança é essa?”
Esses eram os pensamentos comuns entre os participantes.
É claro que ninguém subestimava as habilidades de Judith.
Mesmo com apenas vinte e dois anos, ela havia alcançado o auge do nível de especialista, um feito notável por si só. A maioria só conseguia isso após os cinquenta, e seu potencial era inegavelmente brilhante. No fim, apresentar prodígios como ela era o verdadeiro propósito do torneio.
“Ainda assim, para alguém nas oitavas de final demonstrar uma atitude tão despreocupada… Será que ela tem algum trunfo? O que eu estou dizendo…”
Por mais talentoso que um especialista fosse, ele ainda era apenas isso: um especialista. A primeira rodada já havia deixado isso dolorosamente claro. Mesmo quando os mestres da espada se abstinham de usar suas Auras da Espada, os especialistas não conseguiam competir.
A diferença entre um mestre e um especialista era intransponível. No entanto, o motivo pelo qual Judith agora era o centro das atenções não era apenas sua habilidade, mas o fato de que sua próxima oponente era ninguém menos que Ignet Crecensia, líder dos Cavaleiros Negros.
Uma figura imponente se ergueu de seu assento. Vestindo o uniforme negro característico dos Cavaleiros Negros, Ignet Crecensia carregava sua habitual presença inabalável.
No entanto, algo estava diferente desta vez. A aura que ela trazia para essa luta não era a mesma de antes, parecia mais pesada, mais afiada, mais calculada.
Observando a saída da favorita do torneio, Jarod murmurou baixinho.
— Droga, mas que diabos é isso…
Jarod não gostava de nada disso. Não gostava de Judith, que exibia uma confiança ridícula, nem de Ignet Crecensia, que de repente havia decidido levar a luta a sério. Muito menos dos outros participantes, cujas atenções estavam agora completamente fixadas no palco, influenciados pela mudança intimidadora na postura de Ignet.
O que mais o irritava era o fato de que ele não era diferente.
Ele também havia sido envolvido nessa tensão sufocante.
Seu olhar se voltou para as duas jovens espadachins que se enfrentavam no palco. Seus pensamentos vagavam enquanto ele cerrava os punhos.
“Jakuang, o que diabos aconteceu com você?”
— Você é uma perdedora.
— Hã?
— Uma perdedora, uma fracassada. Sua fraca.
— Ei, por que você tá me xingando do nada?!
— Estou dizendo que, comparada aos maiores talentos, você é uma perdedora. Por exemplo, Ignet, Illia… e caras como Airen. Se você está satisfeita por ser uma espadachim ainda jovem, pode se irritar por ser chamada de perdedora. Mas se você almeja ser a melhor do continente, aceite isso com humildade. Comparada a espadachins impecáveis, que não têm deficiências em nenhum aspecto, você está muito abaixo. Vou apontar para você, um por um, já que parece não entender.
As palavras de seu mestre cortaram fundo no coração de Judith.
Era seu orgulho que as tornava tão dolorosas?
Dizia a si mesma que doía um pouco, mas, mais do que qualquer coisa, era porque as palavras de seu mestre eram inegavelmente verdadeiras.
Ela havia atingido o sexto estágio da manipulação de aura, mas em esgrima, movimento, força mental e incontáveis outros aspectos, Judith ficava aquém dos verdadeiros gênios. Mesmo quando se comparava ao seu amado, Brett, a diferença entre eles era inegável.
— No entanto, ter muitas falhas não significa que você seja fraca.
— Hã? Depois de acabar comigo, o que você está tentando dizer?
— Significa que você não precisa tentar ser boa em tudo. Pessoas como você e eu, que têm mais ganância do que talento, não devem fazer isso. Faça aquilo em que você é boa. Não apenas moderadamente boa, mas dê tudo de si em uma única coisa. Esmague, refine, treine, obceque-se apenas com isso. Um único ponto de força avassalador que possa cobrir todas as suas fraquezas. Esse é o caminho que devemos seguir.
Judith assentiu ao relembrar as palavras de seu mestre.
No início, foi difícil conter sua raiva. Ela queria rebater, dizer que também podia fazer tudo. Queria retrucar que desistir antes mesmo de tentar era uma mentalidade podre.
No entanto, não conseguiu agir. Já havia reconhecido a grandiosidade e a ferocidade dos milagres de seu mestre, Khun, façanhas prodigiosas realizadas com uma velocidade que ninguém mais no continente poderia igualar.
— Seus limites são superiores aos meus. Ou melhor, você não tem limites. Humanos têm restrições de velocidade porque estão presos às limitações físicas. É algo inevitável enquanto estiverem sujeitos a elas. Mas você é diferente. O que se agita dentro de você são chamas sem limites. Elas podem arder cada vez mais, não importa até onde ou por quanto tempo.
Após perder para Airen em um confronto repentino, seu mestre lhe deu esse conselho. Desde então, ela focou-se inteiramente em suas chamas. Embora sempre tenha se identificado com o fogo, essa foi a primeira vez que jogou todo o resto para trás para persegui-lo completamente.
