Capítulo 343: A Espada do Continente (2/4)

Airen Farreira lutava para controlar sua respiração enquanto enfrentava o colossal diabo do tamanho de uma montanha.

— Haa, haa, haa…

Ele teve sorte. Se aquilo fosse uma batalha de vontades, um embate entre corrupção e resistência, ele poderia ter sido completamente derrotado. Não estava em seu juízo perfeito. Esqueça administrar as cinco energias da Técnica Divina dos Cinco Elementos, ele sequer conseguia controlar uma.

Mas tudo bem. Pelo menos naquela luta, isso estava funcionando perfeitamente.

Scree!

Ódio, hostilidade e rancor, a aura nascida dessas emoções negativas criava um contraste gritante com o caminho que havia trilhado até ali. Era um resultado indesejado, uma consequência de ter se desviado do futuro que almejava. Mas era necessário.

Pelo menos naquele momento, ele precisava desesperadamente daquele poder.

Whoosh!

Airen saltou alto no céu e brandiu sua espada. Ele desferiu um golpe com uma aura vermelha, não dourada, mirando para fender a cabeça do diabo ao meio. Mas aquele não era o poder dos Cinco Elementos. Não era harmonioso, tampouco nascido de boa vontade e bondade.

Em vez disso, continha um coração mais patético do que antes de ele aprender a Lâmina da Água, e justamente por isso era poderoso. E violento. Aquele golpe carregava a maior força que Airen já havia demonstrado em toda a sua vida.

Um instante depois, uma luz brilhou.

Thud!

Airen aterrissou pesadamente no chão, erguendo a cabeça enquanto respirava ofegante. O diabo gigante não se moveu. Sua aparência continuava aterradora, assustadora o suficiente para enlouquecer qualquer um que o enfrentasse. Mas Airen não recuou.

Por mais exausto que estivesse, fitou seu oponente com um olhar implacável. Ele se concentrou na fina rachadura no topo da cabeça do monstro. Era uma fissura minúscula, tão estreita que nem mesmo uma folha de papel passaria por ela.

Então, uma brisa suave passou, e um milagre aconteceu. Um som desconhecido emergiu do diabo gigante, ecoando por toda parte.

…Crack!

Ele ouviu.

Crack, crackle!

O som continuou, tornando-se cada vez mais alto. Eventualmente, ficou tão intenso que lembrava um trovão, trazendo uma sensação ominosa, como se o mundo estivesse prestes a ruir. Ainda assim, Airen não usou sua aura para proteger os ouvidos. Não tinha energia de sobra, mas, mesmo se tivesse, não o faria.

“Morra. Caia.”

O grito interior de Airen tornou-se sua vontade, e ele investiu contra o gigante. O diabo tentou reunir forças, mas Airen desferiu um golpe pesado em seu plexo solar. O monstro não conseguiu resistir.

Crash!

Finalmente, o diabo derrotado desabou, partido ao meio. E aquele diabo não poderia se regenerar. Em vez disso, o cadáver da criatura envolveu a torre mágica, com seu poder completamente extinto. Aquele momento era, sem dúvidas, um feito capaz de reescrever a história do continente!

Se um bardo ou historiador estivesse presente, certamente diriam o seguinte: Airen superou Ignet Crecensia. A única razão pela qual perdeu no Torneio do Herói foi sua idade. Se o torneio tivesse acontecido três meses depois, o resultado teria sido outro.

…Mas Airen Farreira não conseguia sorrir. Seria porque não conseguia determinar o paradeiro de Ignet ou do Diabo Bufão? Afinal, aquele era seu objetivo original.

Essa era uma das razões, mas havia um problema maior. A luta ainda não havia acabado.

Stab!

— Haa, haa, haa… — Airen fincou sua grande lâmina no chão e caiu de joelhos. Sentia-se um pouco melhor, mas estava longe de estar recuperado.

Ele ergueu os olhos para o céu novamente. O grande mal havia desaparecido. Ele havia superado aquele ser verdadeiramente inacreditável, então o céu deveria ter se limpado e sua sombra ter sumido.

No entanto, a luz não estava em lugar nenhum, e o céu continuava escuro. A barreira sombria ao redor da Torre Mágica ainda permanecia intacta. Na verdade, ela se fortaleceu sob seu olhar, sussurrando maldições aos ouvidos de Airen e provocando sua visão. Um fedor repugnante assaltou seu nariz.

Era inevitável. Dois diabos, cada um uma cabeça mais alto que o diabo que ele acabara de derrotar, estavam ali, olhando para ele de cima. Aos seus pés, mais de cinquenta outros diabos sorriam e o fitavam.

