Índice de Capítulo

    Tudo começou pela frente. Os jovens ficaram surpresos com a súbita aparição do instrutor e, então, sentiram o ar ao seu redor se tornar pesado.

    — O que está acontecendo…?

    — Argh!

    Em seguida, aqueles que estavam no meio e, depois, os que estavam atrás também foram afetados. A aura do instrutor Ahmed preencheu o auditório inteiro em questão de segundos. Os jovens não conseguiam suportar a pressão que sentiam pela primeira vez.

    — Ah… ugh…

    A maioria parecia estar em dor. Embora tivessem treinado esgrima por pelo menos três anos, não era o suficiente para estarem física e mentalmente preparados para suportar a aura de um indivíduo poderoso. Em questão de segundos, começaram a cair no chão.

    — Ah… aah…

    Mas nem todos desistiram. Alguns estavam além do nível de talento comum, e esses prodígios conseguiram lidar de alguma forma com a aura de Ahmed. Seu temperamento único, força de vontade superior e uma força física fora do comum permitiram que suportassem.

    Claro, Airen não tinha nenhuma dessas características.

    Ainda assim, o garoto não caiu, nem ofegou ou cambaleou. Ele apenas fechou os olhos silenciosamente. Era suficiente para se orgulhar ao comparar seu estado com o dos outros, mas ele não se deixou levar. Agarrando o pingente em forma de espada que pendia de seu pescoço, sentiu a textura de madeira em sua mão.

    “Obrigado, Kiril.” Sua irmã o fez para animá-lo em seu primeiro grande desafio. Não tinha nenhum poder especial, mas ao menos ajudava a acalmar sua mente. Embora não fosse suficiente para ajudá-lo a resistir à aura de Ahmed, apenas segurar aquela espada trazia conforto. O homem em seu sonho nunca vacilava enquanto empunhava uma espada.

    “Ainda tenho um longo caminho pela frente para me comparar a ele.”

    Airen soltou um suspiro. Ele sonhava com o homem há mais de um mês. Graças a isso, conseguiu absorver um pouco da força de vontade do homem enquanto segurava a espada. E foi assim que conseguiu se manter firme, sem ter que resistir à aura apenas com sua própria habilidade, ao menos era isso que ele acreditava.

    “Acho que aquele velho tinha suas razões para recomendá-lo”, pensou o instrutor Ahmed enquanto observava os aprendizes preliminares. Em seguida, seu olhar se voltou para Airen Farreira. Com um corpo tão frágil, ele não entendia como o garoto ainda estava de pé. Mas isso não importava. O que importava era que ele estava resistindo. Haveria tempo de sobra para Ahmed descobrir como ele estava fazendo isso.

    Ahmed curvou os lábios em um sorriso e então olhou para os outros jovens. Havia uma garota de cabelos ruivos flamejantes, como se tivessem acabado de sair de uma fornalha; o filho do Conde Lloyd, que havia se gabado de sua família; e a garota de cabelos prateados, que parecia mais calma que os outros aprendizes enquanto o encarava diretamente nos olhos.

    “A segunda prodígio da família Lindsay… Ouvi dizer que ela é mais talentosa que o irmão mais velho. Dá para acreditar que seja verdade.”

    — Nada mal. Nada mal mesmo — Ahmed murmurou para si enquanto recolhia sua aura. A pressão no auditório foi aliviada. Os jovens respiravam com dificuldade e estavam à beira das lágrimas, mas o instrutor continuou como se nada tivesse acontecido.

    — Como mencionei agora há pouco, todos vocês são apenas aprendizes preliminares, não oficiais. E, como já devem saber, o treinamento de esgrima aqui é extremamente desafiador. E os dois exames são ainda mais! — disse ele, com um sorriso sombrio. — Se conseguirem passar nesses dois exames e ainda resistirem até o fim do ano, vocês serão considerados aprendizes oficiais. E claro, uma vez que se tornarem aprendizes oficiais, um teste ainda mais infernal os espera.

