Índice de Capítulo

    Um homem de meia-idade apressou o passo.

    — Só espere um pouco, seu pai está chegando. Eu prometo, vou me apressar…

    Ele havia ido ao templo buscar ajuda para sua filha, que fora acometida por uma febre repentina. Graças à misericórdia do sacerdote, conseguiu obter água benta, mesmo com a escassez de dinheiro. Agora, tudo o que precisava fazer era voltar para casa o mais rápido possível.

    A urgência o consumia enquanto se movia. No caminho de volta, percebeu uma multidão reunida. Todos estavam diante de uma enorme rocha que bloqueava a entrada de uma antiga mina.

    Alarmado, o homem de meia-idade correu até lá, completamente sem fôlego.

    — O q-que aconteceu aqui?

    — Ninguém sabe — respondeu um homem da multidão. — Talvez tenha sido o tufão do outro dia. Ou algum demônio gigantesco causou essa bagunça…

    — Não pode ser, não há demônios por aqui…

    — Nos dias de hoje, quem pode ter certeza? Criaturas demoníacas e demônios aparecem em todo lugar.

    — Isso pode ser, mas…

    — Esse não é o ponto. O problema é que não podemos usar esse caminho por um tempo, e todo mundo aqui fez a viagem à toa. Droga! Dar a volta vai levar muito mais tempo…

    Ouvindo as palavras do velho, o homem de meia-idade voltou-se para a entrada obstruída. Apenas olhar para aquilo fazia seu peito apertar. A rocha era tão grande que nem mesmo trinta homens fortes conseguiriam movê-la. Sua ansiedade aumentou ao pensar na filha doente esperando por ele em casa.

    E ele não era o único a sentir medo. Aqueles que tinham tempo de sobra apenas suspiraram e partiram, mas outros, que estavam com pressa como ele, permaneciam ali, frustrados.

    — Lá vem mais um… Tsk, esse jovem também parece aflito — comentou o velho com simpatia. — Deve ter algo urgente para resolver.

    Sob um pesado manto, o rosto do jovem parecia terrível. Sua expressão sombria pesava sobre os corações de quem o observava. O homem de meia-idade não conseguia desviar o olhar, ver alguém em uma situação parecida com a sua fazia sua boca secar.

    Mas então… um milagre aconteceu.

    Swish!

    — O q-que foi isso…?!

    De repente, uma lâmina enorme brilhou e desapareceu tão rápido quanto surgiu, quase sem emitir som.

    As pessoas ficaram boquiabertas diante da cena.

    A rocha agora estava perfeitamente dividida ao meio.

    Thump!

    Zzzzzt!

    Então, o jovem colocou as mãos sobre as duas metades da pedra e puxou-as para os lados. Com um ruído áspero, o espaço entre elas se alargou até ser grande o suficiente para permitir a passagem de uma carroça.

    — Eu irei na frente — disse o jovem encapuzado antes de desaparecer rapidamente pelo caminho recém-aberto.

    O homem de meia-idade, segurando a água benta, foi o primeiro a avançar. Um por um, os outros seguiram, aliviados.

    — Mais e mais demônios continuam aparecendo, mas parece que heróis ocultos também… — murmurou o velho.

    De fato, o mundo continuava mudando drasticamente, como nunca antes.

    Quando Airen Farreira sentiu a feitiçaria de Ignet Crecensia pela primeira vez, não pensou em mais nada. Ele considerou se juntar ao Reino Sagrado ou pegar um grifo emprestado de sua irmã mais nova, Kiril. Mas, no fim, deixou sua propriedade e correu na direção indicada pela lâmina infundida com feitiçaria. Ele se empurrou ao limite, sem descanso.

    Claro, não permaneceu em pânico para sempre. Ainda estava ansioso, mas não tanto quanto quando ouviu a terrível notícia pela primeira vez. Agora tinha compostura o suficiente para pensar com clareza.

    Mesmo assim, ele não estava indo para o Reino Sagrado, mas sim para o leste do continente. O motivo era que os sinais da lâmina infundida com feitiçaria continuavam se interrompendo.

    “Aqueles demônios, incluindo o Diabo Bufão, continuam se movendo. Talvez estejam usando truques para despistar qualquer tipo de perseguição.”

