Capítulo 325: Inabalável (3/3)
Crash! Bam! Wham!
Uma sucessão de estrondos ressoou por toda parte, como se céus e terra tremessem. No entanto, não era um desastre natural, e sim o choque entre humanos.
Anya Marta permaneceu com uma expressão vazia, enquanto Georg Phoibe observava surpreso a batalha entre seres super-humanos. Era um duelo que fazia até mesmo mestres experientes baixarem a cabeça em reverência.
Essa luta era ainda mais intensa do que a última. A espada de Illia Lindsay estava mais poderosa do que na semifinal de hoje. Movendo-se livremente entre o céu e o chão dentro do espaço restrito da arena, uma luz sutil emanava de seu corpo. Seus cabelos prateados e a Espada de Aura, aprimorada pelo poder do vento, a faziam parecer quase irreal.
Roar!
Assim como a espadachim de cabelos claros exibia sua beleza etérea, uma aura vermelha a atingiu.
Incapaz de suportar o impacto, Illia foi lançada pelos ares, enquanto a capitã dos Cavaleiros Negros, Ignet Crecensia, a perseguia. Aproximando-se a uma velocidade assustadora, Ignet brandiu sua grande lâmina como se fosse partir a cintura de Illia ao meio.
Crash!
Thud, thud, boom!
Illia mal conseguiu bloquear o golpe. Como havia sido lançada horizontalmente em direção ao solo, não teve escolha senão se chocar contra ele. Rebatendo contra o chão como uma pedra quicando na água, levantou-se com uma careta. Apesar da dor, sua postura ágil poderia inspirar qualquer cavaleiro.
— Ugh!
— Grrgh…!
No entanto, era inútil. Seu flanco estava exposto a Ignet, que se aproximava silenciosamente.
Boom, boom, boom, crash!
Illia cambaleou, deixando um grande sulco no chão de pedra da arena enquanto tentava se erguer. Contudo, depois de tossir sangue, acabou desabando.
Georg achou isso impressionante por si só. Embora o primeiro ataque tenha sido um soco em vez de um golpe de espada, ele sabia melhor do que ninguém a força imensa que havia por trás.
A luta estava decidida.
A Espada dos Céus era notável, mas não o suficiente para fazer o sol cair do firmamento.
No meio da poeira e dos fragmentos de pedra que se assentavam, a capitã dos Cavaleiros Negros, Ignet Crecensia, murmurou:
— Da próxima vez, tome cuidado com as palavras que escolhe.
— Hah, hah…
— …E lembre-se disto. Eu não fiquei sem um amante porque não consegui, mas porque estava ocupada demais com meus deveres. Com um diabo surgindo após 160 anos e o mundo em caos, não há espaço para romance. Como comandante, devo ser um exemplo para os paladinos e simplesmente não posso me dar esse luxo.
— Haa, haa, huff…
Illia Lindsay não conseguiu responder.
Não havia nada que pudesse fazer. Aguentou bem, mas perdeu. Foi esmagada contra o chão, ainda pior do que na semifinal. A dor em seu flanco esquerdo era tão intensa que até respirar se tornava difícil. Se não quisesse ser atingida novamente, ficar quieta era a melhor opção.
Mas uma curiosidade inexplicável continuava a incomodá-la.
“O que aconteceria se eu dissesse mais uma coisa agora? O que eu poderia falar para deixar Ignet ainda mais irritada? Será que eu deveria dizer que, mesmo em tempos de guerra, as pessoas ainda encontram tempo para namorar, casar e ter filhos? Ou… deveria dizer algo como ‘Sinto pena de você por não conhecer a beleza do amor’?”
…Depois de ponderar por um momento, Illia decidiu não arriscar.
Dessa vez, sentiu que realmente poderia morrer. Suas palavras antes da luta já haviam passado do limite, mas os pensamentos que tinha agora certamente fariam Ignet explodir.
Acima de tudo, ela não veio aqui apenas para provocar sua oponente sem motivo.
Tomando um momento para recuperar o fôlego, disse lentamente:
— …Eu me senti inquieta.
Ignet esperou que continuasse.