    Ele sorriu. Os jovens ficaram perplexos com seu discurso, pois estavam sendo ameaçados antes mesmo do início da cerimônia de admissão. Considerando que a maioria ali tinha entre doze e treze anos, era impressionante que ninguém tivesse começado a chorar.

    Em vez disso, seus olhos brilharam. Suas pernas tremiam devido à aura, e eles suavam intensamente, mas nada parecia incomodá-los. Todos eram fortes o suficiente para dar aquele primeiro passo na Academia de Esgrima Krono.

    Ahmed sabia disso muito bem e, por isso, não hesitou em fazer aquele discurso. Estalou os dedos, ainda com um sorriso.

    — Bem, não vamos nos preocupar com cerimônias formais aqui. Começaremos a designá-los para seus quartos e organizá-los. Vocês terão tempo para aprender os detalhes mais tarde. Entendido?

    — Sim, senhor! — os aprendizes preliminares responderam em uníssono.

    — De agora em diante, respondam apenas com SIM. Está claro?

    — SIM!

    — Muito bem. Agora, sigam as ordens dos instrutores assistentes — disse Ahmed enquanto deixava o auditório. Os instrutores assistentes começaram a orientar os aprendizes com vozes severas.

    — Atenção, aprendizes! Cada um de vocês terá um número atribuído. Os números de um a cem, venham por aqui!

    — De cem a duzentos, por aqui!

    — De duzentos a trezentos, me sigam!

    — Você aí! Mexa-se!

    Os aprendizes correram para seguir as ordens dos instrutores, assim como Airen Farreira. Inicialmente, como não estava acostumado a ser tratado de forma tão dura em casa, ele ficou espantado com o tom áspero dos instrutores, mas rapidamente se adaptou. Seguindo as instruções, ele terminou sua refeição, lavou-se e se deitou na cama em seu quarto designado.

    Ele estava usando o quarto sozinho, mas era desconfortável. Ele estava com medo e sentiu um pouco de arrependimento por ter vindo, então balançou a cabeça e puxou o cobertor áspero para perto do rosto.

    E o Nobre Preguiçoso adormeceu segurando o colar em forma de espada que sua irmã lhe dera.

    Então, veio o segundo dia na Academia de Esgrima Krono.

    Cerca de quatrocentos aprendizes preliminares se reuniram no Grande Campo de Treinamento às 10 horas da manhã. A academia lhes deu tempo suficiente para dormir, um café da manhã delicioso e algum tempo extra para descansar.

    Mas Brett Lloyd, o filho mais velho da família Lloyd, não estava de bom humor. Seu cabelo bem-arrumado não o fazia se sentir melhor. Ele estava olhando para a garota de cabelos prateados que estava quieta à distância.

    “Illia Lindsay… Por que ela veio para cá?”

    A família do Conde Lindsay, considerada a melhor do Reino Adan e uma das melhores do continente, era famosa por sua tradição em esgrima. Sua reputação era comparável à da própria Academia de Esgrima Krono. Joshua Lindsay, o chefe da família, era um dos dez melhores espadachins do continente, enquanto seu primogênito, Karl Lindsay, era um dos três maiores prodígios. E quanto a Illia Lindsay, esperava-se que ela se tornasse uma espadachim ainda melhor que seu irmão. Em outras palavras, ela não precisava treinar ali.

    “Droga. Isso destrói completamente minhas chances de ser o melhor!” Brett Lloyd pensou, rangendo os dentes. Ele não estava exagerando. Desde os seis anos, ele vinha praticando esgrima com instrutores respeitados e era altamente reconhecido por seu potencial. Ele trilhava esse caminho antes de qualquer um ao seu redor. Por isso, estava acostumado a ser tão confiante. A menos que algo extremamente azarado acontecesse, ele sabia que teria um resultado que atenderia sua ambição e traria glória para sua família. Mas…

    — Droga!