Esses não eram diabos comuns. Cada um possuía poder comparável ao do Diabo do Martelo, do Diabo Polvo e do Diabo Subterrâneo de antes.

“…Como isso é sequer possível? Mesmo com o poder do Diabo Bufão, isso deveria ser impossível… Esse é o poder da entidade que Ignet enfrentou?”

O desespero começou a se espalhar pelo coração de Airen, mas ele imediatamente o afastou. Em momentos como esse, a raiva incontrolável era útil. Ele irradiaria luz diante da escuridão, mesmo que isso significasse se queimar.

Enquanto se mantinha firme, ouviu uma voz irritante que não queria escutar.

— Uau, incrível. Verdadeiramente incrível. Eu admito, cometi um erro. Eu não deveria ter lhe dado tempo algum. Acabei esquecendo por um momento, já fazia um tempo.

Aplausos irromperam entre os diabos.

— E além disso, você ficou incrivelmente forte, não é? Eu até me preparei depois de assistir a parte do Torneio dos Heróis, mas você está muito mais forte do que eu previ. Como, como isso é possível?

Com um sorriso largo, Iphrain Slick avançou, quase se exibindo com seu novo corpo. Eles não estavam longe um do outro, e mesmo que Airen lutasse ativamente contra o cansaço, talvez ainda pudesse tentar algo.

Mas Airen não se moveu. Não era porque havia desistido. Não, pelo contrário, ele sabia que o corpo diante dele, aquele que tagarelava em meio aos aplausos dos diabos, não era o verdadeiro.

Como se tivesse lido seus pensamentos, a entidade demoníaca disse:

— De qualquer forma, eu realmente cometi um erro. Mas há algo que não esqueci: enfrentar você diretamente é impossível e insensato. Você tende a superar as expectativas, então também pode fazê-lo desta vez. Portanto, eu tenho que dar o meu melhor.

Airen esperou, ouvindo.

— Então, preparei tudo assim. Reuni todos os diabos do mundo só para você. Eu não poderia decepcionar Airen Farreira, um dos heróis responsáveis pelo futuro do continente.

Airen estreitou os olhos.

— Oh, não está com vontade de responder? Ou está reunindo sua energia de novo? Vai me mostrar aquele golpe? Vai liberar aquele seu poder monstruoso capaz de varrer todas as criaturas reunidas aqui?

— Isso é impossível.

— Isso mesmo. Não pode acontecer.

Ao som das palavras de Iphrain, os dois diabos gigantes reagiram. Um emanava uma luz vermelha, o outro, azul. As cores eram quase reminiscentes de Judith e Brett Lloyd.

Claro, era praticamente um pecado sequer pensar neles. A aura dos diabos era vastamente diferente da dos heróis. O da esquerda parecia uma massa de sangue e órgãos, enquanto o da direita era uma mistura de doenças e resíduos venenosos.

Ambos eram repulsivos, como se as coisas mais nojentas do mundo tivessem se fundido. Mesmo a entidade demoníaca que se passava por Iphrain não era nada comparada a eles. Eles não apenas exalavam uma sensação de perigo e ferocidade. Não, era uma aura de uma classe superior, que não estava no mesmo nível dos diabos comuns.

O velho mago se curvou respeitosamente diante deles.

— Agradeço, Grandes Seres. Graças a vocês, posso cumprir com segurança as ordens do rei.

— Não há necessidade de agradecimentos. O desejo de longa data do Rei Demônio é o mesmo que o nosso.

— Os preparativos foram um pouco excessivos, mas é melhor do que fracassar.

— Bem dito. Corromper Ignet Crecensia é a melhor maneira de transformar o mundo humano em um mundo demoníaco.

O gigante da esquerda respirou fundo.

— E além disso, estou ansioso para provar o sangue e o medo de um jovem herói.

Diante disso, Iphrain e alguns outros seres demoníacos cambalearam onde estavam. Eles lutaram para manter sua existência, mas o gigante sugou três diabos mais fracos para dentro de sua boca. Gritos horríveis ecoaram por toda parte antes de desaparecerem.

E ninguém se importou.

Na escuridão que descia sobre o leste do continente, Airen fechou os olhos com força. “O que devo fazer?”

Ele precisava descobrir. Precisava encontrar um jeito de superar essa crise e encontrar Ignet. Ele precisava, a qualquer custo.

Mas era difícil. A raiva ainda fervente podia protegê-lo da escuridão dos diabos, mas não estava ajudando em seu raciocínio. Talvez coisas assim fossem inúteis em uma situação como essa. Talvez fosse melhor simplesmente brandir sua espada sem pensar.

