Capítulo 326: Crescimento Mútuo (1/7)
Após as semifinais do Torneio dos Heróis, Airen Farreira escolheu acalmar sua mente em vez de brandir sua espada. Ele queria escapar da presença cada vez maior de Ignet Crecensia dentro de si.
Não foi fácil.
Diferente dos outros que a subestimavam, Airen a conhecia desde o início. Ele sabia disso pelo combate que tiveram um ano atrás e por sua Visão da Aura.
“Ignet não tem falhas. Em todos os aspectos, ela está próxima da perfeição.”
Esse pensamento apenas se fortaleceu quando Ignet derrotou sua amada, Illia Lindsay.
“Como posso derrotar Ignet? O que posso fazer para alcançar a vitória e vencer o Torneio dos Heróis contra alguém que parece abençoada pela espada?”
Seus pensamentos se aprofundaram, e o tempo que passava meditando se tornou ainda maior.
No meio disso, ele percebeu que a paisagem ao seu redor havia mudado.
“…É um sonho.”
Um céu familiar.
Um muro familiar.
Um pátio familiar.
No centro, uma figura familiar assumia sua postura.
Definitivamente, era um sonho. Desde que ficou em dívida com o oráculo Gurgar, ele não via seu eu do passado fazia muito tempo. E agora, aquele homem brandia sua espada com intensidade.
A expressão de Airen se iluminou naturalmente.
“É isso. Aqui há uma possibilidade. O homem em seus sonhos, seu eu do passado que sempre o ajudava a alcançar grandes feitos quando mais precisava, talvez fosse capaz de resolver suas preocupações atuais. Talvez pudesse lhe dizer como enfrentar a absolutamente perfeita Ignet Crecensia.”
Acenando para si mesmo, ele foi até um canto do pátio e sentou-se. Então, começou a observar cuidadosamente e com fervor o homem em seu sonho.
Karin Winker não prestou atenção. Como sempre, ele brandia sua espada com uma expressão solitária e triste.
“…É diferente do que eu esperava.”
Já havia passado bastante tempo.
O homem continuava o mesmo, e Airen também. O homem balançava sua espada, e Airen assistia. Nada mais mudava. Como era um sonho, não havia necessidade de comer, e ninguém aparecia para visitá-lo. Até a brisa ocasional parecia previsível.
Aprender com seu eu do passado?
Não havia nada de novo para ele. Infelizmente, Karin Winker, antes de despertar, era inferior ao Airen atual em todos os aspectos.
Seu corpo físico?
Era fraco. O corpo de alguém que nem havia alcançado o nível de Especialista, muito menos o de Mestre. Ele não tinha nada de especial.
Sua esgrima?
Era terrível. Corte vertical, corte diagonal, corte horizontal. Ele nem sequer tentava um estocada. Apenas repetia esses três movimentos, e mesmo assim, sem precisão. Ao ver seu equilíbrio vacilar constantemente, Airen sentiu vontade de instruí-lo.
Sua força de vontade?
Era a única coisa digna de aprendizado em Karin Winker, mas Airen já a havia aceitado há muito tempo. De onde mais veio a conquista da técnica divina dos cinco elementos? Tudo começou com a vontade de ferro do homem em seus sonhos.
“No fim, não há mais nada para ganhar com esse sonho… né?”
Airen ficou desanimado.
Não pôde evitar sentir-se decepcionado. Até agora, Karin Winker sempre lhe proporcionara percepções tremendas sempre que se encontravam. Como ele entrou no sonho esperando algo, suas expectativas estavam altas, e perceber que não havia nada para aprender tornava sua frustração ainda maior.
Esse sentimento impediu Airen de sair.
“Vou ficar mais um pouco.”
Ele queria sair do sonho imediatamente. Poderia fazer isso a qualquer momento. Tinha certeza de que, no momento em que focasse sua mente, poderia atravessar a ilusão e retornar à realidade.
Mas Airen adiou sua partida.
E, com olhos desesperados, continuou observando aquele homem como antes.
Whoosh!
Whoooosh!
Karin Winker permanecia inalterado. Como sempre, balançava sua espada com uma expressão fria e afiada.
