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    História Paralela – 1 Fantasia


    Entre o Reino de Dastan, no sul do continente, e o Reino de Gueril, havia a fortaleza de um grupo de ladrões aterrorizante conhecido como Crepúsculo. Eles cometiam roubos, assassinatos, tráfico de pessoas e outras atrocidades indescritíveis sem hesitar. Muitos sofreram por causa deles, mas tentar detê-los estava fora de questão.

    Crepúsculo era simplesmente forte demais. Não apenas seu líder e executivos eram poderosos, mas dois de seus membros comuns já bastavam para ameaçar um cavaleiro errante mediano. Claro, se as cinco grandes casas de espadachins do Oeste, o Reino de Runetell ou os guerreiros orcs decidissem agir, eles não teriam chance alguma.

    Mas… este era o Sul. O coração do caos. Um inferno vivo.

    Mesmo após o surgimento e derrota de inúmeros diabos, incluindo o Rei Demônio, esta região ainda permanecia em constante guerra civil. Esperar o surgimento de um herói em meio a tudo isso era algo difícil, especialmente após a morte de Jarod, o Tigre do Sul. Ele havia mudado após o Torneio dos Heróis, ou ao menos era o que todos pensavam.

    — Então… onde eu estava mesmo? — disse alguém. — Perdão. Eu não era assim dez anos atrás, mas hoje em dia, a idade começa a pesar. Minha memória já não é a mesma… Jovens amigos, algum de vocês poderia dizer a este velho onde eu parei?

    Um velho espadachim estava sentado tranquilamente sobre uma pedra, divagando sem parar, enquanto os robustos membros do Crepúsculo se ajoelhavam obedientemente diante dele. Cada um deles era confiante em sua força e tinha uma personalidade extremamente cruel. Eram monstros, mas, apesar das expressões irritadas, nenhum deles ousava se mover.

    E não era por menos: quem havia destruído completamente a gigantesca fortaleza do Crepúsculo, como se um tufão tivesse passado por ali, não era outro senão aquele velho enrugado, careca e aparentemente insignificante bem diante deles.

    Ele havia feito uma demonstração de habilidade de fazer qualquer um tremer nos joelhos. Subjugou todos empunhando uma aura da espada maior que seu próprio corpo, mas com tamanho controle que ninguém morreu… Era algo digno das cinco grandes casas de espadachins ou dos espadachins mais fortes de Krono, a melhor escola de espadachins do continente.

    Eles não deviam resistir. De forma alguma podiam fazer algo para irritar aquele velho insano e incrivelmente forte…

    — Bem, ninguém vai responder? Então não tenho escolha…

    Todos os membros da guilda se entreolharam, alarmados.

    — Vou ter que começar a história desde o início. Talvez até seja melhor assim. Quanto mais se reflete sobre as palavras dos antigos sábios, mais se aprecia seu profundo significado…

    — Puta merda…

    — Seu velho maluco! Já chega!

    Mesmo sabendo que não deviam provocá-lo, vários membros do Crepúsculo finalmente perderam a paciência. Seus olhos ardiam de frustração, irritação e raiva. E era compreensível. Aquele velho maluco havia invadido de repente e estava prestes a contar a mesma história pela quarta vez em cinco horas. Era um milagre que esses carniceiros humanos tivessem permanecido calmos por tanto tempo.

    O velho balançou a cabeça. “Nem meia hora se passou desde que os arrebentei, e já estão assim.”

    A visão dos ladrões lhe causava dor de cabeça. Todos gritavam a plenos pulmões, veias saltadas e saliva voando, como se estivessem possuídos por demônios. Ele, tão falho, conseguiria mesmo reformar esses vilões? Como? Com que método?

    Após refletir por um momento, murmurou para si mesmo:

    — Não tenho escolha. Parece que vai levar um tempo até que vocês sejam reformados, então terei que contar a história com mais detalhes…

    — O que você disse?

    — Seu desgraçado!

    — Filho da…!

    Foi como jogar gasolina no fogo, a reação dos membros do Crepúsculo foi imediata e intensa. Ninguém se conteve. Os ladrões que ainda não haviam falado também se levantaram e começaram a apontar o dedo para o velho. Aqueles que já estavam causando tumulto se prepararam para atacar novamente.

    Mas o velho permaneceu calmo. Soltou uma risadinha para si mesmo, como se tivesse desistido da vida. Ao verem esse desdém diante da sua ira, um brutamontes alcançou um machado no chão quando…

    — Calem essas bocas imundas!

