Capítulo 59: O Dragão Adormecido (3/6)
por MrRody, Second StarHill Burnett parou de falar, pois não conseguia entender o que seu superior estava dizendo.
“O quê? Um gênio que se equipara a Illia Lindsay está aqui em Heyle?” Ele pensou por um segundo e então riu.
— Haha, uma boa piada.
— Huh? Eu não estou brincando.
— O quê? Eu não…
— Você não sabe?
— Eu não sei do que você está falando.
— Santo Deus. Como isso é possível? Achei que você, de todas as pessoas, soubesse sobre ele.
Tom Miller balançou a cabeça e até suspirou, o que frustrou Hill Burnett. Ele estava tentando fazê-lo de bobo ou algo assim? Ele teria agarrado o colarinho do convidado, se ele não fosse seu superior. Como se percebesse sua frustração, Tom não prolongou mais o suspense e falou.
— Então você realmente não sabe de nada. Vou te contar do começo. Como você sabe, a Academia de Esgrima Krono reuniu aprendizes preliminares cinco anos atrás. Espera, foi há seis anos? Enfim…
A história do monstro em Krono era nada menos que impressionante. Ele se destacou como um dos melhores alunos no exame intermediário e depois conquistou o segundo lugar no exame final. Ele também apresentou resultados fenomenais em todos os pequenos testes, destacando-se acima de todos os outros da Geração Dourada espalhados pelo continente.
— Dizem que ele estava acima de todos os aprendizes, até mesmo daquele famoso Brett Lloyd ou Judith, conhecida como uma das principais aprendizes formais da academia atualmente. Além disso…
— Há mais?
— Ouvi dizer que ele estava em um nível similar ao de Illia Lindsay no exame final. Meu aprendiz disse que a diferença entre eles era mínima.
Era difícil acreditar. Illia Lindsay era um monstro comparável a Ignet, o nome que sempre surgia quando se discutiam gênios na história. As pessoas esperavam que Illia se tornasse uma Mestre Espadachim, o objetivo supremo de todos os espadachins.
“Para ela, não é uma questão de se vai se tornar uma Mestre. É uma questão de quando.”
E um homem com tais habilidades estava aqui no Reino Heyle?
— Se for assim, por que ele desistiu de se tornar um aprendiz formal? Ou ele realmente desistiu? Talvez ele esteja em Krono, e você está enganado.
— Não. Meu aprendiz disse que ele voltou para sua propriedade. Eu não sei por quê… Ah, você sabe disso?
— Sobre o quê?
— Imagino que não. Parece que você realmente não sabe de nada…
— Por favor! Me conte tudo de uma vez, você está me matando!
— Ai, tudo bem. Calma, amigo! Eu ia dizer… que o monstro era, pelo que sei, do sul do Reino Heyle…
— O quê? Do sul?!
— S-sim. Espere! Calma…
Hill Burnett não conseguiu conter a empolgação. Ele estava agora no sul do Reino Heyle, com todos os nobres do reino do sul reunidos. Ele já os havia visto algumas horas atrás, mas não conseguia se lembrar de alguém significativo.
— Talvez… ele não faça parte da expedição.
— O quê… Ele não está aqui? — Tom Miller disse, decepcionado, depois de ouvir os murmúrios de Hill.
Ele estava ali não apenas porque queria ver seu velho amigo, mas também para encontrar o misterioso gênio de quem seu aprendiz havia falado. Ele pensou que o gênio, mesmo que estivesse quieto nos últimos cinco anos, apareceria se um demônio surgisse perto de sua propriedade.
Mas parecia que estava enganado. Tom engoliu a cerveja. Estava decepcionado, mas não mais do que Hill.
— Você… ouviu o nome dele? — Hill perguntou.
— Huh?
— O nome. Seu aprendiz disse o nome dele?
— Ah, certo. Isso mesmo. Eu deveria ter dito logo. Era Airen. Airen Farreira.
— Os Farreira…?!
Hill Burnett começou a repetir o nome Farreira várias vezes após ouvi-lo. Ele tinha se esquecido completamente do convidado sentado à sua frente.
Tom Miller balançou a cabeça.
— Nossa, acho que é melhor eu ir embora agora.
