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    História Paralela – 10 Reunião

    — E-Eu… comecei a treinar com a espada para proteger alguém.

    — Hmm.

    “Que inesperado”, pensou o examinador de bigode. Não esperava uma resposta tão confiante de um órfão de quatorze anos, provavelmente sem educação formal. “Achei que ele fosse gaguejar ou soltar alguma frase vaga só para preencher o silêncio.”

    Mas ele não fez nenhuma das duas coisas. Como se vivesse guiado por suas próprias convicções, o garoto diante dele falou com clareza, ainda que com a voz levemente trêmula.

    — E você tem um motivo para pensar assim?

    — Sim.

    — Continue.

    O examinador ficou um pouco intrigado. A reprovação do garoto já estava decidida, mas queria ouvir o que ele tinha a dizer. O avaliador careca também se inclinou ligeiramente para frente, atento.

    O garoto respirou fundo. Sentiu que o clima na sala havia mudado um pouco. Precisava fazer bem aqui. É claro, ele não fazia ideia do que os avaliadores queriam ouvir. No entanto, não via erro em sua sinceridade, por isso, decidiu se concentrar apenas em transmitir os valores que considerava importantes.

    Depois de organizar os pensamentos, abriu a boca lentamente:

    — Como sabem, sou órfão. Meus pais me abandonaram por volta dos sete anos e, depois disso, tive que sobreviver em um covil de mendigos. Naquela época, proteger alguém era a última coisa na minha mente. Eu mal conseguia proteger a mim mesmo… e até isso era difícil.

    Era verdade. Diferente de outras crianças que cresceram sob o calor do amor dos pais, Kron testemunhou muitas crueldades desde cedo: crianças se agredindo por metade de um pão preto endurecido, adultos arrancando as últimas moedas dos pequenos, e até bandidos puxando facas para assaltar esses próprios adultos.

    Kron se sentia sem esperança. Não era estranho pensar se havia sentido em continuar vivendo quando todos os dias eram iguais.

    — Depois entrei no Orfanato do Amor… É onde vivo até hoje.

    Claro, as coisas não melhoraram como mágica só por ele ter entrado no orfanato. O antigo diretor, Devon, era um homem cruel. Sob o pretexto de alimentar e abrigar as crianças, as forçava a trabalhar. Batia quando estava de mau humor, e quando uma criança fugia, espancava as que ficavam. Naqueles dias, os órfãos recebiam apenas comida suficiente para não morrer. Talvez vivessem pior que mendigos.

    Ainda assim, Kron não se arrependia de ter ido para o orfanato. E isso era graças a Jenny, a mais velha entre as crianças. Felizmente, era ela quem cuidava do lugar atualmente.

    — A Jenny… era altruísta. Como um anjo enviado do céu, cuidava de todas as crianças com amor.

    Se uma criança chorava de fome, Jenny dividia sua própria comida. Se alguém estava cansado demais para se mover, ela trabalhava em dobro para compensar. Até mantinha o humor do careca Devon sob controle, o que deixava o clima um pouco menos pesado.

    Foi por meio dela que Kron viu, pela primeira vez, o ato de proteger alguém. Mas ele não compreendia suas ações. Um dia, não resistiu à curiosidade e perguntou:

    — Por que você ajuda os outros, Jenny?

    — Acha estranho ajudar?

    — Sim. E quanto mais você ajuda, mais difícil fica pra você… Então por que faz isso?

    — Tenho a impressão de que você já sabe a resposta.

    Depois daquela conversa, Kron foi dormir com uma dúvida ainda maior martelando na mente. “Eu já sei por que alguém ajuda os outros?”

    Por mais que pensasse, não encontrava resposta. Nem queria saber. Só se sentia irritado por ver a Jenny, sempre tão gentil, sofrer por causa de crianças mais frágeis.

    Foi então que Kron começou a ajudar os outros por vontade própria. Ele tinha que fazer isso, caso contrário, o fardo de Jenny aumentaria. O garoto não queria isso. E quando algumas outras crianças, que compartilhavam desse sentimento, começaram a fazer o mesmo, o clima do orfanato passou a mudar, pouco a pouco.

    Cerca de dois meses se passaram, e Kron finalmente entendeu o que as palavras de Jenny queriam dizer.

    O garoto respirou fundo e continuou, encarando os avaliadores:

    — Jenny protegia as outras crianças porque elas eram preciosas para ela. E eu quis ajudar a Jenny… porque ela é alguém muito preciosa para mim. É natural querer proteger quem é especial — Kron firmou o olhar. — Ultimamente, venho pensando assim: todas as pessoas que passam por mim são preciosas para alguém. Alguém precioso para alguém precioso… Se seguir essa linha de pensamento, até uma pessoa que aparentemente não tem ligação comigo pode ser alguém precioso para a Jenny. E, portanto… alguém precioso para mim também.

    Os avaliadores o observavam com um olhar ligeiramente diferente de antes.

    Ele os encarou de volta, firme, e concluiu com uma voz cheia de convicção:

    — Então, pelas pessoas preciosíssimas do orfanato… e pelas pessoas que são preciosas para elas… eu vou continuar treinando com a espada!

    Um silêncio pairou no ar. O avaliador careca e o de bigode trocaram olhares. O garoto não era ruim. Para ser honesto, era excelente. Aquela seleção era para recrutar cavaleiros, e não seria fácil reprovar um garoto que expressava convicções tão firmes sobre o motivo de proteger os outros.

    “Se as habilidades dele fossem ruins, seria outra história…”

    “Mas se ele veio da Academia de Krono, provavelmente cumpre os requisitos básicos…”

    — Candidato número 1001, Kron.

    — Sim!

    — Foi uma boa história… mas você não respondeu direito o que tem feito até agora.

