Índice de Capítulo

    — E-eu… — Dwight começou. — Eu queria… pedir desculpas…

    Judith o encarou, sua expressão fria.

    — Me desculpe. Antes do torneio começar, duvidei de suas habilidades. Fui um dos que zombaram de você pelas costas, dizendo que não merecia o convite… Queria me desculpar formalmente por ter dito essas coisas. Talvez minhas ações agora possam desagradar você de novo… Uh.

    Dwight reuniu coragem para se desculpar, tremendo enquanto falava. Mas não era por causa de Judith, era por causa da aura de Brett Lloyd. Seus olhos penetrantes pesavam sobre ele com uma pressão considerável.

    “P-Por que ele está assim?”

    Felizmente, não durou muito. Brett logo retirou sua aura e voltou a conversar tranquilamente com os que estavam ao seu redor, como se nada tivesse acontecido.

    Mas mesmo aquele breve momento deixou Dwight exausto.

    “Então essa é a majestade de um dos semifinalistas…”

    Confirmando a força do azarão do torneio, ele limpou o suor da testa com a manga enquanto a vergonha voltava a tomar conta dele. Embora tivesse sido eliminado nas oitavas de final, a pessoa à sua frente era conhecida por ter habilidades iguais ou superiores às de Brett Lloyd.

    Para alguém que caiu na primeira rodada, vir aqui e dizer bobagens para ela… Ele não sabia se deveria simplesmente desaparecer de vergonha ou se arrepender completamente.

    — Uh, bom, então… — Dwight gaguejou. Já havia se desculpado. Mas perdeu a chance de concluir a conversa de forma limpa, então ficou preso em uma situação estranha.

    Enquanto isso, Judith continuava a olhá-lo sem dizer nada, e uma pressão insuportável cresceu dentro de Dwight.

    Alguns dos outros participantes também se sentiram assim. Como Dwight, eles haviam menosprezado Judith no passado, e agora que suas verdadeiras habilidades haviam sido reveladas, não conseguiam esconder a culpa.

    Nenhum deles ousou dar o primeiro passo antes, mas, embalados pelo clima de arrependimento, também estavam prestes a se desculpar.

    Judith olhou para todos eles. Não liberou nenhuma aura, nem mostrou seu temperamento explosivo. Em vez disso, os escaneou com olhos frios e, após cerca de trinta segundos, abriu a boca.

    — Tudo bem.

    Todos arregalaram os olhos.

    — Vamos apenas falar sobre esgrima.

    Os participantes se entreolharam, hesitantes.

    Depois de um momento, Judith acrescentou:

    — Se… se não quiserem, esqueçam.

    Ela se virou, aparentemente pronta para deixar aquilo para trás.

    Os participantes ficaram atordoados e um pouco envergonhados. Honestamente, não sabiam bem como responder.

    Claro, Judith ainda se irritava com o fato de todos terem falado mal dela sem sequer conhecê-la, mas vê-los ali, se desculpando e abaixando a cabeça com expressões desconfortáveis, fez surgir um sentimento estranho em seu peito.

    No entanto, agir como se nada tivesse acontecido era difícil. E, por outro lado, a vontade de mandá-los sumirem já não existia mais.

    No fim, só havia um assunto capaz de quebrar essa tensão desconfortável, algo que ela praticava e amava: esgrima.

    Se não tivessem interesse, poderiam simplesmente ir embora…

    — Não, de jeito nenhum!

    — S-Sim! Nada disso! Pelo contrário, adoraríamos!

    — Com certeza! Falar sobre esgrima é o que mais amo!

    — E-Eu também… Ah, e ainda não disse, mas também quero pedir desculpas. Ah! Sou Colt Smith, aquele que lutou contra você na segunda rodada e perdeu…

    — Ah, certo! E-Eu sou Dwight… Enfim, ótimo, muito bom! Por favor, vamos ter uma boa discussão sobre esgrima…

    — Bem… tudo bem. — Judith respondeu, dando meio passo para trás.

    Ela se sentiu um pouco pressionada pelos espadachins mais velhos, que estavam muito mais animados do que esperava, mas aquilo era muito melhor do que o clima pesado de antes.

