Capítulo 53: Empunhar a Espada (2/3)
por MrRody, Second StarO mundo dos sonhos de Airen Farreira era uma réplica quase perfeita de seu próprio sonho. Ele podia mudar aquele mundo conforme sua vontade, como fez ao trocar a estação de primavera para o outono. Isso estava acontecendo novamente agora. Onde antes havia um campo vazio além da cerca, agora havia uma pista de corrida criada do lado de fora.
Airen corria pelo percurso. Antes, ele jamais teria feito isso, pois achava difícil até mesmo sair do quarto devido à sua autocrítica. Mas a presença de Illia Lindsay atrás dele, observando-o, o fazia correr na pista.
— Não perca o equilíbrio. Mantenha o tornozelo firme — dizia ela.
— Inspire pelo nariz e expire pela boca — continuava.
— Aqui é um leito de areia. Foque no seu equilíbrio — instruía.
A garota de cabelos prateados mantinha o ritmo atrás dele, sempre dando orientações. Airen não entendia o que havia acontecido, mas não tinha tempo para ficar parado tentando descobrir. Sob a orientação de Illia, ele movia o corpo após um longo período parado. Fez isso da madrugada até a hora do café da manhã.
— Coma rápido para irmos ao treino de esgrima.
E aquilo não terminava. Illia realmente colocava todo o coração em fazer Airen se exercitar. Ela o arrastava para o pátio após o café, obrigando-o a empunhar a espada. E o observava atentamente enquanto ele balançava a arma.
Ainda sem entender o que estava acontecendo, ele não conseguia parar de treinar sua esgrima por causa do olhar severo da garota. Claro, ele não estava dando o melhor de si. Ainda não estava mentalmente preparado para isso. Mas Illia não deixava que ele se safasse.
— Concentre-se!
— Você está péssimo! Foque!
— Seu ataque está vazio! Só pode fazer o movimento certo quando preencher sua mente. Lulu não te ensinou isso?
— Isso, assim está melhor.
Era um treino no nível de um acampamento militar. Ela não parecia a Illia Lindsay que Airen conhecia, e ela nem deveria saber quem era Lulu. Mas ele não conseguia pensar nisso agora. A garota de cabelos prateados estava em cima dele toda vez que começava a desviar os pensamentos, e o Nobre Preguiçoso recuava a cada vez, voltando ao treino.
Então, sua paixão começou a retornar. Não era o bastante para se comparar ao que sentia antes, mas após o almoço, o jantar e quando chegou a noite, ele já era uma pessoa diferente da que estava ali pela manhã. Ao menos sua expressão deprimida havia melhorado bastante.
— É isso, então, até a próxima.
Illia Lindsay desapareceu como se nunca tivesse estado ali. Airen, após vê-la sumir, murmurou para si.
— Então… ela não é a verdadeira Illia.
Era óbvio. Ela provavelmente era uma criação de sua feitiçaria. Ele assentiu, cravou a espada no chão e voltou para casa. Seu corpo, encharcado de suor, ficou limpo instantaneamente. O Nobre Preguiçoso se sentiu revigorado e mergulhou na cama.
Sentiu-se sonolento. E naquela sensação agradável, diferente de como costumava forçar-se a dormir, riu. Hoje foi como um sonho curto, mas não foi ruim. E por um longo tempo, teve um sono profundo.
No dia seguinte, mais visitantes chegaram.
— O que diabos você está fazendo? Levante-se agora! Já passa das cinco! Levante essa bunda preguiçosa, ou eu te derrubo!
Judith, a garota de cabelos vermelhos intensos, chamou do lado de fora. Airen ficou surpreso e correu para o pátio ao ouvir a voz dela.
— Você está atrasado — disse Illia Lindsay.
— Pare de olhar com essa cara de besta. Lembre-se de que é um nobre — disse Brett Lloyd.
Illia Lindsay havia aparecido novamente, e Brett Lloyd também estava lá. Ele não parecia deprimido como quando Airen o viu pela última vez antes de deixar a academia.
Airen não conseguia evitar o olhar abobalhado enquanto os observava.
— Vamos começar com um combate? Ou um treino particular primeiro? — disse Judith.
— Airen precisa se alongar primeiro. Que tal pensar antes de falar? — retrucou Brett.
— Seu idiota nerd. Por que sempre implica comigo? Posso te derrubar também, se é isso que quer.
— Parem. Podemos fazer o combate depois, como Brett disse. Venha, Airen — disse Illia.
Os três se voltaram para ela ao ouvir suas palavras. Pareciam todos brilhar. Pareciam ser seres diferentes de Airen, e ele não conseguia se aproximar deles. Baixou a cabeça e estava prestes a recuar, mas então sentiu o olhar de confiança.
Os três o olhavam com a certeza de que ele se juntaria a eles, então ele mordeu os lábios e deu um passo à frente. Não poderia trair a confiança deles. E, antes que alguém percebesse, estava segurando uma espada enorme em sua mão.
— Não aguento mais! Uma luta de verdade é sempre o melhor treino! Vamos nessa! — disse Judith.
— Você vem comigo se não pode esperar. Pare de intimidá-lo. Ele acabou de acordar — disse Brett.
— Ah, é? Tudo bem, então! Vamos lá!
— Por que não treinamos separados deles? — perguntou Illia.
— Sim… — Airen assentiu e se preparou, depois balançou a espada.
Ainda estava faltando algo, mas era melhor que ontem. Illia sorriu ao observar. Judith e Brett Lloyd também sorriram em meio à discussão. Parecia que eles já esperavam que Airen fizesse isso o tempo todo. Ele não se sentia confortável com a reação deles.