Ela não precisava se tornar uma mestra. Não havia necessidade, nem capacidade para isso.
Em vez disso, dedicou-se a manifestar suas chamas.
“Manifestar? Não… Apenas libertá-las.”
Dentro de seu monólogo interno, chamas intensas rugiram à vida.
Enquanto Judith pisava no palco, avivava seu fogo, alimentando-o a cada respiração até o sinal do juiz. Suas memórias tornaram-se combustível.
Lembrou-se da tristeza e frustração de sua infância, da euforia que sentiu ao entrar na Academia de Esgrima Krono, e do complexo de inferioridade que carregava por tanto tempo ao ver Airen e Illia a superarem.
Além disso, seu espírito de luta inabalável, sua determinação, seu veneno e sua loucura queimavam com ainda mais intensidade, fundindo-se em um único e avassalador incêndio dentro dela.
— É claro que o caminho que você está trilhando é extremamente instável. Você provavelmente não conseguirá irradiar o mesmo calor contra todos os oponentes.
Ela compreendia isso. Não poderia queimar um garoto faminto caído na rua. O calor que fluía contra um espadachim sem cor ou cheiro não poderia ser satisfatório. Seu coração não ardia por lutas assim.
Nesse aspecto, Jakuang havia sido o oponente perfeito para expressar sua força. Cada vez que ele explodia em fúria, suas chamas dobravam ou triplicavam de tamanho. Olhando para trás, lutar contra ele foi o momento em que esteve no auge de sua vida.
Com renovada determinação, Judith olhou para frente. Suas chamas cresceram ainda mais.
Ignet não era uma oponente comum. Ela brilhava com uma intensidade que fazia os outros desviarem o olhar, mas aqueles que suportavam sua luz sentiam seus corações pegando fogo. Ela não era apenas uma espadachim, era um sol, atraindo outros para sua órbita com uma intensidade que fazia com que quisessem segui-la, persegui-la ou até mesmo desafiá-la.
Para Judith, Ignet era a adversária perfeita.
Seus lábios se curvaram em um sorriso enquanto uma aura bruta explodia de seu corpo.
— Comecem!
O juiz, percebendo o perigo, anunciou o início da luta de uma distância segura. No mesmo instante, as chamas explodiram da espada de Judith. A energia, que momentos antes estava contida, agora rugia incontrolavelmente.
A lâmina da espada de Ignet, imbuída com um poder ancestral, começou a brilhar, seus tons se fundindo em amarelo e branco sob o calor intenso.
“Eu não preciso de uma Aura da Espada!”
Sua aura era imperfeita e nem sequer estava devidamente reforçada. O endurecimento estava além de seu alcance, e sua percepção de aura era muito inferior à dos mestres. Judith já se via sobrecarregada tentando controlar a energia caótica dentro de si, muito menos poderia se preocupar com o que estava ao seu redor.
Mais precisamente, conter a energia selvagem que se debatia em todas as direções a esgotava. Comparada aos mestres, que estavam acostumados a manipular aura com mais precisão do que seus próprios corpos, sua gestão de energia certamente era falha. Mas, ao mesmo tempo, era violenta e avassaladora.
Sua aura selvagem e indomável carregava um medo primal que fazia tudo ao redor encolher. As chamas que manejava, tão bárbaras e cruas, desafiavam mil anos de refinamento na arte da esgrima. Elas faziam a multidão estremecer.
Ignet Crecensia sentiu isso também. No momento em que viu a aura concentrada e ardente na espada de Judith, soube que um instante de descuido poderia lançá-la para longe.
Ela precisava parar aquilo. Precisava bloquear antes que fosse completamente desencadeado.
Ela cerrou os dentes, reunindo força nas pernas. No entanto, não se moveu.
Seu corpo hesitou, enlaçado pelo medo primitivo daquelas chamas. Elas eram imensas e esmagadoras, de tal forma que até o ser mais poderoso instintivamente vacilaria diante delas.
Nesse instante fugaz, quando sua hesitação a pegou de surpresa, a espada de Judith, ardendo com um calor extremo, colidiu com a lâmina de Ignet Crecensia.
O estrondo ensurdecedor da colisão reverberou pela arena, silenciado apenas pela intervenção rápida de Gia Runetell, que conjurou uma barreira protetora para conter a onda de choque.
O Rei Sagrado suspirou em alívio.
— Obrigado.
Seu olhar pousou sobre Ignet Crecensia, que havia parado na borda do palco, deixando sulcos profundos por onde passara.
Depois, olhou para Judith, única especialista entre os finalistas, que já havia desabado no chão, exausta, antes mesmo de ver o resultado da luta.
— …O mundo das espadas é realmente fascinante — ela murmurou.
Em seu vasto campo de visão, notou diversas figuras, em sua maioria mestres de idade avançada, que haviam viajado longas distâncias para testemunhar as habilidades dos novos talentos.
Agora, todos eles estavam se levantando de seus assentos. Nenhum deles permaneceu sentado.
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