    No fim, eles eram tão obcecados por esgrima quanto ela. Mesmo que suas primeiras impressões não tivessem sido boas, havia semelhanças suficientes entre eles para superar esse desconforto neste estágio.

    — Então, essa parte…

    — Hmm, como fiz isso naquela hora? Ah, certo. É assim…

    — Entendi, entendi!

    — Ah, sinto que compreendo, mas ainda é meio confuso.

    — Hã, achei que você lutasse mais por instinto, mas também é surpreendentemente teórica.

    — Bem, talvez eu tenha ficado presa a velhos hábitos até agora…

    Num instante, conversas floresceram na atmosfera amigável, e risadas ecoaram pelo salão. Discutir esgrima com alguém muito mais forte era um privilégio inestimável, especialmente para participantes que, fora os Mestres da Espada, não tinham com quem medir forças.

    As vozes ficaram mais rápidas, a empolgação aumentou. Sem perceber, a conversa passou de um debate para algo próximo a uma aula. Os espadachins despejavam dezenas de perguntas, e Judith as respondia com sinceridade.

    As discussões que teve com Brett em Krono ajudaram-na a se preparar para esse momento. Ao vê-la transmitir seu conhecimento com mais facilidade do que esperavam, os rostos dos espadachins mais velhos se iluminaram.

    Claro, havia limites. Embora discutir esgrima fosse uma grande oportunidade para eles, nada se comparava a cruzar espadas diretamente.

    Todos queriam testar na prática a esgrima de Judith, que desafiava o senso comum. Queriam mostrar suas próprias técnicas e esperavam que aquela espadachim de cabelos vermelhos observasse e apontasse suas falhas no processo.

    — Hmm, que pena.

    — De fato. Se ao menos estivéssemos em um campo de treinamento em vez de um salão de banquetes… Opa.

    Talvez o desejo fosse forte demais. Dwight, o mais animado entre os quatro e falando sem parar, sem querer expressou esse pensamento em voz alta e imediatamente fechou a boca.

    Era uma falta de educação. Apenas receber ensinamentos verbais já era um favor imenso e, ao mesmo tempo, um pouco presunçoso. Compartilhar técnicas de esgrima de alto nível sem qualquer tipo de compensação não era algo comum no mundo dos espadachins.

    Eles nem sequer haviam entrado formalmente em uma escola de esgrima ou estabelecido uma relação de Mestre e discípulo ainda, então pedir mais era um tanto rude. Seu rosto ficou vermelho de vergonha.

    Mas as palavras seguintes de Judith foram completamente inesperadas.

    — Vamos.

    Todos ficaram surpresos, especialmente porque ela permaneceu em silêncio por um longo tempo após o comentário de Dwight. Os outros participantes temeram que sua relação, que mal havia começado, terminasse ali.

    Mas, em vez de serem expulsos, Judith sugeriu que fossem de fato para o campo de treinamento.

    Sorrindo de orelha a orelha, responderam em uníssono.

    — Vamos agora mesmo!

    Temendo que ela mudasse de ideia, conduziram o caminho com humildade, apressando-se na frente de Judith em direção ao campo de treinamento.

    Observando Judith no centro de tudo, Airen, Illia e Brett ficaram impressionados.


    Whoosh!

    “Eu realmente mudei muito.”

    Judith saiu do salão de banquetes e foi para o campo de treinamento, onde começou a ensinar algumas técnicas de esgrima aos participantes do Torneio dos Heróis.

    Ela não era assim originalmente. Sempre teve uma personalidade difícil e era egoísta. Desde a infância nos becos, foi assim. Se conseguisse um pedaço de pão, precisava comê-lo sozinha, mesmo que já estivesse satisfeita. Se não pudesse comer tudo, escondia. Se não fosse possível esconder, jogava fora.

    Sempre viu os outros como inimigos e considerava o altruísmo uma completa inutilidade.

    Porém, começou a mudar depois de entrar na Academia de Esgrima Krono.

    Lembrou-se de Airen Farreira salvando-a durante a avaliação de meio de ano, desistindo de sua própria chance de vitória.