Ele expirou e puxou a espada cravada no chão. Seu olhar se fixou intensamente nela, e uma aura ainda mais intensa emanou da grande lâmina. Embora tivesse gasto todas as suas forças na luta anterior, sua energia começou a inflamar-se novamente.

Alguns diabos admiravam a força de Airen, e outros até demonstravam respeito, apesar de serem inimigos. Mas nenhum deles sentia medo. O calor intenso da lâmina de Airen poderia derreter a maioria das pessoas ao menor toque, mas as criaturas reunidas ali eram as mais sombrias do continente. Eram diabos genuínos, não inferiores aos de quatrocentos ou mil anos atrás.

E isso não era tudo. Havia a malícia de Godara, a máscara do Diabo Bufão e o batismo do Rei Demônio, o Demônio do Coração. Enfrentar sozinho uma maldade desse nível era impossível, mesmo para alguém que rivalizava com Ignet Crecensia. Talvez não houvesse esperança uma vez que o Rei Demônio o capturasse.

Mas Airen não desistiu nem caiu. De alguma forma, permaneceu de pé, segurando sua espada e manifestando sua aura. Continuou resistindo, seu corpo emitindo uma energia tênue enquanto encarava corajosamente o mal diante dele.

Os diabos zombaram dele. Mesmo aqueles que antes demonstravam respeito não conseguiam mais esconder o crescente tédio. Eles olharam para cima, e então as entidades azul e vermelha trocaram olhares.

Eles assentiram. Não havia mais motivo para assistir. Era hora de um deles esmagar o jovem herói com seu pé gigante.

Whoosh!

De repente, um enorme portal surgiu no céu escuro de Godara.

Ele cintilava como uma onda dourada lavando os céus. Era impossível ignorá-lo, e todos os diabos se focaram nele. A reação esmagadora dos diabos poderia dissuadir alguém de se mostrar, mas isso não importava. Um velho cavaleiro atravessou o portal, parecendo ter saído de uma pintura centenária de um templo. Ele exalava uma aura antiga e sagrada.

E isso não era tudo. Um dos diabos encontrou seu olhar incrivelmente forte e, inconscientemente, murmurou um nome.

— Julius Hule…

Julius Hule era o auge do Reino Sagrado Arvilius, a nação mais poderosa do continente e o eterno rival dos diabos. Ele também era um dos três maiores espadachins do continente.

Mas não parou por aí.

— Isso é… — disse o diabo azul, atordoado.

Whoosh!

Whoosh!

Whoosh!

O portal continuou a expelir heróis. Eram os heróis atuais do continente, aqueles que já haviam consolidado sua fama com sua maestria na espada e caráter inabalável. Lenda após lenda surgiu, jorrando do portal como se nunca fosse acabar.

Joshua Lindsay e os líderes das Cinco Grandes Casas de Esgrima apareceram. Ao lado deles, estavam os Mestres de elite de Lathion, a cidade das espadas. Os espadachins do sul, antes criticados por sua indisciplina, agora estavam sérios, e os do leste encaravam os diabos, determinados a não serem subestimados.

Gia Runetell, a rainha de todos os magos, e Karakhum, o Grande Guerreiro, chegaram. Com eles, estavam seus subordinados, magos, elementalistas e guerreiros orcs, todos exibindo sua grandiosidade. O olhar da Rainha Runetell para Iphrain era aterrorizante o suficiente para congelar o tempo.

Whoosh!

Whoosh!

Depois disso, as forças humanas jorraram do portal. Era a nova geração, o futuro do continente. Illia Lindsay, Judith e Brett Lloyd juntaram-se aos outros. Além disso, Jett Frost e outros Mestres Espadachins que ganharam poder após o Torneio dos Heróis apareceram. Seguindo-os, vieram Quincy Meyers, os paladinos e os sacerdotes de mais alto escalão, além de outras forças do Reino Sagrado Arvilius.

Por fim, o último grupo saiu do portal.

Whoosh!

Swish!

Alguém riu.

— Somos os últimos, então não há mais motivo para hesitar.

Os espadachins de Krono, considerada a melhor academia de esgrima do continente, apareceram. A expressão dos diabos se contorceu diante daquela força inacreditável, e até mesmo os dois grandes diabos pareciam desconfortáveis.

Flick!

Flick!

Dois espadachins desapareceram e reapareceram no céu. Em segundos, surgiram diante dos olhos dos monstros azul e vermelho.

Barum!

Screech!

Ian.

Julius.

Os mais brilhantes e poderosos Mestres Espadachins da atualidade, comparáveis aos heróis das lendas, deram início à Grande Guerra entre Humanos e Diabos.