Índice de Capítulo

    — Um… o que está acontecendo?

    — O que foi?

    Um espectador percebeu seu amigo murmurando de maneira estranha. Eles haviam viajado uma longa distância de Aisenmarkt até a capital do Reino Sagrado para assistir ao Torneio dos Heróis, ansiosos para ver os espadachins mais fortes do mundo em pessoa. Haviam assistido a todas as lutas com olhos brilhantes e corações acelerados.

    Claro, não torciam por todos os participantes igualmente. Apesar da unidade do mundo, eram orgulhosos filhos do Oeste! Esperavam que os espadachins dos cinco reinos ocidentais vencessem e que um membro das cinco grandes famílias da espada levasse o título de campeão.

    Agora não era diferente. Embora soubessem que Illia Lindsay estava objetivamente em desvantagem, haviam decidido firmemente torcer por ela. Ela era a gênio do Reino Adan! Tinham até preparado um cartaz grande, decorado com material fluorescente cintilante, que dizia: ‘Vamos, Illia Lindsay!’

    — Ei! O que está fazendo?

    — É, o que estou fazendo…?

    O espectador olhou para o próprio amigo, confuso. Este, por sua vez, jogou o cartaz no chão, igualmente perplexo. Ele não entendia por que havia feito isso.

    Mas não se arrependia. Enquanto olhava fixamente para as duas competidoras no palco das semifinais, virou-se lentamente para o amigo.

    — Eu… eu quero torcer pela Ignet.

    — O quê? O que você está… Ei! Você enlouqueceu?!

    — Eu não sei. Só sinto que preciso… V-Vai, Ignet! Ignet Crecensia, você consegue!

    Logo, ele passou a torcer para Ignet Crecensia. Primeiro, timidamente. Depois, com fervor. Enquanto seu amigo o olhava com uma expressão atônita, vozes graves surgiram atrás deles.

    — Ignet! Ignet Crecensia! Vamos!

    — Faça isso! Vença! Derrote a Illia Lindsay!

    — Ignet! Ignet! Ignet!

    O espectador olhou para trás com uma expressão ainda mais confusa. “Mas o que… o que está acontecendo com eles?”

    Ele não conhecia aqueles outros torcedores pessoalmente, mas sabia, por encontros casuais, que eram todos do Oeste. Eram ainda mais fervorosos defensores do continente ocidental do que ele. No entanto, ali estavam eles, torcendo por Ignet Crecensia em vez de por Illia Lindsay.

    — Mas que diabos?

    — O que aconteceu de repente?

    — Por que tantas pessoas estão torcendo por Ignet?

    — Ei! O que deu em vocês?!

    — E-Eu não sei. Só sinto que preciso…

    Foi um fenômeno aleatório. Muitas pessoas, incluindo seu amigo, começaram a gritar pelo nome da capitã dos Cavaleiros Negros sem entender o motivo. Ainda mais espectadores ficaram confusos conforme a atmosfera mudava repentinamente.

    No meio da confusão, Anya Marta, a feiticeira, murmurou:

    — Todos estão sendo influenciados pelos sentimentos da capitã.

    — O quê?

    — O desconforto e a raiva dela em relação a casais… Essa chama incendiou os corações dessas pessoas.

    — I-Isso é possível?

    — Nunca vi algo assim antes, mas não consigo explicar de outra forma. Talvez a maioria das pessoas torcendo para a capitã seja solteira.

    Georg Phoibe quis refutar imediatamente, mas Anya parecia séria. E a expressão de Ignet, enquanto encarava Illia Lindsay, era ainda mais séria.

    Como seu superior, observando intensamente a luta, murmurou:

    — Mas o que é isso…

    Bang!

    Crash!

    — Ugh!

    Um avanço e, em seguida, um golpe poderoso! Illia estremeceu ao bloquear a espada de Ignet. Ela recuou rapidamente, utilizando seu controle de aura e o poder do vento. No entanto, Ignet foi ainda mais veloz.

    Boom!

    Crash!

    — Ugh!

