Capítulo 42: Feiticeira (3/5)
por MrRody, Second StarComo mencionado anteriormente, a maioria das pessoas desconhecia que Airen Farreira havia sido aceito condicionalmente na academia. O Barão Farreira manteve isso em segredo, pois havia a possibilidade de que seu filho fosse rejeitado no final. Ele não queria que Airen se sentisse pressionado caso as pessoas descobrissem.
Até o próprio barão não confiava completamente em Airen, pois um ano era pouco tempo para transformar alguém. Então, mesmo com um pai amoroso pensando assim sobre seu filho, não era surpresa que os outros não tivessem expectativas quanto ao rapaz.
Os soldados também viam Airen como um lorde preguiçoso. Tinham uma vaga lembrança dele antes de partir para a academia. Então, quando o garoto de dezesseis anos, que havia se esforçado no último ano, mas aparentemente falhara em entrar na academia, de repente começou a se esforçar demais, eles não puderam evitar de se preocupar.
— Quanto tempo ele vai correr?
— Não sei. Já faz mais de dez minutos que ele está correndo nessa velocidade…
Para uma pessoa saudável, correr por alguns minutos não era nada extraordinário. Porém, isso só se aplicava quando a pessoa corria a uma velocidade moderada, e não a toda velocidade. Até um soldado bem treinado ficaria ofegante e passaria mal. Mas Airen mantinha o mesmo ritmo por mais de dez minutos.
— Ele parece estar ficando mais rápido — murmurou um dos jovens soldados de olhar atento.
— E-e está mesmo.
Os soldados começaram a ficar frustrados. Eles estavam apenas um pouco preocupados há pouco tempo, mas a situação piorava. Se o jovem mestre adoecesse enquanto eles cuidavam dele, teriam que arcar com as consequências.
Airen precisava ser parado. Eles não queriam fazer isso, mas não tinham escolha. Os soldados se entreolharam hesitantes, e o soldado mais experiente engoliu em seco. Ele começou a se aproximar do primogênito dos Farreira com uma expressão tensa.
Airen percebeu a intenção do soldado e parou de correr. Mas…
— Hã? — O soldado ficou confuso.
— Algum problema? — perguntou Airen.
— Não, meu senhor… eu…
“Ele nem está ofegante?” pensou o soldado.
Era verdade. O jovem mestre parecia muito calmo. Apesar de correr em alta velocidade, sua respiração estava estável, e ele mal havia suado. O soldado teve que olhar de perto para ver algumas gotas de suor na testa de Airen. Parecia até que o rapaz tinha feito apenas um leve alongamento.
Era natural o soldado ficar chocado. Ele não sabia mais o que dizer.
“Ugh, merda. O que eu digo agora?”
O soldado tentara parar o jovem mestre por preocupação, mas percebeu que ele estava completamente bem. No entanto, isso não significava que poderia simplesmente pedir que ignorasse a preocupação e continuasse, o que o deixou frustrado. Foi então que a situação se resolveu por si mesma.
— Ah, certo. Vocês têm treino formal aqui hoje, não é? — disse Airen Farreira, como se tivesse acabado de se lembrar.
— Hã? O-oh, sim, meu senhor! Não estávamos tentando atrapalhar, mas…
— Tudo bem. Eu ia parar de correr em breve, de qualquer forma.
— I-isso é mesmo verdade, meu senhor?
— Sim. Vou usar aquela barra de ferro ali no canto para alguns pull-ups.
Airen mentiu. Ainda tinha disposição sobrando no corpo, pois estava apenas aquecendo. Mas isso não importava, pois ele não precisava se limitar a correr como exercício. O rapaz dirigiu-se à barra fixa, pulou levemente e começou seu treino com uma postura relaxada.
Os soldados o observavam com olhos vidrados. Com o passar do tempo, mais soldados se reuniram, todos com a mesma expressão ao observarem o Nobre Preguiçoso.
— Ugh, estou com tanto sono.
Orlin Jukran, um dos cavaleiros da Propriedade Farreira, bocejou enquanto seguia para o salão de treinamento. Ele precisava estar lá para liderar o treino planejado para as 6 da manhã. Não havia bebido na noite anterior, mas não conseguira dormir a noite toda, o que o deixava sonolento.