Ele pensou que seu eu do passado parecia atormentado.
Era um espaço confinado, um mundo limitado. Uma visão estreita e um coração fechado.
Dentro disso, Karin Winker brandia sua espada dia após dia, sem sequer a certeza de que ganharia um grande poder no futuro. De repente, isso ressoou em Airen mais profundamente do que a própria esgrima.
A expressão de Airen mudou.
Antes, ele observava o homem em seu sonho tentando encontrar algo para aprender. Mas, em algum momento, isso deixou de importar.
Pensando no homem que viveu um tempo imensuravelmente longo em solidão e que continuaria vivendo ainda mais tempo em isolamento, Airen sentiu arrependimento pelos sentimentos que teve até então.
“Afinal, ninguém mais pode vir para este lugar.”
Desviando o olhar do homem, Airen se levantou e olhou ao redor.
Não havia nada. Absolutamente nada. Talvez porque fosse um sonho. Esse lugar não mostrava nada além do homem brandindo sua espada e do espaço necessário para isso. Por mais que Airen expandisse seus sentidos, tudo o que sentia além do muro era o céu azul.
“Ele pode viver toda a sua vida nesse tormento.”
Ele jamais encontraria a garota que o visitou por acaso.
Jamais receberia uma flor colocada nas pequenas mãos de uma criança.
Naturalmente, jamais teria a chance de refletir sobre si mesmo, e a iluminação que veio pouco antes da morte nunca aconteceria.
Foi inevitável que uma imagem surgisse em sua mente: a imagem final de Karin Winker desaparecendo, arrependendo-se de sua vida.
O olhar de Airen não se voltou para além do muro, mas sim para mais perto.
Era desolador. Não havia sequer uma única árvore, muito menos flores. Ele não sabia se sempre foi assim ou se era apenas naquele sonho. O que importava era que, por mais que olhasse, não havia nada que pudesse desviar o olhar do homem.
Então, um pensamento cruzou a mente de Airen por um instante, um momento de hesitação. Mas ele não o abandonou.
Respirando fundo, ele fechou os olhos e focou sua mente. Então, como sempre, seu mundo mental se revelou com uma gigantesca árvore erguendo-se em seu interior.
Ele estendeu a mão e, em seguida, o poder foi transmitido. Metade da energia que ele havia cultivado com tanto cuidado até aquele momento fluiu para fora.
Deixando para trás a árvore, que encolhia rapidamente, Airen saiu desse espaço mental. Então, colocou-se diante do homem em seu sonho.
Pela primeira vez, Karin Winker parou de brandir sua espada e olhou para ele.
Airen Farreira sorriu para ele, plantou a muda que segurava no pátio e então disse:
— É um presente.
O homem não disse nada.
— Ela crescerá rapidamente, assim você poderá descansar à sua sombra enquanto treina.
O homem continuou em silêncio.
Airen não disse mais nada.
Mas ele conseguiu transmitir seus sentimentos. A boa vontade passada para Karin Winker desempenhou um papel semelhante ao da flor que a garota havia lhe dado no passado. Trouxe um raio de luz ao coração frio e desolado daquele homem.
— Bem, então, estou indo.
Não havia mais necessidade de permanecer ali.
Inclinando a cabeça, Airen fechou os olhos. Ele focou sua mente em deixar o sonho e retornar à realidade.
É claro que ele não achava que suas ações no sonho fossem sem sentido. Talvez seu poder realmente tivesse diminuído. Era um pensamento absurdo, mas ele sentia que poderia ser verdade. Afinal, ele não era um feiticeiro? Coisas além do senso comum poderiam acontecer a qualquer momento.
“Mas não me arrependo disso.”
Não, seu coração estava mais leve.
Com uma expressão muito mais radiante do que antes, ele reuniu um pouco mais de força.
Crack.
O mundo ilusório desmoronou.
Mas Airen Farreira não pôde retornar à realidade imediatamente.
Whoosh!
Whoooosh!
Karin Winker brandia sua espada. Como sempre.
Seu corpo doía.
Seu rosto se contorcia com o peso das memórias do passado, que doíam mais do que seu corpo exausto. Mas ele mantinha sua expressão à força. Não queria demonstrar fraqueza diante do demônio que poderia estar observando.