    Lembrou-se de Brett Lloyd se aproximando dela depois de se tornar um aprendiz oficial e sugerindo que discutissem esgrima. O mesmo aconteceu com Illia Lindsay. Ela foi a primeira a se aproximar de Airen, quando todos os outros o ignoravam.

    Foi assim que se aproximou dos três. Não porque tivesse feito algo por eles, mas porque eles tomaram a iniciativa de se aproximar primeiro.

    “Um dia, espero poder retribuir a essas pessoas desnecessariamente gentis.”

    Ela nunca havia dito isso em voz alta, mas sempre pensava nisso. E agora, esse sentimento começava a alcançar um público ainda maior.

    Whoosh!

    Whoosh!

    — Hmm, entendo. O refinamento é bom, mas ficar preso a ele resultou em uma perda considerável. No fim das contas, o propósito de manifestar uma Aura da Espada é se tornar mais forte, mas, em algum momento, você não pode inverter a ordem das coisas.

    — Isso mesmo. Ficamos presos a uma perspectiva muito limitada.

    — Obrigado, muito obrigado!

    Ela não conseguia entender. As pessoas a quem devia gratidão eram Brett, Airen e Illia. Além deles, Ian, Keira Finn, Khun, Kubharu, Lulu e outros colegas aprendizes que haviam se dedicado por ela.

    Os espadachins de meia-idade à sua frente nunca haviam lhe dado nada.

    Ainda assim, dessa vez, foi ela quem deu primeiro.

    E, estranhamente… isso a fez se sentir bem.

    — Hmm, era exatamente disso que eu precisava para aliviar minha frustração.

    — De fato, um campo de treinamento combina muito mais com um espadachim do que um salão de banquetes.

    — Exatamente.

    Antes que percebessem, o campo de treinamento já não estava mais ocupado apenas pelo grupo de Judith, mas por praticamente todos os participantes do Torneio dos Heróis. Devan Kennedy e Ralph Penn foram os primeiros a segui-la, e os espadachins do Oriente, que os admiravam, fizeram o mesmo.

    Logo, o som de espadas se chocando ecoava por diversas partes do campo de treinamento.

    — Ei, você não pode fazer assim!

    — Ei, você aí! Isso mesmo! Não… Argh, que frustrante!

    — Observe com atenção e siga. Aqui, é assim que se faz…

    Inasio Karahan também não ficou parado. No início, mostrou desconforto com a atmosfera generosa de compartilhamento de técnicas, mas agora ensinava os que estavam ao seu redor com mais paixão do que qualquer um.

    Ralph Penn sorriu diante das palavras ríspidas, mas das ações calorosas de Inasio.

    Apesar do vento cortante, o campo de treinamento parecia cada vez mais quente. Brett, Airen e Illia se juntaram ao grupo.

    Sem que percebessem, todos os participantes do Torneio dos Heróis começaram a compartilhar seus conhecimentos e habilidades sem qualquer hesitação.

    Judith observou a cena em silêncio. Ainda não entendia completamente por que havia demonstrado gentileza a pessoas que não eram seus amigos ou entes queridos.

    E por que os outros a seguiram? Por que o sorriso de Airen parecia tão claro e radiante enquanto olhava para ela? Aquele gesto não havia sido para ele. Não era uma gentileza dirigida a ele.

    Mesmo assim, enquanto observava a cena que ajudou a criar com um coração confuso, sentiu alguém atrás dela.

    Virou-se e franziu a testa. Era o Tigre do Sul, Jarod. O irmão jurado de Jakuang e alguém com quem possuía um laço de inimizade.

    No instante em que a expressão de Judith estava prestes a se contorcer de irritação, ele disse:

    — Me desculpe.

    Judith parou, chocada.

    — Me desculpe pelas palavras e ações rudes que Jakuang e eu dirigimos a você. Eu me desculpo por isso agora. — Jarod inclinou a cabeça educadamente.

    Foi como se tivesse sido atingida na cabeça pelo peso de sua sinceridade.

    De repente, lágrimas escorreram pelo rosto da espadachim de cabelos vermelhos.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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