“Ugh, é muito trabalho em cada expedição de caça.”
As seis famílias da região sul do Reino Heyle formavam um grupo para a caça aos monstros toda primavera. Precisavam caçar monstros regularmente nas montanhas para impedir que invadissem as estradas principais. Isso gerava muito trabalho, deixando Orlin Jukran à beira do estresse.
E isso não era tudo. A família Farreira ficava mais famosa a cada dia, com o povo elogiando o bondoso e competente Barão Farreira, enquanto a propriedade continuava enriquecendo. E a feiticeira Kiril Farreira, o prodígio da família, adicionava ainda mais à fama.
Embora fosse benéfico para a família, essa ascensão rápida inevitavelmente despertava a inveja de outros. Orlin Jukran pensava na hostilidade das famílias vizinhas e franzia a testa.
“Preciso me cuidar para que ninguém me menospreze, ou posso acabar perdendo meu lugar para os jovens cavaleiros que o barão recrutou…”
Então ele mordeu a língua ao lembrar-se do primogênito da família, que havia ido à academia no exterior para estudar e voltara para casa no dia anterior. O Nobre Preguiçoso era a fraqueza da propriedade, então as famílias vizinhas certamente aproveitariam isso para avançar com seus planos mal-intencionados contra os Farreira. E isso lhe traria ainda mais trabalho e estresse. Pensar nisso o fez se sentir ainda pior.
— Ugh. Acho que nosso menino rico não entenderia minhas dificuldades. Ele nem imagina quantas pessoas estão sofrendo por causa dele… hã?
Orlin Jukran ficou espantado ao atravessar a entrada do salão de treinamento. Havia algo errado. Eram 5:55 da manhã, então todos os soldados deveriam estar alinhados no corredor, mas estavam em desordem, como uma multidão assistindo a algo em uma feira.
Irritado, ele se aproximou dos soldados em silêncio, com a intenção de repreendê-los cara a cara.
— Sir Jukran!
Mas falhou ao ser notado primeiro por um dos soldados jovens. O soldado nem parecia temê-lo e correu em sua direção com o rosto avermelhado.
— Precisa ver isso! — gritou o soldado.
— Do que está falando?
— O jovem mestre está treinando agora!
— O quê? O jovem mestre? Tão cedo assim?
Orlin Jukran ficou surpreso a princípio, mas assentiu. Lembrou-se de que o Nobre Preguiçoso havia praticado diligentemente por cerca de um mês antes de partir para a academia.
“Aconteceu algo na academia?”
Mas isso, por si só, não explicava por que os soldados estavam tão desorganizados, e ele não queria justificar o comportamento deles. Enquanto se dirigia aos soldados, pensava em como repreendê-los.
— Ridículo — murmurou.
Alguns soldados o cumprimentaram, mas outros nem reconheceram sua presença e continuaram observando o jovem mestre. Orlin ficou perplexo. O que poderia ser tão fascinante a ponto de eles nem perceberem sua chegada? Curioso, ele se virou na direção para onde eles olhavam. Logo, estava parado, atordoado, com a mesma expressão dos soldados.
— Hah, hah!
Airen Farreira estava fazendo pull-ups na barra com uma expressão tranquila. Sua respiração estava estável, e seus movimentos eram precisos e poderosos. Embora parecesse um movimento de barra comum, era algo mais. O rapaz não apenas erguia o corpo até o queixo; ele ia além, subindo até a altura da cintura.
— Aquele disco pesado… quanto ele pesa?
— Não sei… Ah, tem outro igual naquele canto. Vou tentar segurá-lo.
O jovem usava uma cinta na cintura com discos pesados pendurados. Por curiosidade, um dos soldados segurou um disco idêntico com ambas as mãos.
Ele rapidamente o soltou, incapaz de segurar por muito tempo. Ele e os outros soldados então olharam para a barra fixa com uma expressão chocada.
— Se ele não consegue segurar isso por muito tempo, como o jovem mestre…
— Ele está fazendo pull-ups com esses pesos?
— O que aconteceu nesse último ano?
