Índice de Capítulo

    — Hã?

    — Energia demoníaca?

    Perguntaram Lulu e Khubaru ao mesmo tempo. Airen assentiu e olhou para o colar em seu pescoço. Um presente de sua irmã e da professora dela, o artefato detectava energia demoníaca, mana e venenos. O colar brilhou com uma coloração avermelhada. Mas, na verdade, Airen não precisava do colar para saber. Ao encarar os bandidos, ele sentia que não estavam em seus estados normais.

    “Eles ainda não se transformaram completamente em demônios…”

    Airen observou cuidadosamente Khajal e seus homens. Eles não eram nada parecidos com a demônio que ele enfrentou na expedição. A maioria parecia pessoas comuns, mas Khajal tinha um leve vestígio de energia demoníaca ao redor.

    “Será que ele encontrou um demônio? Ou talvez…” Airen pensava, quando Lulu flutuou à sua frente com uma expressão preocupada.

    — Você está bem, Airen?

    — Hã?

    — Sua mente. Está tendo aquelas mudanças emocionais como na expedição?

    — Do que você está falando, Lulu? — Khubaru também perguntou.

    Ao perceber que havia algo que ele não sabia, já que Lulu mencionava algo fora do contexto atual, Airen decidiu explicar.

    — É sobre a estaca de ferro. Meu problema piora quando enfrento energia demoníaca. Fico impulsivo no julgamento e mais frio…

    — Ah…

    — Mas está tudo bem. Consigo controlar. Talvez a energia seja fraca demais.

    Airen tentou tranquilizar seus amigos, mas sua expressão séria tornava o esforço inútil. Khubaru e Lulu continuaram a observá-lo com olhares preocupados.

    Eles não eram os únicos a ficarem tensos. Comerciantes, trabalhadores, soldados e mercenários também estavam nervosos. Pelo comportamento e tom dos bandidos, era evidente que não estavam brincando.

    — Não consigo entender.

    Um senhor de idade, com expressão perplexa, deu um passo à frente. Ele era o membro mais experiente da união mercante, tendo passado pela Fortaleza de Alhaad mais de vinte vezes. Sua voz era calma, mas carregava firmeza.

    — Imagino que não queira uma conversa amigável, então serei direto. É ridículo pedir metade de nossos pertences.

    — E por quê? Existe uma regra sobre o quanto um bandido pode roubar de um comerciante?

    — Claro que sim. Vocês não são qualquer grupo de ladrões que saqueiam fazendeiros nas estradas. Você é um homem corajoso e sábio. E é praticamente um representante dos três lordes das redondezas.

    — Certo, isso é verdade. Estão ouvindo, rapazes?! Esse sou eu! Hahaha!

    — Hahaha!

    Khajal riu, e seus homens o acompanharam, frustrando ainda mais o experiente mercador. O velho nunca havia visto os bandidos agirem de forma tão vulgar, já que costumavam ser disciplinados como soldados. Isso o deixou com um mau pressentimento, mas ele precisava falar. Estava prestes a abrir a boca para negociar uma taxa mais razoável quando Khajal o agarrou pelo colarinho.

    — Vamos deixar de falar sobre…

    — H-hã?!

    — …assuntos chatos, não acha? — disse Khajal, jogando o mercador no chão com força.

    — Ah… ugh…

    — Quem liga para a taxa de passagem? A partir de hoje, a taxa é metade de todos os seus pertences — declarou Khajal. Todos ficaram em silêncio com suas palavras. — Ah, mas não precisam pagar se não quiserem passar. Só que, já que nos deram esse trabalho todo, vamos pegar tudo o que têm.

    Os bandidos caíram na gargalhada. Agora se pareciam exatamente com os estereótipos de bandidos das histórias, o que chocou profundamente os comerciantes. Os bandidos da Fortaleza de Alhaad nunca foram assim. Khajal sempre tratou os mercadores com respeito, apesar de sua aparência rude. Ele até recebia alguns comerciantes com refeições, e trabalhadores antigos até haviam feito amizade com os bandidos.

