Índice de Capítulo

    — Bem, então, até a próxima.

    — De fato. Espero que possamos nos encontrar novamente em breve.

    Alguns dias após o Torneio dos Heróis, os participantes deixaram o Reino Sagrado e seguiram seus próprios caminhos. Os quatro amigos fizeram o mesmo. Kiril partiu primeiro com a família Farreira, e Illia Lindsay também retornou com os seus. Mas Brett Lloyd e Judith não se separaram imediatamente. Judith estava prestes a entrar em mais um longo período de treinamento.

    Não querendo se despedir de sua amada tão facilmente, Brett decidiu acompanhar Judith até a morada de Khun. Felizmente, ninguém da família Lloyd se incomodou com isso.

    — Cuide-se.

    — Volte em segurança.

    — Nos vemos depois, irmão.

    Brett ficou em silêncio por um momento.

    — Por que ainda não foi?

    — Bem, entendo Mamãe e Papai, mas você… — Brett suspirou ao ver a expressão indiferente de Gerard Lloyd.

    Seu irmão mais novo frequentava a Academia Real e estudava economia, então fazia bastante tempo desde que se viram. Ele esperava que Gerard fosse um pouco mais afetuoso.

    Claro, Brett era quem estava partindo para ficar com sua amada, mas ver seu irmão se despedir de forma tão despreocupada deixou um gosto amargo em sua boca.

    — Acho que preciso mostrar minha dignidade como irmão mais velho quando voltar.

    — Eu não estarei aqui quando você voltar.

    — Então irei te procurar na capital.

    — Forasteiros não são permitidos.

    — Você está me tratando como um estranho…

    — Brett, já chega. Vá logo. Judith, obrigada por ficar ao lado do nosso filho tolo.

    — O-Obrigada… — Judith disse, claramente envergonhada.

    Para Judith, que era órfã, era difícil se acostumar com o carinho que recebia da família de Brett. Mas, claro, não era uma sensação ruim.

    Guardando no coração a despedida calorosa da família Lloyd, os dois deixaram Arvilius para iniciar sua jornada.

    — É uma pena. Os participantes e até os velhos disseram que aprenderam muito com o torneio. Teria sido bom se o Mestre também tivesse vindo.

    — Ele poderia ter visto sua discípula em ação… Isso teria sido bom. Quanto progresso alguém pode fazer repetindo o mesmo treinamento todos os dias? Em momentos como esse, ele deveria sair e ver o crescimento de seus discípulos. Talvez sentisse algo também…

    — Eu sei que esse é o jeito do Mestre, mas ainda assim…

    — Ah, tanto faz. Vou pedir para lutar com ele. Faz muito tempo.

    — Ele pode ficar realmente surpreso, não acha? Sinto que estou definitivamente mais forte do que antes do torneio.

    — Hmm. Isso é verdade.

    “Isso não era o que eu esperava”, Brett pensou.

    Quanto tempo fazia desde que tiveram um encontro sozinhos? Ele queria passar um tempo mais doce com Judith, criar uma atmosfera mais suave, com conversas íntimas.

    Mas a maior parte do que saía da boca de Judith era sobre seu Mestre.

    Claro, ele entendia.

    Se a Academia de Esgrima Krono foi o primeiro teto sobre sua cabeça após todas as dificuldades que passou, então Khun era como um pai para ela. O que significava para ela que ele não tivesse visto seu crescimento, e que agora ela estivesse prestes a mostrá-lo?

    “Ela deve ter se sentido bastante decepcionada. E deve ter sentido muita falta dele.”

    Assentindo, Brett continuou ouvindo a história de Judith. Concordou com algumas de suas opiniões e ofereceu perspectivas diferentes em outras. Às vezes, quando a achava incrivelmente adorável, sussurrava palavras doces em seu ouvido.

    Enquanto isso, o ritmo dos dois acelerava gradualmente conforme se aproximavam do destino.

    Os campos secos do inverno surgiram diante deles, e ambos avançaram a toda velocidade, sem dizer uma palavra.