— Ele não foi expulso da academia?
Depois de se encantarem com Airen, os soldados tinham um novo assunto para discutir. Estavam curiosos sobre como o jovem mestre havia alcançado tanto crescimento enquanto, supostamente, tinha sido expulso da academia. Claro, eles não conseguiam encontrar uma resposta, pois desconheciam o nível dos espadachins da Academia de Esgrima Krono comparado ao de uma academia comum. Não tinham ideia de como a turma daquele ano foi competitiva, do tipo de treinamento pelo qual os jovens passaram, nem da força física e mental necessária para sobreviver, tampouco sabiam onde Airen Farreira se situava entre aqueles talentosos aprendizes.
Eles não faziam ideia, e tampouco Orlin Jukran.
— Sir Jukran!
— H-hã? O quê?
Um dos soldados o chamou, mas ele estava distraído observando o Nobre Preguiçoso e demorou um pouco para responder.
— Não entendo muito de esgrima, mas acho o jovem mestre incrível! Por que você acha que ele foi expulso da academia com essas habilidades?
“Eu não sei, droga! O que aconteceu com ele nesse último ano?”
Orlin não conseguia entender. Mesmo conhecendo a renomada Academia de Esgrima Krono, não conseguia conceber por que o jovem mestre teria saído, considerando seu impressionante vigor físico. Ele não queria admitir em voz alta que não entendia, nem reconhecer o Nobre Preguiçoso que antes desprezava. Pensou por um momento.
— Tolo. Você acha que a Academia de Esgrima Krono aceita um aprendiz só por causa de seu físico? — respondeu Orlin.
— E-eles não aceitam, senhor?
— Claro que não. O que é uma academia de esgrima? Você aprende esgrima lá, certo? Quer dizer… o jovem mestre mudou, mas é difícil para alguém que nunca empunhou uma espada na vida ser aceito numa academia de esgrima tão prestigiada — disse Orlin.
Então os soldados ao redor começaram a acenar.
— Ah… faz sentido.
— O jovem mestre nunca tinha treinado com a espada antes…
— Sir Jukran tem razão.
Orlin Jukran recuperou um pouco de sua confiança e continuou. — Além disso, pode parecer impressionante, mas isso não é nada especial segundo o padrão dos cavaleiros.
— Ah, é mesmo, senhor?
— Então tenho certeza de que o senhor também pode fazer isso facilmente.
— Claro. Você acha que é fácil se tornar cavaleiro? — Jukran falou com confiança.
Ele estava dizendo a verdade. Embora sua paixão tivesse diminuído ao longo dos anos, ainda era um cavaleiro. Mas ele não conseguia fazer aquilo com facilidade e precisava de certo esforço.
Claro, ele não precisava explicar esses detalhes aos soldados, então estava prestes a interromper a conversa e começar o treinamento quando os movimentos de Airen Farreira mudaram.
— Uau…
— Como isso é possível?
— Sir Jukran! O senhor consegue fazer isso também?
Airen pendurou-se na barra fixa até seu corpo ficar paralelo ao chão. Em seguida, ergueu as pernas, apontando os pés para o céu, e começou a balançar o corpo como um pêndulo. Era um movimento extremamente difícil que exigia uma força abdominal tremenda para sequer tentar. Jukran olhou para ele por um segundo, então repreendeu os soldados com raiva.
— Seus tolos! Já são 6:10! Parem de conversar e entrem em formação!
— Boa noite, pai.
— Sim, boa noite.
O Visconde Phil Gairon sorriu calorosamente para seu segundo filho, que acabara de voltar da Propriedade Farreira. Quando Aaron Gairon saiu da sala com um semblante abatido, o visconde ficou a sós com Jack Stewart. Phil Gairon assumiu seu olhar cínico habitual e perguntou ao cavaleiro.
— Por que ele parece deprimido? Aconteceu alguma coisa na propriedade do barão?
O cavaleiro não respondeu.
— Então aconteceu algo. Conte-me tudo! — ordenou o visconde com uma voz que lembrava um velho gato selvagem.
— Entendido, meu senhor.
Jack Stewart relatou tudo o que viu e ouviu, sem hesitação.