— Não gostei de terminar assim. Talvez eu estivesse guardando minha força para a final, ou talvez quisesse proporcionar um combate feroz para o público. Ou talvez você tenha sido gentil o suficiente para me permitir sair do palco sem arrependimentos ao dar tudo de si… Mas, por causa disso, foi ainda mais decepcionante. Não consegui ver sua verdadeira habilidade.
Ignet deixou que ela continuasse falando.
— Então, provoquei você um pouco mais. Me desculpe. Ufa, isso é um pouco embaraçoso. Se eu fosse mais forte, você não teria precisado me atacar com força total. Opa.
Illia se levantou e tossiu algumas vezes. Sangue escorria de sua boca a cada vez, mas ela não se importou. Seja na luta da semifinal ou agora, sentia que finalmente havia se livrado dos pesos em seu coração. Ela parecia aliviada.
Aproximando-se de Ignet, que permanecia ali, um tanto desconfortável, sentou-se pesadamente.
Sua inimiga, ou melhor, alguém que agora queria ter como amiga, olhou para ela com uma expressão intrigada.
— Vamos conversar um pouco? — perguntou Illia.
Observando essa conversa, Ignet, Georg e Anya permaneceram em silêncio. Apenas encaravam a espadachim de cabelos prateados.
Ela não se importou.
Com um leve sorriso, a descendente da família Lindsay continuou:
— …Hmm, não gosta da ideia?
Ignet estreitou os olhos.
— Apenas me ouça. Se não quiser, sinta-se à vontade para me expulsar. Pode me jogar longe depois de me espancar até virar um desastre.
— Você sempre foi tão descarada assim?
— Então, quer dizer que não vai me mandar embora. Vou interpretar isso como um sinal de que quer me ouvir e começar.
Ignet não respondeu.
— Tudo bem para você?
— …Faça como quiser.
Assim começou a história de Illia Lindsay, repleta de confissões profundamente pessoais e privadas.
Ela contou sobre seu primeiro encontro com Ignet, uma garota que parecia uma bruxa, aos nove anos de idade, e sobre como Karl Lindsay perdeu terrivelmente para ela.
Depois que Ignet partiu, seu irmão nunca se recuperou e, aos poucos, desmoronou, o que fez camadas de escuridão se acumularem em seu coração.
Houve um breve momento de luz na Academia de Esgrima Krono.
Mas outra escuridão tomou essa luz completamente.
Escuridão, escuridão, escuridão…
Ela explicou o período em que vagou sob um céu noturno sem lua, e então sobre o amante, amigo e mentor que a ajudou a superar tudo isso.
E, por fim, falou sobre o reencontro com sua inimiga e mentora, a capitã dos Cavaleiros Negros, Ignet Crecensia.
— …Se eu tivesse que descrever como me sinto agora, não sei ao certo — murmurou Illia Lindsay.
Apesar de ter revelado tudo sobre si mesma, permaneceu surpreendentemente calma. Talvez já tivesse resolvido a maior parte do seu passado tolo antes de vir até aqui. Pelo menos, era essa a impressão que Georg Phoibe teve.
Aqueles que lutam contra a arrogância, a obsessão, a dor e a frustração são, no fundo, fracos. E os fracos não conseguem expor suas fraquezas para os outros.
Ele próprio havia sido assim. Envergonhado por ter nascido em uma família comum, costumava se enfeitar com palavras presunçosas diante de jovens nobres.
“…Mesmo agora, depois de envelhecer, ainda não consigo mostrar esse meu lado honesto. Isso mesmo. Illia Lindsay não é fraca. Ela é forte. É por isso que veio aqui para compartilhar sua maior fraqueza e as cicatrizes mais dolorosas do seu passado. E contou isso justamente para a pessoa que mais desgostava, como uma promessa de que não despejaria mais ódio ou raiva.”
— Huff, agora me sinto muito melhor. Minha visão também parece mais clara.
Ninguém disse nada.
— Talvez por isso, sinto que posso me aproximar um pouco mais de você.
Ignet permaneceu em silêncio.
— Hmm, ainda está quieta. Acho que não há nada que eu possa fazer por enquanto.
