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    — Ugh… Eu bebi demais ontem à noite? — murmurou um mercenário barbudo ao sair da estalagem.

    Ele não tinha planejado beber tanto. Mas, no momento em que a conversa virou para a final do Torneio dos Heróis, ele não conseguiu se segurar. Como nativo de Arvilius, não pôde ignorar as pessoas na mesa ao lado dizendo que Airen Farreira tinha uma chance. Envolvendo-se em um debate acalorado, acabou bebendo excessivamente até tarde da noite.

    “Mas fiz a coisa certa. Eu não podia simplesmente deixar passar. Sim, é isso”, pensou, afrouxando os ombros rígidos.

    É claro que ele sabia que Airen Farreira era um espadachim impressionante. Mesmo que Camrin Rey tivesse se segurado um pouco, Airen ainda conseguiu vencê-lo e demonstrou um desempenho incrível contra Inasio Karahan.

    Mas ainda era cedo demais. Enfrentar Ignet Crecensia, a capitã dos Cavaleiros Negros, que já havia atingido a perfeição e realmente lutado contra demônios em nome do continente… Ele não tinha experiência, nem habilidade, nem nada.

    — Droga, esses forasteiros que não sabem o quão grandiosa a Dame Crecensia é… Hã? — Ele parou de murmurar para si mesmo ao ver uma figura inesperada.

    Era Airen Farreira. O espadachim loiro, uma das estrelas do dia, caminhava confiante pela rua principal ao lado de seus amigos.

    “O quê? Por que ele está andando…?”

    Até agora, todos os participantes do torneio usaram carruagens para ir à arena. Era inevitável. Se mostrassem seus rostos abertamente, era óbvio que os espectadores se aglomerariam ao redor deles.

    Considerando isso, as ações de Airen Farreira não eram muito sábias. Se algo desse errado, ele poderia ter problemas.

    Mas, surpreendentemente, ninguém se aproximou dele. Nem aqueles que apoiavam Airen, nem aqueles que apoiavam Ignet. Nem mesmo aqueles que torciam pelos participantes do Sul e do Leste, que já não se importavam mais com quem venceria, foram até ele.

    Todos apenas observavam.

    O mercenário barbudo fez o mesmo.

    “Por quê?”

    Naturalmente, ele se lembrou da sua infância. Um dia, ele foi até a floresta, animado, segurando uma espada de madeira que seu pai havia esculpido para ele. E lá, encontrou um monstro.

    Era uma criatura com uma boca aberta e dentes serrilhados que gotejavam saliva fétida. Ele ficou tão congelado de medo que nem conseguiu pensar em fugir.

    Schwing!

    — Você está bem, garoto?

    A imagem do cavaleiro errante que o protegeu permaneceu gravada em seu coração, muito mais do que o medo e o terror que o monstro havia causado dentro dele.

    Aquele cavaleiro foi a razão pela qual o mercenário barbudo aceitava pedidos de crianças a um preço baixo, às vezes até de graça.

    “Por que estou pensando nisso agora?”

    Sacudindo os pensamentos, ele olhou novamente para o espadachim loiro. Ele era completamente diferente do cavaleiro errante. Sua idade, sua altura, seu rosto, tudo era diferente. Era apenas um jovem que ele tinha visto algumas vezes na tela mágica.

    …E ainda assim, um calor preencheu seu coração, semelhante ao que sentira quando criança diante do cavaleiro.

    — Devemos segui-lo?

    — Isso é certo? Não vamos incomodá-lo?

    — Ora, não vamos importuná-lo falando com ele. Só vamos observar em silêncio. Deve estar tudo bem, certo? Ele provavelmente pensou que caminhar não faria diferença para ele de qualquer forma.

    — Isso é verdade. Além disso…

    — Sim. Ele faz você querer continuar olhando.

    — Exatamente. Pode soar um pouco brega, mas… essa é a melhor maneira de descrever.

    Ouvindo as vozes atrás de si, o mercenário barbudo virou-se. Ele viu rostos familiares, as pessoas que discutiram apaixonadamente com ele na noite anterior sobre apoiar Airen Farreira.

    Eles seguiram cautelosamente o espadachim loiro.

