Capítulo 70: Academia de Esgrima (2/10)
“O que está acontecendo aqui?”
Airen Farreira ficou confuso ao ver um homem musculoso rindo dele. Tudo isso era tão inesperado que ele nem sequer achou a zombaria ofensiva. Apenas se perguntou como aquele homem enorme sabia que ele tinha negócios com a Academia de Esgrima Krono.
— Haha! Imagino que tentar não machuque. Mas não fique confiante demais na sua habilidade, garoto.
— Machuca sim, cacete! Cala a boca com essas besteiras!
— É, corta o papo furado! Não gosto de vagabundos se metendo e me fazendo esperar mais pela minha vez!
O homem gigante subiu para o segundo andar antes que Airen pudesse perguntar qualquer coisa. Então, ouviu os homens na mesa cochichando entre si. Ele não conseguiu entender o que diziam nem teve a chance de perguntar.
“Isso é estranho.”
Era natural se sentir assim, já que ele não conhecia ninguém ali, mas praticamente tudo naquele lugar parecia desconfortável. Era como se ele fosse de um mundo completamente diferente do das pessoas ao redor. Foi então que ouviu alguém chamando-o de um canto.
— Ei, jovem.
— Está falando comigo? — perguntou Airen.
— Sim. Você é o único jovem aqui. Todos os outros já passaram da idade para serem chamados de jovens.
Um homem de meia-idade e musculoso estava sentado sozinho em uma mesa sem comida ou bebida. Outros homens nas mesas reclamaram da forma como ele falou deles, mas ele não deu a mínima. Airen caminhou até ele e se sentou.
— Não é estranho sentar aqui sem pedir nada? Ainda mais em um horário movimentado… — perguntou Airen.
— Claro que não. É minha loja. Faço o que quiser.
— Ah…
“Ele é o dono. Estava ali largado como um bufão, achei que fosse algum cliente rude.” Airen mudou de opinião sobre o homem e perguntou de novo.
— Entendi. Então, por que me chamou?
— Ouvi dizer que você é um hóspede de Krono.
— Sim, mas como você sabe disso?
— Você não sabe? Todos que estão hospedados aqui na pousada são hóspedes de Krono. Minha pousada é um ponto famoso para eles, então clientes normais não aparecem por aqui.
— Ah…
— Interessante. Você não fazia ideia e ainda assim veio ao ‘Descanso da Espada’? Hahaha! Toda essa conversa me deixou com sede. EI! Me traga uma cerveja! Ah, meu nome é Edgar, a propósito.
— Eu sou Airen.
Airen mencionou apenas seu primeiro nome de propósito, e os dois se apresentaram. Um atendente trouxe uma cerveja enquanto conversavam. Apenas uma.
“Não vou beber, mas ele poderia ao menos ter me oferecido algo”, pensou Airen enquanto Edgar esvaziava o caneco de uma vez e pedia outro.
— De qualquer forma, você deve saber algo se é um hóspede de Krono.
— Hã? Como assim?
— Para começar, um hóspede não pode entrar na academia quando quiser. Só é permitido uma vez a cada duas semanas. Na verdade, amanhã é o dia.
— Só uma vez a cada duas semanas?
Airen franziu a testa. Era compreensível que a academia escolhesse quem podia entrar, mas limitar o acesso a dias específicos? E só uma vez a cada duas semanas? Era difícil entender.
Airen tentou perguntar mais, mas Edgar continuou falando sem dar chance. Já estava no segundo caneco de cerveja e pediu outro enquanto continuava.
— E isso é realmente importante: você precisa de algo para provar sua habilidade se quiser se tornar um hóspede real. O mais comum seria uma placa de mercenário… Você tem uma?
— Não. Mas, hm…
— Imaginei. Você parece um garoto que acabou de sair de casa. Ah, não me entenda mal. Não estou tentando ofender. Estou com inveja. Considere um elogio, tipo quando um homem chama outro de mulherengo, inocente ou coisa assim. Eles dizem isso porque você é bonito.
— Hã, na verdade…
— De qualquer forma, você não terá chance se não tiver a placa de mercenário. Ouviu o que eles disseram, certo? As pessoas aqui odeiam quando um zé-ninguém acha que tem alguma chance. Sugiro que consiga uma agora, se não tiver.
Airen queria dizer que, embora não tivesse uma placa de mercenário, possuía uma placa que provava ser um aprendiz formal da Academia de Esgrima Krono. Mas não teve oportunidade de falar, pois o dono da pousada continuava falando, parando apenas para beber mais cerveja.
— Uma placa de baixa categoria não serve. Para ser reconhecido e se tornar um hóspede real, você precisa de pelo menos uma de bronze… não madeira ou ferro. Conseguir uma placa de bronze é difícil sem conquistas… Mas você não está irritado?
— Irritado?
— Sim. Eles zombaram de você, não foi?
Edgar apontou para as outras mesas com a mão segurando o caneco de cerveja, que já estava vazio. Airen não havia reparado nos olhares até então. Mas ao observar os outros, percebeu que eles realmente o subestimavam.
“Eles não me ofendem, mas…”
Era uma sensação estranha. Não era tão ruim quanto as zombarias que enfrentou no passado, e eles não pareciam ter más intenções. Por isso, ele não franziu o cenho nem demonstrou desconforto. Mas Edgar interpretou sua expressão como algo sério.
— Claro que ofende.
— Hã? Não, não é isso…
— Ótimo. Por que não vamos à guilda de mercenários agora? Conheço o mestre da guilda e consigo um teste para você.
— Huh, agora?
— Sim. Melhor agora do que depois. Ah, você vai ficar aqui, certo? Quantos dias?
— Só uma noite, por enquanto…
— Dou desconto para duas.
— Não, obrigado. Só uma.
