Índice de Capítulo

    “Yawn…”

    — Ah, hoje estou tão cansado — resmungou Wilson, o dono de uma loja de roupas em uma pequena cidade, enquanto bocejava. Ele pensava todos os dias que abrir a loja tão cedo era ineficiente.

    Mas precisava ser diligente para ganhar dinheiro. Vai saber? Talvez algum garoto rico aparecesse cedo na loja e comprasse todas as roupas caras.

    “Sim, eu sei que isso nunca vai acontecer.”

    Wilson balançou a cabeça. Estava apertado financeiramente, o que o fazia ter ideias tão delirantes. Após mais alguns resmungos, ele se espreguiçou e estava prestes a pegar um espanador.

    Trim-trim!

    — Bem-vindo!

    Ele se virou automaticamente e sorriu. Pensou que tivesse sorte em receber um cliente tão cedo, então apressou-se em recebê-lo, colocando o espanador de lado, mas congelou no lugar.

    “Um… gato?”

    Wilson esfregou os olhos, incrédulo. Devia ter visto errado. Não havia como um gato ser um cliente. Talvez fosse apenas uma criança com máscara de gato. Convencido disso, abriu os olhos novamente para olhar o cliente.

    Mas o cliente continuava o mesmo. Um gato preto, só que não era um gato comum. Usava uma jaqueta de couro elegante, botas e um chapéu de abas largas com uma pena. Parecia saído de um conto de fadas, e ainda por cima falava.

    — Você é o dono? — perguntou o gato.

    — Hã? A-ah, sim! Sou Wilson. Bem-vindo à Roupas do Wilson. Está procurando algo em especial hoje?

    Wilson estava chocado, mas não esqueceu o que devia dizer. Repetia essa frase há anos, a ponto de ser automático. O gato preto respondeu à pergunta.

    — Hmm! Na verdade, não sei.

    — Perdão, senhor?

    — Não sei o que comprar. Acho que falta algo em mim… mas não consigo descobrir o que é.

    — O que eu devo fazer?

    Wilson ficou confuso ao ver sua pergunta ser respondida com outra, quando outro cliente entrou na loja. Felizmente, era uma pessoa desta vez. Um jovem loiro, de boa aparência e expressão gentil, entrou na loja e falou com eles.

    — Lulu, você deveria ter me avisado que ia a uma loja de roupas. Estava procurando por você.

    — Ah, desculpa! Vi a placa lá fora e achei bonita, então entrei.

    — Entendi. E o que vai comprar?

    — Não sei, mas quero comprar algo.

    — O que isso significa?

    Wilson ficou ainda mais confuso ao ver o jovem conversando naturalmente com o gato.

    “O que está acontecendo? Ainda estou dormindo? Estou sonhando? Ou o mundo mudou de repente?”

    — Senhor, você é o dono daqui? — perguntou o jovem.

    — Ah, sim!

    — Minha amiga quer dar uma olhada. Posso olhar à vontade?

    — C-claro! Fiquem à vontade!

    Wilson rapidamente assentiu e guiou os clientes pela loja. E foi isso. Deveria ter conversado mais para descobrir os gostos deles e recomendar algo, mas a situação era surreal demais.

    Então, tudo o que conseguiu fazer foi ficar parado enquanto os dois escolhiam roupas.

    Depois de um tempo, a gata preta ofegou, surpresa.

    — Uau! É isso! É isso!

    A gata apontou com a pata para uma capa vermelha no tamanho infantil. A capa se moveu sozinha, voou até ela e se colocou em suas costas.

    A gata voou até o espelho, fez várias poses e, depois de um tempo, falou com o jovem.

    — Como estou?

    — Está ótima. Combina com você.

    — Ótimo! Vou levar. Aqui está o dinheiro!

    — Hã? S-sim, senhorita! — Wilson recuou assustado quando a gata voou até seu rosto. Mas a gata não ligou. Enfiou a pata no interior do colete e puxou algo.

    — Mão — disse a gata.

    — Perdão?

    — Me dê sua mão.

    — Ah… Hã?! — Wilson ficou chocado com o que foi colocado em sua mão. Mas a gata se virou como se não fosse nada.

    — Pronto. Vamos, Airen!

    — Espere, você pagou o suficiente…

    — Sim! Paguei o quanto achei que essa capa vale! Tenho certeza de que ele está satisfeito!

