Capítulo 419: Rainha Ignet (3/3)
História Paralela – 9 Rainha Ignet
O talento inato do Duque Koffland parecia concentrar todas as bênçãos do mundo. Ele compreendeu os fundamentos da magia aos sete anos e leu toda a biblioteca da família aos onze. Entre tantos talentos brilhantes, escolheu a espada não por algum motivo especial, mas simplesmente porque estava certo de que poderia superar qualquer um nessa área.
Por isso, às vezes se arrependia de sua nacionalidade e idade. Se ao menos tivesse nascido nos Cinco Reinos do Oeste, uma região famosa pela esgrima… então poderia ter aprendido técnicas de espada mais avançadas.
E se tivesse nascido vinte, ou mesmo apenas dez, anos antes… talvez, pensava ele, não só teria se tornado um Mestre Espadachim ainda na casa dos vinte, como poderia até ter conquistado o título continental de um dos Quatro Grandes Espadachins.
Mas era um completo e absoluto engano. Nunca tendo enfrentado um verdadeiro Demônio, e sem conhecer o poder do Rei Demônio ou do Diabo Bufão, a imaginação do Duque Koffland não chegava nem perto de estimar as verdadeiras habilidades de Ignet. A disparidade entre eles era avassaladora.
Essa foi a única razão de sua derrota. Koffland, com mais de cinquenta anos, possuía habilidades muito inferiores às que Ignet havia atingido ainda na casa dos vinte.
— P-poupe… poupe minha vida…
Crack!
Em estado miserável, o Duque Koffland rastejava pela própria vida. A Rainha Ignet Meyers o observou em silêncio, depois se aproximou e esmagou sua cabeça sob o pé. Pedaços de carne se espalharam em todas as direções, mas ninguém reagiu à cena grotesca. Todos os demais já estavam mortos.
Apenas uma pessoa continuava viva: o Rei Elijah Meyers. No entanto, ele desmaiara antes mesmo de o massacre unilateral começar. Ignet lançou um olhar às calças dele, que exalavam um forte cheiro de urina, e balançou a cabeça em desaprovação.
— Um rei com uma espinha tão fraca… Pelo futuro de Makan, não tenho escolha a não ser tomar o trono para mim. — Ignet sorriu e voltou ao seu assento, servindo-se de uma taça. Molhou a garganta com o vinho rubro como sangue e contemplou a sala cheia de cadáveres. — Ideias novas precisam de uma estrutura nova.
O Reino de Makan estava podre até o âmago, deteriorado além do reparo. Ela ainda alimentava um fio de esperança antes de entrar no Espaço de Fenda, mas ao retornar à sua terra natal, trinta anos depois, abandonou qualquer expectativa. Nada havia mudado. Mesmo após todo esse tempo, a vida do povo de Makan não havia melhorado em nada.
O problema era que Makan não possuía nem ideias progressistas, nem estrutura para sustentá-las.
— Se dependesse só de mim, eu eliminaria todos e reescreveria as leis do meu jeito…
Mas ela não podia. Embora estivesse livre do Reino Sagrado em termos de posição social, os laços profundos que cultivara com eles não podiam ser cortados tão facilmente. Ignet acreditava firmemente que uma verdadeira reforma exigia uma ruptura drástica, mas os altos oficiais de Arvilius discordavam. Queriam que Ignet curasse as feridas infecciosas de Makan da forma mais moderada possível, mesmo que levasse mais tempo.
“Até eliminar os sete grandes nobres causou enorme apreensão…”
Mas era algo que precisava ser feito. Antes de ser Rainha de Makan, ela era Ignet, a plebeia. E simplesmente não podia perdoá-los.
— Muito bem, encerro aqui minha vingança pessoal.
Na sala silenciosa, onde ninguém mais permanecia consciente, Ignet refletia, bebendo seu vinho aos poucos. Que caminho deveria tomar? Como construir uma nação em que os corruptos fossem punidos e os justos recompensados? Como permitir que os cidadãos comuns, e não apenas a nobreza, tivessem esperança em suas vidas?
Qual deveria ser o primeiro passo, para que o povo saudasse o nascer do sol com esperança, e não com suspiros cansados?
Ignet assentiu com firmeza. “Primeiro, preciso destruir essa mentalidade ultrapassada.”
Durante sua juventude, ao vagar pelo continente, chegou a uma constatação. Enquanto as barreiras entre nobres e plebeus desmoronavam em outras regiões, o Sul permanecia teimosamente estagnado. Sentiu isso com clareza quando recebeu uma proposta de nobreza por parte de Arvilius, uma nação de destaque na Região Central.
Comparado a um mundo onde até mesmo um órfão podia se tornar um nobre de alto escalão caso tivesse talento, a sociedade de Makan era estéril e sem qualquer possibilidade de progresso. O ápice do sucesso para um plebeu era liderar um grande grupo mercenário.