“Mas… não posso parar agora.”
Ele balançou a espada mais uma vez. Estava pior que antes, e ele não gostou. Sua pequena confiança desapareceu instantaneamente. Ele então olhou ao redor, temendo que os três reagissem de forma diferente, mas eles não reagiram. Ainda mantinham o olhar de confiança.
“Por que confiam em mim?”
“Eu não sou ninguém sem ajuda dos outros.” Seus pensamentos negativos desapareceram porque Illia não permitiu que ele pensasse. O Nobre Preguiçoso continuou treinando com a espada para que Illia não gritasse com ele.
E, no segundo ano e no 120º dia de sua vida nesse mundo, Airen se levantou e começou a avançar novamente.
Mais tempo passou. Talvez um ano ou muito mais. Airen trabalhou duro para aprimorar sua esgrima e evoluiu. Agora, ele podia facilmente balançar a espada 10.000 vezes por dia. E, claro, não era um movimento vazio. Cada um desses golpes tinha todo o seu coração.
Ele enfrentou dificuldades. Constantes dúvidas e autocrítica o fizeram vacilar diversas vezes. Ele se via como um tolo que não conseguia fazer nada sozinho, um tolo que precisava de ajuda e acabaria falhando. Tais dúvidas tentaram corroer sua autoconfiança, mas ele lembrou-se das palavras no bilhete que o oráculo orc lhe deu.
Permanecer ereto não significa estar sozinho.
E, naquele momento, Airen percebeu que havia cometido um erro sério.
— Não é errado receber ajuda para seguir em frente.
Ele também lembrou-se do que Ian lhe disse. Para parar de seguir o caminho dos outros com a vontade dos outros e encontrar seu próprio caminho, com sua própria vontade. O que o diretor disse estava certo.
Airen estava caminhando na direção errada até ouvir esse conselho. Passou dias vazios sem saber como agir por conta própria. Prometeu a si mesmo que não viveria mais assim.
Mas isso não significava que ele deveria rejeitar a ajuda dos outros e seguir um caminho de solidão. Era o oposto. Ele precisava se fortalecer com o apoio e a confiança dos outros.
— Esteja com pessoas que confiam e amam você. É assim que você supera os obstáculos.
Ele também lembrou-se do que Lulu lhe disse, junto com o amor de seu pai, a gentileza de sua mãe e o amor de Kiril, ainda que indireto, por ele.
— Entendeu agora? — perguntou a garota de cabelos prateados.
Airen olhou para os três jovens que apareceram à sua frente. Então, ele percebeu que se tornaria forte pela confiança que eles depositavam nele.
— Nossa missão aqui está concluída — disse Illia.
— Vai saber? Ele pode nos chamar de novo — disse Brett.
— Argh, é irritante… mas eu virei se você precisar — disse Judith.
— Não brinque e trabalhe duro. E não duvide de si mesmo — disse Brett.
— Fique bem — disse Illia.
E com isso, eles desapareceram. Illia Lindsay, Judith e Brett Lloyd sumiram, e Airen Farreira ficou sozinho em seu quarto. Mas ele não se importava nem um pouco. O garoto, que agora havia se transformado em um jovem homem, levantou-se, saiu com confiança para o pátio e empunhou sua espada.
Então, ele a balançou. Colocou todo o seu coração nisso. E seus olhos, enquanto treinava, mudaram completamente.
Um dia, um mês e um ano se passaram. E então muito mais tempo, e nesse longo período, Airen Farreira continuou colocando esforço em sua esgrima. Não foi uma tarefa fácil. Ele enfrentou obstáculos constantemente, mas agora podia superá-los. O sofrimento era suportável porque ele tinha os outros. Sua esgrima também mudou, e sua visão sobre a esgrima mudou junto.
“Eu estava separando a mente e o corpo até agora.”
Airen era um tolo. Lulu lhe dissera que mente e corpo eram um só. Assim como fortalecer a mente através de trabalho físico árduo, era igualmente importante colocar o coração na ação que se prestava a realizar. Assim que ele percebeu isso, pôde sentir a verdade em cada um de seus movimentos com a espada.
Swoosh!
Algumas pessoas aprendem muito a partir de um único ensinamento, enquanto outras aprendem apenas um ensinamento em profundidade. Claro, muitos não entendem corretamente nem da primeira vez, mas Airen não era um deles. Sua excepcional concentração permitia que ele reproduzisse o que tinha visto e experimentado perfeitamente. Mas esse era seu limite. Ao contrário de Illia Lindsay, Judith ou Brett Lloyd, Airen nunca havia absorvido mais do que aquilo que lhe era ensinado. Mas agora, esse limite foi rompido.
Swoosh!
Ele despejava seu coração ao balançar a espada, buscando uma compreensão mais profunda do movimento que havia trabalhado incansavelmente. Agora reconhecia que precisava parar de persegui-lo de maneira irracional e pensar em uma perspectiva mais ampla, sem ignorar a verdade.
Com essa mentalidade, a ação se seguia, revelando as possibilidades escondidas abaixo da superfície.
Airen balançou sua espada novamente. Movia-se sem pensar, seguindo os incontáveis caminhos da mente, e a espada seguia seus movimentos. Fez isso dia após dia, incansavelmente.
Ele teria caído de exaustão se estivesse no mundo real, mas não sentia fadiga nesse mundo de feitiçaria. Era um lugar miraculoso, criado para realizar o desejo de seu criador. E assim, Airen pôde passar muito mais tempo ali, o que o levou a outro nível em sua esgrima.
— Phew.
O Nobre Preguiçoso soltou a espada. Seus olhos brilhavam intensamente.