Soltando um suspiro profundo, Illia se levantou e sorriu mais uma vez.
Seu rosto brilhava mais claro e límpido do que a lâmina prateada em sua mão, agora que havia deixado para trás todos os seus fardos e dissipado a última sombra de escuridão.
Ela estendeu a mão para um aperto de mãos.
Ignet, que até então permanecera calada, não recusou o gesto.
— Passarei para te ver de vez em quando — disse Illia.
— …Não posso estar com pessoas quando estou ocupada. Não sou alguém que tem muito tempo livre.
— Eu sei. Também não poderei vir com tanta frequência. Não tenho muito tempo com Airen…
Grrrp!
— Ugh… Me desculpe, me desculpe! Desculpa!
Assustada, Illia puxou a mão de volta e olhou para Ignet com uma expressão de puro desconforto.
Foi uma demonstração de força aterrorizante e a expressão de Ignet era avassaladora. O melhor era não provocá-la mais do que isso.
No entanto, Illia ainda tinha algo a dizer.
Dando três passos para trás, embainhou sua espada e disse:
— Você sabia?
— Do que está falando?
— Olho para você sem preconceitos, de forma clara. Encontrei coragem para compartilhar minha história e coloquei isso em prática porque mudei. Se eu ainda estivesse presa aos acontecimentos desagradáveis do passado, você ainda pareceria um demônio para mim.
Ignet cruzou os braços.
— Mas então pensei em algo. Encarar você assim, de maneira calorosa… Ou talvez não tão calorosa? Enfim, conseguir conversar com você em uma atmosfera relativamente tranquila… Ignet, parece que você também mudou.
Ignet continuou em silêncio.
— Hmm, como posso dizer isso… Talvez eu tenha ficado mais observadora. Claro, minha aparência impressionante já é suficiente para atrair qualquer olhar… Então Airen deve ter se apaixonado por isso também… Ah, desculpe. Não foi de propósito dessa vez… Bem, então, com licença!
Com essas palavras, Illia se virou e saiu correndo, deixando Ignet para trás com as veias da testa pulsando.
Georg e Anya se aproximaram dela. Eles não interferiram ativamente entre as duas, temendo também que pudessem provocar Ignet.
— …Vocês não vão me impedir?
— …Não, estamos. Estamos tentando impedir ativamente.
— A Anya também está tentando ativamente. Acho que a comandante está enganada!
— …Chega.
Ignet Crecensia suspirou profundamente e se deixou cair no chão.
Fechou os olhos mais uma vez, mergulhando de volta em sua meditação. Georg e Anya soltaram um suspiro de alívio. Uma tempestade passageira não teria sido tão estressante quanto isso.
“Mudando… minha percepção?”
Mesmo assim, Ignet continuou com seus pensamentos. Eles eram semelhantes aos que tivera antes, mas agora eram diferentes. Seus pensamentos já não estavam limitados apenas a Airen Farreira, seu oponente na final. A conversa com Illia os havia expandido.
Airen Farreira.
Illia Lindsay.
Brett Lloyd.
Judith.
Era verdade. Se fosse seu eu antigo, não teria prestado muita atenção neles, mas agora suas imagens continuavam surgindo em sua mente. Era irritante. E não apenas por conta da competição. Isso continuaria mesmo depois do fim do Torneio dos Heróis.
Talvez até por muito mais tempo. Ela nunca esqueceria os nomes deles.
“Como estou enxergando essas pessoas?”
A existência que antes dominava todos os outros agora olhava para baixo.
Ela via chamas tão quentes quanto o sol e ondas imensas que ameaçavam até mesmo aquelas chamas.
Ela via o vento que, assim como ela, exercia influência sobre tudo ao seu redor do alto dos céus, e uma árvore gigantesca que continuava a crescer sem fim. Parecia que um dia poderia chegar até onde ela estava.
Pela primeira vez em muito tempo, genuinamente preocupando-se com os outros em vez de apenas consigo mesma, Ignet passou um longo, longo tempo meditando.
Duas noites depois, Airen Farreira teve um sonho.
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