Ignet fechou os olhos, pensativa. “Claro, desmontar isso não será tarefa fácil…”
Repassou minuciosamente tudo o que havia observado ao percorrer o continente após escapar do Espaço de Fenda. Recordou as políticas do território Lloyd que expandiram o acesso à educação para o povo. Pensou também nos programas de bolsas e patrocínios do Reino de Runetell, que apoiavam ativamente indivíduos talentosos. Por fim, refletiu sobre as crianças da Academia de Esgrima Krono e idealizou diferentes formas de fortalecer o sistema.
Após uma hora de contemplação, uma ideia particularmente interessante emergiu.
— Uma campanha de divulgação em larga escala utilizando magia, para mudar a percepção pública… e identificar talentos em potencial — murmurou Ignet.
Não podia ter certeza da eficácia da ideia. No entanto, sentia que não havia maneira melhor de romper com o sentimento de impotência dos plebeus, ao mesmo tempo que destruía o senso de direito adquirido da nobreza. Ela se convenceu disso depois de encontrar um jovem chamado Kai.
Certamente, havia muitos talentos brilhantes como Airen, Illia, Judith e Brett espalhados pelo continente do Sul. Eles apenas estavam enterrados na lama, fora do alcance dos olhos. Acima de tudo…
“Isso vai ser divertido.” E isso era o mais importante.
Concluído o pensamento, Ignet soltou uma risadinha.
— Pfft.
Ela sorriu radiante. Era uma expressão que não conseguia ocultar sua satisfação. No entanto, para Elijah, que acabava de recobrar a consciência, aquilo parecia o rosto de uma tirana.
“O que será deste reino…!”
O rei, incapaz de suportar a ansiedade que o corroía, desmaiou mais uma vez.
E assim, passaram-se quatro anos.
Jenny, a sempre confiável irmã mais velha que cuidava de todos os assuntos do Orfanato do Amor, vivia agora uma montanha-russa de emoções. Seu humor oscilava entre felicidade e tristeza. Era inevitável, pois acontecimentos alegres e infelizes ocorriam ao mesmo tempo.
A boa notícia era que Kai finalmente havia se formado na Academia de Esgrima Krono e estava a caminho de casa. Embora tivessem se tornado um casal oficialmente dois anos antes, a longa distância entre eles tornava difícil até mesmo se verem uma vez por ano.
Mas isso estava prestes a mudar. Ela o veria em apenas quinze dias. Os lábios de Jenny se curvaram num sorriso ao pensar que, a partir de agora, veria seu querido e admirável Kai todos os dias. No entanto, outra pessoa também ocupava seus pensamentos.
Ao lembrar do irmãozinho mais querido do orfanato, sua expressão ficou sombria. “E o Kron?”
Desde o incidente com os bandidos, cinco anos atrás, Kron se dedicou aos treinos mais do que qualquer outra pessoa. Seu esforço deu frutos e ele foi aceito como aprendiz preliminar da Academia de Esgrima Krono, um lugar que reunia apenas os talentos mais excepcionais. Mas, no fim, ele não passou na avaliação final e foi dispensado.
Embora dissesse estar bem por fora, Jenny conhecia melhor do que ninguém a profundidade da decepção que esmagava Kron por dentro. Apesar disso, ela o via levantar cedo todas as manhãs e balançar sua espada incansavelmente. Ele praticava sem parar, com uma expressão melancólica, e isso inevitavelmente arrastava o ânimo dela para baixo.
“Queria que algo acontecesse para animá-lo.”
Mesmo com esses pensamentos rondando sua mente, o corpo de Jenny se movia com a disciplina e a agilidade de uma cavaleira. Ela organizou a imensa pilha de roupas, esfregou os pisos sujos e seguiu para o mercado com uma cesta para comprar os suprimentos necessários. Ficar se lamentando era um luxo reservado apenas à nobreza rica.
Assim, Jenny se ocupava ainda mais que o normal, tentando afastar as preocupações com o trabalho. No entanto, o clima no mercado hoje estava diferente.
Jenny ergueu os olhos para o céu. — O que é aquilo?
Era magia. Isso explicava tudo. Ela se perguntava por que o mercado estava tão mais cheio que o normal. Aparentemente, magos, que pareciam ser do Reino de Runetell, estavam prestes a exibir uma projeção mágica no céu.
Conversas sobre isso ecoavam ao redor.
— O que é isso? O que vão mostrar pra gente?
— Você não viu? Deve ser novo por aqui.
— Do que está falando?
— Os nobres magos mostraram esse mesmo espetáculo o dia todo ontem também. Ouvi dizer que estão exibindo isso não só aqui, mas em todo o Reino de Makan.
— Exibindo? Pra quem? E o quê?
— Para as crianças. Estão oferecendo esperança.
— Mas que bobagem é essa que você está dizendo?
— Ora, ora, não precisa ser grosseiro. Apenas assista, e vai entender.
— Não, sério, me explica de um jeito que eu entenda… Hã?