    Saudade.

    Amargura.

    Alegria.

    A expressão de Judith mudou ao absorver a cena desconhecida diante dela, a velocidade de sua corrida impulsionada por diversas emoções.

    Eles permaneceram em silêncio por um longo tempo.

    Brett olhou ao redor. Árvores próximas estavam quebradas ao meio. Fragmentos de rochas espalhados por toda parte. Grandes crateras marcavam o solo…

    E a morada de Khun estava completamente destruída.

    Finalmente, Brett voltou sua atenção para o rosto de sua amada.

    Judith lutava para compreender a situação diante dela. Sua expressão era uma mistura de surpresa, tristeza, desespero e raiva.

    E então…

    Flash!

    Um raio desceu dos céus, e algo verdadeiramente misterioso e inexplicável perfurou suas mentes.

    Eles viram imagens…

    Um diabo rindo enquanto usava uma máscara. Um espadachim de pé com uma espada negra como a noite. Dois lados se confrontando na escuridão, suas silhuetas obscurecidas da visão.

    “São eles!”

    Os dois souberam imediatamente que deduções lógicas não seriam úteis. Eram eles. Eles transformaram a morada de Khun nesse estado. Uma intuição profunda os levou à verdade, e Judith gritou furiosa.

    — Vou matá-los! Vou encontrá-los, despedaçá-los, cortá-los e acabar com suas vidas!

    Brett permaneceu em silêncio. Judith estava tão intensa e perigosa que nem ele conseguia se aproximar.

    “Precisamos voltar!”, ele pensou.

    Eles precisavam retornar imediatamente a Arvilius. Os três diabos que apareceram na escuridão foram confrontados por uma existência que brilhava com uma luz fraca.

    Ele podia adivinhar quem eram alguns deles, mas não todos.

    Um provavelmente era Ignet Crecensia, outro o Diabo Bufão, e os outros dois eram entidades desconhecidas.

    Eram esses os verdadeiros problemas.

    Pelo que ouviram de Airen, o Diabo Bufão era um grande mal que eles não poderiam enfrentar. Mas ele havia visto mais duas presenças como aquela.

    Eles não eram inimigos que podiam enfrentar sozinhos. Judith poderia se opor a isso, mas ele sabia que precisava impedi-la de qualquer forma. Ele tinha que evitar que ela tentasse encontrá-los sozinha e, em vez disso, buscar a ajuda do Reino Sagrado.

    A única sorte era que eles não sabiam onde ficava o covil daqueles seres.

    O olhar de Brett Lloyd voltou-se para Judith.

    Ela estava chorando.

    Ela estava afundando.

    Tudo o que restava depois que suas chamas se extinguiram era um abismo sem fim. Ele a segurou firmemente enquanto ela afundava em um poço de tristeza e arrependimento.

    — Vamos voltar para Arvilius.

    Eles poderiam pensar e agir depois disso. Apesar de ouvir as palavras de Brett, Judith não conseguiu recobrar os sentidos por um longo tempo.


    — Ignet Crecensia está desaparecida.

    — O responsável é o Diabo Bufão, e um mal ainda maior do que ele… Acreditamos que seu poder supera o do Rei Dragão Demônio.

    — E… aquele que empunhava a espada negra como a noite era…

    Após ouvir uma breve explicação de Julius Hule, o Capitão dos Cavaleiros Brancos, Brett Lloyd olhou para Illia Lindsay com uma expressão tensa. Ele não conseguia virar totalmente a cabeça, então apenas lançou um olhar de esguelha.

    Karl Lindsay, um raro gênio que deveria trazer glória à família Lindsay, teve suas asas cortadas por um acidente infeliz. Como se isso não bastasse, desapareceu e foi completamente esquecido pelo público.

    Mas ele era alguém que jamais deixaria o coração de Illia Lindsay.

    Ao ouvir sobre o aparecimento de seu irmão após dez anos, seu coração foi preenchido por um calor comparável ao de Judith.

