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    “Caramba.”

    Jarod, conhecido como o Tigre do Sul e um dos candidatos à vitória no Torneio dos Heróis, exibia uma expressão desconfortável enquanto permanecia num canto do salão de banquetes.

    A razão para isso era óbvia: o jovem quarteto e Judith.

    Não havia como evitar. Seu irmão jurado, Jakuang, nem sequer apareceu para a primeira rodada e perdeu por desistência. Quanto a Jarod, embora tenha chegado às quartas de final, sua performance contra Illia Lindsay foi vergonhosa.

    Em contraste, Judith teve uma exibição inacreditável. Ela chegou ao ponto de forçar Ignet Crecensia, a vencedora do torneio, à beira do ringue.

    “Aquilo não foi apenas sorte.”

    Jarod suspirou enquanto observava Judith se movimentando pelo salão. Não podia negar, ela era forte. Mesmo sendo apenas uma Especialista, merecia plenamente o convite do Reino Sagrado.

    Mas era mais do que isso. Mesmo se ele e Jakuang se unissem contra ela, será que conseguiriam bloquear aquele único golpe que ela usou nas oitavas de final?

    Provavelmente não.

    Não, definitivamente impossível.

    Durante o torneio, ele pode ter blefado com orgulho, mas agora que tudo havia terminado, conseguia se comparar de maneira mais objetiva.

    Judith era muito mais forte do que ele.

    Seus companheiros, Brett Lloyd, Illia Lindsay e Airen Farreira, também eram muito mais fortes do que ele.

    A amarga realidade de que juniores trinta anos mais novos já o haviam superado inflamava uma frustração e uma raiva insuportáveis dentro dele.

    Agora entendia por que Jakuang havia partido sem dizer uma palavra.

    Mesmo que tivessem sido eles os primeiros a arrumar encrenca, Jarod sentia uma ira ardente sempre que via Judith. Seu orgulho fervia. Mas, ao contrário de Jakuang, ele permaneceu no Reino Sagrado, temendo as zombarias e humilhações que sofreria se também fugisse como um covarde.

    Assim, o Tigre do Sul olhava para a espadachim ruiva com um olhar ameaçador.

    Porém, sua atitude começou a mudar durante a conversa de Judith com os participantes eliminados na primeira rodada.

    — O que está acontecendo? Para onde estão indo?

    — Disseram que estão indo para o campo de treinamento.

    — O quê? O campo de treinamento?

    — Eu também ouvi. Estão discutindo sobre esgrima… Bem, na verdade, é mais uma instrução unilateral.

    — Sério? Que descaramento. Essas pessoas estavam falando mal dela pelas costas.

    — É verdade, mas esse não é o ponto. Se estão indo ao campo de treinamento porque a explicação verbal não foi suficiente, então ela provavelmente pretende ensiná-los de verdade.

    — Hmm, mas mesmo assim, será que vai ser algo relevante? A menos que Judith seja uma tola, ela sabe que essas pessoas a menosprezaram. Será que realmente vai lhes ensinar algo valioso?

    Mesmo dizendo isso, sua expressão não conseguia esconder a curiosidade.

    Não havia nada a perder. Talvez ela apenas mostrasse coisas triviais para se exibir, mas se não fosse o caso, a tentação era grande. Se pudessem aprender algo sobre o golpe que forçou uma Especialista ao limite, isso valeria mais do que qualquer coisa que ganharam neste torneio.

    — …Ahem, o ar aqui está pesado. Talvez eu também dê uma volta.

    — Vamos? Eu estava pensando a mesma coisa…

    No fim, os espadachins migraram para o campo de treinamento sob diversos pretextos. Entre eles estavam Devan Kennedy, Ralph Penn e Inasio Karahan. Os mais jovens, incluindo Airen, também foram juntos.

    E todos começaram a compartilhar seu conhecimento com sinceridade.

    Jarod, que os seguiu com um sorriso cínico, permaneceu em um canto do campo de treinamento, observando tudo com uma expressão vazia.

    Ele observou.

    E continuou observando…

    — Me desculpe.

    Antes que percebesse, ele se aproximou de Judith e falou com respeito.

    Ele se sentia envergonhado.

    Viveu mais do que o dobro da idade deles. Não apenas provocou uma luta contra sua júnior, como, mesmo depois de esclarecer o mal-entendido, continuou ardendo de raiva por orgulho ferido. Chegou até a cogitar se reunir com Jakuang para buscar vingança de alguma forma.

    Mas Judith era diferente.