    A gata pagou na hora e saiu, seguido pelo jovem loiro. Depois da tempestade, tudo o que restou foi um Wilson atordoado e uma pepita de ouro em forma de rato na palma da sua mão.


    Airen Farreira e a gata feiticeira, Lulu, viajavam em um ritmo tranquilo. Não havia pressa; cinco anos já haviam passado, e Lulu realmente gostava de passar tempo com Airen.

    — É a primeira vez que viajo com alguém!

    — Hã? Sério?

    — Sim. É muito mais divertido do que pensei! — disse Lulu, voando pelas ruas da cidade. A capa que balançava chamava atenção.

    Claro, as pessoas prestavam mais atenção na gata voadora do que na capa, mas a gata preta não ligava. Estava focada na conversa com quem caminhava ao lado. E Airen ficou curioso sobre Lulu.

    “É a primeira vez que Lulu viaja com alguém?”

    Isso era surpreendente. Airen sabia que a maioria dos feiticeiros tinha características excêntricas e falta de habilidades sociais. Essa gata já era peculiar por si só. Mas Lulu havia enfatizado algo várias vezes.

    “Acho que já ouvi ela dizer que confiança mútua é crucial na feitiçaria umas cinquenta vezes.”

    Por isso, Airen imaginava que Lulu tinha uma relação especial com outra pessoa e provavelmente passara muito tempo com ela. Mas agora dizia que nunca havia viajado com ninguém…

    “Talvez essa pessoa tenha morrido.”

    Ou acabaram brigando? Não importa o quanto pensasse, não conseguia imaginar um final feliz para a relação.

    “Vamos mudar de assunto.” Airen pensava em outro tema quando Lulu, por sorte, mudou primeiro.

    — A propósito. Ian? O diretor? Ele é realmente tão incrível assim?

    — Nunca ouviu falar dele?

    — Já, mas nunca me interessei. Não sei muito sobre coisas que não me interessam.

    — Entendi. Erm…

    Airen se lembrou do rosto do Diretor Ian. Um velho de aparência frágil, mas um homem de habilidades excepcionais na esgrima, talvez o mais forte de todo o continente. E foi a primeira pessoa que Airen pôde chamar de mestre.

    — Ah, acho que lembro! Você disse que ele foi seu primeiro mestre! Então eu sou a segunda?

    — Sim. Você é minha segunda mestre.

    — Hehe. Ótimo!

    Lulu riu, feliz por ser chamada de mestre. Airen também sorriu, depois continuou.

    — Acho que ele pode me aconselhar sobre meu estado instável. Embora eu saiba que ele não pode fazer nada sobre o sonho…

    — Quem sabe? Talvez ele consiga resolver isso também.

    — Bem, espero que sim, mas não acho que seja possível.

    Airen balançou a cabeça. Seu sonho era um fenômeno misterioso, algo que nem mesmo a magia conseguia explicar, provavelmente mais próximo da feitiçaria. Mas se Lulu, uma feiticeira excepcional, não conseguia resolver o problema, Airen duvidava que Ian, um espadachim, fosse capaz.

    Então Airen explicou seu raciocínio, e Lulu balançou a cabeça ao ouvir.

    — Mas você disse que ele é o melhor espadachim do continente.

    — Sim. E daí?

    — Quando alguém está no topo do mundo, essa pessoa é quase como um feiticeiro. Isso significa que ela tem poder e vontade muito além do comum. Talvez você esteja certo, mas estou dizendo que pode ser possível.

    Após dizer isso, Lulu de repente tirou o chapéu. E não parou por aí. Também tirou a capa, o colete e as outras roupas, jogando tudo no seu subespaço, e foi até as costas de Airen. Abriu a mochila dele e se enfiou dentro.

    — Estou com sono.

    — Vou dormir. Não me acorde, a menos que seja necessário.

    — Certo.

    “Ela definitivamente é única”, pensou Airen, acelerando o passo.


    — Chegamos!

    — Yay! Chegamos!

    Alguns dias haviam se passado desde que compraram a capa na pequena cidade, e Airen e Lulu finalmente chegaram à cidade de Alcantra. Mas eles não eram os únicos que chegaram. Cinco gatos pulavam animados, tentando pegar algo atrás de Airen. Era Lulu. A gata estava espiando da mochila com um brinquedo de gato pendurado em uma vara de pescar, atraindo os gatos de rua.