    Chamas explodiram. Ignet avançou rapidamente, aproveitando-se do recuo de Illia causado pelo ataque. E a velocidade não se aplicava apenas aos seus movimentos.

    Boom!

    A explosão de sua espada acelerava seus golpes e alterava sua trajetória. Embora fosse um método bruto e não refinado, concedia-lhe uma velocidade assustadora e um poder destrutivo avassalador. Os movimentos imprevisíveis de Ignet dominaram sua adversária do início ao fim.

    — É como observar uma chama incessante — disse Julius.

    — Concordo. Faz tempo que não vejo alguém com essa intensidade — respondeu Quincy.

    Julius Hule e Quincy Meyers assistiam à luta das arquibancadas. Não conseguiam entender o comportamento de Ignet. Seus sentimentos dificilmente os afetariam, já que qualquer conhecimento que tinham sobre amor ou romance datava de décadas atrás.

    Claro, isso não significava que não pudessem apreciar a esgrima. Na verdade, eram capazes de avaliar as habilidades com mais objetividade justamente por não estarem sendo influenciados por emoções.

    — Ignet vencerá.

    — Está apenas afirmando o óbvio. Mas, ainda assim… Illia Lindsay cresceu muito.

    — Hmm.

    Julius Hule assentiu. Era verdade. Todos os espectadores estavam cativados pela esgrima feroz, incansável e deslumbrante de Ignet. Sua presença crescente dominava completamente a atenção de todos.

    “Mas ela só pode exibir esse desempenho porque sua oponente consegue acompanhá-la até certo ponto”, Julius pensou, recordando as lutas anteriores.

    As batalhas passadas haviam terminado num piscar de olhos, tão rapidamente que Ignet sequer precisou liberar suas chamas para demonstrar toda a sua habilidade. Tendo isso em mente, o fato de Illia conseguir bloquear sua espada, ainda que com dificuldade, já era digno de aplausos.

    Boom!

    Illia bloqueou o golpe direcionado ao seu flanco com a pressão do vento. Inclinou-se para trás, desviando por um fio de uma estocada que visava seu pescoço. Em seguida, aumentou a distância entre elas. Por vezes, jogava-se para fora do palco para evitar as chamas da oponente, pisando no vento para retornar à luta.

    “Seus movimentos são como se ela fizesse parte do céu. Isso não é apenas uma habilidade limitada à esgrima”, pensou Quincy Meyers.

    De fato, se Illia tivesse se concentrado exclusivamente na esgrima, talvez tivesse se tornado mais afiada. No entanto, não teria sido capaz de exibir movimentos tão leves e criativos. A Illia de agora parecia ter passado por uma mudança significativa.

    — É bom vê-la assim — comentou Julius.

    — De fato — concordou Quincy.

    Os dois velhos paladinos sorriram. Antes, algumas pessoas ridicularizavam este Torneio dos Heróis como um mero espetáculo para enaltecer a capitã dos Cavaleiros Negros, mas olhem para isso! Não havia diversos jovens talentos brilhando tão intensamente quanto Ignet?

    Todos os paladinos mais velhos sentiam que este torneio era uma alegria indescritível. Ficavam tão emocionados que poderiam assistir o dia todo, a ponto de rir e até chorar.

    Cinco minutos se passaram. Dez minutos. Durante todo esse tempo, Illia Lindsay manteve seu foco na defesa, ampliando a distância entre ela e sua adversária. Então, rapidamente murmurou algo.

    — O quê?

    — O que ela está dizendo?

    Os espectadores estavam intrigados. As duas pareciam estar conversando, mas ninguém conseguia ouvir. No entanto, logo entenderam quando ambas assumiram posturas como se fossem começar a luta novamente. Uma aura poderosa emanou delas.

    O diretor Ian de Krono assentiu e disse:

    — Elas concordaram em decidir a luta em um único golpe.

    — A capitã dos Cavaleiros Negros é generosa — disse Joseph.

    — De fato. É uma luta que ela já venceu.

    — Sim, sem dúvida.