    Ela perdoou aqueles que a desprezaram e lhes ofereceu boa vontade. Essa boa vontade se espalhou entre mais de 120 espadachins e quebrou as barreiras em seus corações.

    Todos pareciam alegres, felizes.

    Graças a Judith.

    Era um milagre criado pela generosidade de uma jovem de vinte e dois anos, a participante mais nova do torneio.

    “E eu alimentei pensamentos tão mesquinhos…”

    Quando essa boa vontade atingiu seu próprio coração, Jarod não conseguiu suportar. Sentiu repulsa de si mesmo por ter mantido uma mentalidade tão intolerante enquanto ostentava o título de Tigre do Sul.

    Quis partir imediatamente.

    Mas sabia que não deveria.

    Para não se tornar igual a Jakuang e para não ser um covarde, inclinou a cabeça e disse:

    — Me desculpe pelas palavras e ações rudes que Jakuang e eu dirigimos a você. Eu me desculpo por isso agora.

    Naquele momento, lágrimas escorreram pelo rosto de Judith.

    Mesmo sendo um pedido de desculpas de alguém com quem teve tensão durante todo o torneio, ela sabia que ele não estava mentindo. Também percebeu que seus sentimentos mudaram por causa de sua própria bondade. Compreendeu que suas ações naquele dia haviam quebrado a corrente do destino amargo e iniciado um ciclo virtuoso.

    E também entendeu por que Airen havia sorrido para ela. Não era necessário retribuir apenas a ele. Ela podia passar esses sentimentos adiante para outros, pois eles acabariam circulando e, um dia, retornariam para Airen de alguma forma.

    Naquele instante, uma chama se acendeu nos olhos de Judith.

    Fwoosh!

    Pessoas surgiram em seu campo de visão ampliado.

    Algumas balançavam suas espadas com dedicação, enquanto outras davam conselhos sinceros aos colegas. Algumas assistiam com sorrisos no rosto, e outras estavam imersas em pensamentos solitários. Algumas olhavam em sua direção, e algumas observavam atentamente a cena entre ela e Jarod com expressões incertas.

    Todos eles… pareciam preciosos para ela.

    Era um sentimento que talvez mudasse em poucos dias, mas, pelo menos por agora, era assim que se sentia. O calor e as chamas que emanavam das pessoas ao seu redor faziam seu coração arder ainda mais.

    — Não solte.

    — O quê?

    — Não solte seus laços.

    — O que…?

    — Siga um caminho diferente do meu. Não abandone seus amigos; não abandone seu amante. Não corte seus laços com a Academia de Esgrima Krono. Não sacrifique todos os seus futuros relacionamentos pela espada. Seja gananciosa. Não solte nada; abrace tudo e avance.

    Ela se lembrou das palavras de seu Mestre. Na época, achou que eram apenas os devaneios de um velho ganancioso. Mas agora, soavam um pouco diferentes.

    Sua visão nítida ficou turva. Enquanto as lágrimas fluíam ainda mais intensamente, Judith sorriu.

    — Hã? Uh…

    — O que foi? O que você disse para deixá-la assim? — Brett perguntou.

    — Nada, só pedi desculpas… Sério, eu não fiz nada de errado — Jarod respondeu, confuso.

    — Então por que ela está chorando… Não, ela está sorrindo?

    Os dois homens ficaram em silêncio por um momento.

    — Mesmo que continue me encarando assim, eu não sei. Também não entendo — disse Jarod.

    Jarod estava perplexo. Brett Lloyd correu até ele, prestes a agarrá-lo pela gola, mas, ao ver a expressão estranhamente ambígua de Judith, decidiu perguntar primeiro. Não conseguia julgar a situação corretamente, pois sua amada não estava agindo como de costume.

    No entanto, Judith continuou sorrindo e, então, começou a rir. Não era apenas um leve erguer dos lábios, ela ria abertamente. Ao ver isso, a maioria dos espadachins que estavam concentrados em seus treinamentos desviou o olhar para ela.

    Mas ela não sentiu vergonha.

    A Espadachim das Chamas enxugou as lágrimas com a manga e estendeu a mão para Jarod.

    — Vamos apertar as mãos.

    Ele ficou quieto, ponderando o que fazer a seguir.

    — Também fui um pouco dura com minhas palavras. Me desculpe.

    — Não, eu é que sinto muito. Se encontrar Jakuang, falarei com ele também. Espero que vocês dois possam resolver as coisas.

    — Eu também espero.

    Um calor percorreu seu corpo quando apertaram as mãos.

    As chamas naquele campo de treinamento a fizeram esquecer o frio cortante. Sentia-se mais aquecida agora do que no calor que havia cultivado sozinha, em seu sofrimento.