    — Haha! E aí, como está? Vocês não conseguem pegar, não é?

    Miau! Miau!

    — Lulu, pare. Vamos ter problemas se levarmos todos juntos.

    — Sério? Mas e quanto a mim?

    — Acho que está tudo bem, desde que você não fale.

    — Então vou ficar quieta.

    Lulu saiu da mochila e foi para o ombro de Airen. Apesar de não ser do tipo que se preocupava com os outros, percebeu que era melhor ficar em silêncio ao passar pelos portões do castelo. A gata sabia que os guardas podiam ser muito irritantes com perguntas ao verem pela primeira vez uma feiticeira felina falante.

    — Eu poderia ter me teleportado sozinha. Devo fazer isso?

    — Hm. Talvez seja melhor. Vejo você lá dentro.

    — Certo!

    A gata preta desapareceu num instante, levando a vara de pescar com o brinquedo. Os gatos de rua olharam confusos para Airen e, em seguida, se dispersaram. Ele observou a cena com um sorriso.

    “Parece que sorrio mais agora do que antes.”

    Não era uma sensação ruim. Ele respirou fundo e entrou na grande cidade de Alcantra. E ficou surpreso.

    — Há tantas lâmpadas mágicas na rua…

    Era tarde, quase na hora de fechar os portões do castelo, mas as lâmpadas mágicas instaladas por toda parte iluminavam as ruas com intensidade. Outras coisas também chamaram a atenção de Airen. Os edifícios tinham designs modernos, diferentes das pequenas cidades e vilarejos por onde havia passado. Havia pessoas passando com fragrâncias desconhecidas, além de belas esculturas e fontes em cada esquina.

    Era deslumbrante. Airen já estava um pouco impressionado com o tamanho da cidade antes de entrar, mas…

    “Acho que minha casa realmente fica no interior…”

    Ele já sabia disso, pois sua cidade natal ficava longe da capital do pequeno Reino Heyle, mas isso o surpreendeu. Claro, o impacto também vinha do fato de Alcantra ser uma metrópole avançada. Fundada por mercadores, a cidade era rica e ganhou poder militar após a construção da sede da Academia de Esgrima Krono.

    Sim. Krono teve um papel enorme no desenvolvimento da cidade a esse nível.

    “Então Krono era um lugar tão influente assim.”

    Airen lembrou-se do poder da Academia de Esgrima Krono. Sentou-se perto de uma fonte para observar os transeuntes e começou a procurar um lugar para passar a noite. Como já era tarde, decidiu descansar e visitar a academia no dia seguinte.

    Logo encontrou o lugar certo. Havia uma pousada chamada ‘Descanso da Espada’ perto da academia.

    “Tenho certeza de que Lulu me encontrará.”

    Ele observou o prédio e entrou pela porta. O rangido da madeira revelava a falta de óleo nas dobradiças, mas o interior estava bem limpo. No grande salão do primeiro andar, pessoas jantavam. A maioria delas era musculosa. Não, todas eram.

    “O que está acontecendo?”

    E todos tinham uma espada presa ao cinto. Isso era estranho. Embora não fosse incomum encontrar viajantes armados ou mercenários em uma cidade tão grande, era curioso que todos os clientes fossem espadachins.

    Airen refletiu sobre isso enquanto caminhava até o balcão. Precisava falar com o proprietário para garantir sua estadia. Foi então que um homem gigantesco se aproximou.

    — Você também é um hóspede de Krono?

    Era rude perguntar algo assim tão diretamente, mas Airen não achou ofensivo. Não era do tipo que acreditava que sua nobreza exigia respeito. Além disso, o homem parecia muito mais velho do que ele.

    Mas Airen não podia ignorar uma pergunta sobre ser hóspede da academia, então respondeu.

    — Sim, sou. Como você sabia…

    Mas foi interrompido por uma série de risadas.

    — Haha! Hahaha!

    — Hahahaha!

    — Ele também é hóspede? Ah, isso é hilário…!

    — Parece que todo mundo na cidade está se reunindo aqui!

    As pessoas riram e zombaram da resposta de Airen, deixando-o confuso.

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