— Tudo bem, se você não quer. Duas pratas pela noite, então.
— Aqui está…
— Perfeito. Vamos? Ei! Cuidem da loja enquanto eu estiver fora!
Edgar gritou e se levantou. Já tinha bebido sete canecos de cerveja, mas parecia bem. O mais interessante era sua atitude de querer falar tudo sem ouvir nada. No entanto, não parecia ter más intenções.
“Vou segui-lo por enquanto.” Airen assentiu e seguiu Edgar.
A Academia de Esgrima Krono era famosa. Tão famosa que era difícil encontrar alguém que não soubesse sobre ela. Até mesmo crianças pequenas de vilarejos remotos sonhavam em frequentar a academia. Krono era um sonho realizado para todos os espadachins.
E talvez fosse por isso. A academia sempre recebia visitantes armados com espadas. Esses visitantes buscavam mostrar suas habilidades para ganhar fama, crescer em duelos com espadachins renomados ou simplesmente causar problemas. Diariamente, dezenas de autointitulados ‘hóspedes’ visitavam a academia, o que se tornou um problema.
Eram tantos que era difícil lidar com todos, mas a academia não podia simplesmente recusá-los. Isso gerava acusações de covardia. Em alguns casos, visitantes faziam escândalos, dizendo que não sairiam até serem atendidos.
Assim, a academia criou uma regra para lidar com os hóspedes. A regra dizia que todos os interessados em demonstrar habilidades só poderiam entrar na academia uma vez a cada duas semanas, em um dia predeterminado, o ‘Dia dos Hóspedes’.
“Então era isso que queriam dizer com hóspede de Krono. Eles estão na fila… para duelar com alguém da academia. Era sobre isso que falavam.”
Airen percebeu isso mais tarde, mas não precisou perguntar para descobrir. Edgar falou tanto que deu a ele todas as informações, incluindo uma aula sobre a história da academia, até chegarem à guilda de mercenários.
Agora, Airen sabia que não era o tipo de hóspede que mencionavam. Ele era um hóspede real, algo que aqueles outros desejavam se tornar. Não precisava seguir a regra de visitar a academia apenas no ‘Dia dos Hóspedes’, tampouco precisava ir à guilda de mercenários.
— Ei, Mestre da Guilda.
— Edgar? Por que… Ah, um jovem hóspede. Precisa de um teste?
“Parece tarde demais para voltar atrás.”
Airen suspirou enquanto observava Edgar avançar rapidamente com o processo. Ele poderia ter recusado se quisesse, mas fazer o teste não parecia uma má ideia. Airen era o tipo de pessoa que deixava as coisas fluírem em situações assim, já que não era bom em dizer não.
“Uma placa de mercenário… Acho que não é algo tão ruim de se ter.”
Também não traria grandes vantagens, mas ele decidiu não pensar nisso. Ou melhor, nem teve tempo de pensar, pois, quando percebeu, Edgar já havia saído, e o Mestre da Guilda, um homem com uma cicatriz na bochecha esquerda, o encarava com um semblante carrancudo. Ele perguntou:
— Você vai fazer o teste, certo?
— Sim? Ah, sim — respondeu Airen, assentindo.
— Qual é sua força? Potência? Velocidade? Habilidade? Você é um hóspede de Krono, então imagino que sua arma preferida seja a espada… Mas sabe usar outras armas?
— Não, senhor.
— Entendi. Então qual espada… Não, deixa para lá. Vamos simplificar. Venha.
O Mestre da Guilda foi em direção à porta dos fundos, e Airen o seguiu. Eles saíram para um grande terreno vazio. Havia bonecos de treinamento, equipamentos de preparo físico e outros objetos difíceis de identificar espalhados pelo lugar.
Era menos movimentado que a pousada. Airen sentiu os olhares das pessoas ali enquanto seguia o Mestre da Guilda até uma estranha estrutura. Parecia um bloco coberto de borracha sobre algo que poderia ser pedra ou metal. Na parte superior, havia uma placa retangular.
— O que é isso? — perguntou Airen.
— Um avaliador. Se você acertá-lo com força, a placa no topo mostrará o impacto em números.
— É um objeto mágico? Objetos mágicos são caros, certo?
— Claro que é caro. Nós não compramos. Um mercenário de placa de ouro nos deu como presente ao se aposentar. Ele ganhou uma fortuna ao encontrar um sítio arqueológico mágico.
“Eu teria preferido dinheiro. Por que ele me deu isso?” O Mestre da Guilda resmungou, mas continuou:
— De qualquer forma, bata aqui.
— Com o punho?
— Com a espada. Depois de verificar o dano, vou determinar sua classificação, dar a placa e pronto. Simples, não?
— E se eu quebrar ao acertá-lo com a espada?
— O quê? Hahaha!
O homem riu, mas não por muito tempo. Logo parou e falou:
— Não é tão frágil assim. É um objeto mágico… Mas é metal, exceto pela placa no topo. Apenas um pequeno número de pessoas com placa de ouro seria capaz de destruir isso. Nem o mercenário aposentado que mencionei conseguiu.
— Entendi.
— Certo, então não se preocupe e dê o seu melhor. Você não vai querer se arrepender se conseguir uma classificação baixa.
— Compreendido. Vou dar o meu melhor.
— E… Hã?
“Onde está a espada? Deixou em casa?” O Mestre da Guilda estava prestes a perguntar isso quando uma espada gigantesca apareceu do nada. O jovem loiro segurou a espada e se preparou, erguendo os dois braços e lançando a lâmina gigantesca no ar como se fosse perfurar a lua no céu noturno.
O Mestre da Guilda apenas observou com uma expressão estupefata e, depois de um tempo… Um som ensurdecedor de impacto ecoou pelo terreno.