    Observando Judith no centro daquela cena, Airen Farreira voltou a pensar sobre o crescimento mútuo.


    O banquete chegou ao fim. Em algum momento, o local mudou para o campo de treinamento, mas, de qualquer forma, estava terminado. Os participantes do Torneio dos Heróis seguiram caminhos diferentes, deixando para trás sentimentos de arrependimento.

    Mas, é claro, seus laços não terminavam ali.

    — Você vai mesmo? — Inasio Karahan perguntou.

    — Achou que eu estava brincando? Não tenho um lugar fixo, de qualquer forma. Estou pensando em viajar pelo Oriente por alguns anos — Ralph Penn respondeu.

    — Bom, faça o que quiser.

    Ralph Penn riu. — Ótimo. Não se esqueça de que prometeu me apresentar uma bela jovem.

    — Espere, quando foi que eu disse isso… E na sua idade, ‘jovem’ não é um pouco demais?

    — Ahem, talvez eu…


    Inasio Karahan, Ralph Penn e Devan Kennedy pareciam dispostos a manter contato depois do torneio e trocavam provocações amigáveis enquanto desapareciam juntos. Provavelmente iriam beber mais um pouco.

    Eles não eram os únicos. Outros também se reuniam em pequenos grupos, aqueles com quem criaram laços durante o torneio, continuando suas próprias confraternizações.

    Apenas Jarod voltou diretamente para sua hospedagem, aparentemente decidido a deixar Arvilius na manhã seguinte. Ele parecia determinado a encontrar Jakuang e, ao contrário do que se poderia esperar, seu humor era tão bom quanto o dos outros. Na verdade, parecia aliviado.

    — Como esperado, é mais confortável estarmos apenas entre nós — Judith disse.

    — Sim, concordo — Airen respondeu.

    Airen Farreira, Illia Lindsay, Judith e Brett Lloyd, o quarteto que contribuiu significativamente para o sucesso do torneio, também se reuniram após o fim do banquete. Permaneceram no campo de treinamento depois que todos os outros participantes partiram. Agora, o local exalava tranquilidade, e parecia o momento ideal para compartilharem seus pensamentos sobre o encerramento do torneio.

    — Não sei se terei outra oportunidade como essa, mas, se houver outro torneio, sinto que poderia me sair ainda melhor — Judith disse, quebrando o breve silêncio. Ela não usou seu tom rude de sempre. Apesar da confiança em suas palavras, havia nelas um calor e uma suavidade incomuns.

    De fato, a Judith de hoje parecia diferente. Ela tomou a iniciativa de interagir com os outros e expressou seus pensamentos com honestidade…

    — Sinto que quase compreendi algo. Talvez, depois de encontrar meu Mestre, eu finalmente alcance alguma coisa concreta. O que eu faço?

    — O que quer dizer? — Airen perguntou.

    — Se eu ficar ainda mais forte daqui para frente… e se eu crescer tão rápido… será que o mundo pode me suportar?

    Airen não respondeu de imediato, apenas ouviu.

    — Que pena. Se o torneio tivesse acontecido um ano depois, a vencedora poderia ter sido outra.

    — Casais começam a se parecer, não é? — Illia comentou.

    — Pois é. Brett, você influenciou Judith? — Airen provocou.

    — Não… — Brett ficou pasmo.

    Foi Judith quem falou, mas Brett quem acabou sendo alvo da brincadeira. Ele ficou tão surpreso que nem soube como rebater.

    Mas não precisou se preocupar. A resposta veio de uma espadachim de cabelos negros que se aproximou sem que percebessem.

    — Isso é impossível — declarou Ignet Crecensia.

    — Hmm?

    — Ignet…

    — Impossível? — Judith perguntou.

    — Sim. Um ano está longe de ser suficiente. E você, Brett Lloyd, insolente. Chamando-me sem o sobrenome que me foi concedido pelo Rei Sagrado. Quer morrer?

    — Não — Brett respondeu prontamente.

    — Esqueça.

    Então, Ignet Crecensia simplesmente se sentou ali mesmo.

    Embora quase ninguém tivesse percebido sua aproximação, assim que entrou em cena, sua presença tornou-se pesada, como se o ar tivesse engrossado. No entanto, ninguém sentiu isso como um fardo.

    Nem Brett Lloyd.

    Nem Judith.

    Nem Illia Lindsay.

    E também nem Airen Farreira.

    Todos olharam para a Capitã dos Cavaleiros Negros sem se intimidar.

    Ignet Crecensia sorriu levemente e então disse algo muito pouco característico dela.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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