    — Pode ser presunçoso, mas ‘desaparecido’ em vez de ‘morto’ significa… — Brett começou, mal recuperando a compostura.

    Eles também pareciam não compreender completamente a situação. Havia cinco pessoas afetadas pela feitiçaria misteriosa: Brett, Judith, Illia, Georg Phoibe e Anya Marta.

    A única coisa favorável era que Anya Marta usara suas moedas de feitiçaria douradas para descobrir um pouco mais de informação. Ignet ainda estava viva. E o diabo que a confrontou era ainda mais poderoso que o Diabo Bufão.

    — Mas o problema é que isso é tudo o que sabemos…

    Apesar de gastar moedas douradas equivalentes a dois anos de feitiçaria, toda a fortuna de Anya, eles não conseguiram determinar a localização do inimigo. Mesmo com uma operação conjunta entre Arvilius e o Reino Runetell, era impossível.

    Eles poderiam tentar encontrar o local onde o incidente ocorreu de alguma forma, mas rastreá-lo era impossível. A energia demoníaca usada estava densamente espalhada e interferências surgiam por todos os lados como resultado. Além disso, queriam evitar causar danos ainda maiores ao se desgastarem excessivamente.

    Brett mordeu o lábio inferior. Ele entendia suas ações, mas as palavras ‘Vocês não estão sendo cautelosos demais?!’ subiram em sua garganta.

    O que mal conseguiu acalmá-lo foi a última informação que obtiveram, talvez a mais importante.

    — A chave para resolver este incidente… está com o herói de cabelos dourados.

    Alguns ficaram em silêncio por um momento.

    — Esse foi o melhor conselho que conseguimos obter com as moedas douradas que tínhamos… Também é por isso que não estamos agindo precipitadamente.

    — …Airen.

    — Airen Farreira.

    Judith e Brett disseram seu nome ao mesmo tempo.

    Não havia outra pessoa. Ninguém negou isso.

    Mas isso não era o mais importante.

    Com a expressão cada vez mais carregada, Brett Lloyd pensou, “Por que… por que você ainda não veio? Airen Farreira…”

    Ele e Judith vieram assim que entenderam a situação, e Illia Lindsay tomou a mesma decisão, qualquer um teria tomado. O Reino Sagrado, Arvilius, era o único ponto de convergência para enfrentar um grande mal tão misterioso.

    Mas aquele que provavelmente estava mais exposto à feitiçaria, e que também estava geograficamente mais próximo, Airen, ainda não havia aparecido.

    Até mesmo sua irmã mais nova, Kiril Farreira, estava ali. Brett a olhou com olhos inquisitivos.

    Então, a jovem feiticeira, que não havia dito uma palavra até agora, falou com a voz embargada de lágrimas.

    — Eu também não sei… Onde ele está, quero dizer… Só… só por um momento, eu voei num grifo até o Principado de Cezar, e nesses poucos dias, ele desapareceu. Sem dizer uma palavra, ele deixou a propriedade… sem dizer uma palavra…

    Ninguém perguntou se ela havia tentado descobrir com sua intuição de feiticeira. Se isso fosse possível, ela não estaria ali. Talvez Kiril Farreira fosse a mais frustrada entre todos os presentes.

    Um silêncio tão pesado quanto a morte preencheu o salão.

    Nem mesmo o Rei Sagrado, o Capitão dos Cavaleiros Brancos, os paladinos, as forças sacerdotais ou os guerreiros mais fortes do continente, incluindo Ian e Joshua Lindsay, conseguiram dizer algo.

    Na capital de Arvilius, que até recentemente estava repleta de esperança, tristeza, raiva, frustração e ódio permeavam tudo, essas emoções escuras se assentando como uma névoa noturna.


    Muito antes de Illia Lindsay, Judith, Brett Lloyd e todos os outros se reunirem no Reino Sagrado, Ignet Crecensia recobrou a consciência.

    Ela estava em um lugar familiar, mas ao mesmo tempo bastante estranho.

    — …Onde estou? — murmurou.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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