    Todos os membros do Crepúsculo se viraram para ver quem havia falado.

    — Peço desculpas, Ancião, por mostrar uma cena tão vergonhosa.

    — Heh heh, não precisava ter matado ele — disse o velho, apontando para o brutamontes agora caído no chão.

    — Ele pode ser estúpido, mas não é surdo. Por favor, continue seus ensinamentos. Estamos ouvindo com atenção.

    — N-Nós ouviremos com intenção!

    — Ouvir com intenção? O que é isso?

    — Sei lá, só diga que entendeu…

    — Hmm.

    A atmosfera mudou instantaneamente, como se um balde de água fria tivesse sido derramado sobre todos os membros do Crepúsculo. O velho ficou atônito. Aqueles ladrões que nem o maior espadachim conseguia fazer ouvir, obedeciam tão facilmente às ordens daquele homem de cabelos verdes?

    Esse homem de cabelos verdes não era alguém a ser subestimado. Sua habilidade estava no limite do nível de especialista, mas, ao contrário dos outros membros ignorantes, ele parecia saber usar a cabeça, ainda que só um pouco. Esse aspecto despertou o interesse do velho, mas ele não era ingênuo a ponto de não perceber as intenções óbvias do outro homem.

    O velho riu e disse com naturalidade:

    — Você está esperando por alguém, não é, garoto?

    O homem de cabelos verdes não respondeu.

    — Isso é mais do que eu esperava. Mesmo alguém que poderia se tornar um Mestre com a oportunidade certa não é o líder… É absurdo. Por que um Mestre Espadachim está se rebaixando à ladroagem em primeiro lugar?

    O homem de cabelos verdes pareceu incomodado, pois o velho estava certo. Ele estava ali esperando o líder do Crepúsculo, o membro mais forte da guilda. O líder chegaria dali a duas horas, no mínimo, ou em meio dia, no máximo. Ele certamente poderia lidar com aquele velho monstro, mesmo com toda sua força monstruosa.

    “Porque o líder é… invencível.” Nem mesmo um Mestre ou um demônio poderia enfrentá-lo. Isso não era apenas uma crença entre os membros do Crepúsculo, era algo mais forte que isso, semelhante a uma fé inabalável.

    Se ao menos os subordinados tolos não tivessem estragado o clima… ou se aquele velho espadachim caquético fosse só um pouco menos perceptivo…

    — Muito bem, eu vou esperar — disse o velho, surpreendendo a todos.

    — O quê?

    — Hah! Falam sobre serem surdos e ouvirem com atenção, mas nem conseguem entender o que estou dizendo… Eu não acabei de falar? Vou esperar até esse líder de vocês aparecer.

    Todos olharam para o homem de cabelos verdes.

    — O que foi? Acha que esse velhote vai acabar logo com vocês e fugir? Heh… Você é engraçado. Por mais forte que seja o seu líder, ele ainda é só um ladrão. Seria uma piada se eu fugisse com medo de um traste desses.

    — Isso é verdade. — O homem de cabelos verdes assentiu, mas não estava concordando.

    O velho o examinou. O outro cerrou o punho, e seus olhos traíram as emoções que ele tentava esconder. O velho sentiu a intenção assassina que o homem não conseguia conter por completo.

    “Ele realmente respeita o líder. Heh, isso é diferente do que eu pensava…”

    O velho sentiu um leve arrependimento. Se aquele homem de cabelos verdes estivesse apenas ligado ao líder por dinheiro e prazer, ele não teria pensado muito sobre isso. Mas ver um homem que valorizava alguém além disso… parecia que ele não era apenas um vilão comum. Talvez o líder fosse alguém com algum tipo de convicção.

    E isso era um problema maior. Não havia nada mais aterrorizante do que alguém com convicções equivocadas…

    “É uma pena. Se eu tivesse encontrado ele antes… Se ao menos eu pudesse tê-lo mostrado o caminho do bem e da justiça antes do caminho do mal…”

    Se ao menos o toque de alguém bom tivesse alcançado esse homem de cabelos verdes antes do líder do Crepúsculo… então talvez o futuro fosse um pouco diferente.

    “Chega. Deixe no arrependimento.”