    Os outros diretores concordaram com Joseph. Se a luta continuasse como estava, o resultado era óbvio. No entanto, Ignet permitiu que sua oponente demonstrasse suas habilidades, então o desfecho já não dependia mais apenas do combate atual.

    E Illia sabia disso também.

    “Eu perdi”, pensou.

    Ignet Crecensia, aquela que havia derrotado seu irmão sem piedade, era mais forte, mais intensa e mais feroz do que jamais imaginara. No entanto, Illia não sentia ódio. Nem sequer estava irritada. Pelo contrário, soltou uma pequena risada.

    “O que eu odiava, o que eu queria destruir… Não era Ignet, era a mim mesma.”

    Mas não mais. Ela não se perderia nem seria abalada por palavras vazias. Ela aprenderia a amar a si mesma.

    Tudo começava ali. Somente ao amar, valorizar, reconhecer e elogiar a si mesma, poderia olhar para os outros corretamente e aceitá-los sem preconceitos.

    Uma brisa refrescante soprou, clareando sua mente e seu coração.

    Flash!

    Whoosh!

    A aura de Illia Lindsay ganhou velocidade e poder, mas não era uma aura comum. Os olhos dos cinco chefes de família se arregalaram ao ver a formação daquele vento feroz, forte o suficiente para ser um tufão.

    Era a técnica secreta final da Espada do Céu, criada pelo próprio Dion Lindsay. Embora sua execução não fosse perfeita, era incrível que ela conseguisse reproduzir, mesmo que parcialmente, sua presença avassaladora. Todos os espectadores sentiram um arrepio na espinha, seus corpos tremendo ao imaginarem o futuro que a aguardava.

    Whoosh!

    Naquele instante, Ignet explodiu com uma energia bruta. Chamas se ergueram, capturando a atenção de todos. O fogo se comprimiu, e se comprimiu, e se comprimiu mais uma vez, não dentro de seu corpo, mas dentro de sua espada. Não dentro da lâmina, mas na ponta.

    Todos os espectadores prenderam a respiração ao verem a esfera de aura vermelha se formar na extremidade da espada, emitindo um som vibrante que ecoou pelas paredes da arena.

    Então, elas colidiram.

    Boom!

    — Obrigada mais uma vez.

    — Hmph. — Gia Runetel, que rapidamente ergueu uma barreira mágica novamente, resmungou.

    Fora a breve conversa entre elas, todos permaneceram em silêncio. No meio da quietude, forçaram os olhos no palco e na tela, aguardando para ver o desfecho da luta.

    Quando a poeira na arena se dissipou, Ignet Crecensia permanecia de pé, enquanto Illia Lindsay jazia fora do palco, caída.

    — V-Vitória! Ignet Crecensia!

    A multidão explodiu em aplausos. Alguns gritavam o nome de Ignet em êxtase, enquanto outros aplaudiam educadamente. Em meio aos gritos e incentivos, Ignet olhou para sua espada e, em seguida, para Illia. Então, falou baixinho.

    — Essa espada… Vulcanus fez para você?

    Illia ergueu os olhos para Ignet em silêncio.

    — De fato, é uma boa espada. Não quebrou contra a minha.

    Ouvindo isso, Illia soltou uma risada fraca e ergueu a cabeça.

    — Pode ser honesta.

    — Hmm?

    — A espada é boa, isso é verdade. Mas para que ela não quebre, a pessoa que a empunha precisa ter habilidade, certo?

    Illia se levantou e sacudiu a poeira do corpo, seus cabelos prateados balançando sob a leve brisa. Sua expressão estava serena. Não era uma tentativa forçada de manter a compostura, mas sim uma postura repleta de confiança.

    Ao ver que sua adversária não estava abalada pela derrota, Ignet caiu na gargalhada.

    Illia também riu. Mesmo tossindo sangue, riu alto. Para os espectadores, a cena parecia completamente bizarra.

    Assistindo a tudo pela tela, Camrin virou-se para Airen e perguntou:

    — Sua amada está… bem?

    — …Provavelmente.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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