“…Sinto-me um pouco melhor.”
Mas, ultimamente, controlar sua expressão não era tão difícil quanto antes.
Ele ergueu o olhar. Uma árvore de folhas verdejantes o observava do alto. Protegia-o com uma sombra fresca.
Sem dizer nada, Karin Winker continuou a brandir sua espada em silêncio.
Seu corpo ainda estava cansado. Devido ao treinamento excessivo, seus músculos e articulações gritavam de dor, e apesar dos calos em suas mãos, o sangue ocasionalmente escorria das rachaduras em sua pele. Eram dias dolorosos.
No entanto, de alguma forma, ele se viu sorrindo.
Ele já não temia mais as máscaras que apontavam para ele.
Karin Winker recebeu uma árvore como presente de um jovem estranho, obteve iluminação pouco antes da morte e infligiu sérios danos ao demônio.
Como resultado, o demônio entrou em um longo recesso. Incontáveis pessoas que sofriam sob sua influência foram libertadas e seguiram suas próprias vidas.
Aqueles que teriam desaparecido em meio à tristeza cantaram sobre um amanhã esperançoso.
Aqueles que teriam sucumbido à dor nutriram grandes sonhos.
Muitos enfrentaram outras dificuldades e se frustraram, mas alguns não. Tornaram-se magos, espadachins e heróis, derrotaram demônios e diabos. Graças a eles, o mundo tornou-se um pouco mais pacífico.
Um tempo muito longo se passou.
Ninguém mais lembrava de Karin Winker. Ninguém mais lembrava se o povo de Gasco respeitava ou amaldiçoava seu lorde.
Apesar de sua dor, ele havia salvo o mundo, e, como resultado, salvou incontáveis pessoas e espalhou ainda mais bondade. Aqueles que receberam essa graça repetiram os mesmos atos, de novo e de novo e de novo…
Pouco antes de deixar o sonho, Airen Farreira percebeu claramente que havia nascido na paz que esse ciclo trouxe.
Sua mente estava inquieta. O passado mostrado pelo oráculo Gurgar era real?
Ou o Karin Winker em seu sonho era real?
Se o último fosse verdadeiro, como o mundo teria mudado se ele não tivesse lhe dado aquela muda? O herói de 400 anos atrás, Dion Lindsay, não teria nascido; os frutos dos 160 anos de paz não teriam sido colhidos, e ele mesmo sequer poderia ter nascido…
Ele não sabia. Não podia afirmar.
Era uma questão extremamente importante, mas decidiu seguir em frente por ora. Pois havia algo ainda mais importante à sua frente.
A razão pela qual participava do Torneio dos Heróis, a razão pela qual partiu em uma jornada, buscou ensinamentos e escolheu trilhar o caminho da espada.
Isso não era…
“Derrotar Ignet Crecensia, mas espalhar uma boa influência por todo o continente.”
Uma energia esverdeada floresceu do corpo de Airen, à medida que ele finalmente estabilizou seu coração inquieto.
Brrrrm!
Ao mesmo tempo, a árvore em sua mente, que havia encolhido quase pela metade, começou a crescer novamente. Cresceu até atingir seu tamanho original… não, ainda maior do que antes.
A bondade gerou mais bondade e retornou; ela se expandiu em uma bondade ainda maior e, no fim, voltou para si mesmo. Era um ciclo adequado, a sutil essência do crescimento mútuo.
— Whew.
Pensando nisso, Airen Farreira finalmente abriu os olhos.
Seu coração estava leve. Ele estava muito mais tranquilo agora. Retornara à realidade pronto para dar algo, muito mais disposto do que havia sido ontem, quando entrou no sonho para ganhar algo.
Além disso, ele não estava sozinho.
— Chegou a hora, vamos lá?
Ao seu redor, estavam seus três preciosos companheiros: Judith, Brett Lloyd e Illia Lindsay.
Olhando para eles, com um sorriso, Airen se levantou.
— Sim, vamos — respondeu.
O Torneio dos Heróis, que trouxe esperança ao continente, finalmente chegava ao seu dia final.
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