    — Ah, eu… m-me desculpe…

    — Tudo bem. Acontece. Não é fácil explicar esforço com palavras. Na minha opinião, esforço se prova com resultados. Tenho um teste perfeito para você… Me acompanhe.

    Os olhos da avaliadora encapuzada demonstraram um leve estranhamento. Até então, todas as avaliações haviam sido realizadas dentro da grande tenda. Nunca havia ocorrido de um candidato ser levado para fora. O espaço ali dentro era mais que suficiente para empunhar uma espada.

    Mesmo assim, o examinador de bigode insistiu. O careca o seguiu quando ele afastou a aba da tenda, e a examinadora encapuzada suspirou antes de acompanhá-los. Kron, com uma expressão confusa, não teve escolha senão segui-los. Ao chegarem ao local indicado, encontraram uma estranha caixa de madeira.

    — Este é o teste final.

    Kron não entendeu bem, mas preferiu não questionar. Observou a caixa de madeira, deixada num canto do campo de treino. Não havia nada de especial nela, tinha a aparência comum que ele já vira muitas vezes. Não sabia o que havia dentro, mas parecia pesada.

    “Vão me testar com isso? O que estão planejando?”

    O examinador de bigode logo respondeu.

    — Durante um período determinado, você deve mover essa caixa por uma distância específica — disse, com voz severa. — Este é um teste muito apropriado para avaliar sua tenacidade, paciência… e engenhosidade. Se passar, candidato 1001, eu pessoalmente o encaminharei para a competição principal.

    — Sim! — Kron assentiu, finalmente entendendo.

    Era um teste voltado para capacidades físicas, como força e resistência, em vez de esgrima. Como o examinador dissera, era um bom teste para avaliar perseverança e paciência. E realmente condizia com o conceito de esforço.

    “Esse teste vai ser… muito difícil.” Eles queriam testar seus limites.

    Seu corpo se tensionou instintivamente, mas Kron falou com educação e expressão determinada:

    — Antes do início do teste… posso tentar empurrar uma vez, examinador?

    — Claro. É pesada, mas não impossível de mover — disse o examinador de bigode, soltando uma risada alta.

    Essas palavras lhe deram coragem. Kron estalou os dedos e se posicionou diante da caixa. Felizmente, o chão era plano. Se fosse irregular, teria que erguer a caixa, mas, pelo visto, dava para empurrá-la. Esticou os braços, manteve o centro de gravidade baixo, e empurrou com o corpo todo, forçando o peso contra o solo com toda sua força.

    Raspa, raspa!

    — Pare. Você empurra bem!

    — Phew, obrigado.

    — Candidato 1001, você deve empurrar essa caixa de madeira durante o resto do dia.

    O coração de Kron afundou. “Empurrar isso o dia inteiro?”

    Mas o mais importante não era o tempo, e sim a distância.

    — Bem, basta terminar até o fim do dia… Está vendo o círculo desenhado no campo de treino?

    — Sim!

    — Você deve contorná-lo dez vezes, sempre por fora da linha. Não importa o método que usar. Se conseguir, darei a qualificação para a competição principal.

    A mandíbula de Kron caiu. “Impossível!”

    Sem pensar, virou a cabeça e examinou o tamanho do campo. Depois, lembrou do peso da caixa que acabara de mover. “Não tem como… eu conseguir isso!”

    Não importava o quanto fosse mais forte ou mais treinado do que seus colegas, realizar aquilo era impossível. Já seria um tormento empurrar aquela caixa o dia todo sem descanso, mas a distância exigida era simplesmente absurda. Sinceramente, ele duvidava até mesmo que o examinador conseguiria fazer isso.

    — Hmm? Já está com medo antes de começar? Que decepção… — disse o examinador de bigode, friamente.

    Não, sua voz ia além do frio. Por mais que tentasse esconder, havia um traço de malícia em seu olhar, e isso perfurou o coração do garoto como uma lâmina. Ele não ficou triste. Ficou com raiva. Furioso.

    Tomado de fúria, Kron balançou a cabeça:

    — Não. Eu vou fazer.

    — Ótimo. Ei, você aí!

    — Chamou, senhor cavaleiro?! — disse um soldado, correndo de longe.

    O examinador de bigode explicou as regras do teste a ele.

    — D-Dez voltas?!

    — Sim. Até o fim do dia. Chame seus colegas para se revezarem na supervisão. Eu os recompensarei depois.

    — Entendido… — respondeu o soldado, hesitante.

    Não teve escolha a não ser obedecer. Mas o soldado achava aquele teste absurdo. A única explicação que conseguiu imaginar era que estavam fazendo de tudo para reprovar o garoto.

    Mas o examinador de bigode tinha algo a dizer sobre o teste.

    “Não importa o método que usar”, pensou, com um sorriso dissimulado que o garoto não podia ver. “Se for esperto, pode usar os bastões de madeira no canto do campo como roletes para mover a caixa.”

    Claro, a chance disso acontecer era praticamente nula. Os avaliadores haviam criado toda a atmosfera de um teste físico, e não havia como um órfão comum pensar em conceitos como atrito deslizante e rolante. Mesmo que pensasse, provavelmente não saberia aplicá-los.

    “Ótimo. Para ser um cavaleiro, não basta ter força. Precisa ser inteligente também. Isso servirá como justificativa para reprová-lo.”

    O examinador de bigode assentiu e explicou isso em voz baixa ao avaliador careca. Riram, como se aquilo fosse extremamente satisfatório.

    Claro, Kron não ouvia nada disso. Cheio de rancor, ele lutava com todas as forças para passar, de qualquer maneira possível.

    Assim começou o teste final da segunda rodada preliminar. Mas, enquanto todos falavam, apenas a avaliadora encapuzada observava em silêncio a luta do garoto.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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