    Os comerciantes estavam frustrados com a mudança repentina. Mas isso não significava que iriam ceder e pagar um resgate absurdo. O velho mercador, ajudado por um soldado a se levantar, recuou e olhou para o capitão da escolta. O capitão assentiu e virou-se para uma direção diferente, permitindo que um homem de olhar determinado avançasse em direção aos bandidos.

    — O quê? E agora? Querem lutar? É isso? — rosnou Khajal.

    — Não, de forma alguma. Ainda queremos resolver isso pacificamente — respondeu o mercador.

    — Que piada. Ele parece querer me socar. Como isso é pacífico?

    — Só achei que deveria saber que podemos resistir, se necessário — disse o mercador.

    O homem de olhar determinado desembainhou sua espada antes mesmo que o mercador terminasse. A lâmina larga, afiada, com um brilho azulado, chamou atenção. Um dos mercenários gritou chocado:

    — A Lâmina Glacial! É Wolfgang!

    — Wolfgang está conosco?!

    Wolfgang, o Espadachim Arcano, era um mercenário experiente, famoso por sua espada mágica gélida, capaz de causar calafrios só de olhar. Ele tinha nível prata da guilda na capital dos Cinco Reinos do Oeste, uma das mais rigorosas, semelhante à de Alcantra. Muitos acreditavam que ele alcançaria o nível ouro em poucos anos.

    Sua presença aliviou a maioria dos comerciantes. O velho mercador, que antes franzia a testa, forçou um sorriso e continuou.

    — Ele não é o único. Temos mais quatro mercenários prata em nosso grupo e vários bronze para apoiá-los.

    — É mesmo? Vocês estão bem preparados desta vez. Sempre pagaram a taxa, então por que a mudança? — perguntou Khajal.

    — Nunca se sabe quando algo assim pode acontecer. E, vendo como estamos agora, fico aliviado por termos nos preparado. Então, como vai ser? Ainda insiste em nos fazer pagar metade de nossos pertences? — questionou o mercador, confiante.

    Os bandidos ainda tinham vantagem numérica, e Khajal, quase um espadachim especialista, era certamente mais forte que Wolfgang. Além disso, ele tinha muitos homens poderosos sob seu comando, o que ainda colocava a companhia mercante em perigo.

    “Mas Khajal deve saber que teria prejuízo se nos enfrentasse”, pensou o mercador.

    Bandidos lutavam pelo próprio bem-estar, não contra inimigos mais fortes. Khajal era inteligente e, sem dúvida, sabia que lutar contra um grupo tão bem preparado poderia custar a vida de metade de seus homens. Por isso, o mercador estava confiante de que ele negociaria, não importando o motivo da mudança repentina.

    Bam!

    — O quê?!

    — Ahhh!

    — Ah-ah!

    O mercador, que analisava a situação calmamente, engasgou com o susto, assim como os outros comerciantes e mercenários. Muitos ficaram parados, chocados, ou com a boca aberta.

    Tudo por causa de Khajal, que golpeou o chão com seu martelo de guerra, causando uma enorme rachadura no solo.

    — Acham que sou algum pedaço de lixo…?

    Khajal ergueu o martelo do chão, manuseando a arma pesada com uma única mão, algo que um homem comum não conseguiria fazer nem com as duas. Wolfgang, que antes estava confiante, começou a tremer. Um suor frio escorria pelas costas.

    — Querem lutar? Pois bem. Wolfgang, certo? Venha. E vocês, esperem enquanto acabo com esse bastardo — ameaçou Khajal.

    — Nós… pagaremos metade — disse o velho mercador, derrotado.

    — Não! O que está dizendo? Não podemos fazer isso!

    — Mas não podemos arriscar nossas vidas…

    — Estou morto de qualquer jeito se perder metade!