    Se ele ficasse muito para trás, talvez nunca os alcançasse, então não podia se distrair nem por um instante. Ajustava sua rota constantemente, sempre que a lâmina enviava um novo sinal.

    Por isso, Airen ainda viajava sozinho.

    Pelo menos, estava mais calmo do que antes.

    Se conseguiria ou não, não importava. Ele precisava conseguir, a qualquer custo.

    Não podia falhar.

    Para lutar contra diabos tão poderosos, precisava estar em sua melhor forma, não, mais do que isso. Precisava alcançar um nível ainda mais alto em um curto período de tempo e superar seus próprios limites.

    Mas como ele se sentia agora?

    Estava ansioso.

    E ardia em ódio.

    Não conseguia controlar o ódio crescente dentro de si.

    E, além disso, o ciclo de sua Técnica Divina dos Cinco Elementos havia sido rompido.

    “Preciso corrigir isso primeiro. Sem o fluxo de energia da Técnica Divina dos Cinco Elementos… Eu nem sequer poderei enfrentar aquele Diabo Bufão.”

    Para acalmar as chamas incontroláveis de sua raiva, ele trabalhou com a energia da água.

    Ao mesmo tempo, revisitou o verdadeiro significado da Técnica Divina dos Cinco Elementos, era sobre crescimento mútuo e circulação.

    Por isso, Airen tentava praticar boas ações sempre que podia.

    Um ato de bondade inspirava outro, e esse outro levava a mais um.

    As boas ações continuariam até que o continente inteiro se enchesse de felicidade e esperança.

    Essa ideia estava em total oposição aos impulsos destrutivos dos demônios e alinhava-se com a vontade de Airen de proteger.

    “Não esqueça o básico. Não abandone os ideais, crenças e ambições que carreguei até aqui.”

    Ele precisava se lembrar do motivo pelo qual empunhou a espada e chegou tão longe.

    Para reafirmar essas verdades e escapar do tormento em seu coração, Airen mergulhou em uma profunda meditação.

    E assim permaneceria até que a lâmina infundida com feitiçaria enviasse um novo sinal.

    Rapidamente, Airen se escondeu em um canto escuro de um beco para acalmar suas emoções turbulentas. Fechou os olhos por um momento, tentando se recentrar.

    Mas as coisas não saíram exatamente como planejado. Ele sentiu alguém se movendo por perto, então abriu os olhos calmamente, apenas para se deparar com o rosto de uma pequena e miserável criança.

    Assim que percebeu o que o garoto estava fazendo, disse:

    — Isso não vai dar certo.

    — Ugh, ack…!

    Airen puxou os dedos do menino para longe de seu colar dos cinco elementos.

    — Isso é algo precioso — disse, guardando o colar mais profundamente dentro de seu manto. — Mais importante, roubar é errado.

    Esse colar não era um item comum, e ele não podia simplesmente deixá-lo ir. Mas, claro, não agarrou a criança apenas por causa disso.

    Enquanto o menino lutava para se soltar, Airen perguntou:

    — Por que você se voltou para o furto?

    O garoto olhou para ele, desconfiado.

    — Isso pode parecer bobo, mas realmente não há nada mais que você possa fazer?

    — Que pergunta estranha — respondeu o menino. — O que mais eu poderia fazer em um lixão como esse?

    — Hmm…

    — Você também não consegue pensar em nada, certo? Então, me solte se não vai me matar… Gah, me solte!

    Airen assentiu. O garoto tinha razão.

    Mesmo que Airen tivesse conhecido dificuldades, ele nascera em uma família nobre e rica, e não conseguia escapar completamente dessa perspectiva. Sugerir pequenos trabalhos ou favores seria ingênuo. Devia haver razões para isso não ser possível ali. Mesmo que houvesse opções, a infração do garoto não era tão grave.

    Se ele cresceu vendo todos ao seu redor vivendo assim, talvez nem perceba que isso é errado. Ele nunca teve o luxo de refletir sobre suas próprias ações.