O homem que insistia por respostas parou de falar de repente e ergueu a cabeça. Ele não estava sozinho. O homem com quem conversava, as mulheres próximas, Jenny e todos os demais em Eratria que observavam os magos, esperavam com a respiração suspensa pelo início do espetáculo mágico.
E então, pouco depois, a imagem de Ignet Meyers, a Rainha de Makan, e sua requintada esgrima foi projetada no céu, acompanhada por uma música arrebatadora e efeitos visuais cativantes.
Com uma única espada, ela desviou centenas de flechas que choviam do alto. Lançou uma folha de papel para o ar e, antes que ela tocasse o chão, transformou-a em uma revoada de pétalas de flores. Por fim, a rainha destruiu um pedregulho do tamanho de uma casa com um único golpe, deixando todos presentes sem palavras.
A maioria das pessoas reunidas ali eram plebeus, ou até mais pobres que isso, a ponto de chamá-los de plebeus parecer até exagero. Quando, afinal, teriam tido a chance de testemunhar o poder divino de um Mestre Espadachim? Muito menos a esgrima magistral de alguém como Ignet?
A multidão, em estado de êxtase, assistia à deslumbrante demonstração de esgrima da Rainha, de boca aberta, completamente alheia ao fato de estar babando. Mas aquilo não era o fim. Na projeção, Ignet de repente se virou.
Como se estivesse se dirigindo diretamente ao público, ela olhou para o centro da imagem e declarou:
— Seus filhos também podem se tornar cavaleiros. Eu, uma plebeia e órfã, consegui. Nem posição social, nem local de origem, nem gênero, nem limitações financeiras. Nada disso será um obstáculo.
— Qualquer um pode alcançar isso com talento, paixão e dedicação inabalável. Uma seleção nacional de cavaleiros voltada ao desenvolvimento, Produção de Cavaleiros 21, terá início. Aguardamos com expectativa a inscrição de participantes plebeus talentosos e apaixonados.
Sua voz tinha a dignidade e autoridade de um rei, e seus olhos ardiam como o sol. Com isso, a primeira parte da projeção chegou ao fim. Logo depois, uma segunda exibição mágica surgiu no céu, trazendo informações detalhadas sobre a Produção de Cavaleiros 21, uma seleção de cavaleiros voltada ao desenvolvimento, cujos custos seriam inteiramente cobertos pelo Reino de Makan. As informações se espalharam pelos céus da cidade, visíveis a todos.
Quem via, se agitava em animação.
— Espera, o que isso quer dizer exatamente? Produção de Cavaleiros 21? Vão mesmo selecionar crianças de famílias plebeias para treiná-las como cavaleiros?
— Você não ouviu? Não vão escolher qualquer um. Vão selecionar crianças com talento e força de vontade.
— Mas mesmo assim, isso é enorme, né? Uma chance de um plebeu virar cavaleiro? E com tudo pago? Isso… isso é tipo…
“Tipo a Academia de Esgrima Krono, não é?” O homem engoliu o fim da frase, mas ninguém deixou de entender a comparação implícita.
Era exatamente por isso que todos estavam tão espantados. Num continente tão rígido quanto o Sul e especialmente no Reino de Makan, conhecido por sua inflexibilidade, um anúncio como esse era algo impensável.
— Você acha que isso vai mesmo funcionar?
— Não sei… A lagarta nasce pra comer pinho. Temo que isso seja só uma fantasia vazia.
Talvez a perspectiva de uma mudança tão drástica os sobrecarregasse. Um bom número de pessoas expressava preocupação. Estavam apreensivas e com medo, antes mesmo de começar. As vozes daqueles que tentavam se afastar da ideia com desculpas ecoavam pelo mercado.
— Que papo furado é esse! Vocês não percebem a importância de simplesmente terem essa oportunidade?
— Isso mesmo! Meu filho sempre sonhou em ser cavaleiro, mas eu, como pai, nunca pude fazer nada! Não é como se pudéssemos simplesmente imigrar pra outro país!
— Exato! E foi a própria Rainha quem disse! Ela conseguiu, sendo plebeia e órfã! Por que nossa filha não pode ser como ela?
— Ei, por que tá gritando comigo?! Quer arrumar briga?!
Claro, havia quem tivesse outra visão. Aqueles completamente exaustos da monotonia dos dias e da escuridão dos amanhãs desejavam agarrar a corda de esperança que a Rainha havia lançado. Talvez soltassem no meio do caminho, mas só o fato de tentar já era suficiente para renovar seus ânimos, dar-lhes um novo propósito.
Jenny se sentia da mesma forma. Kron, que se aproximara dela em algum momento, compartilhava esse sentimento. Como se a frustração anterior nunca tivesse existido, o garoto de catorze anos encarava atentamente a projeção promocional, com os olhos reacendidos por uma paixão ardente. Um sorriso esperançoso brotava em seus lábios.
E, nesse mesmo instante, o olhar de um certo espadachim ruivo, errante pelo continente, também se fixava na projeção de Ignet, seus olhos ardendo com fervor intenso.
— Talvez.
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