    A companhia mercante caiu no caos assim que Khajal terminou de ameaçá-los. Metade insistia em pagar pela segurança, enquanto a outra afirmava que estavam condenados se cedessem metade do que tinham.

    Os mercadores discutiam acaloradamente enquanto os mercenários também entravam em pânico. A maioria havia aceitado o trabalho porque parecia fácil, apesar do pagamento baixo. Não esperavam ter que arriscar a vida por isso. Khajal parecia muito mais poderoso do que os rumores diziam, como um espadachim especialista, forte o bastante para receber um título de nobreza nos famosos Cinco Reinos do Oeste.

    “Espero que não tenhamos que lutar…!”

    “Apenas deem o que eles querem! Não temos chance!”

    A maioria dos mercenários, inclusive os de nível prata, pensava o mesmo. Ninguém ousava enfrentar os bandidos. Alguns comerciantes e trabalhadores demonstravam decepção ao olhar para eles.

    Trent não conseguiu dizer nada diante dessa desaprovação.

    Embora nunca tivesse contado a ninguém, ele sempre quis ser um herói, por isso se tornou espadachim. Ouvir as histórias heroicas de Ian, dos espadachins da Krono e de outros guerreiros, e treinar esgrima com essas inspirações em mente, fazia com que se sentisse parte desses contos.

    Ele tinha confiança de que eventualmente se tornaria um herói. Achava que tinha mais talento do que a média, que seus objetivos eram mais nobres do que os de mercenários gananciosos, e que sua determinação era maior do que a de crianças nobres que cresciam na bolha de suas famílias ricas.

    Trent acreditava que, com mais experiência, se tornaria um espadachim incrível, como os da Academia de Esgrima Krono. Mas estava errado.

    “Estou… com muito medo para fazer qualquer coisa.”

    Após ver o golpe de Khajal, percebeu imediatamente que não tinha o que era necessário para enfrentar um adversário tão assustador. Não tinha a coragem de resistir à ameaça, nem a habilidade para lutar contra o martelo de guerra do oponente.

    Além disso, ele nunca havia se esforçado de verdade em seus treinos. Apenas seguia o fluxo, desperdiçando tempo, imerso em histórias heroicas e acreditando que era especial. E este era o resultado.

    Parado, com os lábios secos e suando frio, fechou os olhos, dominado pelo ódio a si mesmo. Talvez por isso conseguiu ouvir claramente a voz vindo de trás.

    — Airen, você vai enfrentá-lo?

    — Sim. Acho que decidi o que fazer. Talvez eu esteja errado nesta decisão, mas…

    — E a energia demoníaca? Não me diga que você está… — Lulu deixou a frase no ar, mas o suficiente para que todos entendessem. Ela estava perguntando se Airen estava sob a influência do homem.

    Airen ainda não sabia o que pensar sobre matar ou se a fortaleza vinha agindo corretamente esse tempo todo. Por isso, sua decisão de enfrentar o inimigo sem hesitação deixou Lulu preocupada.

    — Estou bem.

    Airen sorriu para Lulu, parecendo um pouco desconfortável com a leve influência da energia demoníaca. Mas a gata percebeu que os olhos de Airen estavam tão calmos quanto sempre e suspirou aliviado.

    — Vai lá, então — disse Lulu.

    — Boa sorte. Fico curioso sobre a escolha que você fez… Mas confio que sabe o que está fazendo — disse Khubaru.

    — Claro. Sei o que estou fazendo.

    E foi isso. O jovem loiro começou a caminhar à frente. Diferente de sua aparência ingênua, seus olhos demonstravam confiança, atraindo a atenção de todos.

    Khajal também percebeu e se virou na direção de Airen, que passou por Wolfgang, parado em uma posição constrangedora.

    — E você, quem é?

    — Sou Airen Farreira, ex-aluno da 27ª Turma da Academia de Esgrima Krono.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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