    Airen pensou em sua própria vida. Ele fora verdadeiramente sortudo, não havia outra maneira de descrever. Cresceu com uma mãe amorosa, um pai confiável e sua adorada irmã, Kiril. Agora, tinha Illia, sua amada, além de Judith, Brett, Khubaru, Lulu e todos os outros amigos que tanto prezava.

    Inúmeras pessoas o guiaram como Mestres. Bondade e compaixão o cercaram, e não foram apenas seus próprios esforços que o trouxeram até aqui, ele devia muito aos outros.

    E quanto a essa criança? Desde o nascimento, crescera em um ambiente cruel. A malícia gerava hostilidade. A hostilidade gerava mais negatividade. E o garoto absorvia tudo isso à medida que crescia.

    Naquele momento, Airen compreendeu por que a feitiçaria de Ignet Crecensia o enfurecia tanto. E também entendeu por que abrigava um ódio tão intenso pelos seres demoníacos.

    “Eles são criaturas que criam uma cadeia infinita de desgraças.”

    Airen compreendia o milagre do crescimento mútuo, e esses eram seres com os quais ele jamais poderia coexistir.

    — P-Por favor! Pare! Me desculpe… Eu não farei isso de novo. De verdade, juro… Então, só desta vez, me perdoe…

    As palavras do garoto trouxeram Airen de volta à realidade. Ele olhou para a criança, ouvindo suas desculpas repetidas e promessas vazias, vendo as lágrimas em seus olhos. O menino não achava que o que fazia era errado, nem planejava parar de furtar.

    Mas Airen não conseguia odiá-lo. Não conseguia sentir raiva. Ele sabia quem verdadeiramente merecia seu ódio, e enfrentaria esses seres com sua lâmina.

    Suspirando suavemente, Airen alcançou o interior de seu manto.

    — Eek! — O garoto se encolheu, tremendo. Esperava que Airen puxasse um porrete ou uma faca. — Ugh… Hã?

    Clink!

    Mas, em vez disso, um pequeno saco de moedas apareceu diante de seus olhos, o tilintar das moedas ecoando levemente.

    O garoto engoliu em seco.

    — Coma bem esta noite — disse Airen.

    O menino o encarou com desconfiança.

    — Mas pode me prometer uma coisa?

    — O que é? — O garoto estreitou os olhos.

    Ele não acreditava em bondade gratuita.

    Apertando o saco de moedas, engoliu em seco. Se a promessa fosse algo perigoso, ele recusaria e imploraria por misericórdia.

    A voz de Airen soou mais calorosa do que antes.

    — Se conhecer outra criança com fome, compartilhe com ela.

    Os olhos do menino se arregalaram.

    — Você pode fazer isso?

    A criança permaneceu em silêncio por um longo tempo. Aquele momento foi o primeiro ato genuíno de bondade que já recebera. Ele hesitou, duvidando das intenções de Airen. A luz que surgia em seu coração escuro e árido o confundia.

    Mas, no fim, ele ainda era jovem. Ainda não estava completamente endurecido por sua dura realidade.

    Ele assentiu sinceramente.

    — Eu farei isso.

    Airen sorriu e se levantou, bagunçando suavemente o cabelo do garoto.

    Então, deixou o beco, sem olhar para trás.

    Ao emergir, viu.

    Outro sinal.

    “Preciso encontrar um lugar tranquilo, pegar a lâmina, verificar a direção e seguir em frente.”

    Enquanto se concentrava em rastrear os seres demoníacos, percebeu que seu coração estava mais quente do que de costume.

    Fazia muito tempo desde que se sentira assim.

    …Não era ruim.

    Focando no sinal, com um leve sorriso nos lábios, Airen Farreira acelerou o passo.

    Thud!

    De repente, ele parou.

    À distância, ouviu o som de um golpe e um grito abafado. Seus sentidos de mestre espadachim não perderam nada. Sua respiração tremeu com inquietação.

    Ele caminhou, não podia correr.

    Tinha medo de que sua sombria premonição se confirmasse.

    Tinha medo de que sua raiva explodisse.

    Mesmo assim, caminhou.

    Não tinha escolha a não ser continuar.

    Logo, Airen encontrou-se de volta ao beco.

    Ao longe, viu vários homens corpulentos cercando o corpo de uma criança.

    Então, todos eles voltaram seus olhos malignos para ele.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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