— Ah, me desculpe! Fiquei distraído…
— Não, está tudo bem. Eu preciso ir. Não tinha muito tempo de qualquer forma. Da próxima vez voltarei com mais tempo, então me mande uma carta se encontrar algo.
Tom deixou o Capitão Tenente dos Cavaleiros do Crepúsculo sozinho com seus pensamentos.
“Eu pensava que Kiril Farreira era a única famosa na família Farreira…”
Ele nasceu e cresceu no Reino Heyle, mas não sabia muito sobre o povo do sul, pois passou a maior parte de sua vida na capital. Então ele só conhecia Kiril Farreira, uma famosa feiticeira, e Ryan Gairon, um graduado da Academia Real de Cavaleiros. Esses dois eram os únicos que conhecia do sul. Não tinha interesse nos outros, nem mesmo no chefe dos Farreira. Mas isso havia mudado agora.
“Airen Farreira… Preciso investigar isso.”
Hill imediatamente chamou seu subordinado para investigar e logo recebeu as informações que desejava antes de partirem para a expedição. Era possível, pois as informações sobre Airen eram fáceis de obter.
Mas as informações não eram nada do que ele esperava. A reputação de Airen Farreira, um suposto gênio que se igualava a Illia Lindsay, era pior do que ele imaginava.
O homem mais preguiçoso do Reino Heyle.
O Nobre Preguiçoso.
Um tolo que não consegue fazer nada sozinho.
O garoto era medíocre, um tipo de pessoa que Hill desprezava. Ele então riu após ler o documento.
— Quem é esse cara?
Ele até pensou que estava investigando a pessoa errada, mas não era o caso. Airen Farreira realmente entrou na Academia de Esgrima Krono e voltou depois de um ano de treinamento. Diziam que ele ficou preso em algum lugar por feitiçaria durante cinco anos, o que explicava a ausência de notícias nesses cinco anos. Mas…
“Ele era conhecido como o Nobre Preguiçoso em toda essa região sul do reino…”
Como isso era possível? A Academia de Esgrima Krono era a melhor academia do continente, e sua 27ª Turma foi a melhor de sua história. Como o garoto poderia se tornar um dos dois melhores da Geração Dourada?
— Isso é um absurdo.
O Capitão Tenente amassou o documento que estava lendo, jogou-o no chão e deitou-se na cama para dormir. Amanhã era o dia da expedição, então precisava de uma boa noite de sono.
Mas ele não conseguia dormir facilmente, pois continuava a se lembrar do que Tom Miller havia dito.
— Dizem que ele estava em um nível diferente!
— Meu aprendiz é um garoto orgulhoso, mas o elogiou tanto…!
— Não sei por que o garoto está quieto, mas tenho certeza de que ele vai surpreender o mundo quando começar a agir.
— Ele não é uma bênção para o Reino Heyle?
“Melhor… não pensar mais nisso.”
Logo ele descobriria se a história era verdadeira, já que Airen Farreira era um dos membros da expedição, e veria a capacidade do garoto no dia seguinte.
Mas, mesmo sabendo disso, Hill não conseguia conter a curiosidade, e por isso não conseguiu dormir por um bom tempo.
Em um dia de meados de maio, os soldados se reuniram para caçar o demônio e partiram para iniciar a expedição. Havia cinquenta membros entre cavaleiros, magos e sacerdotes enviados da capital, e outros cinquenta cavaleiros liderados pelos nobres e seus filhos do reino do sul.
Esse número era menor que o das forças habituais para caçar monstros, mas priorizava a qualidade em vez da quantidade para enfrentar um demônio. Na verdade, o poder da expedição era muito maior, mesmo com a quantidade reduzida.
— Isso é reconfortante.
— Um demônio… É um inimigo formidável, mas tenho certeza de que lidaremos com ele facilmente com forças assim ao nosso lado.
Os nobres do sul sorriam ao ver os Cavaleiros do Crepúsculo e os Magos Reais na linha de frente. Era como diziam. O reforço enviado pela capital era tão poderoso que não havia motivo para preocupações. Na verdade, os nobres temiam que não tivessem chance de se exibir.
“Os cavaleiros de nossas famílias devem mostrar alguma coisa.”
“Espero que meu filho se destaque e impressione o Capitão Tenente.”