    Enquanto o mercenário barbudo os observava passar, percebeu suas expressões calorosas e tranquilas. Por um momento, ficou parado ali, em silêncio.

    — …Eu também deveria segui-lo.

    E assim, juntou-se a eles.

    Mas não foi apenas o mercenário barbudo. Cada vez mais pessoas se juntaram.

    Sentindo o mesmo calor, elas seguiram o espadachim loiro. Mas não parou por aí. O grupo cresceu e cresceu, atraindo a atenção dos que estavam ao redor. Por causa disso, mais pessoas olharam para Airen Farreira e, como os outros antes deles, também começaram a segui-lo.

    O grupo surpreendeu os soldados que guardavam a entrada da arena.

    — Uou! O q-que é isso…?

    — Você veio caminhando até aqui? Está bem?

    — Alguém o incomodou ou foi rude com você…?

    — Não, nada disso aconteceu. Me desculpem. Parece que causei uma comoção sem querer. — Airen sorriu desculpando-se, mas não tinha arrependimentos sobre suas ações.

    Ainda sorrindo, ele olhou para trás. Todos os tipos de pessoas o observavam.

    “Vamos lembrar”, pensou Airen. “A razão pela qual eu queria vencer era para dar esperança a essas pessoas.”

    Ele havia esquecido momentaneamente. Vencer era apenas um meio para um fim; não tinha significado em si. Graças à sua vida anterior, ele percebeu isso mais uma vez, e, para reafirmar, caminhou pelas ruas. Queria olhar diretamente nos olhos das pessoas.

    “Vamos lembrar a razão pela qual vim a este mundo, a razão pela qual empunho uma espada.”

    Suavemente, Airen Farreira olhou para sua amada e para seus amigos ao lado dele e disse:

    — Obrigado.

    — Pelo quê? — perguntou Judith.

    — Por terem vindo comigo até aqui. Por me ajudarem com isso e aquilo. Por me guiarem. Por estarem comigo — respondeu Airen.

    Brett abriu um sorriso convencido, e Illia pegou delicadamente a mão de seu amado.

    Ela disse:

    — Devo te dar um beijo?

    Por um momento, o ambiente ficou tenso. O belo jovem loiro se virou. Entre aqueles que ouviram as palavras de Illia, alguns o encaravam com olhares afiados, ressentidos e cheios de pesar.

    Sentindo-se um pouco culpado, ele sorriu para ela.

    — Talvez quando eu voltar depois de vencer.


    — Está começando — murmurou Inasio Karahan, o orgulho do Sul, com a voz carregada de tensão e expectativa.

    Observando Airen Farreira subir lentamente ao palco, ele sussurrou:

    — Ele vai vencer. Ele pode vencer. Ele está diferente de quando lutou contra mim e diferente de quando lutou contra Sir Camrin Rey. Estão vendo, senhores? Isso… isso é realmente possível.

    — …Você percebe que está falando cada vez mais rápido? — apontou suavemente Devan Kennedy, o espadachim de elite do Leste.

    A princípio, ele achou que esse homem serpentino era ardiloso e assustador, mas não mais. Contrariando sua primeira impressão, ele era bastante direto e tinha gostos e desgostos bem definidos.

    Desde que se encantou por Airen Farreira, Inasio Karahan sempre o apoiou. Mesmo quando a maioria das pessoas preferia Ignet, ele argumentava apaixonadamente contra elas. Até no dia da luta, ele se agitava como alguém que admirava um ator famoso. Comparado a como era antes, seu alvoroço atual parecia até contido.

    “Afinal, essa ideia nem parece completamente absurda.”

    Devan Kennedy focou-se em Airen Farreira.

    Airen estava definitivamente diferente. Hoje, ele parecia mais relaxado e tranquilo do que o normal, mas, ao mesmo tempo, não transmitia fraqueza. Havia algo indescritível nele.

    — Até mesmo a atmosfera do público está diferente — murmurou Ralph Penn, outro participante do Leste.

    Era verdade. Talvez eles não fossem os únicos a sentir essa estranha atmosfera. No momento em que a arena deveria estar no auge da animação, um silêncio incomum pairava. Aqueles que apoiavam Ignet e aqueles que torciam por Airen continham suas palavras, sentindo uma tensão desconhecida.