    O velho fechou os olhos. Era uma pena, sim, mas não havia necessidade de se apegar a isso. Ele só precisava continuar tentando, mesmo que suas ações frágeis parecessem insuficientes para mudar o mundo, mesmo que tudo parecesse fútil diante das ondas de maldade que ainda assolavam o continente…

    — Para colher uma safra mais abundante, preciso seguir em frente com firmeza — disse o velho. — Ei, você. Não tem intenção de me atacar, tem?

    O homem de cabelos verdes arqueou a sobrancelha.

    — Ótimo. Sim, continue assim. Não me faça derramar mais sangue… Como pequena compensação, vou contar uma história um pouco mais interessante que a anterior. É sobre meu discípulo orgulhoso e… há vinte e quatro anos, ele salvou o continente das garras do Rei Demônio.

    Os membros se entreolharam, ligeiramente interessados.

    — E não só isso, como ainda hoje meu discípulo é um herói que faz de tudo para salvar o mundo. Vou contar uma história sobre ele de dez anos atrás.

    Agora o clima mudou completamente. Os membros do Crepúsculo finalmente perceberam de quem era a história que o velho estava prestes a contar. E também finalmente perceberam quem era aquele velho incrivelmente forte.

    “É o antigo diretor da Academia de Esgrima Krono… Ian!”

    O homem de cabelos verdes, o vice-capitão Kel, ficou rígido. Seus subordinados passaram a observar cada movimento do velho com ainda mais atenção.

    Mesmo assim, Ian, agora um andarilho aposentado, continuou a contar a história do herói.


    Quatorze anos se passaram desde que Airen Farreira derrotou o Demônio do Coração no espaço da fenda. Durante esse tempo, Airen refletiu sobre os esforços que precisaria fazer para resgatar Ignet Crecensia e para despertar Lulu de seu sono. Ele encontrou metade da resposta: era a Técnica Divina dos Cinco Elementos.

    O imenso poder gerado ao fluir em harmonia com a ordem natural carregava em si a aura da destruição demoníaca, mas havia algo ainda maior dentro disso. Mesmo sem a intuição de um feiticeiro, era evidente. No momento em que Airen alcançasse o fim dos cinco elementos, expulsar a escuridão do corpo de Ignet não seria um problema.

    Airen soltou um suspiro.

    “O problema é que o progresso está muito lento… Mas, comparado ao problema da Lulu, isso até é um alívio.”

    Ele havia feito algum progresso com relação à energia demoníaca, mas não conseguia nem sequer entender a situação da Lulu. Inúmeros feiticeiros, incluindo Gia Runetell, além de historiadores, pesquisaram o problema por um longo tempo, mas os fatos descobertos sobre o ‘Sono Longo dos Dragões’ podiam ser resumidos em uma única frase:

    — Os dragões se sacrificam quando o mundo está em perigo e assumem uma forma infinitamente próxima da morte.

    Era uma realidade que Airen não conseguia aceitar. Felizmente, havia outro grupo que também investigava os dragões: os feiticeiros do principado de Cezar. Entre eles estavam Kiril Farreira e sua mentora, Skeena Kitten.

    — Eu encontrei um jeito — disse Anya Marta um dia. A jovem feiticeira agora era uma jovem dama.

    — O quê?

    — Encontrei uma forma de acordar a Lulu e salvar a capitã. Um jeito de resolver tudo de uma vez só.

    Airen olhou para Anya, confuso.

    — Você já ouviu falar de Fantasia? — ela perguntou.

    Ele sabia o básico. Era um mundo lendário transmitido entre os feiticeiros e, ao seu fim, havia algo que realizava qualquer desejo. Alguns diziam que era um gênio, outros, uma árvore que dava frutos mágicos. Anya acreditava que era a árvore.

    — Três maçãs douradas concedem três desejos. Se as encontrarmos, significa que podemos salvar a capitã e a Lulu, e ainda sobraria um desejo — disse Anya, empolgada.

    Ela não era a única animada. Georg Phoibe estava ao seu lado, sua irmã Kiril ao lado dele, e Skeena Kitten. Todos olhavam para Airen com olhos cheios de expectativa e uma grande dose de ansiedade.

    — Você provavelmente já adivinhou… Eu encontrei. O caminho para Fantasia — disse Anya. — Essa é a boa notícia. Infelizmente, também tem uma má notícia. Devo contar agora?

    — Diga — respondeu Airen.

    — Fantasia fica no Reino Demoníaco. Não… — Anya fez uma pausa, tentando se recompor. — Parece que Fantasia é o próprio Reino Demoníaco.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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