    Brett chutou uma pedra no chão. Ele não tinha como alvo ninguém em particular, mas a pedra rolou e bateu no pé de um garoto loiro. Era um garoto cerca de meio palmo mais alto que os aprendizes comuns. Brett reconheceu o rosto do garoto e estalou a língua ruidosamente, alto o bastante para que todos ouvissem.

    Tsk. E ELE não deveria estar aqui nessa idade — disse Brett.

    “O nome dele era Airen?” Brett não gostava dele pelo motivo oposto ao que sentia por Illia Lindsay. Ele achava que Airen era uma vergonha para a Academia de Esgrima Krono. Mesmo que Airen parecesse mais velho que a maioria das crianças, ele obviamente não tinha treinamento. Isso só podia significar uma coisa.

    “Com certeza ele subornou alguém para entrar aqui.”

    Brett Lloyd era um nobre arrogante que valorizava sua linhagem e o nome de sua família. Mas ele também era talentoso e orgulhoso. Assim, ele acreditava que a presença de Airen entre os outros aprendizes, enquanto colocava zero esforço, era uma vergonha.

    “Ele é pior que um plebeu.” Brett se virou para o lado. Uma garota de cabelos ruivos chamativos estava ali. Ao contrário do rosto fofo e infantil, ela tinha um corpo bem treinado e mãos calejadas.

    “Qual era o nome dela…? Er… Judith? Tanto faz…”

    Ela era melhor nesse aspecto. Comparada ao nobre vergonhoso que não merecia respeito, aquela plebeia parecia ter feito o máximo para chegar até ali. “Ela merece…” Ou assim Brett pensava, até que a garota se virou de repente para ele.

    — Pare de me encarar, idiota — disse a garota, Judith. Brett não conseguiu responder imediatamente, e Judith repetiu: — Eu disse, pare de me encarar.

    — V-você está falando comigo?

    — Com quem mais seria?

    — Er…

    Brett não sabia o que dizer. Estava surpreso de que uma plebeia tivesse começado uma conversa com ele, mas ainda mais chocado por ela falar com ele de forma tão rude. Era muito mais surpreendente do que descobrir que o porteiro também era um instrutor. Ele finalmente se recompôs e gaguejou:

    — V-você é uma tola desrespeitosa! Eu sou o filho do Conde Lloyd, da nobre família do Reino Gaveirra! Como ousa falar comigo desse jeit…

    — Cala a boca! — Judith interrompeu.

    Ela então se virou como se tivesse terminado com ele. Brett ficou sem palavras. Mas, dessa vez, rapidamente recuperou os sentidos e ficou furioso.

    — Sua insolente…

    Infelizmente para ele, Brett não teve sorte naquele dia. Não pôde terminar a frase, pois o instrutor chamou todos para dar início à sessão.

    — Reúnam-se!

    Os aprendizes preliminares ficaram em silêncio imediato, e Brett também se virou para a frente. Um homem sorridente com uma barba espessa estava de pé diante deles. Assim como o instrutor com a cicatriz, ele também era um dos porteiros.

    “Ugh, isso não é normal”, pensou Brett.

    — Prazer em conhecê-los. Eu sou Karaka, um dos instrutores que irá treiná-los a partir de hoje. Como estão seus quartos? Todos conseguiram dormir bem?

    — Sim! — responderam os aprendizes em uníssono.

    — E como foi a refeição? Estava boa?

    — Sim!

    — Isso é bom de ouvir. Todos vocês parecem estar em ótima forma. Muito bem!

    O novo instrutor, Karaka, começou seu discurso. Ele parecia mais descontraído do que o instrutor Ahmed. Karaka falou por mais alguns minutos em um tom leve e relaxado, depois bateu palmas de repente. Foi um simples estalo, mas o som se propagou por toda parte. Os aprendizes perceberam que a atmosfera havia mudado e olharam para o instrutor com nervosismo.

    Será que ele está se divertindo com nosso nervosismo? Ou ele tem algum outro plano? Karaka ficou ali parado com uma expressão séria por um longo tempo. Então, após um momento, ele sorriu e falou.

    Apoie-me

    Nota