    — Talvez… — Ralph Penn começou a murmurar novamente, mas não terminou a frase.

    Inasio Karahan e Devan Kennedy tiveram o mesmo pensamento. Talvez a grande reviravolta inesperada do torneio acontecesse na luta final.

    Em meio à crescente tensão, uma figura vestida com o uniforme dos Cavaleiros Negros apareceu no lado oposto.

    A espadachim de cabelos negros, Ignet Crecensia, subiu ao palco com passos firmes, sem expressar nenhuma emoção. Notavelmente, sua presença estava completamente diferente das lutas anteriores.

    Flash!

    Ao encontrar o olhar de seu oponente, ela liberou seu poder sem reservas.

    Inasio Karahan e os outros participantes se levantaram abruptamente. Suas expressões eram estranhas, um turbilhão de emoções impossíveis de descrever em uma única palavra, mas espanto era a mais próxima.

    E eles não foram os únicos.

    — Isso é…

    — O que…

    — Nós estávamos muito, muito enganados.

    Os renomados mestres espadachins de Lathion, a cidade da esgrima do Oeste, ficaram sem palavras. Até mesmo os atuais chefes das cinco grandes famílias de esgrima, a quem eles respeitavam profundamente, não sabiam o que dizer.

    E aqueles que ostentavam os títulos de dez melhores espadachins do continente arregalaram os olhos ao olhar para Ignet Crecensia. Seus olhares eram intensos, quase fulminantes.

    No meio desse ambiente transformado, o árbitro, completamente intimidado, abriu a boca com dificuldade.

    — Comecem… a luta!

    Whoosh!

    Zuuum!

    Imediatamente, chamas irromperam do corpo da capitã dos Cavaleiros Negros. As chamas eram tão quentes quanto um sol ardente, com uma aura carmesim que lembrava Judith.

    Mas eram diferentes. Diferente das chamas selvagens e incontroláveis de Judith, as de Ignet eram altamente refinadas.

    Uma, duas, três, quatro, cinco, dez, vinte.

    Esferas de aura se formaram nas chamas que floresciam ao redor de seu corpo. Cada uma delas carregava um poder tão imenso que até mesmo um Mestre espadachim teria dificuldade para bloqueá-las. Atrás delas, mais chamas surgiram e explodiram, irrompendo com força avassaladora.

    Enquanto a plateia assistia ao bombardeio assustadoramente veloz das esferas de aura, gritos ecoaram.

    Boom! Boom! Boom! Boom! Boom! Boom! Boom!

    Mas seus gritos eram inaudíveis diante da força avassaladora e do rugido que Ignet criava. Apenas as expressões atônitas e os olhos arregalados das pessoas transmitiam o desastre iminente.

    Wooong!

    Mas Ignet Crecensia não tinha intenção de parar.

    Mesmo enquanto as esferas de aura se derramavam, ela continuava concentrando poder em sua espada. Combinando sua esgrima, refinada ao longo de trinta e um anos, com os ensinamentos do Reino Sagrado, suas habilidades eram indescritivelmente apuradas. Seu ímpeto era avassalador.

    Swish.

    Sem hesitação, ela brandiu sua espada.

    Outra onda de aura, desenhando uma meia-lua, foi disparada e devastou o local onde Airen havia estado.

    Kaboom!

    Clatter. Clack. Whooosh!

    Quando as intensas ondas de aura se dissiparam, o silêncio caiu. Destroços ainda caíam do céu enquanto o vento soprava, obscurecendo a visão por um tempo. Se não fosse pelos sacerdotes e magos protegendo os espectadores, muitos poderiam ter se ferido com os efeitos colaterais do ataque de escala absurda.

    …Mas não havia acabado.

    Em meio à explosão e ao calor, Airen Farreira girava cinco energias.

    — Huff, huff.

    Mas ele não as manipulava na ordem de aço, fogo, água, terra e madeira. Ele começou a girar as cinco energias na direção oposta, não, na direção correta.

    O herói loiro reuniu as energias e ergueu o olhar para o sol com olhos brilhantes.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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