Todos os nobres, exceto Harun Farreira, pensavam dessa forma. E não eram os únicos. Seus filhos também esperavam ser notados por Hill Burnett ou por outros Cavaleiros do Crepúsculo influentes. Eles acreditavam que essa era uma oportunidade importante que poderia mudar seu futuro.
Por isso, todos empunhavam suas espadas mesmo quando não havia monstros ou demônios por perto. Treinavam esgrima durante o intervalo do almoço, mesmo após longos períodos de marcha.
— Hah!
Swoosh!
Começando com Ryan Gairon, todos os filhos das famílias nobres brandiam suas espadas. Treinavam para mostrar que estavam sempre se esforçando. Os cavaleiros da Ordem do Crepúsculo sorriam. Consideravam esses atos superficiais adoráveis.
— Melhor fazer isso do que não fazer nada.
— Certo. E eles não são tão ruins.
— Sim, especialmente aquele garoto… Ryan Gairon?
— Isso. Ele é… bom.
— Hmm.
Todos os cavaleiros se voltaram para Ryan Gairon. A maioria dos filhos nobres era bastante habilidosa, pois treinavam há muito tempo e tinham experiência em expedições, mas ninguém se comparava ao primogênito dos Gairon.
Todos os jovens nobres sabiam disso, mas nenhum parava de treinar. Quem agia de forma diferente dos outros seria notado, e o contrário também era verdade. Eles não queriam parecer preguiçosos aos olhos dos outros cavaleiros, e havia a chance de serem considerados quase no nível de Ryan Gairon, o que já seria muito bom.
E com essa esperança, todos se esforçavam sem intenção de parar até que o soldado de menor patente terminasse suas tarefas. Foi então que o comandante da expedição, Hill Burnett, que estava em silêncio até então, levantou-se e começou a caminhar.
O visconde Phil Gairon engoliu em seco ao ver o Capitão Tenente se dirigindo ao local onde seu filho mais velho, Ryan Gairon, treinava.
“Será que ele vai ensinar meu filho?”
Ensinar algo era sempre bem-vindo, principalmente vindo de uma figura renomada. O importante era estabelecer uma conexão com alguém tão influente do Reino Heyle, que mais tarde se tornaria uma figura política central.
Esse pensamento fez Phil olhar ansiosamente para Hill. Embora normalmente conseguisse esconder suas emoções, não conseguiu ocultar sua empolgação. Então, quando o Capitão Tenente passou por seu filho e se sentou diante de Airen Farreira, que estava sentado em silêncio com os olhos fechados, Phil Gairon não pôde evitar uma careta.
“Que diabos?!”
Mas ele não foi o único a pensar assim; todos pensaram o mesmo. Por que o Capitão Tenente caminhou até Airen Farreira em vez de Ryan Gairon? Seria porque Airen não estava fazendo nada enquanto todos os outros se esforçavam? Seria para repreendê-lo? Sob o olhar curioso dos presentes, Hill falou com Airen, que agora abrira os olhos.
— Airen Farreira.
— Sim, Capitão Tenente, senhor.
— Deveria me chamar de comandante. Estou no comando da expedição agora.
— Sim, comandante.
— Quero perguntar. Todos os jovens, exceto você, estão treinando esgrima durante o intervalo. Eles estão se esforçando, enquanto você é o único que não está.
— Poderia me dizer por que permanece parado enquanto todos os outros trabalham duro?
As pessoas ao redor ficaram confusas. Ele certamente parecia repreender Airen, mas seu tom era gentil, o que não combinava com seu jeito usual de falar. Estaria ele repreendendo o garoto, ou apenas curioso?
Foi então que Airen deu uma resposta inesperada.
— Treinar esgrima não é se esforçar, comandante.
— Você… acha que treinar não conta como esforço?
— Desculpe, eu deveria ter dito de outra forma. O que eu quis dizer foi… Para mim, treinar esgrima não equivale a esforço.
— E por que isso?
Hill perguntou novamente, mas não esperava muito de Airen. Ele só perguntou porque não esperava uma resposta como essa. Mas o que Airen disse a seguir foi muito mais significativo do que ele esperava.
— Porque eu não tenho a mente para isso.